Eita, trem. Demorei pra caralho heim. Que cretino eu sou, Deus me elimine. Mas voltei, galera. Espero que não tenha chateado ninguém com a demora, mas a faculdade (sempre) está chegando ao supra sumo da ocupação - física e mental -, portanto isso é mais do que justificável. Bom, está aí mais um capítulo. Não revisei muito bem ele e espero que perdoem alguns muitos erros. Nem vou poder responder os comentário, mas na próxima eu faço isso.
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Do Pará, fui para BH conhecer alguns parentes de Caio. Nos reconciliamos e tivemos uma noite maravilhosa na casa onde Caio passara sua infância com Helson. Depois fomos pra uma fazenda para visitarmos seu Bisavô e o restante da família. Eu tremia de medo e esperava o pior; como alguma coisa hostil por conta do nosso relacionamento homossexual. Quando finalmente chegamos, o temor aumentou no momento em que vi a quantidade de carros estacionados frente à grande varanda.
Descemos do nosso carro em meio a chuva e fomos à área de lazer da casa estilo fazenda; senti-me tonto, com medo, com receio. Acalme-se, disse a mim mesmo, o mínimo que eles podem fazer é te expulsar daqui. Não vão te matar. Vão?, indaguei em dúvida. Caio estava tranquilo e, segurando minha mão, guiou-me até a porta de entrada; grande, de madeira e que se abria em dois - como essas de mansões tradicionais. A chuva se intensificou e eu notei estar frio, ou era o medo que me gelava a alma? Provavelmente o segundo. Pensei no meu pai, longe, e na minha mãe como igual. Pensei em Lise, nos meus amigos... mas sobretudo, pensei no meu amor do meu lado - com seu boné preto com a aba virada para trás, uma camisa polo cinza, sandálias Cartago e seu sorriso sacana na boca de praxe - e puf! O medo diminuiu, mas era sentido. Com Caio do meu lado, eu mataria até um dragão. Na porta, ele olhou para mim.
Caio: É normal cadáveres andarem?
Eu franzindo o cenho: Como assim?
Caio: Tô segurando a mão de um. - Eu acertei uma cotovelada em suas costelas e ele riu. - Sério, amor. Você está branco.
Eu ri amarelo: Por que será?
Caio: Quanto drama. Logo vai ver que tudo é exagero teu... eles são sussas, parças.
Eu: Certo, certo. - Ouvimos uma risada alta vindo de dentro e outras a acompanharam estridentes. A família toda estava ali? Caio falou: Vamo lá, mô.
Eu: Espera, espera - ele parou a mão a meio caminho da maçaneta. - Não me chama de amor na frente deles até a gente se acostumar (ou até eu saber que não serei queimado vivo caso algum homofóbico se manifeste).
A chuva ficou ainda mais forte e Caio perguntou: Oshe, por que isso?
Eu: Faz por mim... por favor? Sem questionar.
Caio bruto: Tu tá com vergonha de mim? - ele estreitou os olhos me fitando. - De nós?
Eu surpreso: Não, cabeção! É que tô envergonhado por mim. Todo mundo te conhece aí, mas não conhece a "nossa" intimidade e nem a mim. Seria bom irmos com calma pra eles não estranharem... tenta me entender, pow! Tu mesmo disse que podemos ser hostilizados - falei quando vi que ele iria me interromper e reclamar.
Caio: Então não posso te beijar e te tocar?
Eu: Caio, para de ser criança. Tu sabe muito bem que o preconceito é forte e que muitas pessoas se ofendem quando dois caras se acariciam em público!
Caio: Que se foda todo mundo, porra!
Eu: Caio, eles são teus parentes.
Caio: Já disse que são gente boa.
Eu: Mas eu não quero essas coisas até eu me sentir confortável.
Caio: Beleza. Agora tu me deixou grilado - bufou ele raivoso.
Eu: Meu Deus! Tô fazendo isso por nós dois.
Caio: "Ate eu me sentir confortável" - imitou-me com voz de bebê. - Tu tá pensando em ti. E soltou minha mão bruscamente.
Eu fui até ele: Hey, grandão. Olha pra mim, Caio! - Um trovão sacudiu tudo. Caio se recusava a me olhar, fazendo um drama infundado, e pela a altura dele, conseguia olhar pra tudo menos pra mim. - Poxa, amor.
Caio: Olha, vamo entrar. Para de ficar pesando de mais, se não gostarem de você ou de mim, que se explodam! Pois isso não diminuiu o amor que tenho por ti.
Eu emocionado: Caralho, mano. Isso foi lindo.
Ele riu cafajeste: Então deixa de neura, e temo uma lista de transar em lugares inusitados, lembra? Que tal colocarmos o quarto do biso nela.
Eu ri: Seu louco. Vamos entrar ... que faça-se a vontade de César.
Ele riu maroto e pegou minha mão, dando um beijo nela e depois chupando meu dedo indicador me fazendo rir. A verdade é que Caio sabia como eu me sentia; temeroso. Só que queria me deixar tranquilo à sua maneira, queria que eu ficasse relaxado. Sua mão segurou a maçaneta e ele a girou, a porta abriu. Vi todos em 2 segundos, e todos eles nos encararam. Calados, brancos, grandes, bonitos, todos em uma enorme sala de estar, com 2 sofás imenso em formato de C e uma mesa de centro com vários copos de bebidas. Uma lareira grande e rústica queimava no lado esquerdo e quando todos se calaram para olhar para gente, ouvi o crepitar do fogo audívelmente.
Primeiro vi um senhor, muito idoso por sinal, sentado em uma cadeira de rodas, próximo da mesinha. Olhos castanhos, cabeça calva, com um suéter tricotado bem bonito e uma austeridade perceptível. Logo vi uma cânula (um tubo transparente que se dividia bem abaixo do seu pescoço, passando por trás das orelhas para se juntar novamente às suas narinas) e presumi que o mesmo tinha dificuldades em respirar. Frágil, mas o seu olhar era forte. Depois vi um moço todo vestido de branco, perto dele e percebi ser seu enfermeiro particular. Depois meus olhos vareram os demais rostos.
Reconheci os caras da estrada, que me chamaram de cabritinho, rindo zombadores, talvez da minha expressão morta; um homem de roupas caras, alto e com as feições de seu Cá, que logo julguei ser seu irmão; mulheres sentadas nos sofás, com roupas provavelmente importadas, jóias e um ar de antipatia; vi também uns rapazes mais jovens que eu, deixando de lado os seus jogos portáteis para fixar seus olhos em mim; haviam uns 14 pessoas, todos lindos, bonitas, com rostos enigmáticos, fitando Caio e a mim.
Caio despreocupadamente: Fala cambada!
Eles não olhavam pra ele, mas pra mim; diabos! Eu senti medo, muito... mas muito mesmo. Meu coração acelerado, a vontade de fugir dalí. De sumir. Eles seriam hostis, ofenderia a mim e Caio, claro que fariam isso... claro que fariam. Um dos rapazes que jogava me olhara de forma estranha, nada simpático. E então, um homem robusto, de bochechas rosadas e uma barbicha em todo o seu queixo, falou alto: Bah! Esse é o tal cabritinho?
E todos explodiram em uma risada alta. Mas tão alta que saí e voltei pro meu corpo umas duas vezes. Caio soltou minha mão rindo e foi abraçar os parentes. Rápido, eles me cercaram, umas mulheres me abraçaram em cumprimento e vi que eram muito simpáticas e não chatas como pré julguei. Os homens mandavam eu falar algo e eu dizia "algo" e eles riam. Ralhavam comigo de forma brincalhona e diziam "tá acanhado, macho? Dêisdisso, moço". Caio ria e falava alto com os primos e tios dele. Os tios e primos, brutos, repetiram sobre o fato de eu ser muito pequeno para aguentar - em outras palavras - vara de um gurizão como Caio. Eles riam da minha expressão e eu baixava a cabeça envergonhado, o que provocava mais rodadas de risadas. Viram que a gente estávamos molhados e trouxeram toalhas para nos cobrir. Caio pegou minha mão e me levou até seu biso. Eu, todo me tremendo, fiquei próximo e Caio se ajoelhou e falou "opa" baixinho (estranhei, mas depois vim saber que "Opa" significa vovô em alemão, ou algo do tipo). Eu o imitei e fiz o mesmo. Caio e todos riram.
Caio: Não precisa, "Fê". Você não é parente. Não tem obrigação. Tu é é convidado e tem que ser respeitado.
O biso, Hans, mandou eu me levantar e sentar no sofá próximo dele. Ele falava em alemão, mas entendi seus comandos, sua voz era rala e vacilante, só que senti firmeza nelas: Fernando? - perguntou quando me sentei.
Eu fiz que sim com a cabeça: Menino humilde como o Caique disse. Então ele riu e completou "mas como tu aguenta vara desse mondrogudo do meu bisneto?"
Todos riram. Era a piada interna deles? Eu ri envergonhado e vi que o biso Hans não eram tão frágil assim, nem tradicional como imaginei. Ele disse que não aceitou muito isso de homossexuais em sua família, que tinha errado com o seu neto, descriminando ele de forma vil e que até hoje não tinha o perdão do mesmo que morava em Munique e não queria nem saber dos demais. Daí ele passou a "tolerar" essa questão para não fazer ninguém mais sofrer. Todos falavam, e muito. Se apresentaram de forma cordial, outros me lembravam Lise e alguns não sabia o português direito e supus que não moravam no Brasil. O biso era um senhor de personalidade forte, deixou claro que aceitava, porém não queria "enrosca-enrosca" na frente dele de forma desmedida. Nem dos demais que eram heterossexuais ele aceitava tais coisas. As mulheres dos primos e tios de Caio foram muito gentis comigo (Mara e Cristina principalmente, ambas mulheres de Albert, o primo da Hillux, e Gustavo, um tio de terceiro grau de Caio) e logo reuniram um grupo e ficaram falando banalidades femininas.
Eu fiquei no grupo dos homens, conversando e respondendo perguntas do tipo "O Pará tem onças?/ É quente?/ Os índios vivem entre vocês?", não era perguntas de zombaria, era curiosidade pura e interesse. O biso contou a história de sua família, do filho que fugira da Grande Guerra e que crescera aqui no Brasil, a terra mais hospitaleira do universo. Todos se calavam quando ele falava, era algo de respeito ímpar. Eu amei ouvir sobre quando o mesmo, passando necessidade em uma Alemanha devastada pela guerra, que fora trazido para o Brasil pelo filho - já estabilizado aqui - e ajudado o mesmo a crescer financeiramente no ramo da cervejaria, pois o biso Hans era muito versado nessa área. Suas cervejas artesanais eram sucesso no seu país natal e aqui não fora diferente. Em Santa Catarina, primeira morada dos Calsons, tiveram sua primeira cervejaria. Pelo clima frio, tiveram grande safra de lúpulo e outros grãos necessário para uma boa cerveja, afinal... Para fazer cerveja, seguindo os princípios da lei de pureza alemã (Reinheitsgebot), só precisaremos de 4 ingredientes: Água, Malte, Lúpulo e Fermento. Fizeram dinheiro, a família cresceu e se expandiu rápido. Uns continuaram a morar em Santa Catarina, outros nasceram em São Paulo e foram criado lá, como é o caso de seu Cá. Formou-se em estética na Unicamp e conheceu dona Helena lá. Casou e foram morar em BH, onde o Biso já se encontrava e se agradara do lugar. Lá tiveram Caio e Helson e depois se mudaram para Belém, pois uma indústria no ramo da estética fechara negócio com meu sogro. Ouvi tudo e falei pouco. Trouxeram cervejas de cores escuras, claras e gostos variados. Amei uma de banana e outra apimentada, o que me levou a lembra da famosa Cerveja Amanteigada do mundo Bruxo (Harry Potter).
A chuva maneirou e, em menos de duas horas de proza, muita cerveja atersanal, eu já havia conhecido todos. Conversei com Flávio, um primo de Caio, sobre engenharia Mecânica e sobre eu pensar em cursar essa área um dia. Os primos mais tongos de Caio faziam piada sobre nossa sexualidade e eu ficava corado de vergonha, mas levava numa boa. Eles tavam se divertindo às minhas custas. Malditos. O enfermeiro, Anderson, que cuidava do biso, falou comigo casualmente e disse que não havia melhor pessoa para cuidar do que o "senhor Hans". Esse resmungou em alemão e disse "esse menino é muito bobão, sou um maracujá azedo" e Anderson ria divertido. O biso podia ser um pouco rabugento, mas todos o adoravam, inclusive eu que me afeiçoei a ele de uma forma incrível, a ponto de dar atenção somente a ele, que hora respondia impaciente uma pergunta minha, ora ria e falava amavelmente. Caio me chamou de amor esporadicamente e eu notava alguém de quando em vez rir disfarçadamente e outros cochicharem algo. Mas as cervejas que me foram servidas não deixou isso afetar em nada o clima de descontração.
A chuva parou por completo, a hora do almoço chegou e fomos todos pra uma mesa na parte de trás da área da casa. Era uma senhora mesa, grande e firme... daria pra fazer um show musical em cima dela. Antes de irmos pra lá, passeei pela grande casa com Caio, ele mostrava as pessoas nos quadros, umas fotos bem antigas em molduras lindas, fotos de guerra, o pai de Caio criança em um velocípede, uma paisagem devastada pela guerra com crianças que fiquei sabendo serem os tios avós de Caio, pessoas em fotos pinturas e uma que era linda. Lá estavam o biso Hans, o avó de Caio (já falecido devido à problemas nos rins), seu Caique, Caio e Helson. Quatro gerações em uma única imagem. A casa era enorme, haviam corredores cheios de quadros, algumas esculturas em mesinhas, couro de animais pendurados em tábuas nas paredes, uma estante de vidro com várias garrafas de cerveja antigas. Muitas do tempo de guerra e que jamais foram abertas. Aos seus lados haviam medalhas de premiações e uns troféus. Uma senhora simpática chamada Lurdes, disse que dormiríamos no quarto do pai de Caio, de casal. Fomos até lá e logo percebi que não havíamos trazidos roupas, aí um dos meninos do meu corpo, aparecera e disse que poderia me dar umas dele. Caio conseguiu roupas dos seus primos e logo estávamos bem melhor secos e confortáveis para almoçar. Lucas, o mais novo dos primos, era viciado em games e em rock dos anos 80; ele ficou tagarelando comigo durante horas sobre suas bandas favoritas.
Mas em meio a todo aquele conforto e recepção maravilhosa, claro que haveria algum impasse. Umas duas primas de Caio, lindas, louras, trabalhadas na grife e jovens, nem sequer olharam para mim, e quando o faziam era de uma forma enojada - uma até abraçou Caio de forma abusiva dizendo "saudades de você, primão". Claro que contornei, e de tanto que elas ficaram indiferente a mim, acabei por não mais prestar atenção às duas. Aí, momento antes do almoço, chegou mais um carro, esse com as amigas das duas... patricinhas, gatas de mais e tão antipáticas quanto. Caio, o tio dele do bigode e vestimenta jovial, 3 primos e eu estávamos na área, conversando quando elas chegaram. Deram "oiiie" pra Caio e beijinhos ao vento. Olharam pra mim e cochicharam algo entre si para depois caírem na risada.
Tio do Caio: Essas meninas... graças aos céus que não tive nenhuma menina... se tem coisa pior que filho, é filha.
Primo do Caio, filho desse tio: Hey, pai. Sou mó bacana!
Tio do Caio: Não tô reclamando de ti, macho.
Primo Albert: Vocês vão casar um dia?
Caio sentado ao meu lado: Bert, sei não. Quem sabe?
Outro primo: E isso aconteceu do nada?
Caio: Cara, quando a gente gosta nada é impossível.
Tio de bigode: Quando a gente ama cê quis dizer.
Caio olhou pra mim zombeteiro: Não sei se ele me ama - e tocou na minha cabeça.
Eu envergonhado: Hey, man! Para com isso.
Caio: Olha aí, pessoal - falou rindo -, esse tampinha tem vergonha de declarações.
Albert: Vergonha du quê? Vergonha é o Guri aqui (apontou pra um primo de Caio engraçado) depressivo. Mano, nunca vi um homem pra chorar tanto pelo pé na bunda tomado da mulher.
Caio: Pois eu digo, tô nem aí. Amo esse pivete e só não beijo ele agora porque cês vão ficar pilhado.
Primo de Caio: Quero ver machos se beijando não - risadas. - Mas a Rosa era filé de mais. Amava ela de mais. Mesmo todos contra.
Ele devia ter seus 32 anos, loiro dos olhos castanhos claros, um pouco maior que eu e com um ar de galanteio, mas quando falou sobre esse amor senti algo na voz dele. Perguntei depois de uma golada de Coca-Cola: Contra?
Ele me olhou e não vi o humor nos olhos dele que havia momentos antes quando contava piadas: Ele era puta. Ainda é. Preferiu a vida do que eu. Dizia que não me amava, mas que culpa tenho se eu a amava? - Falou e todos se calaram. - Quando levei ela até a família, como Caio tá fazendo agora, ela ficou como tu... se privando, com medo, com essa besteira de poupar os olhos dos outros e ouvidos. Não queria que eu chamasse ela de amor pois todos sabiam a fama dela e de alguma forma zombariam ou descriminariam.
Eu curioso: E o que aconteceu?
Ele riu: Aconteceu que não fui homem como Caio tá sendo de amar a cima de tudo. Ele não se priva, embora tu tenha pedido... Bom... A família julgou de mais, e ela foi embora. Preferiu seguir sua vida porque eu não a amei o suficiente para colocar nosso amor acima das privações que ela pediu e da oposição da família.
"Fiquei ruim, arrasado. Em outras palavras, na sofrência. Minha família - olhou para os demais que desviaram os rostos - criticou ela para mim de diversas formas..."
Um tio de Caio magro e meio antipático: Mas ela não era mulher pra ti, Lucas. Era da vida.
Lucas olhou pra ele azedo: E há pessoas certas nessa vida para se ser feliz? A felicidade não é comprada e nem escolhida. Se fosse assim, todos nós seríamos felizes e o mundo seria um lugar melhor... sem discriminações.
Caio levantou a garrafa de cerveja para ele: Isso aí, man. E fica de boas que logo tu se cura disso.
Eu: Sinto muito.
Lucas: Nada. Hoje ela tá bem. Isso é o que importa. Talvez comigo ela seria infeliz e eu jamais iria querer isso. Mas no coração ninguém manda né? - de alguma forma lembrei de André e senti uma coisa estranha no peito. Ouvindo a história de Lucas, de que a família dele julgou seu relacionamento, percebi que a descriminação não escolhe orientações sexuais, raças, cores da pele e etc. Ela é o mal que se não for combatido, lhe adoece aos poucos.
Lucas: Espero que Caio não tenha quebrado minha casa de praia.
Eu: Espera! Tu é o dono da Casa de Soure?
Lucas: Sim, chapa. Usou bem?
Eu corei: Sim. Foi bacana.
Lucas: Não precisa ter vergonha de falar, cara. Vergonha é julgar mesmo não tendo caráter - disse olhando para os demais.
Todos ficaram calados.
Lucas: Então, meu chapa do Pará, não te priva e ame sem ter medo. Todos julgam, todos. Mas no final o que importa é o que você sente. Hoje sinto dor, por não ter o amor dela... mas levo a vida... - sua voz morreu e foi interrompida com o chamado para o almoço.
Levei um susto e, antes como estátuas ouvindo o primo, todos foram calados até a mesa. Ouvi o tio de Caio sussurrar para o outro "não imaginava ser tão forte assim, desculpa, mano" e então olhei para Caio. Segurei a mão dele e falei: Então é assim?
Ele riu tristonho: Não sou bom pra enigmas, pow. Assim o quê?
Eu: Meter o foda-se e se importar só com a gente?
Ele deu um beijo na minha mão: Cara, eu sei como é isso de se sentir envergonhado. Passei por isso, mas eu não tô nem aí se ofendo alguém quando digo que te amo ou quando te beijo ou algo do tipo.
Eu: O nosso amor é maior que isso tudo?
Caio: Podes crê, manolo - e riu se inclinando para mim e me beijando delicado. Claro que olhariam, claro que sentiriam nojo, claro que descriminariam e zombariam. Mas eu não tava nem aí quando enlacei o pescoço de Caio e puxei sua boca para mais junto da minha. Não me importei para as meninas olhando para gente e cochichando sobre de forma maligna. Nem liguei quando Caio afastou sua boca rindo e segurou minha mão para irmos para a mesa. Não me importei quando olhei para todos feliz por aquele beijo e nem envergonhado por ter tido-o, tampouco me importei quando ri presunçoso para as patricinhas e levantei a mão de Caio junto a minha para transmitir o recado "ele é meu, vadias". Sim, ele era meu e isso que importava.
*
O almoço foi a base de risadas, piadas, uns "carões" do biso quando alguém falava muito palavrão e refeições dos Deuses. Leitão assado, batatas assadas, tortas de frango e tantas outras coisas. Comi mais do que falei, não fiz cerimônia nenhuma e enchi meu prato do que tinha na mesa. Caio me imitou e pediu pratos grandes e fundos pra nós dois. A chuva começou a suavizar e já não passava de um fraco sereno quando terminamos de comer. Contornamos a casa e sentamos numas cadeiras de balanço e bancos acolchoados e confortáveis. Então teve mais cerveja e todos começaram a ficar altos. Ouvi histórias hilarias, as madames ficaram mais soltas e começaram a dançar uns Modões sofridos, rolou brincadeiras e provocações dos machos por conta de Caio e eu, mas levei numa boa, embora eu não estivesse 100% íntimo deles e nem eles de mim. Anoiteceu e fui pro quarto com Caio, ambos bem risonhos. Não vi mais o Biso e logo presumi que este já se encontrava dormindo. Nem lembrei de jantar quando Caio me puxou pro quarto, tarado. Devido ao sexo da noite passada eu sentia meu cu bem acabado, então não rolou anal... só pegação bruta, sarração, bastante oral e tantas outras sacanganes
A bebida me fez dizer uns 1000 "eu te amo" ao meu branquelo por conta dele ser como ele é e por me amar tanto assim a ponto de não se importar com ninguém. Ele gozou e eu também, tomamos banhos onde rolou mais uma rodada de punheta com ele sentado no vaso sanitário e eu sentado nele e ambos se pegando enquanto nossas mãos massageavam o pau do outro. Ficamos nos acariciando depois na cama e peguei num sono leve pois o lugar era de um silêncio confortável. Ao longe, esporadicamente, ainda ouvia-se as vozes do pessoal na área ou dos carros sendo ligados. Então a chuva que tinha dado uma calmada retornou forte e raios e trovões sacudiram a casa. Abracei Caio, me aninhei em seu peito peludo e dormi profundamente. Acordamos de madrugada para comer algo na cozinha e ainda havia gente acordada (assistindo ou conversando, ou bebendo, ou namorando, ou comendo como nós) pela enorme casa. Parecia um hotel somente com pessoas conhecidas. Eu tava cansado, conversei pouco e logo voltei pro quarto com Caio.
No outro dia, com um sol majestoso, fui conhecer a fazenda. Tinha um celeiro foda e enorme, descendo uma encosta pastosa cortada por uma estrada de pedrinhas vermelhas, lá vi vacas bezerros e depois fomos onde ficavam alguns cavalos. Caio montou uma potranca linda e eu fui num cavalo menor e tranquilo, uma vez que eu não sabia montar direito. Com o primo de Caio, Lucas, vimos plantações de Lúpulo que ficavam bem longe da casa; plantação de milho, outra de morangos com uma espécie de túnel sobre as frutas, um canavial de cana-de-açúcar e tantas coisas bacanas. Fui até onde se fabricava a cerveja somente para uso da família. Uma casa grande com dois tanques, sacas de fermento e tantas outras coisas. Depois encontramos Albert e Gustav, se juntaram à gente na cavalgada e contavam as marotagem que fizeram por aqueles campos quando crianças. Lucas era um fofo, falava educadamente, elogiava o Pará e disse que se não fosse seu trabalho numa empresa de automóveis onde o mesmo era vice presidente, iria morar em Soure. Passamos a manhã interia passeando e voltamos 1 hora da tarde para almoçar. Conversei mais com o biso Hans e fiquei mais grudado naquele senhor rabugento. As patricinhas olhavam feio para mim e ficavam cochichando, coisa besta. Os pais de Lise não estavam ali, mas tinha umas 4 pessoas que falavam engraçado como ela e não manjavam bem o português.
No fim, ficamos 3 dias ali. Conheci a parententada de Caio. Os costumes, como o fato de presentear os outros com dinheiro - achei bem estranho ganhar um envelope de Albert com 200 reais dentro, mas Caio disse que era normal, pois quem te presenteia dando dinheiro está dando a ti dois presentes; a oportunidade de comprar o que você quer e o dinheiro para isso. Agradeci a cada um pela recepção calorosa, peguei o Facebook de alguns e a amizade de outros, principalmente de Lucas que me convidou para a Oktoberfest em Blumenau que aconteceria em Outubro - a maior festa alemã do Brasil. Aprendi a falar em alemão algumas frases e ensinei gírias maneiras para os que voltariam para a Alemanha no fim do ano. De alguma forma gostaram de mim e pediram para eu voltar mais vezes. Me despedi do Biso e de Anderson seu enfermeiro. O primeiro tinha esquecido quem eu era, depois lembrou, o segundo falou que eu era um gay estranho... Não parecia gay.
Mas a surpresa maior estava por vir. Caio trocou o carro a qual viemos pela Hillux de Albert para podermos ir pro sul. Eu amei o carro por ser muito confortável. Era mais uma troca-empréstimo, pois Caio devolveria. A parentada de Caio, os homens, eram que nem ele... faziam tudo de supetão e sem se importarem muito com as consequências, além de serem muito mão aberta. Voltamos para a Casa de seu Cá e lá pegamos nossas malas. Dona Tereza namorou a gente um "cadim" ainda e disse que morria de saudades dos Calsons homens e que logo iria ver o velho Hans e dar uns carões nele por ser rabugento.
Caio: Pronto para irmos pro Sul, senhor Lannister? - perguntou quando seguíamos a Rodovia estadual.
Eu ri: Mas amor, aqui no Brasil é tudo invertido. O sul é frio e o norte é quente. Westeros invertido.
Caio: Então você é um Stark.
- E você um Baratheon. Grande, robusto, lindo... corajoso - falei e alisei o peito dele.
Caio riu: Tô fudido, sabe.
Eu estranhando: Por quê?
Caio: Agora é teus parentes que vamos enfrentar. Não estou mais na minha zona de conforto.
Eu ri alto: Viu como é ruim. E relaxa que tenho quase certeza que meus parentes do Sul são de boa. Acho.
Caio: Ainda bem que estamos longe ainda. E a lista?
Eu ri sacana: Transar na estrada?
Caio: Fora do carro?
Eu ponderei: Perigoso e excitante.
Caio riu: Banheiro de posto de gasolina.
Eu: E se algum caminhoneiro monstro, forte e troncudo, como nos contos, pegar a gente?
Caio: Ele e eu te enraba bem gostoso.
Eu: Canalha - acertei um soco no braço dele.
Caio: Tô amando essas férias. A gente podia fazer isso todo ano. Num é?
Eu rindo: Seria ótimo. Amei o Biso.
Caio: Uma figura né. Meu veião é foda.
Eu: Senti pena do Lucas. Caramba, preciso levar ele pro Pará pra ele arrumar uma gata nortenha e ser feliz.
Caio: Lucas é foda mesmo. Foi o primeiro cara que contei sobre você e eu. Quando voltei pra BH, naquele tempo, Lise e ele me deram maior força. Ele é afim de Lise sabia?
Eu: Sério?
Caio: Aham... mas a baixinha jamais quis nada além da amizade.
Eu: Belo incesto.
Caio: Preconceito?
Eu: Jamais. O que prevalece é o amor. E ele é um fofinho lindo. Todo educado e gentil. Nossa, parecia um príncipe.
Caio: Fica com ele então, zé buceta.
Eu ri: Ciumes, bebezinho?
Caio: Claro né. Tenho ciúme do que é meu.
Eu: Ownt, que lindo. - Soltei o cinto e dei um beijo na bochecha dele. - Amor, e a família da tua mãe?
Caio: São gente boa, moram em Sampa.
Eu: Vamos lá? - perguntei entusiasmado.
Caio: Quando a gente voltar do Sul.
Eu: E tu conhece essas estradas todas?
Caio orgulhoso: Mermão, sou um GPS humano. Conheço saporra toda.
Eu: Ok, Robocop, confio em ti.
A estrada estava vazia e era bem.pavimentada, com floresta do dos lados. Desafivelei o cinto e fui pra janela. Coloquei a cabeça pra fora e senti o vento. Caio buzinou e depois colocou uma música do Sepultura, enfiou um óculos escuros no rosto bem Badboy e juntos fomos para a gelada Caxias do Sul. Para o Sul, para minha mãe, na melhor viagem da minha vida.
Continua.
-
Um esclarecimento ortográfico: "o biso" não existe. Na verdade é "o bisa", pois segundo a ideologia de gênero é Bisavô e Bisavó, ou seja "o bisa". Chamamos o biso em tom de carinho. Esclarecido? Ótimo. Bejos e até terça ♡