Segunda-feira carrega sempre a mesma energia.
Aquela era uma das mais típicas. Acordei preocupado com o horário da entrevista. A verdade é que eu não tinha dormido direito. Eu ainda estava sob o efeito da última ligação de Vincenzo. O fato do cheiro e a presença dele ainda permanecerem no quarto, faziam com que eu me lembrasse dele e das palavras ditas com uma frequência dolorosa.
“São situações que eu não posso prever. É minha vida. Sempre foi assim. Estar aqui e depois não estar mais.”
Preparei o café com gosto de desânimo e a bendita garrafa azul em cima do balcão me lembrava que, nem se eu quisesse, conseguiria tirá-lo daquele buraco que eu chamava de casa. Não posso e nem preciso negar que eu estava contando com o despertar de uma possível e excitante relação entre eu e o homem que já não era tão misterioso assim. Nos poucos dias ele me deu espaço para descobrir seus segredos, mas uma ligação e uma passagem comprada para Nova Iorque fizeram meus músculos esquecerem das forças que tinham. Me ver sozinho, novamente, foi um baque que eu não estava preparado. A parte igualmente dolorosa era saber que Alexandre estava tão longe quanto Vincenzo estaria. Não esfriei o café com esperança de que o líquido quente demais pudesse dissolver as frases presas nas minhas entranhas.
“Por mais que eu queria, não posso pedir que espere por mim.”
“Você foi a melhor coisa que aconteceu nos últimos dias e eu só posso lhe agradecer por isso.”
“Eu não vou te esquecer. Seria injusto demais.”
“Prometa-me que ficará bem.”
“Adeus!”
Mais uma vez eu estava sozinho numa cidade completamente maluca. Só me restava dar o passo que estava programado.
Desci do táxi e arrumei meu casaco cinza de lã que parecia uma blazer despojado. Era pesado demais para meu corpo não tão forte assim e me deixava extremamente desconfortável. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha esquerda e agradeci aos céus por ele ter permanecido do jeito que eu penteei antes de sair. Por baixo do casaco eu vestia uma camisa jeans preta que brincava entre o casual e o social, coloquei uma calça também preta e um tênis menos esportivo. Eu tinha um para ocasiões especiais. Eu jamais vestiria algo social, mesmo se tratando de uma entrevista de emprego. Antes de entrar no prédio onde ficava o escritório da tal revista, passei o olho no relógio e vi que ainda faltava muito para as dez da manhã, o horário marcado. Ao chegar no escritório moderno demais, logo vi que o ambiente não pedia uma roupa tão comprometida assim. Uma garota vestindo vermelho dos pés à cabeça passou por mim e me serviu o sorriso mais animado que eu já vi na vida. Seu cabelo preto não tinha um corte exato e exibia mais fios desiguais que o lado interno do meu casaco. “Cabelo legal” ela disse ao entrar em um corredor sem me dar chance para a resposta. Na recepção, ao me identificar, me direcionaram para a sala que aconteceria o interrogatório. Eu era o primeiro e provavelmente já conversaria com quem estivesse ali para me receber. “Gosto dessa agilidade” pensei comigo mesmo quando outra moça aparentemente mais velha me recebeu com outro sorriso animado. Ela estava enfiada em um vestido muito justo de um tom claro de azul.
“Você não tinha garrafa. E ela é azul, poxa.” A voz de Vincenzo dançou em meus ombros e eu os balancei, como se pudesse sentir o peso delas. Porém outra voz tão grossa como a de Vincenzo foi lançada sobre meus ombros, se enfiado em meus cabelos:
- Eu cuido dele, Marisa!
O homem tomou a frente da mulher de cabelos amarelos e abriu a porta da pequena sala. Naturalmente ele entrou e deixou a porta sob meus cuidados.
- Pode fechar – ele disse dando a volta na mesa para sentar na cadeira atrás dela.
Ele era um pouco mais alto que eu. Chutei 1,85 m. Sua pele branca contrastava com o suéter preto que ele vestia e deixava evidente o quanto seu peito parecia definido. Seu queixo poderia ser quadrado, mas essa suposição poderia estar sendo influenciada pela barba cheia e bem modelada. Seus lábios eram consideravelmente grossos e a linha que fazia o contorno deles era bem definida, quase desenhada. Os olhos pequenos, apertados e negros deixavam toda atenção para seu nariz exagerado. Mesmo exagerado, parecia perfeitamente encaixado ali entre os outros elementos do roso. O exagero lhe emprestava uma aparência rude, mas o sorriso fácil logo fazia a rudeza sair dali com pressa.
- Pode sentar, aliás – ele me arrancou dos pensamentos.
- Claro!
O homem abriu a pasta que estava jogada ali sobre a mesa e não demorou a achar uma folha com algumas informações minhas.
- Caio, né? Matias! – Ele estendeu a mão para um cumprimento rápido. Eu apertei educadamente.
- Gosto do seu currículo, viu?
- É? Que bom – eu disse num sorriso não tão verdadeiro.
- Jornalismo, especialização em mídias digitais. Exatamente o que precisamos.
- Ponto para mim.
De cabeça levemente baixada, ele me olhou arqueando as sobrancelhas com um sorriso malicioso demais para o horário.
- Qual foi a coisa mais maluca que você já fez?
- Como é?
Que tipo de entrevista era aquela? Quem estava arqueando as sobrancelhas era eu.
- Perguntei isso mesmo. Qual foi a coisa mais maluca que você já fez? – Ele repetiu a pergunta.
“Me apaixonar por um ricaço após um programa” eu quis dizer mas em vez disso sorri com meus pensamentos.
- Uma roadtrip pelo Nordeste há alguns anos.
- Isso não é loucura. Isso é sonho. – E então seu riso me fez rir também. – Mas aceito como resposta.
- Vou ter que concordar com você. Parecia mesmo um sonho. Foi antes da faculdade.
- A faculdade e o bloqueio da vida social. Bem-vindo ao mundo adulto, então. – Ele disse coçando a lateral da sua cabeça, um pouco acima da orelha. Naquela região o cabelo era visivelmente mais curto que no topo. Me peguei sendo um tanto intolerante quando pensei que aquele era um corte muito moderno para um homem que aparentava passar dos 35 anos.
- Não é tão ruim assim, vai.
- Se você está dizendo. – Ele deixou a folha sobre a mesa e continuou. –Lhe dou um minuto para pensar em uma matéria totalmente livre. Uma matéria sua em nossa revista. Me diga o tema dela.
Ele sorria como se aquele fosse o maior desafio da minha vida. Ele não sabia o quanto eu era criativo pela manhã, mesmo sob o efeito da partida de Vincenzo e todos os sentimentos que isso tinha acordado em mim.
- A relação das pessoas com o ambiente ao redor e a influência dele sobre elas – eu disse naturalmente sem me atropelar as palavras.
Ele novamente esboçou aquele sorriso malicioso. Aquele sorriso que não cabia ali, no meio de uma entrevista.
- Metade da vaga é sua – disse em um quase sussurro enquanto se ajeitava na cadeira. Eu pude ver através do vidro da mesa que ele criava, propositalmente, um espaço entre as coxas apertadas pela calça social.
- E a outra metade?
Visivelmente impaciente, eu não estava gostando do jogo.
- Me convença. Quais são suas qualidades? – ele perguntou enquanto anotou algo naquela mesma folha que guardava meus dados.
Eu lhe falei sobre meus surtos criativos e sobre minha proatividade. Entreguei minha curiosidade e a capacidade de me adaptar ao ambiente. Confessei não ser a pessoa mais falante do mundo, mas disse-lhe não ser o fã número um da introspectividade. É inegável: eu gosto de pessoas. E gosto de me relacionar com elas. Contei sobre o trabalho anterior e as experiências obtidas ao possuir um cargo minúsculo numa equipe de diagramação de uma editora não muito importante. Aparentemente ele ficou satisfeito com tudo que eu falava. Eu não era a pessoa mais experiente do mundo. Eu só tinha 24 anos e o emprego que eu tinha largado para viver uma vida excitante com Alexandre tinha sido o primeiro depois da faculdade. Conversamos sobre as normas da empresa e de como tudo funcionava por ali. Mesmo com notório fim da entrevista ele me segurava ali. Seu corpo entregava entrega suas reais intenções.
- Você já tomou café?
Que pergunta impertinente. Mesmo diante de uma impaciência desconfortável, eu precisava ser simpático. Eu era a pessoa que buscava a vaga.
- Ainda não.
- Os outros ainda não chegaram. Quer um café?
- Café e um bom livro não se nega à ninguém, não é? – Eu brinquei, tão falso quanto meu sorriso.
Ao sairmos do escritório, entramos direto num elevador e Matias apertou o botão que nos levaria para a garagem. Percebendo meu estranhamento, ele tratou de dizer que precisava pegar algo no carro. Eu não me importaria de ir até a garagem. A entrevista já tinha acabado. Eu estava livre do interrogatório e aparentemente já tinha conquistado uma vaga dentre as outras disponíveis para a nova equipe.
Caminhamos entre os carros e o ambiente estava tão vazio quanto a minha mente. Pelo menos eu não estava pensando em Vincenzo e as dolorosas palavras trocadas na última ligação. Ele identificou o seu automóvel e eu encostei em uma pilastra, fingindo verificar qualquer coisa no celular. Eu via fotos salvas de séculos atrás. Precisa apagá-las, aliás.
- Com pressa? – Ele falou alto demais e a voz ecoou pelo ambiente.
- Não, nenhuma – eu menti.
Ele estava encostado no carro. A porta permanecia fechada.
- Vem cá!
Sua mão esquerda estava parada propositalmente sobre o cós da calça apertada. Eu conseguia imaginar o movimento que vinha à seguir: enfiaria os dedos entre o cós e a cueca. Ele não passava de um desses exibicionistas que acham que vão conseguir fisgar qualquer um. Mas havia um ponto indiscutível nisso tudo. Um ponto importante, talvez: ele era gostoso e eu precisava dele. Não dele, é claro, mas da vaga que ele tinha nas mãos.
Fingi não dar muita atenção e continuei olhando-o.
- Pode vim – ele continuou. Seus dedos estavam dentro do cós, como eu previ.
Eu encurtei o espaço entre nós e guardei o celular no bolso, fingindo interesse no que acontecia. Naquele momento ele não mais prometia enfiar a mão em sua calça. Ele estava alisando uma saliência que se formava atrás da marca do zíper. “Mais do mesmo” eu pensei desanimado.
- Essa sua carinha não engana ninguém. – Ele ainda era ardiloso.
- Não estou tentando enganar – eu respondi.
- Pega aqui!
Ele estava apertando o volume que crescia com pressa.
- Perigoso demais, não acha?
Ele olhou ao redor certificando-se que ninguém apareceria ali.
- Tudo limpo. Estamos sozinhos aqui.
- Essa é a outra parte da entrevista então? – eu perguntei ainda mais próximo dele.
- Claro que não. Eu sou indecente. A vaga é sua. Isso aqui é tesão.
Independente de quais fossem as intenções, Matias parecia confiável. Talvez a vaga fosse mesmo minha e talvez aquilo fosse apenas vontade de brincar um pouco com o tesão que ele guardava. E guardava há bastante temo, aparentemente. A calça dele sofria para segurar o que queria sair. Uma guerra poderia estar sendo travada ali dentro. Dando-lhe um voto de confiança e dando-me a oportunidade de ser o alívio de alguém, cheguei mais perto e escorreguei minhas mãos pelo volume marcado. Um suspiro logo apareceu entre aqueles lábios bem desenhados. Ele sorriu olhando para minha mão, animado com o que poderia acontecer nos próximos movimentos.
É impossível medir forças com um homem excitado de verdade, então eu apalpei seu membro sem vergonha e desci minha mão logo agarrando o que seria seu saco, correndo meus dedos pelo tecido. Aquilo tudo preencheu meus dedos mesmo eles estando bem abertos. Eu também estava excitado e isso era incontestável. Eu não queria estar ali, mas meu corpo manifestava outra vontade.
- Tira ele para fora.
Não era uma ordem. A voz de Matias mesmo grossa, era mansa. Parecia um pedido desesperado. Eu tirei minha bolsa, a coloquei sobre o teto do carro e soltei o botão da calça dele. Nesse movimento percebi que o corpo dele era mesmo muito definido. Minhas mãos tocavam o final de sua barriga e ela era dura e musculosa. Não exageradamente, mas haviam ali linhas bem definidas. Eu desci o zíper e o tecido esticado de sua cueca escura apareceu. Estava quente e pulsava grosseiramente. Enfiei minha mão dentro da cueca e agarrei, com pressa, o membro que ele guardava. Ele estava úmido e muito quente, mas era incrivelmente macio e gostoso ao toque. Não era grande e nem violentamente grosso. Eu conseguia segurá-lo da sua base até sua cabeça com meus dedos levemente separados. Ele estava gostando do que eu fazia. Eu não muito. Ele suspirava e quase gemia com meus movimentos, ainda mantendo o apressadinho dentro da cueca.
- Você é bom com a mão – ele disse sussurrando.
- Se você diz – eu disse sem muita emoção.
Imediatamente fiz seu pau apontar para cima e o pressionei contra a pele da barriga dele. O pênis quente demais roçava meu pulso enquanto eu enfiava minha mão naquele cativeiro tórrido, fazendo meus dedos roçarem a parte mais sensível de seu saco. Eu estava invadindo a privacidade daquele e ele gostava, pois seus joelhos dobravam e seu corpo ficava cada vez mais dependente da dureza do carro. Pelo menos eu estava gostando de ver o quanto ele precisava daquilo. Mais ousado, desci ainda mais meu dedo do meio e rocei o comecinho da vão entre suas nádegas. Ele travou a passagem, mas deixou que eu continuasse ali. Eu rocei a pele macia coberta por alguns pelos lisinhos e suados e ele finalmente gemeu. Saiu tão apertado entre os lábios que meu nível de excitação atingiu outros patamares. Sentindo-o pulsar em meu braço, eu tirei a mão do vão de suas pernas e agarrei o membro com força. Meus dedos iam até a base e subiam, trazendo a pele com eles. Meu masturbar não era rápido, mas o faria gozar logo. Ele virou o rosto para o lado, me entregando toda sua barba e eu não me contive: enfiei meu rosto onde ela acabava, exatamente no começo do pescoço muito longo. Eu chupei aquela região enquanto o masturbava e fazia todos seus músculos se tensionarem. Ele se mostrava fraco demais e entregava que tudo o que eu tinha visto até então era pose. Eu sorri quando ele gozou em meu dedos e gemeu pausadamente, quase perdendo o fôlego. Para minha surpresa nunca vi ninguém gozar tanto. Minha mão estava completamente melada, assim como o membro dele e a cueca. Eu não soltei o pau enquanto ele não curvou o corpo, reclamando um pouco da super sensibilidade na glande após o gozo.
- Que exagero – eu disse mostrando minha mão completamente molhada enquanto me afastava.
- Foi pouco. Já gozei mais – ele pareceu se gabar do super poder. Eu balancei a cabeça negativamente enquanto ria.
Cuidadoso, ele pegou uma toalha de rosto no carro e limpou o próprio pau. Passou o tecido na cueca, tirando o excesso enquanto dizia que daria um jeito nela. Lhe estendi a mão e ele limpou meus dedos, com igual cuidado. Era engraçado vê-lo fazer tudo isso com o membro pendurado para fora da calça.
- Guarde isso aí – eu disse apontando para o membro gostosinho. – E não esqueça que íamos tomar um café.
- Memória boa. Outro ponto bastante importante – ele disse ao me obedecer.
No café, conversamos como se nada daquilo tivesse acontecido. Ele falou sobre o lançamento da revista que na verdade tinha acontecido há algumas semanas e do ritmo dentro do escritório. Moderninhos, as coisas funcionam aparentemente de forma muito mais leve que no trabalho anterior, onde eu não tinha tempo para viver.
Não demoramos ali. Logo era hora das outras entrevistas e ele teria que ajudar Marisa. Naturalmente eu já me sentia parte da equipe e, mesmo impertinente, já considerava Matias alguém tolerável. O pau era gostoso e o gozo era lindo, pelo menos.
Também não demorei a chegar em casa. Não tinha compromisso, mas não era um bom dia para ficar na rua. Talvez eu voltasse a dormir e só acordasse quando Matias me ligasse confirmando minha aceitação na empresa, afinal, ele precisava cumprir todo os passos de uma admissão. Eu não sabia que ele ligaria ainda no final daquele mesmo dia para dizer que eu começava na quarta.
O táxi parou no exato momento em que começou a chover. Entrei e fechei a porta com pressa enquanto o motorista desligava o telefone. Eu o ouvi pronunciar uma última palavra:
- Adeus!
Era o motorista falando, mas era a voz de Vincenzo que ecoava em meu corpo inteiro. Teria sido melhor ficar na chuva. Talvez assim aquilo finalmente saísse de mim.
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Um mês depois.
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Para minha surpresa, a equipe de elaboração queria mesmo que eu fizesse a tal matéria que citei na entrevista. Matias tinha feito o favor de mencionar isso no relatório.
Juntei todas as palavras presentes em meu vocabulário e elaborei uma matéria curta, porém bastante precisa. Os editores adoraram e a publicaram. A aceitação do texto me deu a oportunidade de virar uma espécie de colaborador. Eu analisava as matérias que seriam publicadas e vivia sob o aviso de que outros arquivos assinados por mim estariam na revista. Eu estava animado com o rumo que as coisas tomavam e me sentia confortável com o ritmo do meu novo trabalho. Frequentemente quando saíamos mais cedo, a garota que vestia vermelho dos pés à cabeça me convidava para um café. Ela reclamava que eu evitava sair para noitadas, como quase todos faziam ali. Eu expliquei que não fazia esse tipo e que não me animava em lugares assim. “Como costumavam dizer: eu sou um completo tédio” eu disse sem evitar as lembranças gostosas de Alexandre.
Eu não falava com o garoto na frequência que gostaria, mas nossas ligações, quando aconteciam, duravam alguns bons minutos. Ele estava se dando bem na cidade aparentemente muito pequena para ele. As coisas lá pelo Sul tomaram um ritmo também agradável e vez ou outra ele dizia estar encantado por um garoto diferente. O encanto, é claro, tinha o prazo contado: dois ou três dias.
“Só você conseguiu me encantar de verdade, mas como não está aqui eu vou me contentando com esses garotos vazios e gostosos” ele me disse certa vez enquanto conversamos numa madrugada tipicamente fria.
Eu gostava dele. E gostava ainda mais das brincadeiras que travávamos toda vez que um ligava para o outro. Uma mudança repentina não faria Alexandre perder o seu senso de humor muito bem apurado.
Nos primeiros dias Matias me ligou algumas vezes e foi obrigado a se contentar com minhas mentiras. Eu insistia em dizer que estava me concentrando na tarefa de criar uma imagem consistente de mim mesmo dentro da empresa. Eu queria crescer e não queria causar nenhum tipo de transtorno. Ele insistia que o lance do estacionamento não se repetiria e que talvez fosse melhor nos encontrarmos decentemente fora dali. As ligações não duraram muito e logo ele deveria estar mirando em outro alvo. Eu estava desanimado demais para me envolver com alguém do mesmo escritório que eu. Outra verdade é que a imagem de Vincenzo ainda habitava meu apartamento. Quando eu levantava e o imaginava colado ao balcão, preparando o icônico primeiro e último café da manhã ou quando eu acordava e queria, com todas as forças, encontrar o corpo dele ainda com meu cheiro repousando no outro lado da cama. A última ligação dele não era mais uma dor insuportável. Eu lembrava dela como algo que marcou e que logo perderia o poder sobre mim. Inevitavelmente eu pensava no que poderíamos ser se ele não tivesse partido. Eu pensava, com pesar, na infinidade de coisas que poderíamos viver juntos, não por ele ser o herdeiro de um império, mas pelas coisas simples que eu lhe apresentaria. Eu tinha um mundo guardado para mostrar ao homem misterioso e agora este mesmo mundo, antes pintado de uma leveza singular, pesava sobre meu corpo em todas as manhãs.
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Em um daqueles dias do mês que passou, acordei lembrando que era meu aniversário de 25 anos.
Levantei de mau-humor, não por ser meu aniversário ou por estar ficando um ano mais velho, mas por ter que aguentar as várias felicitações dotadas de um cinismo que só nossa sociedade atual poderia ter.
Na revista, me preparam um pequeno café da manhã e muitos se reuniram ali para fingir alguma proximidade. A verdade é que nenhum deles me conquistara, mas inegavelmente eram boas pessoas. Meu chefe, o dono da revista, passou por ali e me deu um abraço. Ele era o mais simpático de todos. Não fingia gostar demais e não encenava gostar de menos. Brincou dizendo que eu era novo demais ali para ganhar presentes, mas já tinha me dado quando me promoveu muito antes do previsto. Eu só consegui sorrir camuflando a vontade de me enfiar embaixo da mesa.
Conversava distraída com João, um dos contratados ao mesmo tempo que eu, quando alguém falou muito próximo da minha orelha, fazendo meu corpo reagir instantaneamente.
- Parabéns pra você, nessa data querida...
Eu girei meu corpo parando a conversa sem avisos e Matias estava parado atrás de mim. O mesmo sorriso malicioso que eu lembrava estampava seu rosto bonito. Ele estendeu um copo em minha direção. O guardanapo denunciava que tinha comprado na única cafeteria do prédio e a estampa no copo mostrava que era o mesmo café que ele comprara quando fomos para lá depois do que tínhamos feito na garagem. Aquela provocação sutil me arrancara um riso. Talvez o primeiro verdadeiro do dia.
- Café é sempre um bom presente – eu disse tomando um gole, ainda rindo.
- Eu nunca erro – ele disse esbanjando sua imodéstia.
- Um dia ou outro todo mundo erra – disse Alice, uma das recepcionistas ao passar por nós dois.
Todos saíam praticamente ao mesmo tempo. João se despediu e levou consigo a minha única oportunidade de fuga daquele encontro impertinente. Para a alegria de Matias estávamos sozinhos na sala.
- Quando vão acabar suas desculpas?
- Desculpas?
Eu tomei outro gole, me escondendo atrás do copo de café.
- Essas que você cria quando eu te ligo.
- Não crio desculpas – eu disse me virando para a mesa de pães.
- Você não me deu oportunidades de mostrar que sou melhor que aquilo.
- Eu não disse que você foi ruim. Aliás, o que fizemos lá?
Eu me afastei da mesa com um sorriso um pouco cínico. Ele destruía a distância entre nós com passos rudes em minha direção enquanto falava:
- Você não ficou com vontade de terminar o que começamos?
Toda as investidas de Matias me deixava desanimado. Havia uma malicia nele que não me excitava, mas em compensação, quando calado, ele era absurdamente bonito. Talvez não fosse a pior coisa do mundo me dar ele de presente. Eu quase sorri comigo mesmo ao pensar isso. Esticando minha mão eu deixei que a ponta dos meus dedos tocassem sua barriga por cima da camisa social. O tecido fino quase me permitia sentir sua pele levemente dura.
- Talvez um pouco – eu confessei.
- Eu sabia! – Ele quase gritou. – Está escrito na sua cara!
Eu gargalhei. Eu gargalhei e caminhei em direção à porta, parando apenas para olhar o homem por alguns segundos enquanto falava:
- Você sabe meu endereço, não é? Está no currículo. Me ligue quando chegar lá.
- Depois das dez – ele confirmou novamente colocando seus dedos dentro do cós da calça, me obrigando a sair dali sem vontade de olhar para trás.
Saí do banheiro completamente nu assim que o telefone começou a tocar. Independente do que fosse acontecer, precisava me preparar. Eu estava limpo, cheiroso e leve. O prédio caía aos pedaços mas Seu Alceu insistia em manter o controle de quem entrava ou saía. Menos pior. Pelo interfone eu pedi que ele informasse o número do meu apartamento ao homem e então vesti apenas uma cueca e um short qualquer.
O toque de Matias na porta tentava reproduzir uma música qualquer e suas várias tentativas de se fazer engraçado me faziam rir. A abri e o vi encostado na madeira. Vesti uma calça preta levemente folgada, uma regata – graças aos deuses – não colada ao corpo e um tênis esportivo que não combinava em nada com a imagem que ele criava no escritório da revista. O sorriso não era o mais malicioso e isso era animador. O puxei para dentro segurando sua mão e ele logo reparou no apartamento pequeno demais.
- Cabe nós dois aqui?
- Não caberá se você falar isso de novo – eu brinquei.
Ele me parou pela cintura quando eu ia me virar para a extensão do quarto que usava como cozinha. Sua mão grande preencheu um espaço grande demais e os dedos frios me fizeram arrepiar. Ele aproximou os lábios dos meus e me deu um selinho rápido enquanto falava:
- Parabéns, eu trouxe comida japonesa.
Eu estava paralisado. Ele adicionava um intimidade que não existia ali e isso era inacreditável. Eu sorria descrente enquanto ele falava:
- O que foi?
- E essa intimidade? – eu me rendi ao toque e deixei minhas mão na cintura grossa dele.
- Por favor, já fizemos coisa pior que um selinho infantil.
Eu larguei seu corpo e num riso finalmente divertido, tomei a sacola de sua mão e coloquei sobre o balcão, de costas para ele.
- Você quer comer agora? – Lancei a pergunta sobre meus ombros ainda úmidos.
- Definitivamente sim!
A voz dele estava próxima de mim outra vez, mais precisamente sobre meus ombros. As mãos grandes e quase cruéis estavam coladas, uma de cada lado do meu quadril, denunciando o alvo de sua resposta subjetiva. Eu sorri sonoramente quando entendi e o provoquei ao deixar meu corpo colar ao dele. Meus ombros estavam em seu peitoral e havia músculo demais ali. Não por serem grandes demais, mas por eu ser consideravelmente magro.
Ele não me deu espaço para qualquer outra pergunta e beijou meus ombros. Ele cheirou a pele, sentindo o aroma do sabonete ainda fresco. Eu inclinei minha cabeça e esse movimento desencadeou uma série de beijos assustadores. Seus lábios violentos corriam minha pele com força enquanto ele me pressionava contra o balcão. Meu peito era forçado na pedra e isso doía, seu corpo roçava o meu e isso era excitante. Ele estava chupando meu pescoço e provavelmente deixava marcas ali. Ele me provocava um misto muito curioso de desanimo e tesão. Suas mãos curiosas passeavam por meu corpo com pressa, apertando cada pequeno espaço que encontrasse pela frente. Quando aqueles dedos grandes ameaçaram invadir meu short, eu girei meu braço para trás e segurei seu pulso, parando-o.
- Você está me machucando.
- Você não queria assim? – Ele perguntou forçando seus braço, fazendo seus dedos grandes roçarem o vão entre minhas nádegas.
- Você está indo forte demais – eu repeti.
- Não é assim que vocês gostam?
- Não, não é assim – eu falei com mais rudez enquanto girava meu corpo. - Você não precisa parecer um animal em cima do outro – continuei.
Ele estava parado mas suas mãos continuavam em meus quadris. O tesão e a excitação dele eram proporcionais ao tamanho do corpo e isso poderia ser perigoso para ambos. Se eu iria fazer aquilo, deveria mostrar-lhe como fazer.
- Faça assim – eu disse passando meu braço em volta do seu tronco grosso demais. A curvinha no final da coluna era exagerada e deliciosa. Um pouco embaixo começava sua bunda dura e eu confesso que estava louco para vê-la. – Tente achar espaços em mim que eu ainda não conheça. Tenha calma. – Eu completei subindo meus dedos pelo meio de suas costas vagarosamente, sentindo a pele esquentar e se arrepiar ao meu toque.
Ele fechou levemente os olhos e uma abertura sensual demais apareceu entre seus lábios. Eu sorri e me estiquei um pouco para conseguir encostar meus lábios nos deles.
- O sexo não é essa coisa que você aprendeu com seus amigos machões. – Eu deixei um beijo ali e ele demonstrou que queria mais. Eu desci meus lábios por sua pele, ainda alisando suas costas, e tão logo cheguei em seu mamilo. Estava duro e eu sabia o que fazer.
Mordi muito levemente o mamilo por cima do tecido e suspirei neles. Automaticamente ele estava entregue. A fera violenta se transformara num gatinho manhoso. Seu corpo estava mole demais em meus braços. Ainda ali em seu peito, abocanhei toda a região do mamilo e deixei a área molhada com meu chupão. Agilmente larguei suas costas e o ajudei a tirar a regata. Seu peitoral era musculoso, como eu previa. Musculoso e muito bem desenhado. Seu peito era grande e existia um pequeno vão entre eles. Sorri para mim mesmo e novamente chupei o mesmo mamilo, deixando-o ainda mais molhado e duro. Arrastei minha boca pela divisão dos peitos e cheirei os cabelos que cobriam toda a pele. Fiz o mesmo no outro peitoral enquanto desabotoava sua calça, deixando o zíper descido.
- Você não vai deixar de sentir prazer se for com calma.
Enquanto eu falava eu ia empurrando Matias para a cama. Lá, girei meu corpo e sentei, deixando-o em pé à minha frente. Meu rosto ficou na altura exata de sua virilha e a calça levemente folgada me dava uma amostra do que ele guardava ali dentro. Enquanto eu beijava sua barriga, o volume roçava meu queixo com força. As mãos grandes dele estavam em meus cabelos mas me surpreendiam quando os dedos penetravam os frios úmidos com carinho. Ele entendeu que não precisava correr. Não havia o risco de sermos pegos ali. Agilmente ele tirava o tênis usando os próprios pés para isso e eu fiz a calça cair, presenteando a mim mesmo com a visão do pau feroz guardado pela cueca corajosa. O ajudei a tirar a calça por completo e joguei ela para longe.
- Vai, me chupa! – Ele disse por cima de mim.
Eu obedeci, fazendo-o acreditar que tinha algum poder ali. Eu tirei seu membro apressado de dentro da cueca e o vi pular em meu rosto. Num único movimento eu o segurei entre os lábios, sem ao menos tocá-lo. Ouvi um gemido curto e grosso e não me contentei com ele. Agarrei a base daquilo que eu segurava com a boca, apertei e então o fiz crescer ainda mais para mim. Ele puxou todo o ar que podia e soltou em um gemido reclamão quando o enfiei em minha boca, fazendo ir o mais fundo que conseguisse. Deixei que ele segurasse meus cabelos com um pouco mais de força enquanto eu chupava tudo que ele tinha para mim. Com minha língua por baixo, escorregava o membro, tirando e novamente enfiando-o na abertura exagerada dos meus lábios. Os gemidos aumentam e eu seguia chupando-o, deixando toda a extensão molhada e escorregadia.
Ele pulsou em mim e eu não queria que ele gozasse ali. Soltei seu membro e o apertei pela base. De pé, consegui ver o quanto ele suava e sorri quando ele abriu os olhos, se esforçando para manter uma expressão impecavelmente bonita no rosto. Me aproximei demais e beijei os lábios dele. Não houve protestos, ele me beijou grosseiramente, sentindo o gosto do seu próprio pau misturado com minha saliva. Deixei seus lábios e a pontinha do bigode mais babados do que o necessário.
- Você é gostoso demais – ele sussurrou.
- Agora você pode. Prove aqui – eu disse levando suas mãos até minha bunda.
O pau babado roçava um pouco acima da minha virilha quando ele desceu meu short e minha cueca, ainda de frente para ele. Eu o incentivei a roçar a divisão de minhas nádegas e ele seguiu meus comandos. Seus dedos estavam me tirando a privacidade. Girei meu corpo e fiquei de costas para ele. Automaticamente ele passou um daqueles braços grandes em torno de minha cintura enquanto fazia seu dedo já molhado abria ainda mais minha nádegas.
- Pode ir – eu gemi quase me contorcendo.
- Quanto?
- Me penetra!
Ele me penetrou. Com calma e carinho. Ele estava me abrindo com aquela mão que poderia me machucar. Seu dedo era suficiente para me preparar. Eu gemia e ele continuava me abrindo. Sem avisos, me desvencilhei do abraço forte e deitei na cama, de bruços. Imediatamente seu corpo caiu sobre o meu e seu membro molhado se encaixou em minha bunda.
- Posso? – ele perguntou roçando sua barba espessa em meu pescoço.
- Antes ameaça – eu brinquei, sorrindo para o meu próprio travesseiro.
Ele ameaçava me penetrar e cada vez que fazia isso meu corpo contraria meus pensamentos e pedia mais. Eu estava gostando e estava me aproveitando. Eu merecia isso, afinal.
- Entra em mim – eu pedi em um sussurro sensual.
E ele entrou. Primeiro a cabeça abriu caminho, depois o corpo inteiro do seu membro. Minha entrada se acostumou e abraçou o músculo duro demais. Quando eu estava totalmente livre, ele começou a me socar com força. Novamente estava me machucando. Claramente ele estava descontrolado. Novamente dobrei meu braço para trás e o fiz parar.
- De... Devagar. – Eu sussurrei. – Não sou uma máquina!
As estocadas diminuíram e então ele me fodia com o ritmo que nosso corpo poderia aguentar. Eu me abria permitindo que ele fosse fundo e ele ia, entendo meus comandos. Sua virilha quente e dura batia em minha pele e o som do encontro se misturado aos nossos gemidos, que tomavam forma em cada nova estocada. Senti as coxas dele tremerem e puxei seu corpo, fazendo-o deitar sobre o meu. Eu conseguia sentir cada músculo tensionado e isso era delicioso. Em cada estocada precisa ele fazia meu corpo se mover em cima da cama e eu era obrigado a abafar meu gemido grosso com o travesseiro. Eu estava preenchido por ele. Não cabia mais um centímetro de qualquer outra coisa dentro de mim.
- Caio... – a voz dele era quase de desespero. Eu queria ignorá-lo só para ouvir mais alguns daqueles chamados. – Caio, eu vou gozar.
Imediatamente eu o fiz sair de dentro de mim, rodei sobre os lençóis e o puxei novamente para um encaixe perfeito. O seu quadril musculoso me forçava a abrir as pernas de uma forma que eu não estava acostumado e ele se curvava tanto quando voltou a me penetrar, que eu sentia meu pau absurdamente duro roçar com força em sua barriga. Isso era quase uma masturbação e exatamente por isso eu gozei primeiro. Ele me viu apertar os olhos num gemido seco e então explodiu dentro de mim. Eu não aguentei todo aquele líquido sendo despejado dentro de mim e o obriguei a terminar de gozar sobre meu membro. Ele me banhava com seu sêmen. Escorria pela minha virilha e tão quente, parecia queimar minha pele. Ele estava gemendo com o rosto enfiado em meu peitoral.
Eu não estava em êxtase, mas ter aquele corpo grande e músculo sobre o meu numa demonstração excitante de fraqueza era gostoso. Eu agarrei sua nuca e baguncei os cabelos suados daquela região enquanto ele ainda gemia em meu peito, deixando alguns beijos rápidos ali.
- Que presente – eu o parabenizei.
- Eu sou gostoso, não sou? – ele me olhou com aquela malícia desnecessária.
“Não” eu ensaiei mentalmente. Era só sexo. Só carne e tesão. Havia algo que aquela transa nunca me traria: sentimentos. Quando pisquei foi o rosto de Vincenzo que eu vi acima de mim. Ele sorriu com seus lábios duros e sua voz atravessou o curto espaço entre nossas bocas. “Eu quero mais.” Fechei meus olhos e me deixei ser guiado. O homem incerto segurou minha cintura e depois sentou-me em seu colo suado. Ainda de olhos fechados me senti ser penetrado novamente e quando abri os olhos Vincenzo sorria em um êxtase desmedido. Seus olhos amarelo-esverdeados apertadinhos e pequenos tinham um brilho surreal. Admirei seus lábios que eram tão meus e depois seu queixo marcado que me fascinava. Ele parecia real demais para mim e então o beijei jurando sentir o gosto forte de sua tão gostosa língua. Ele estava ali. De alguma forma ele estava. Talvez mais dentro de mim do que projetado no corpo de Matias, mas ele estava ali. E eu poderia senti-lo.
Eu subia e descia com tanta força no colo de Matias que não demorou e ele estava novamente gozando. Dessa vez inteiramente dentro de mim. Não foi tão fartamente como da primeira vez, mas era uma quantidade considerável.
No banho Matias me olhava com olhos de quem tinha adorado tudo aquilo. Vez ou outra ele sorria e me pedia um beijo e eu não o negava. Nos enxugamos com a mesma toalha e eu lhe emprestei um dos meus shorts, que ficou apertado demais. Admito que era gostoso ver a peça apertadinha nas coxas.
Comemos a comida gelada e não demorou até que eu o fiz conferir as horas. Entrava na madrugada e eu o olhei com olhos de quem não o queria ali mais ali. Ele entendeu o que eu queria dizer e não me deu uma beijo na despedida.
Eu não estava pronto para acordar e encontrá-lo em minha cama. Eu não estava arrependido de ter transado com Matias, longe disso. Na verdade eu estava com medo de que a imagem dele substituísse a de Vincenzo, que todos os dias me fazia companhia ali. Era doloso, mas eu ainda estava apegado a ela. Era o que eu tinha para atravessar a dureza dos dias.