Minha visão estava embaçada. O lugar era escuro e eu não conseguia me localizar.
Minhas mãos estavam para trás, presa possivelmente em uma corda, não sabia dizer ...
Estava sentado em uma cadeira dura e desconfortável.
Minha visão foi se ajustando a escuridão e as lembranças me atingiram como um soco.
Lá estava eu, com o Victor felizes. Segundos depois, o Victor foi pro quarto. Meio segundo depois, alguém chega por trás, tampa minha boca.
A taça, que estava em minhas mãos, cai sobre o sofá molhando-o.
Tentei morder a mão dele mas uma luva grossa me Impedia.
Rapidamente, ele andou de costas e entrou no apartamento em frente ao do Victor.
Eu me rebatia e fazia força para me soltar. Em vão. Ele era muito mais forte que eu.
Entramos no apartamento e ele, mesmo me segurando, de fechou a porta da sala.
Vi uma grande poça de sangue na sala. Meus olhos se arregalaram.
Tentei chutar sua virilha, mas não funcionou. Ele fez uma força, sobre humana, contra o meu corpo, fazendo-me contorcer de dor.
Gemi de dor.
Ele me jogou no sofá e rapidamente ficou de joelhos na minha frente.
- Se você gritar - ele exibiu uma lâmina - Vou matar você.
Sinceramente eu não tinha medo da morte. Acho que ele percebeu isso e tampou minha boca antes de eu gritar.
- Shhhh - ele pressionou a lâmina no meu pescoço. Senti um líquido escorrer por minha nuca.
Era sangue.
- Você acha que eu to brincando? - os olhos dele eram azuis, como o mar - Se você fizer um barulho eu mato o Victor - disse ele.
Ele me encarou por uns 4 segundos.
Usava uma touca preta, e uma blusa de manga comprida da mesma cor.
Seu rosto era redondo e cheio de marcas. Nunca havia o visto antes.
- Além do Victor, mato o Lucas, O Tiago e aquele seu amiguinho doente ... Vinicius não é? - ele riu - Acho que nem vou precisar mata-lo né ... Deus vai fazer isso por mim.
Meu corpo tremeu. Eu podia sentir que ele estava falando a verdade.
Todas aquelas ameaças direcionadas ao meu pai eram verdade.
Ainda tampando minha boca, ele pegou uma fita creper no chão. Enrolou minhas mãos e meus pés. Deu umas 50 voltas em cada um.
Tampou minha boca também.
Meu ombro esquerdo estava sujo de sangue.
Eu não sentia dor, talvez pelo momento, mas meu pescoço ainda sangrava.
Percebi que estava no apartamento de uma senhora que eu havia visto uma vez, desde quando cheguei ali.
Tremi só de pensar o que ele poderia ter feito com ela.
Segundos depois, ele voltou e pressionou um pano no meu nariz. Tentei não respirar mas não conseguia.
Desmaiei e acordei onde estava agora.
Ainda preso, tentei soltar minhas mãos e meus pés, sem sucesso. Ele havia amarrado muito bem.
Olhei em volta. Parecia ser um quarto.
Havia uma cama e um armário. Só.
A janela era tampada por uma madeira. Creio que era noite, porque nenhuma luz passava por ela.
Pensei no meu pai. Sabia que ele não mediria esforços pra me resgatar.
Pensei no Victor.
Pensei no Vinicius ...
Tentei gritar, mas fui impedido pela fita na minha boca. Saiu mais um grunhido.
Acho que foi o suficiente pra ele ouvir e entrar naquele quarto escuro.
Trazia a mesma lâmina que havia me cortado.
******* VISÃO DO VICTOR.
Depois de ter ligado pro pai do Gabriel, tentei me controlar. Era noite e eu estava no chão da sala.
Queria reagir, mas não conseguia.
Me sentia culpado pelo o que tinha acontecido.
Olhei pro sofá molhado e comecei a chorar. Como eu pude deixar aquilo acontecer? Na minha própria casa?
Peguei a taça e a joguei com força na parede.
Carlos, o pai do Gabriel, ficou enlouquecido depois de eu ter contado pra ele o que havia acontecido.
Antes de eu acabar de explicar, ele havia desligado.
Com certeza estava vindo pra cá.
*
Devia ser 4 da manhã quando a porta da minha casa foi praticamente arrombada. Eu devia ter colhidado no chão da sala.
Umas 5 pessoas entraram de uma vez.
Me levantei rapidamente. Uma delas era o Sr. Carlos.
- O que aconteceu Victor? - perguntou ele visivelmente abalado.
- Levaram ele ... - falei envergonhado e com raiva de mim mesmo - A culpa foi minha ... - falei - Eu não ... Não vi... - gaguejei.
- A culpa não foi sua - disse ele andando pela sala - Eu estava sentindo que isso ia acontecer.
Não respondi.
As outras 4 pessoas, andavam pelos comodos da casa.
- Victor presta a atenção em mim - Carlos me fez olhar pra ele - A gente vai trazer o Gabriel de volta, você tá me entendendo?
Fiz que sim com a cabeça.
- Fala que entendeu - pediu - Ele vai voltar, são e salvo.
- Entendi - falei por fim.
*
Expliquei pro Carlos e pros outros homens, que descobri serem agentes, tudo o que tinha acontecido. Falei a mesma coisa milhões de vezes.
- Ele chegou, conversamos - falei - Eu queria comemorar minha promoção no trabalho (que inclusive devia ter perdido porque faltei serviço). Fui na cozinha, peguei vinho pra mim e água pra ele.
Carlos ouvia tudo atentamente.
- Conversamos mais um pouco - falei. Carlos não parecia incomodado de termos "conversado tanto" - Depois eu falei que ia colocar uma música e fui pro meu quarto.
Os agentes faziam anotações em seus cadernos.
- Quando voltei ... - pausa - Ele não tava mais aqui - fiz uma longa pausa - A taça estava no sofá, a porta da sala aberta.
- Quanto tempo você ficou no quarto? - perguntou um agente.
Pensei a respeito.
- Uns 40, 50 segundos ...
- Ele é rápido - disse - Deve ser forte, grande e alto.
- Continua Victor - pediu o Carlos.
- Fui até o corredor, não tinha nada. Depois fui até o elevador. Estava ocupado. Desci as escadas correndo e cheguei antes de ele abrir, lá em baixo. Uma moça saiu dele.
- Foi tudo muito rápido - disse outro agente - Como alguém consegue sair com uma pessoa e ninguém ver nada?
- A não ser que ... - Carlos se levantou.
- O que? - perguntei.
Ele foi até a porta da sala e a abriu.
Olhou pelo corredor e pegou a arma.
Os outros agentes também pegaram suas armas.
- Quem mora aqui? - perguntou o Carlos olhando pro apartamento em frente ao meu.
- Uma senhora - falei.
- Qual o nome dela?
Pensei.
- Fátima ... Márcia, Márcia - falei me lembrando.
Eles se aproximaram do apartamento dela.
- Dona Márcia? - um agente negro bateu na porta - Dona Márcia?
Eles se olharam e sem pensar muito, arrombaram a porta.
O apartamento era igual ao meu. A diferença eram os móveis e o sangue no chão da sala.
- Eles estavam aqui - disseram.
Olhei pro sangue e minha cabeça girou.
- Aqui! No banheiro! - gritou um dos agentes.
Eu não queria ir até lá, mas meu coração pedia.
Involuntariamente, fui até lá.
A dona Márcia, ou o corpo dela, estava no chão do banheiro. Estava toda contraída e de olhos abertos. O corpo já estavam se decompondo e meu estômago embrulhou.
Me afastei enquanto eles ficavam lá, analisando tudo.
Voltei pra minha casa, com mais raiva ainda de mim mesmo. Como não tinha pensado naquilo?
Meu celular tocou. Fui até ele rapidamente, mas me decepcionei. Era o Tiago.
- E aí cara? - disse ele - Você tá com o Gabriel? O Lucas quer falar com ele mas não tá conseguindo ...
Comecei a chorar, de raiva e de medo. Me sentia inútil, um lixo por não ter impedido aquilo de acontecer.
- Victor? O que tá acontecendo cara? Quer que eu vá aí cara? - Tiago estava preocupado.
- Não - pedi soluçando.
- O que tá acontecendo?
Tentei explicar enquanto chorava.
****** VISÃO VINICIUS.
Minha sensação não era das boas. Meu corpo tremia e eu não sabia porque.
Tentei ligar pro Gabriel, mas ele não atendia.
Tentei ligar pro Lucas que também não atendeu.
A sensação ruim aumentou.
Ana entrou no quarto.
- Pensei que estava dormindo - disse ela se aproximando.
Ana estava linda. Meu coração doía de deixar aquela mulher linda. Mas me conformei, porque tive certeza de que ela ia achar alguém incrível.
Ela beijou minha testa e se sentou.
- To sem sono - falei - Falou com o Gabriel hoje?
- Não, porque?
- Não to conseguindo falar com ele.
- Ele deve estar ocupado ... - falou - Vou tentar ligar pra ele depois.
Sorri agradecido.
- O que foi? - perguntou ela.
- Estou com uma sensação estranha ... - falei - Meu coração ... Não sei.
Ela se levantou assustada.
- Vinicius, meu Deus! Tem que chamar o médico.
- Não! - falei - Não meu amor - fiz um gesto pra ela se sentar - Fisicamente eu tô bem ... Estou com uma sensação estranha em relação a ele ... Não sei.
Ela respirou aliviada.
- Amor ele deve estar bem. - disse ela - Vamos ligar pra ele.
Ela pegou o celular e ligou pra ele.
- Ele deve estar ocupado - falou - Depois a gente tenta de novo.
Meus pais e 4 médicos entraram no quarto.
Eles pareciam nervosos.
- Vinicius, bom dia - disse um deles - Como se sente.
- Bem - menti. Não estava nada bem. Meu amigo, meu melhor amigo não estava bem. Eu podia sentir.
- Parece preocupado meu amor ... - disse minha mãe se aproximando - Você sempre sorri ... Faz piadas.
- To bem mãe - falei um pouco ríspido demais.
- Vinicius, depois de vários exames, localizamos o tumor - disse o neurologista - Sabemos exatamente onde ele está.
- Sim, e isso é ótimo - disse o outro - Ele está localizado em uma parte um pouco complicada, mas não impossível de ser alcançada.
Eu não conseguia prestar a atenção no que eles diziam.
- E já começamos os preparativos pra cirurgia ... Seus pais já assinaram o termo de ...
- Como é? - falei atraindo a atenção das 7 pessoas no quarto.
- A cirurgia, tem que acontecer o mais rápido possível - disse - Se possível amanhã ... Seus pais assina ...
- Eu não vou fazer - falei rápido.
- Que? - minha mãe praticamente gritou.
- Eu não posso - falei.
- Porque filho? - perguntou meu pai nervoso.
- O Gabriel ... Eu tenho que vê-lo antes ... - falei.
- Mas filho ...
Os médicos se olharam assustados.
- Eu quero vê-lo antes! - falei chorando e tremendo ao mesmo tempo.
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1 milhão de desculpas por ter demorado gente kkkkk amo vocês.
E sim, eu coloquei 7.1 antes do 7. E sim, 7.2 depois do 7.1. Beijocas.
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