*Pois bem... Outro capítulo pra vocês!
Espero que gostem!*
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CORAÇÃO DE TITÂNIOAquilo só podia ser brincadeira... Olhava-o, no batente da minha porta e tentava ignorar todos os sinais que o deixavam parecido com Xavier.
Lábios, sobrancelhas, expressão de indiferença...
-Irmãos? -eu sussurrei.
Mais essa! Mais um item pra minha lista de loucuras! O que mais faltava?!
Victor acentiu, colocando o toco de cigarro no corredor mesmo e entrando sem ser convidado.
-Xavier nunca mencionou um irmão! -eu disparei, logo.
Sentou-se no sofá, muito confortável e bem consigo mesmo. Tinha uma confiança no olhar e pouco se importava se não nos conhecíamos.
Não estava com medo dele... Estava até curioso! Tanta coisa que não sabia sobre meu namorado... Tantos segredos que ele escolher esconder de mim. As coisas que Victor poderia me contar... Tudo que ele poderia dizer sobre Xavier e o seu passado.
Estava tentado.
-Xavier tenta me enterrar e me fazer desaparecer faz anos. -ele desdenhou. -Não estou surpreso de não saber minha existência... Poucas pessoas sabem.
-O que quer comigo?
-Como meu irmão me ignora totalmente, recusa a ajuda que quero pra ele, preciso te avisar: fique longe do meu irmão! -seu olhar recaiu sobre mim como uma bola de ferro.
-Isso é sério? -eu sorri com deboche. -Você invade minha casa às duas da manhã por causa de ciúmes bobos?
Seu olhar afiado e sua frieza gelam ainda mais o ambiente.
-Não estou com ciúme! -ele cospe as palavras. -Estou te alertando! Xavier é perigoso!
Franzi a testa, olhando incrédulo.
-Xavier não é perigoso! Você que é! Quem está invadindo a casa alheia de madrugada?!
De repente meu celular toca, dando um susto tanto em Victor como em mim. Pego-o no bolso e fico confuso ao ver o nome de Xavier brilhar na tela.
-Alô? -o garoto sentado a minha frente sorri com veneno. Provavelmente sabe quem é.
-Leon! -a voz de Xavier está desesperada. -Não atenda o interfone e não deixe ninguém entrar na sua casa!
Agora sinto um arrepio de medo atravessar meu corpo.
-Por quê? O q.que aconteceu? -gaguejo, olhando Victor.
Ele parece satisfeito e algo me diz que sabia que isso aconteceria.
-Apenas faça isso. Logo chego na sua cas... -o celular foi tirado da minha mão pelo outro.
-Olá, maninho. -Victor praticamente pragueja essas palavras pro meu namorado por celular.
Ouço Xavier gritar coisas que não compreendo. O garoto a minha frente continua a sorrir com malícia... Quem era ele? O que queria comigo?
-Ah, está vindo pra cá? Que maravilha! -Victor continua sem se abalar. -Precisamos realmente ter uma conversa, nós três.
Desligou o celular e o passou pra mim, como se nada tivesse acontecido.
-Importa se eu fumar? -ele questionou, já acendendo um cigarro em sua boca e tragando.
-Não entendo por que está fazendo isso... -eu disse, depois de alguns segundos em silêncio.
Ele olhou-me, realmente, pela primeira vez. Seu olhar teve compaixão por poucos instantes.
-Você é uma pessoa boa, Leon. -ele sorriu. Sorriu de verdade, sem deboche ou malícia. -Não aguento o que meu irmão está fazendo com você.
-Ele não está fazendo nada, Victor! Ele me faz feliz! Estou feliz!
Seu olhar se escureceu e ele jogou as cinzas do cigarro no tapete.
-Meu pai também estava, antes de Xavier matá-lo.
Fiquei alguns segundos olhando-o em choque... Eu ouvira errado.
-O que você disse? -eu sussurrei, quase em ameaça.
-Xavier não é uma anjo... Muito pelo contrário, Leon... Só vim avisá-lo pra ficar longe dele, antes que seja tarde.
Ele apagou o cigarro pela metade na mesa ali perto e deixou a bituca ali mesmo. Ia falar algo mais, olhou-me intensamente por alguns segundos e suspirou.
-Nós nos vemos por aí.
E com essa deixa, saiu porta a fora. Eu, chocado demais, não fui atrás dele. Não fiz nada. Sentei no sofá pensando em tudo que ele havia me dito.
Não podia ser verdade... Xavier não mataria ninguém. Muito menos seu pai, por quem ele mesmo admitiu ser apaixonado.
Foi questão de dois minutos até meu namorado cruzar a porta com um olhar em chamas e varrer a sala a procura do seu irmão.
Ele vestia a mesma roupa que usou pra conhecer a família do meu irmão. Seu cabelo estava bagunçado dando a ele uma aparência maníaca.
-Onde está? -sua voz rouca chegou suave a mim.
-Não sei. -minha voz saiu fraca. -Saiu daqui logo depois que você ligou.
Ele respirou fundo e sentou-se ao meu lado. Escorou a cabeça em meu ombro e beijou meu pescoço.
-Sinto muito. Por tudo isso...
-Ele me chamou de Marcos quando nos conhecemos.
-Marcos era o nome do nosso pai. Não contei isso a você?
Fiquei em silêncio, deixando que isso dissesse tudo.
-Eu deveria ter contado dele pra você.
-Mas não contou. -retorqui, fechando os olhos. -E pensar que seu pior segredo era ser apaixonado por um cadáver.
-Leon, não vamos falar sobre isso e não vamos brigar. É isso que Victor quer... Sempre quis me ferir. -sua voz estava calma como se ele falasse com uma criança mimada. -Eu estava indo dormir umas duas horas até ir pra outra cidade quando meu irmão louco veio atrás de você. Não sei os motivos dele e estou assustado.
-Assustado com o quê?
-Com o que ele pode fazer com você!
-Com o que ele pode me contar, você quer dizer! -eu cuspi.
Xavier mentia! Com tanta facilidade que talvez as mentiras acabavam se tornando verdade pras pessoas... E pra ele também!
O que mais ele me escondia?
-O que quer dizer com isso, Leon? -sua voz se alterou minimamente. -O que Victor te contou?
-Coisas sobre você que estou rezando pra que não sejam verdades...
-Que eu matei meu pai? -ele sorriu com amargura.
Virei-me pra ele tão rápido que ele pulou pra longe no susto. Seus olhos estavam surpresos, mas levemente humorados.
-É verdade? -eu exigi.
-Inferno, não! -ele balançou a cabeça. -E você achar que é verdade me machuca mais do que eu consigo explicar. Pensar essas coisas horríveis de mim... Mas talvez eu até mereça. Mereça tudo isso.
Levantou-se e foi perto da mesa onde jazia a bituca de cigarro do seu irmão... Olhou aquilo com uma melancolia que eu não conseguia compreender.
-O que Victor ganha vindo atrás de mim e mentido desse jeito? -eu perguntei... Meio em tom de desculpas.
O que tinha na minha cabeça ao achar que Xavier faria algo desse estilo?
-Não sei. Victor diz que eu tenho problemas... Mas ele é o único com problemas. E sou o único que posso ajudá-lo.
-E não vai me contar nada, não é mesmo? -eu suspirei.
-Bem, eu coloquei uma pessoa que confio pra segui-lo... Lembra-se daquele homem comigo no shopping naquele domingo?
Acenti, lembrando. Daniel, Fernando e Homero estavam comigo.
-Por isso sabia que ele estava te seguindo. Eu sempre o perco por pouco. Escapando entre meus dedos... Não sei mais o que fazer.
-Sabe que estou do seu lado e quero só te ajudar, não é?
-Sim... Eu sei. -ele sorriu. -Por isso quero que faça algo pra mim.
-Qualquer coisa.
...
Toquei a campainha da casa. Já era passada das quatro da manhã. Um frio razoável rondava a noite e o brilho prateado da lua deu a casa um tom mágico.
Uma luz acendeu-se no andar de cima e segundos depois uma voz saiu do interfone.
-Quem é, inferno?! -meu irmão rugiu.
-Homero, sou eu! O Leon! Preciso que me deixe entrar.
-Leon?! Cacetada no meu cu! Você sabe que horas são?! Eu tava transando, porra! -ele praguejou mais alguns palavrões e abriu o portão e a porta com um mau humor que eu conhecia muito bem.
Mas sorri e abracei-o. Ele vestia apenas um calção de tecido e chinelos. Cabelo pós-foda, suado e o cheiro do Daniel estava impregnado nele.
A casa estava do mesmo jeito que a hora que saí. Só que mais arrumada. As bebidas voltaram pro lugar de sempre o sofá estava organizado.
-Leon! -Dani desceu as escadas com um olhar surpreso.
Bochechas bem coradas, cabelos armados e a sua testa havia uma camada de suor. Esses dois safados! Sorri largamente. Sua única vestimenta era uma camiseta do Homero que ficava muito maior nele.
Sorri quando ele correu pra me abraçar.
-Dani! Oi! Quanto tempo, não é? Parece que interrompi algo importante. -eu debochei.
Daniel corou e Homero acentiu, rabugento.
-Interrompeu mesmo! E espero que seja importante.
-E é... Sentem-se que lá vem bomba.
Contei-lhes a história de como Victor apareceu no restaurante, entrou no meu apartamento e sobre todo o resto.
-E então Xavier pediu que eu não ficasse sozinho. Como ele vai estar fora da cidade por alguns dias, pediu que eu ficasse aqui com vocês pra que Victor não faça nada que me prejudique. -terminei.
-Uau! -Homero balançou a cabeça. -Claro que pode ficar!
-Seria um prazer, aliás. -Daniel sorriu. Logo franziu a testa. -Se ele é perigoso, porque Xavier já não colocou a polícia atrás dele?
-Bem, Xavier diz que a polícia pode querer prendê-lo e não é esse tipo de ajuda que ele precise.
-Talvez ajuda psiquiatra? -Homero arriscou.
-Talvez.
-É muito estranho, realmente! Mas será bom te ter por perto. Vou fazer um almoço especial pra nós, amanhã! -ele prometeu.
-Mal posso esperar.
-É! Mas agora vamos dormir! -Homero cortou com uma voz mal humorada. -E se você atrapalhar nosso sexo mais uma vez, vai dormir com o gato!
-Nem sabia que tinham um gato! -eu ri.
-Não é nosso gato. É o gato do Fagundes, o vizinho. -Dani riu baixinho. -O velho tem Alzheimer e cuidamos deles... Damos água e comida.
Caminhamos até o quarto de hóspedes e ele me ajudou a me instalar... Não por muito tempo, porque Homero logo o arrastou pro quarto.
Os gemidos dos dois foram ficando pra trás quando comecei a pegar no sono. Um bem-vindo depois daquele dia... E que dia!