Boa tarde pessoal, como estamos hoje?Espero que estejam todos bem. Sei que muitos devem estar querendo me matar por causa da demora, mas eu tenho um desculpa pro meu atraso na postagem: Concretagem, isso mesmo concretagem, essas duas últimas semanas tive o maior lançamento de concreto em obra desde que iniciei minha profissão, sozinho cuidei da operação de mais de 60 caminhões de concreto, foram mais de 350 m³ de concreto, o que me fez trocar a noite pelo dia e até perder algumas noites de sono (se alguém aqui trabalha com construção civil ou tem alguma ligação, vai entender perfeitamente o que eu estou falando).
Venho agradecer os votos e comentários do último capítulo, pois realmente são um combustível a mais para continuar postando, também quero agradecer pelos votos de boas provas, minhas notas não foram as melhores mas também não foram as piores, nada que um dia após o outro não é mesmo?
Esse capítulo de que estou postando está grande, não há reviravoltas mas mesmo assim não deixa de ser emocionante, envolvente.No fim do capítulo vocês vão se surpreender com Marcos.A partir desse capítulo vou me esforçar pra postar dois por semana já que o conto está chegando ao fim.
Queridos, nesse capítulo não irei responder ao comentários, deixando para o próximo.Obrigado.
Boa leitura, votem e comentem...
Ação e Reação – Volta pra casa Fernando...! - 2°- temporada
Após 8 km porteira dentro de estrada de terra buracos e muita poeira, onde era possível ver a criação de gado de corte espalhada pelo pasto e a vegetação de cerrado com sua árvores esguias, que acompanhavam a estrada , enfim estávamos nos aproximando da sede da fazenda, ou melhor “Rancho dos Passos”, nome que ostentava na porteira rústica na entrada junto á rodovia e como assim chamavam o lugar, um pouco irônico mas engraçado, já que o lugar parecia mais aquelas fazendas americanas do que um rancho.
Conforme nos aproximávamos, Felipe ficava cada vez mais entusiasmado e ansiado, achei até que ele ia largar o carro em movimento e sair correndo abraçar dona Letícia que nos esperava em pé e pelo visto impaciente na varanda da casa.No caminho todo ele veio dizendo que nos divertiríamos muito e que poderíamos andar a cavalo, nadar no córrego que passa dentro da propriedade, chupar manga direto do pé, coisas simples que Felipe gostava de fazer.
- Nando, eu estou tão feliz que você veio comigo cara – disse animado, no tempo que conhecia Felipe podia afirmar que a simplicidade e até ingenuidade eram era uma de suas maiores qualidades e não um defeito como alguns diziam.Ele era muito simples, e tinha um bom coração, se contentava com coisas como andar a cavalo, visitar o rancho, pescar, ter os amigos por perto, o simples fato de ficar feliz por ter aceitado vir junto pro rancho demonstrava isso, fiquei envergonhado das vezes que arranjei desculpa pra não vim, meu amigo ontem me deu uma grande prova de amizade, decidi que passaria a fazer algumas coisas que ele gostava, não por que eu queria mas por que ele gostaria.De longe era o mais inocente de nós 4 e o mais fácil de agradar.
- Eu também estou Lipe, obrigado pelo convite – agradeci com um sorriso e um soquinho no seu ombro.
- Quem sabe você vem mais vezes comigo agora – disse ele me fitando.
- Quem sabe... – sorri de volta pra ele.
A casa toda era toda estruturada em madeira, vidro e concreto, tinha um ar moderno e nostálgico ao mesmo tempo, tendo sido projetada por um escritório de arquitetura de Ribeirão Preto, terra do seu Carlos pai do Felipe.A casa era imensa, com 6 quartos, 4 banheiros, três salas, copa/cozinha, área de serviço e uma imensa área de lazer aos fundos com piscina com cascata, sauna, fogão de lenha com churrasqueira e forna acoplados.A família do Felipe criava gado de corte e apesar de terem grana eram todos muito simples, souberam educar Felipe muito bem.
- Nando, eu vou estacionar ali embaixo daquela mangueira – apontou pra mangueira próximo a estrebaria.
- Ok, então eu desço com as coisas aqui e vou entrando pode ser? – perguntei, ele assentiu, sai peguei as sacolas no banco de trás ele arrancou ele foi em direção a mangueira.Me virei e sua mãe me encarava próximo a escada.
- Fernando querido, que bom que você decidiu vir – disse dona Letícia, vindo me receber com um abraço apertado e um beijo carinhoso, seu Carlos vinha logo atrás com um copo de caipirinha na mão e um sorriso de quem já estava faceiro.Os pais dele apesar de trabalharem na roça estavam bem conservados, digo bem cuidados.Dona Letícia usava um vestido simples florido, estava bonito nela, rasteirinha e cabelo preso, batom vermelho e um avental daqueles que se usa pra fazer comida, seu perfume podia ser notado de longe, não de uma maneira enjoativa, mas sim agradável, diria até que havia um certo frescor nele, já o seu Carlos estava de regata, bermuda e óculos e chinelo, era notável a semelhança de Felipe com ele, os mesmos olhos grandes e expressivos, os cabelos negros e lisos e negros e o cabelo.Na altura Felipe ficava devendo já que eu Carlos passava facilmente de 1,85 m e Felipe tinha no máximo 1,78 m, diria que Felipe era uma cópia mais nova do pai dele e mais baixa.
- Bom dia seu Carlos, bom dia dona Letícia – cumprimentei ambos, com um sorriso cordial mas ainda sem graça pelo ocorrido ontem.
- Bom dia Fernando – cumprimentou pai do Felipe me puxando pra um abraço e me dando um “tapinha forte nas costas”.
- Que bom que chegaram meu filho, estava preocupada com a demora de vocês – disse ela limpando a mão no avental.
- Cadê o sem vergonha do seu tio?Eu tinha ligado pra ele vim pra cá também, será que ele desistiu? – perguntou ele de forma descontraída e olhando seu celular.O tio Geovane e o seu Carlos se tornaram amigos na mesma época que eu e Felipe, a amizade deles cresceu rápido, na verdade eram muito parecidos, ambos eram super protetores, bebiam e ficavam chatos e emotivos ao extremo, visto que algumas vezes quando se despedia de Felipe quando iam visita-lo ele marejava os olhos, além de jogarem boliche juntos toda quarta a noite.Meu tio ainda cuidava da parte burocrática da fazenda, servindo como consultor pro seu Carlos.
- Pelo que meu tio falou hoje de manhã, ele está revisando um processo, ele não me falou que tinha sido convidado pra vim pra cá hoje – franzi a testa pensativo, será que meu tio ia aparecer aqui de surpresa com o Marcos, se fosse não acabaria nada bem.
- Aquele sem vergonha, me confirmou que vinha – disse ele.
- Vocês demoraram, estava preocupada – reclamou dona Letícia.
- Desculpem, mas é que Felipe enrolou no café da manhã assistindo desenho animado e ai atrasamos mesmo – inventei essa desculpa que provavelmente colaria visto que Felipe para em frente a tv e não sai quando se trata de desenhos animados, infantil mas fazer o que né?
- Bom dia pai, bom dia mãe – cumprimentou ele com um abraço nos dois.
- Bom dia meu filho – disse sua mãe lhe dando um beijo.
- Bom dia – disse o pai bagunçando o cabelo dele, o que deixava Felipe com raiva – como vai meu garotão hein?Desinchou seu rosto filho? – perguntou ele deixando Lipe envergonhado e eu sem chão.
- Para pai, vamos parar de graça – disse sério.
Felipe era filho único então sempre foi muito mimado pelos pais que eram tão super protetores quanto o tio Geovane, toda a atenção que ele queria e tudo o que ele pedia ele ganhava, ao contrário do meu tio que insiste em me chamar de “ filhote” o que acho absurdamente ridículo mas relevo, o apelido carinhoso do Felipe é Lipin, apelido esse que ele odeia, é engraçado essa mania de mineiro de comer as palavras, acho que é uma particularidade deles,outros lugares falam assim, mas é deles, já fazem 15 anos que moro aqui e ainda não me acostumei com isso e nem com o r dobrado, já que la em casa, quer dizer na casa do meu tio por causa do seu sotaque puxado pro gaúcho falamos o “erre” mais arrastado.
Seguimos pra dentro da casa, cruzamos a cozinha onde havia duas mulheres ajudando a preparar o almoço, deixamos as sacolas e seguimos os pais dele até a porta que da pra fora.Antes de sairmos pra área de lazer onde estavam todos eu pedi pros pais dele esperarem.
- O que foi meu filho? -perguntou dona Letícia preocupada.
- Eu queria me desculpar pela minha atitude..digo, pelo papelão que fiz ontem lá no jogo, eu não devia ter batido no Felipe, já me desculpei com ele, mas devo desculpas e vocês também – disse de cabeça baixa, Felipe me encarava sem graça.
- Não precisa fazer isso Nando – disse ele.
- Precisa sim cara – respondi sério.
- Esquece isso bobo – disse ela vindo me abraçar pelo ombro – vocês são amigos, irmãos de outra mãe, como ele mesmo fala e eu também penso assim, faço muita questão da sua amizade com ele, amigos brigam, falando sério Felipe passou dos limites mesmo – repreendeu ela.
- Fernando, não precisa ficar assim – disse seu Carlos sério – vocês são amigos, e nos fez um grande favor, sua amizade pelo Felipe fez ele mudar, crescer, sou grato por isso – disse sério, fiquei um pouco mais sem graça - é normal amigos brigarem, é só não acontecer isso de novo que fico feliz, até por que depois Felipe chorou feito um bebê grande – debochou ele, eu ri pois a cara de indignação que Felipe fez pro pai foi incrível.
- Um homem de 21 anos chorando...! – exclamei pra ele que me fechou a mão pra mim – que vergonha... – fiz cara de reprovação o que deixou ele com mais raiva ainda.
- Não chorei não, param de inventar coisas... – Felipe estava vermelho de vergonha e de raiva, seu pai e sua mãe riam dele, ela passava as mãos nos cabelos escuros dele e seu pai ficava cutucando ele.
- Chorou sim, ainda por cima no meu colo, quase não aguentei o peso dele, parecia uma criança pequena dizendo que tinha te decepcionado, que você nunca mais falaria com ele – disse sua mãe com feição divertida – ele não sossegou enquanto não foi falar contigo ontem, eu e o Carlos até pensamos em ir junto, mas era coisa de vocês resolverem, não podíamos nos meter – completou.
- Sabe – franzi a testa – eu não conseguiria ficar com raiva do Felipe, eu mesmo pediria desculpas hoje, aliás não sei por que estorei desse jeito com ele, acho que ambos erramos, mas enfim tudo se resolveu, ainda assim me desculpem novamente, dessa vez olhei nos olhos de Felipe que assentiu com a cabeça – sorri agora sem a vergonha de antes.
- Mãe o que que tem pra comer? – perguntou Felipe mudando de assunto e me puxando junto com ele sendo seguidos pelos pais.
- A comida está quase pronta meu filho – disse ela passando a nossa frente – estou fazendo frango com quiabo, arroz, angu , feijão e salada – Felipe brilhou os olhos, abriu um sorriso, essa era a comida preferida dele.
- Sério mãe! – exclamou.
- Sim – ela abriu uma das panelas e mostrou o frango que dourava e exalava um cheiro divino de alho e cebola.
- Ai mãe – disse ele abraçando ela e fazendo doce – obrigado, faz tempo que não como essa sua comida gostosa – dona Letícia abriu um sorriso como se o que ele falou fosse um prêmio.
- E ai Fernando, cachaça ou vodka? – perguntou seu Carlos trazendo as garrafas na mão.
- Água! – exclamei – por enquanto só água – adverti, o calor de 36°C que fazia na região e meu corpo sedento pediam urgentemente um copo.
Após beber minha água, ainda fiquei mais uns 10 minutos conversando com as mulheres que faziam a comida junto de dona Letícia, dei muitas risadas com ela e ainda ganhei um pedaço de bolo de laranja,descobri que as mulheres eram eram suas irmãs. Felipe sumiu, deve ter ido cumprimentar os outros junto com seu pai ou jogar conversa fora com seus primos.
Me despedi delas e sai em direção a área de lazer onde havia mais ou menos umas 25 pessoas, muitas conversavam alto, outras gargalhavam e tinha dois ou três visivelmente bêbados, mas uma ou duas me notaram, menos mal.O ambiente estava todo arrumado pra uma festa, havia mesas com guarda-sóis espalhados ao redor, próximo ao fogão havia uma mesa com frutas, pratos e talheres empilhados, copos e guardanapos, com certeza iria ser a festa, mais ao fundo havia um sistema de som que tocava um modão sertanejo da década de 90, na verdade pelo que percebi assim que uma música acabou e outra iniciou se tratava de uma coletânea de músicas de duplas sertanejas da época, estava bom, apesar de achar meio brega eu mesmo gostava de música assim, dei graças a Deus por não ser sertanejo universitário, ninguém merece, se é pra beber e chorar que seja com modão, pior que o universitário virou febre aqui na região.
Fui ao banheiro próximo a sauna e troquei de roupa, vesti uma camisa regata e um shorts de tactel, troquei meus óculos de grau por um de sol e meu tênis por chinelo.Recolhi meus pertences segurando comigo só meu celular e levei minhas coisas na mochila que estava no quarto do Felipe.Me olhei no espelho, gostei do que vi, por mais que eu fosse gordinho gostava do meu corpo assim, decidi tirar o shorts e ficar só de regata e sunga, já que muita gente estava só de roupa de banho mesmo.
Voltei pra área de lazer e percebi alguns olhares em minha direção, principalmente das mulheres que estavam assistindo ontem o jogo do Felipe, alguns olhares logo percebi que eram de curiosidade de saber quem eu era, alguns cochichos, mas havia um outro tipo de olhar que conhecia muito bem, recebi esse olhar do meu primo e de alguns outros muitas vezes, o de deboche, vinham de duas ou três mulheres que assim que eu olhei em sua direção abraçaram forte seus homens como se me mostrassem que eles tinham donas, também percebi o olhar de deboche de uns dois caras sentados próximo a mesa delas.Notei também que comentavam algo e riam em minha direção sem se preocupar, fiquei incomodado mas não deia trela, isso não me atingia, não mais.
Avistei Felipe e seu pai, ele já estava sem camisa, só de sunga preta, fez sinal pra mim ir até ele mas estavam conversando animadamente com Caio, tio do Felipe que deixei pra fazendo ele fechar a cara, decidi sair pra procurar algo pra beber.Felipe me ofereceu de bebida dele levantando o copa no ar mas fiz que não com a cabeça.
- Como vai Fernando?Quanto tempo – estava de costas, senti alguém por a mão no meu ombro, me viro e vejo que é Paulo que se aproximou.Paulo é o primo mais velho do Lipe por parte de pai, tinha 32 anos, as expressões faciais eram muito parecidas com as de Felipe mas bem mais musculoso por causa do trabalho braçal da roça e assim como ele era humilde e simpático e nada discreto, foi um dos primeiros primos dele a me conhecer e saber da minha orientação sexual, também foi o primeiro a não me julgar por isso.
- Estou bem Paulo e você? – perguntei com um sorriso.
- Estou bem, percebi que você ficou incomodado com o pessoal daquela mesa - disse ele apontando sem receio nenhum, a família do Lipe não sabia o que era discrição quer dizer, pelo menos alguns membros dela – não de trela, aquele povo é parente da tia Letícia, são lá do Goiás, tudo uns orelha seca, bando de matuto da roça, estão aqui nas coxa – ele olhou sério pra mesa e eu olhei também, vi olhares jocosos em nossa direção, respondi com um riso cínico.
- Não se preocupe, isso não me incomoda – dei de ombros deixando os idiotas da mesa de lado - mas e aí Paulo, como vai a vida na roça?– perguntei acompanhando ele até a mesa que ele estava sentado com sua mulher e seu irmão.
- Puxada ,ainda mais agora que é época da safra da soja – disse ele passando a mão na testa em alusão ao trabalho duro - Pessoal vocês lembram do Nando né? – perguntou ele ao irmão e a mulher que estavam sentados conversando.
- Como vai Fernando? – perguntou Estevão irmão do Paulo, ele esticou a mão e eu apertei.
- Olá – respondeu educadamente Ana, sua mulher.
- Rapaz, tirando o cansaço da lida da roça eu vou bem sim, mas e ai vai beber o que, cachaça ou cerveja? – perguntou ele enchendo um martelinho de cachaça. E me oferecendo.
- Por enquanto nada – ele me olhou, olhou o copo e virou a cachaça em um gole só.
- Nossa! – exclamei, o cheiro da bebida era forte, eu mesmo não conseguiria fazer isso.
- Divide esse suco comigo então – ofereceu Ana, mulher de Paulo, ela encheu um copo com um suco de cor avermelhada e me ofereceu.
- Obrigado – agradeci com um sorriso e dei uma golada do suco – delícia, é pitanga! -uma das minhas frutas preferidas, completei o copo com o suco e dei uma única golada.
- Sim, colhi hoje de manhã, estou proibida de beber – disse ela acariciando a barriga, entendi que era por causa da gravidez.
- Nossa! – exclamou Estevão – você está com sede não é? – seu irmão lhe cutucou o repreendendo – Desculpa, as vezes sou meio matuto – disse ele.
- Relaxa, na verdade estou com muita sede sim – respondi, todos na mesa deram risada.
Felipe foi pra piscina e me chamou pra nadar também, não aceitei, primeiro faria uma social e como a conversa estava boa e as companhias agradáveis, decidi ficar por ali mesmo, em meio as conversas conheci melhor cada um , Ana a mulher de Paulo estava esperando seu primeiro filho, era professora em uma escola da zona rural e Paulo entusiasmado me contava como estava feliz em saber que seria pai de um menino e que ensinaria tudo a ele, desde a laçar boi até a dirigir trator, Estevão ao contrário ria e dizia que o com sorte o menino seria bonito como a mãe pois o pai era feio. Em meio as risadas e brincadeiras já estava com uma caipirinha na mão e uma espiga de milho cozido na outra quando me levantei pra ir ao banheiro.
- Já volto pessoal – eles assentiram, me levantei e fui no banheiro que ficava dentro da casa.Felipe me seguia com os olhos e eu fazia gracinha pra ele que ria de longe enquanto conversava com com sua mãe, ou melhor ela estava sentada e ele fazendo doce, com a cabeça em seu colo, que bebezão. Pude notar os olhares vindo da mesa do pessoal debochado e um dos caras cutucar o outro.
Como queria um pouco de privacidade optei por usar o banheiro da suíte de Felipe, assim poderia jogar uma água o meu rosto, ligar pra Cibele que havia me mandado mensagem e reforçar o desodorante, já que não queria ficar cheirando a “asa” por causa do calor. Após usar o banheiro e ligar pra Cibele com quem falei uns bons 10 minutos, fiquei mais algum tempo no quarto, estranhei que Felipe não veio me procurar, melhor assim, não queria atrapalhá-lo no seu dia com a família.
- Ai está você! – falei cedo demais, ele apareceu na porta de supetão – achei que tinha se perdido – brincou.
- Sim, o que foi? – perguntei olhando ao redor.
- Quero te apresentar meus primos lá do Goiás vem – ele me puxou pelo pulso como se eu fosse uma criança pequena, tentei dar uma desculpa esfarrapada mas quando me dei conta estava em frente a mesa , mas só havia uma mulher e os dois homens que ficaram me fitando.
- Pessoal, esse aqui é o Nando, meu melhor amigo, meu irmão – disse ele me abraçando de lado, fiquei sem graça - ele também não é daqui da região que nem vocês – disse Lipe, não pude deixar de sorrir da apresentação que ele fez.
- A é! – exclamou a mulher fingindo interesse, a meu ver era a mais velha, em torno de 30 anos, magra, cara de seca com longos cabelos negros, muito parecido com uma das tias de Felipe, devia ser filha dela – e da onde você é, posso saber? – perguntou ela.
- Sim, eu sou de Santa Catarina, Chapecó, conhece?– perguntei sério – mas moro aqui há alguns anos já - completei.
- Percebi que é do sul, seu “erre” ainda é arrastado, bem típico do povo de lá, já estive em Florianópolis algumas vezes, muito bom lá não é? – sorriu falsamente.
- Sim, ótimo – exclamei, Felipe olhava de mim pra ela.
- Prazer, sou o Cosme e ele é o Sebastião – disse um dos caras estendendo a mão pra mim e apontando pro outro.
- Prazer – retribui o cumprimento sem entusiasmo.
- Cade minha educação, eu sou a Laura – disse a que perguntou da onde eu era.
- Prazer – encarei eles, por mais que eu tentasse disfarçar, o clima estava estranho, resolvi sair dali – se vocês me dão licença o pessoal da mesa de lá – apontei pra mesa onde Paulo estava sentado, ele levantou o copo de caipirinha faço gesto que ia derreter o gelo – está me esperando, divirtam – se e até logo – me virei e sai deixando eles sem ação, Felipe veio logo atrás.
- Você não gostou deles não é? – perguntou desconfiado.
- Não – respondi sem olhar pra ele – pra falar a verdade só de olhar pra sua prima me deu vontade de vomitar e acredite , eu acho que é recíproco – completei, Felipe me olhou com um sorrisinho sacana.
- Eu vi o jeito que eles te olharam quando você voltou do quarto – disse sem graça – só queria tentar quebrar esse mal estar ou primeira impressão entre vocês, não quero nenhum problema hoje aqui Nando, minha família está toda aqui – explicou ele de forma calma, eu fiquei puto pois parece que era uma indireta pra não causar nenhum problema a ele.
- Não houve mal estar Felipe e não se preocupe, não vou estragar “seu dia” e nem o meu, agora vai lá com seus primos que eu vou me sentar ali...– deixei ele de lado, mas sou surpreendido quando ele me segura pelo braço.
- Calma Nando, eu só falei a verdade cara – disse ele – não fica assim não, me desculpa se me expressei mal, por favor – Felipe fazia uma cara tão bonitinha, não tinha como não desculpa-lo.
- Claro que desculpo Lipe – ele me abraçou, ele já cheirava a álcool, Felipe tinha carência de abraços só pode – mas depois que tomar outro murro na cara não vale chorar e nem querer tranar comigo hein – ri dele que fechou a cara.
- Fernando, seu tio acabou de me ligar, ele está há caminho daqui, deve chegar dentro de 45 minutos, há e seu primo também vem – gritou seu Carlos do outro lado da piscina, atraindo a atenção de algumas pessoas, pronto, havia acabado meu sossego. Felipe riu.
- Fudeu Nando, teu tio não vai desgrudar de você e o Marcos vai te encher o saco, ainda mais agora que você não mora mais com eles, beba Nando, você vai precisar – me ofereceu ele.
- O que é isso? – perguntei desconfiado, a bebida era laranja e rosa.
- É suco de pitanga, cranberry e vodka – peguei o copo da mão dele, experimentei, o gosto estava ótimo, com um gole dei fim a bebida.
- Hum, que gostoso, nunca tomei essa bebida – ele sorriu.
- Eu que fiz, ficou bom né? – perguntou ele.
- Sim, muito bom – afirmei.
- Aliás Nando, eu vou estar por perto, se teu primo olhar torto pra você ele vai ser ver comigo – Felipe bateu a mão no peito, era muito engraçado ele dando uma de valente.
-Ta bom Felipe, eu tenho certeza que vai cara – dei um tapinha no seu ombro.
- Agora vem comigo, tio Hugo quer cumprimentá – lo, mas está com vergonha de chamá-lo, então quer que eu televe até ele e a família – disse ele.
- Com vergonha Lipe, com aquele tamanho todo – disse apontando o tio dele.
- É gente da roça Nando, são mais tímidos mesmo mesmo – explicou ele.
Após cumprimentar seu tio e sua família e ficar de papo com eles, voltei a minha mesa onde estava Paulo e a esposa e me sentei novamente, já se passava do meio dia e eu estava ficando com fome.
- Sua bebida esquentou Nando – disse Estevão observando o copo.
- Sem problema – sorri – vou parar por hoje, já que amanhã tenho aula.
Mais alguns minutos de papo animado haviam se passado, Felipe havia se sentado com a gente, estava no seu quarto copo de vodka com suco e estava um pouco emburrado por que sua mãe tocou ele da cozinha porque pegou ele mexendo nas panelas e não gostou.
- Você também pede, né Felipe, quem mandou você ir mexer na panelas – repreendi ele que me olhava em um misto de raiva e culpa – espera até almoço cara, daqui a pouco devem estar servindo, você não vai ficar sem comida – completei.
- É que eu to com fome Nando – reclamou ele fechando a cara de novo.Sua mãe se aproximou – eu só comi de manhã no café e mais três espigas de milho cara na hora que chegamos – as vezes sentia inveja do metabolismo dele, se eu comesse tudo isso provavelmente estaria rolando de gordo, quer dizer mais gordo.
- Eu sei disso, você comeu a minha e a do seu primo – disse de braço cruzados, ele deu um risinho sem graça.
- Meu filho, não faz isso que quem vê acha que eu sou uma mãe desnaturada que nega comida pro próprio filho, isso é pecado – disse dona Letícia abraçando ele por trás, mimado demais, Felipe virava a cara pra mãe dele mas logo se deu por vencido e beijou ele.
Após ele desamarrar a cara, estávamos rindo de uma piada que Ana havia nos contado, o modão tocava no fundo,o ambiente estava animado, todo mundo ria e falava alto, agora tocava uma música chamada “Saudade Bandida”, música boa, estávamos cantando em coro quando ele me cutuca com a perna por debaixo da mesa e olha em direção a porta,entendi o recado, me vire e vejo alguém conhecido, alias muito conhecido me observando.
Marcos me olhava com curiosidade, não teve o mínimo de discrição em me observar, mas ao contrário das outras vezes, seu olhar era diferente, não um olhar de ódio, deboche ou superioridade, eu não sabia explicar, mas era quase o mesmo olhar que ele me dava quando ainda eramos “amigos”. Tio Geovane veio logo atrás, ele vinha com um sorriso largo no rosto, bonito, gostava de ver ele sorrindo, estavam bem descontraídos, casuais, meu tio gostava de uma festa animada.Tanto ele como Marcos usavam regata, bermuda, chinelos e óculos escuros, bem diferentes do habitual terno e gravata, sua barba estava grande assim com a de Marcos, os pelos das pernas e dos braços tanto do meu tio como do meu primo se destacavam atraindo olhares de algumas mulheres presentes, era difícil negar que eram pai e filho, Marcos estava ficando muito parecido com o tio, fiquei aliviado pois não era o único em exagero de pelos ali presente. Meu tio trazia uma garrafa de whisky na mão, que logo foi entregue ao pai de Felipe que veio recebê-los calorosamente, pelo jeito ele teria que dormir aqui de novo pensei comigo mesmo,dei uma risadinha, ele me viu e abriu um sorriso vindo em minha direção, pedi licença e me levantei indo ao encontro dele.
- Bom dia filhote – disse ele baixinho quando se aproximou, pois sabia que eu não gostava de ser chamado assim perto do outros – como você está?Já esta bebendo – perguntou ele vendo meu copo de bebida na mão, logo fui envolvido por um abraço de urso.
- Bom dia tio, sim estou bebendo mas esse é o último – me desvencilhei do abraço, Marcos conversava com uma das primas de Felipe que descaradamente estava dando em cima dele, percebi seu incomodo e desinteresse, - por que não me falou que tinha sido convidado pra vir hoje também tio, por que você me escondeu isso? – perguntei a ele que sorriu pra mim.
- Simples – disse me abraçando de lado – se eu falasse a você que viria pra cá hoje e que Marcos vinha junto, provavelmente você não viria pra cá hoje não é? E passaria o dia sozinho porque você é teimoso que nem o tio, não acharia justo, você em casa e nós dois aqui – estava ai minha resposta e um argumento muito bom.
- Verdade tio – me dei por vencido.
- Só assim pra passarmos um tempo juntos não é? – disse cabisbaixo, fazendo drama.
- Tio não começa, nós almoçamos juntos duas vezes essa semana e nos falamos por whats app todo dia – repreendi ele, não iria entrar na onda do meu tio, pelo menos não na casa dos outros.
- E você acha certo isso Fernando? – me perguntou sério – nos comunicamos virtualmente e não pessoalmente ?- perguntou ele.
- Não acho tio, mas é que os estudos estão me tirando o coro – expliquei a ele que me olhava desconfiado.
- Tudo bem, vou acreditar, agora vamos nos sentar em algum lugar, está muito quente não é – estávamos indo em direção a mesa que estava sentado quando alguém põe mão em meu ombro.
- Bom dia Fernando – não acreditei no que ouvi, será que eu já estava bêbado e não sabia, me virei e vi que não, que realmente era meu primo Marcos que estava parado de braço estendido esperando meu cumprimento.Olhei ao redor, olhei meu copo de bebida, Felipe não piscava vendo o que acontecia, meu tio sorria e assentia com a cabeça como se estivesse tudo bem, que eu podia seguir em frente.Respirei.
- Bom dia Marcos – respondi seco, mas não dei a mão a ele, meu primo estava inexpressivo, mas percebi que ele estava tão nervoso quanto eu pela sua atitude.
- Não vai me dar a mão? – perguntou sério, olhei sua mão estendida e recuei.
- Melhor não – ele me olhou e fechou a cara.
- Tudo bem então, me deem licença – saiu em direção a mesa onde estava seu Carlos e o tio de Felipe e se juntou a eles.
- Você devia ter apertado a mão dele Fernando – disse meu tio sério.
- Pra que? – perguntei surpreso – é obvio que ele está fazendo cena na frente dos outros tio, mas comigo não funciona isso não – disse com raiva.
- Ajuda também né Fernando – reclamou ele.
- Ta vendo, eu sabia que o meu dia ia estragar – disse dando as costas pro meu tio – agora eu vou voltar pra mesa onde estava tio, me de licença depois nos falamos – deixei meu tio parado no mesmo lugar me olhando decepcionado pela minha atitude com Marcos, mas não liguei pra isso não, quantas vezes ele me humilhou e meu tio passava a mão na cabeça dele.
- Seu tio ficou chateado Fernando – sussurrou Felipe assim que sentei na mesa.
- Antes ele do que eu – respondi seco.
- Tudo bem, agora vamos beber? – perguntou ele levantando o copo de coquetel.
- Vamos, acho que hoje vou precisar beber muito – afirmei e tomei num gole só minha bebida.
Alguns minutos depois o almoço foi servido, na mesa onde estava a comida havia os pratos e talheres, Felipe fez a mãe dele servi-lo e ainda reclamou quando ela só colocou dois pedaços de frango no seu prato.Estávamos sentado a mesa, meu tio e meu primo discretamente me observavam enquanto riam a falavam alto com o pai de Felipe, já eu e Felipe estávamos sentados a mesa com os primos e Ana, ele parecia que ia ficar sem comida.
- Depois o gordo esfomeado sou eu né? – ironizei – a comida não vai fugir do prato Felipe – ri da cara que ele fez, ele tinha molho até na bochecha.
- Mas está muito gostoso Nando – respondeu ele com a boca suja de molho.
- O chiqueiro é la atrás Felipe - debochou Estevão.
- Vai lá então - respondeu Felipe de boca cheia.
- Vou pedir pra sua mãe trazer o babador pra você – ele me olhou sério e depois riu.
- Sem graça – ele no tempo que eu demorei pra comer um prato já estava terminando o segundo.
Depois do almoço, decidi que ia ajudar dona Letícia a lavar os pratos e que Felipe ia me ajudar.
- Mas eu to cheio Nando – justificou ele batendo a mão na barriga.
- Bem feito, parece que tava amarrado, agora vem me ajudar, ou você vai deixar sua pobre mãezinha fazer todo o serviço pesado? – apelei pra chantagem emocional e funcionou pois em 40 minutos eu , ele , sua mãe e sua tia tínhamos lavados todos os pratos, talheres alguns copos do almoço.
Sai pra fora, a música ainda tocava e muitas pessoas ainda palitavam seus dentes, coisa nojenta mas fazer o que né?Meu tio estava sentado sozinho com um copo de whisky na mão, desde o almoço ele estava muito pensativo.Vi Marcos uns 20 metros pra frente falando com alguém no celular.
- Tio – fiz ele acordar de seus devaneios.
- Senta aqui comigo filhote – ele bateu a mão no banco de madeira, me sentei junto com ele e ele me puxou pra mais perto.
- Eu sinto tanto a sua falta – pronto, ai estava o Geovane dramático por causa da bebida.Só faltou tocar música da Maria do Bairro pra complementar essa cena.
- Eu também sinto tio – era verdade, eu sentia falta dele.
Marcos desligou o celular e jogou o aparelho com raiva no chão, devia estar jogando dinheiro pela janela, já que seu aparelho era de última geração, me assustei e meu tio percebeu.
- Marcos! – exclamou ele, meu primo nos encarou e baixou a cabeça, me surpreendi com isso pois geralmente ele era tão confiante - pra que isso meu filho? – perguntou sério.
- Me deixa pai – pronto, mais uma rainha do drama estava nascendo.
- Vai lá ver o que está acontecendo tio – levantei e meu tio também.
- Mas e você? – perguntou preocupado.
- Eu o que tio? - perguntei.
- Não se importa de eu te deixar aqui sozinho – ele acariciou meu ombro.
- Claro que não tio, quando você voltar nós conversamos pode ser? – perguntei, ele assentiu saindo atrás do meu primo.
A tarde passou como um foguete, já eram quase 5 horas da tarde e a música sertaneja ainda rolava solta no som, como estava muito quente depois do meu 5 coquetel eu já estava um pouco mais alegre, não deu outra cai na piscina, Felipe , seus primos e sua mãe começamos a cantar dentro da piscina até que apareceu uma daquela bolas gigantes, pronto a diversão rolou solta,Meu tio já estava alegre, ele me olhava na piscina e ria pra mim, um lho mais baixo que o outro, ele e seu Carlos já batiam nas mesa e riam alto.Meu primo em compensação ficou quieto o resto da tarde, percebia seu olhar em mim.Não me deixei abalar e nem ser reprimido, me soltei mesmo.
Sai da piscina e passei por ele, não dei ideia mas tive a impressão que ele ia se levantar e ir atrás de mim, mas foi só impressão.Entrei na cozinha e tomei um copo de água do filtro de barro.Estava de costas quando ouço uma voz.
- Aqui não é seu lugar – disse Sebastião com deboche pra mim – aqui só tem gente normal e de bem – respondeu.Fiquei puto, mas Felipe que me desculpe não iria levar desaforo pra casa não.
- É comigo que você está falando? – perguntei irônico parando na mesma hora.
- Sim, é contigo mesmo ou além de viado é burro também – Sebastião debochou, os dois riram, pude perceber que ambos eram muito parecidos, bem provável que fossem irmãos, cabelo s olhos pretos, 1,79 m, corpo definido de academia e tatuagens no braço, deu pra notar que eram os caipiras “playboy” da família.Fiquei com uma raiva, tentei me segurar mas não deu.
- Burro!Eu? – dei um risinho que deixou eles com mais raiva.
- Como meu irmão dizia aqui só tem gente de bem – afirmou Cosme – você não é bem vindo aqui – seu olhar era de nojo, mãe eu não ia deixar barato mesmo.
- Nossa! – exclamei – Não sabia que vocês tinham comprado a fazenda pra dizer que é ou não bem vindo aqui - me encostei na pia e cruzei os braços, os dois se entreolharam,talvez não esperavam que fizesse isso, eu podia evitar confusão na casa do meu amigo, mas não seria ali que eu levaria desaforro pra casa – e outra coisa, melhor ser viado e burro do que um caipira matuto e retardado que saiu lá do meio da casa do caixa prego metido a playboy que mulher nenhuma quer e que tem que se aliviar comendo as vacas na estrebaria não é? Como se chama ela,Estrela?Mabel? me digam?Há e outra coisa, gente de bem é o caralho, gente de bem não intimida os outros como vocês estão fazendo – ri maliciosamente pois os dois me olharam com raiva.
- Seu mauricinho de merda, acha que por que é da cidade pode falar assim com a gente, você está muito enganado, viado tem que aprender a respeitar um macho, nós vamos te ensinar uma lição – disse Cosme com raiva,Sebastião fechou o punho, eu quase rachei de rir com o que ele falou.
- Acho não, tenho certeza quem começou foram vocês, me dando liberdade pra falar como eu quiser, aliás eu tenho sorte em ser mauricinho e não ter nome de caipira que nem vocês, agora sobre a lição quem vai me dar ?– não gostava de rebaixar os outros, não era melhor que ninguém mas não iria engolir isso não.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou Felipe entrando de supetão pela porta – Fernando, eu estava te procurando, teu tio quer te ver – disse ele todo desconfiado.
- Não está acontecendo nada Lipe – fiz a cara mais dissimulada possível – seus primos vieram aqui pra me conhecerem melhor, eu como sou educado estava conversando com eles não é mesmo? – perguntei aos dois que se entreolhavam feito bobos.
- Na verdade, eu e o Cosme estávamos aqui tomando uma água, quando seu amigo entrou todo oferecido dando em cima de nós, parecia uma puta nos passando a mão e se insinuando, que falta de respeito – disse Sebastião se fazendo de rogado.
- Mentira! – exclamou Felipe indo em direção ao Sebastião o empurrando contra a parede, pois é Felipe pirando, se não fosse trágico seria cômico – eu ouvi o que vocês falaram pra ele, se tem alguém aqui que está atrapalhando e não é digno de vim aqui em casa são vocês – disse ele soltando seu primo.
- Para com isso primo, ele é seu amigo e nós sua família, não pode defende-lo – disse Cosme surpreso com a atitude de Felipe.
- Cala boca – pediu calmo.
- Mas primo, ele é a escória, é viado, seu pai não podia deixar ele entrar aqui, se misturar com nossa gente, ainda mais depois de te bater ontem – Sebastião apontou o dedo pra mim, enquanto falava enquanto me encarava ria com deboche.
- Cala a boca! – Felipe explodiu – quem sabe o que é melhor na minha casa sou eu, enquanto vocês estiverem aqui vocês vão respeitar o Fernando e qualquer outra pessoa, estão me ouvindo? – Felipe estava vermelho,algumas pessoas ouviram e estavam espiando da porta pra ver se estava tudo bem, peguei no ombro dele , ele tremia, eu estava a postos se ele fosse pra cima do primo.
- Relaxa Felipe, já passou cara – tentei acalma-lo, ele me olhou e sorriu, fechando a cara depois – vem, vamos beber e cair na piscina vamos – sai puxando Felipe pelo braço.
- Isso não vai ficar assim não, eu vou contar pro seu pai que você desfez da gente, ainda mais na frente dos outros – disse Sebastião.
- Isso, corre contar – debochou Felipe - ele quer mesmo um motivo pra tocar vocês daqui, adoraria saber que vocês trataram mal um convidado dele – Felipe deu a cartada final, os dois se entreolharam e por fim decidiram sair de fininho.Eu peguei um copo com água e dei a Felipe.
- Eles não vão mais te encher o saco Nando – disse com alivio.
- Relaxa, eu estava dando conta da situação, mas mesmo assim obrigado – dei um soquinho no ombro dele que sorriu e devolveu o soquinho.
- Meninos, o que aconteceu aqui? – perguntou dona Letícia preocupada.
- Nada mãe, só estressei com os teus sobrinhos lá do Goiás – sua mãe me olhou e eu afirmei, ela sabia que Felipe não estourava a toa.
- Foi só uma chateação tia – tentei apaziguar.
- eles vieram caçar briga com o Nando, vieram xingar ele, não deixei barato não – Felipe olhou com raiva pra irmã deles que nos olhava da porta com cara de decepção pra nós.
- Vem cá meu filho, a mãe vai te dar um pedaço de bolo antes dos outros vem – disse ela pegando um prato e tirando uma fatia de um bolo enorme de chocolate que estava em cima do fogão, ele sorriu e se sentou na mesa, dona Letícia sentou do lado e serviu um copo de leite pra ele, eu queria rolar no chão de rir com a cena mas me contive.
- Vai aonde Nando? – perguntou ele me vendo sair da cozinha.
- Vou lá fora – sorri e sai da cozinha, algumas pessoas me olharam, os dois e a bruxa ficaram me encarando, percebi então que eles desviaram o olhar de mim.Marcos encarava eles, ou melhor intimidava.Ele me encarou também e voltou a atenção ao jogo de sinuca que estava participando.
Não entendi o comportamento do meu primo.Precisava respirar, decidi sair um pouco dali.Atrás de algumas árvores próximas havia um gramado e uma sombra bem convidativa, fui até lá e tirei a camisa deitando por cima dela.Fiquei apensa de sunga preta, o vento batia nos meus pelinhos e deva uma sensação gostosa, que paz que estava ali, fiquei uns 10 minutos de olhos fechados quando ouço alguém se aproximar.
- Posso me sentar aqui também? – perguntou Marcos, não acreditei no que estava acontecendo, ele estava sério, não vou mentir, fiquei com medo dele tentar fazer algo comigo, ainda mais que praticamente estávamos escondidos.
- Pode; o lugar não é meu – dei de ombros, tentei manter a calma, meu primo nunca foi assim comigo desde que voltou pra casa.Ele se sentou a uns 3 metros de mim.
O clima ficou estranho, ele me encarava mas não falava nada, eu não falava nada, era surreal essa situação, se me dissessem de manhã que eu e meu primo estaríamos juntos em um ambiente sem trocar olhares ofensivos, sem nos ofender eu riria na cara da pessoa, mas estava acontecendo e nem por isso era motivo de riso,muito pelo contrário, então pra me distrair peguei meu celular e comecei a olhar algumas fotos que tirei do dia de hoje.
Não tinha por que ficar ali, não tinha por que meu primo estar ali, decidi acabar com aquela situação incomum.Peguei meu celular, me levantei e vesti minha camisa, virei de costas pra ele e quando fui sair meu primo deu um pulo e me segurou pelo braço.
- Me solta – tento me esquivar.
- Calma – pede ele sem alterar a voz.
- Me solta, eu não quero confusão – digo, tento puxar meu braço mas ele aperta mais.
- Relaxa Fernando – disse ele me puxando contra seu corpo quente, pude sentir seu hálito, estava com um leve cheiro de álcool – eu também não quero brigar,eu quero conversar – ele sussurrou em meu ouvido me dando mais medo ainda.
Ele me soltou, peguei meu celular que caiu no chão e fui saindo dali, queria voltar o mais rápido possível pra área onde estavam todos.
- Não de as costas pra mim – reclamou ele me segurando pelo pulso – eu não acabei ainda – completou.
- Qual é a sua Macos?Hein? – perguntei com raiva – você veio aqui pra me encher o saco ou pra me bater de novo – debochei.
- Volta pra casa Fernando! – exclamou ele, era mais uma súplica do que um pedido.
- O que você disse? – perguntei incrédulo com o pedido.
- Eu to pedindo pra você voltar pra casa, pra nossa casa – ele me olhava com um sorrisinho meigo, eu não estava acreditando que isso estava acontecendo....meu primo, o mesmo que me fez querer sair de casa, que deixou bem claro que eu não era bem vindo ali, que fez da minha vida um inferno, estava me pedindo pra voltar!...
Continua...