Capítulos 17, 18, 19 e 20 - Perfeitamente irritante
-Olha quem está alí...
Eu virei e vi a delegada com uma belíssima mulher ao seu lado.
Aquela cena me causou um aperto tão grande no coracão que só aumentou quando vi que estavam de mãos dadas. Me virei pra Rodrigo que logo percebeu minha inquietação.
-Bella, o que aconteceu?
-Nada, Rodrigo. Apenas fiquei surpresa em vê-la. -Falei tomando um golasso do suco que havia pedido, enquanto Rodrigo olhava em direção a elas.
-Boa noite. -Ouvi aquela voz rouca atrás de mim e estremeci e gelei na hora.
-Boa noite, doutora. -Disse Rodrigo se levantando e apertando a mão da delegada. Eu me levantei e parei ao lado de Rodrigo.
-Você é a namorada do Rodrigo? -Perguntou a morena alta e exuberante ao lado da delegada, me analisando.
-Ah... Er... -Eu comecei a gaguejar, e Rodrigo respondeu:
-Não... Ou melhor, ainda não. -Ele sorriu e eu o encarei surpresa.
-Bruna, essa é Isabella. É uma amiga do Rodrigo, não é? -Disse a delegada com desdém, me encarando na última frase.
"Bruna. Esse é o nome da noiva."
-É isso, senhora. -Respondi desviando de seu olhar.
-Vocês já se conheciam? -Perguntou Bruna.
-Sim. Esta senhorita também é uma ex detenta. -Continuou a delegada com descaso e uma certa ironia na voz.
-Entendo. -Disse a morena me encarando.
-Bem, nós vamos nos sentar em nossa mesa. Bom jantar pra vocês. -Disse a delegada cumprimentando Rodrigo novamente e saindo com a morena.
-Ela anda estressada. -Cochichou Rodrigo assim que elas saíram e sentaram em uma mesa próxima a nossa.
-Por quê? -Eu não ía perder a oportunidade.
-Por que ainda não conseguimos achar a tal Milena Souza. Bom, e também, por causa da noiva. -Falou como se fosse muito próximo da delegada.
-Mas, o que a noiva faz de tão ruim? -Eu estava arrancando coisas de Rodrigo.
-Elas estão pensando em morar juntas, a doutora gosta muito dela, mas a mulher é muito esnobe, gasta de mais e se quer trabalha, aí fica difícil é. -Rodrigo parecia não aprovar a tal noiva.
O garçom trouxe nosso jantar e assim que ele saiu, lhe perguntei:
-Como você sabe tudo isso sobre elas?
-A doutora Ferreira é como uma irmã pra mim, somos muito parceiros. -Falou após bebericar o conteúdo em seu copo e continuou: -E não só profissionalmente. Nós também gostamos... Ou melhor, gostávamos de sair nos finais de semana pra "pescar". -Falou dando uma piscadinha pra mim. Eu enrubesci.-Mas depois que ela conheceu a Bruna, a quase um ano, ela não quis mais saber de nada disso. Assim como eu não quero saber agora. -Ele sorriu tocando minha mão. Eu baixei a cabeça e não quis encará-lo.
-Isabella, -Falou tomando minha atenção para si e continuou: -Eu gostaria muito de ter algo sério com você...
Eu fiquei o encarando, sem palavras. Não sabia o que dizer e gaguejei:
-É... E-eu...
-Você não precisa me dizer nada agora. -Disse enquanto segurava minhas mãos. -Quando sentir algo por mim, podemos tentar um namoro. -Sorriu ao fim.
"Eu vou chegar a sentir algo por você?" pensei.
Eu engoli em seco e balancei a cabeça, concordando. Em troca, recebi um beijo casto nos lábios.
Virei pro lado e vi a delegada nos observando com aparente irritação, enquanto Bruna observava a si mesma em um pequeno espelho de bolsa.
-Rodrigo, eu preciso ir ao banheiro... -Falei após terminar o jantar.
-É alí... -Ele apontou, enquanto chamava o garçom para pagar a conta.
-Obrigada. -Disse e saí em direção ao banheiro.
Ao entrar, percebi que haviam dois reservados e os dois estavam vazios. Entrei em um e fiz o que precisava, antes de sair e ir em direção a uma das pias.
-Eu fiquei esperando que você viesse ao banheiro.
Olhei pelo espelho e vi a delegada me encarando, com as mãos nos bolsos da calça social.
-O que... Vo-você... Quer de... Mim? -Perguntei gaguejando.
Ela se aproximou e falou irritada:
-Eu vim te lembrar que não quero saber de você brincando com o Rodrigo. Por que saiu com ele e por que não me obedeceu e ficou longe dele? -Falou segurando meus braços bruscamente.
Aquelas palavras e gesto me irritaram.
-Olha, doutora, você não tem o direito de me tratar dessa maneira. Rodrigo e eu somos de maior e sabemos o que fazemos e a senhora não tem que se meter em nossas vidas e nem em nosso namoro.
"Namoro..." fiquei refletindo mentalmente o que falei. Será que eu havia falado só para provocá-la e causar ciúme?
"Impossível. Ela não vai sentir ciúmes de você, tendo uma namorada daquelas." Minha consciência surgiu naquele momento pra me jogar isso na cara.
Após pensar no que eu havia dito, a delegada se pronunciou.
-Olha aqui garota, se vocês estão juntos é melhor você levar Rodrigo a sério. Ele é um homem muito sensível e se apaixona fácil por... -Ela me olhou de baixo a cima, antes de concluir: -Qualquer uma.
A minha raiva aumentou.
-Eu não sei o que a senhora pensa de mim, mas vou logo dizendo que não aceito insultos, já que nunca lhe fiz nada. -Falei a encarando, algumas lágrimas se formavam em meus olhos.
-Olha, resolveu mostrar as unhas. -Disse debochadamente. -Você pode não ter feito mal a mim, mas pensa em prejudicar Rodrigo e disso eu tenho certeza.
-Mas aí o Problema não é seu. -Falei firme, segurarando as lágrimas.
Ela irritou-se e apertou com mais força, os meus braços.
-Você está enganada se pensa que vou permitir que faça mal a Rodrigo, vagabunda.
Eu a olhei com rancor e me desvencilhando de seus braços, saí sem dizer nada e sem olhar pra trás.
Passei por Rodrigo que não me viu e saí em direção a rua, com algumas lágrimas nos olhos. Estava disposta a pegar um táxi para chegar em casa.
Já discava o número de um táxi, contido em um panfleto, em meu celular, quando escuto:
-Ei. Onde você pensa que vai? -Disse aquela voz rouca e macia que, mais uma vez, me fez estremecer.
Me virei e a encarei, ja com o celular chamando.
-Alô. -Disse a voz do taxista do outro lado da linha.
Eu saí do transe e respondi, encarando a delegada que me devolvia o olhar.
-Alô, eu gostaria de pedir um táxi. -Falei tentando não gaguejar.
-Táxi? -Se pronunciou a delegada, aproximando-se. -Você não vai embora de táxi. -Falou irritada, tomando o aparelho de minhas mãos e o desligando.
-Por que você fez isso? -Gritei esbravecida tomando o celular de sua mão.
-Psiu. Não grite! -Disse, ainda irritada. -Eu vou te levar pra casa. -Concluiu pegando um molho de chaves do bolso.
-Vo-você? -Gaguejei.
-É. Eu. -Zombou de mim.
-Eu não quero. Prefiro ir de táxi. -Falei discando o número novamente em meu celular.
-Garota, não me faça quebrar essa porcaria. -Disse ameaçando tomar meu celular novamente, o que me fez recuar e abaixar o aparelho.
-Onde está Rodrigo? Eu quero que ele me leve. Ele me trouxe. -Fiz birra, olhando o celular em minhas mãos, sem conseguir encará-la
-Ele não vai poder te levar. Parece que ele viu seu teatrinho e as suas "lágrimas" e veio ter comigo, que claro, contei a verdade a ele, a verdade, sobre você. Mas, como todo bom homem, Rodrigo gosta do seu tipo, aí ele pediu pra eu te pedir desculpas. -Contou ironizando.
-Guarde-as, eu não quero suas desculpas. -Disse séria, ainda sem olhá-la.
Ela segurou meus braços, como fez mais cedo, no banheiro, me fazendo a olhar.
-Olha aqui garota, eu não estou te pedindo desculpas, apenas estou te oferecendo carona pelo Rodrigo, que quer que eu tente me entender com você. -Esbravejou enraivecida.
-Eu já falei que não preciso da sua carona. -Falei tentando me soltar.
-Ah, você precisa sim. -Comentou tomando o celular de minhas mãos, e o guardando no bolso de trás das calças.
-Ei, me devolve. -Gritei tentando tomar o aparelho de volta.
-Depois que eu deixar você em casa. -Falou já me puxando pelo braço até o outro lado da rua, onde estava estacionado o seu carro.
-Me larga! -Tentei me soltar, em vão.
-Vamos, entre e pare de pirraça. -Disse abrindo a porta do carro.
-Não! -Gritei de braços cruzados, como uma criança birrenta.
-Ah é? -Perguntou desafivelando o cinto de couro da calça.
-O que você vai fazer com isso? -Indaguei receosa.
-Se eu fosse você não esperaria pra ver. -Disse debochadamente.
-Deus! -Exclamei entrando no carro, no banco do carona e fechando a porta.
Ela sorriu vitoriosa e afivelou o cinto novamente, saindo em seguida, enquanto comentava.
-Vou lá avisar ao Rodrigo que você me "desculpou" e pedir pra ele levar Bruna para casa.
-Debochada. -Falei num sussurro inaudível.
Depois de alguns segundos ela retornou, entrou no carro me devolveu o celular e deu partida.
-Eu moro... -Eu ía dizer meu endereço, mas fui cortada por ela.
-Eu não vou te levar pra casa. Quer dizer, não pra sua. -Falou me olhando pelo retrovisor.
-Mas... -Ela me cortou novamente.
-Quero conversar com você, tentar fazer as pazes, se possível. -Disse parecendo ter um pouco de consciência.
-Podemos conversar outro dia. Estou com sono e não acho que você queira conversar comigo. -Comentei tentando não olhar pra ela e estremecer com sua voz.
-Pois eu quero. E quanto ao sono... Bem, eu te dou um energético. -Falou me olhando novamente pelo retrovisor, sorrindo dessa vez.
Eu enrubesci e fiquei calada mexendo no celular. Estava nervosa.
-Chegamos. -Anunciou depois de poucos minutos, após parar em frente a uma casa grande no centro da cidade.
-Onde estamos? -Perguntei observando o lugar, já prevendo a resposta.
-Na minha casa ué. -Respondeu o óbvio e continuou: -Vamos entrar.
Ela saiu do carro e deu a volta, abrindo a porta para mim.
Nós saímos, passamos pelo portão e adentramos a casa, indo pra sala de estar.
-Sua casa é linda. -Soltei sem querer, enquanto observava o lugar amplo e decorado de forma moderna.
-Obrigada. -Respondeu. -Sente-se, vou buscar algo pra bebermos e já volto.
Eu me sentei e fiquei olhando atentamente tudo ao meu redor, até avistar alguns quadros com fotografias sobre a estante. Eu, sem pensar, me levantei e fui olhá-los. No primeiro, a delegada estava ao lado de alguns policiais fardados, entre eles, Rodrigo. No segundo, estava ao lado de uma mulher e um homem, ambos grisalhos, que cogitei serem seus pais. No terceiro estava com uma senhora idosa risonha e no último, ao lado de Bruna que exibia os seios num enorme decote.
"Essa senhora..." Pensei voltando meu olhar para o terceiro quadro.
-São as pessoas de que mais gosto. -Escutei sua voz e me virei. Ela estava escorada, com dois copos nas mãos, na entrada da sala. -Mas os quadros não estão organizados por ordem de importância, é claro. -Comentou sorrindo.
Eu fiquei vermelha e baixei a cabeça, indo para o sofá.
-Toma, eu trouxe um whisk pra você. -Falou me entregando um copo.
Eu arregalei os olhos, a encarando.
-Eu não bebo. -Respondi.
Ela sorriu.
-Eu estava brincando. É refrigerante de guaraná. -Soltou aos risos.
Eu a olhei desconfiada.
-Beba e verá. -Disse ainda estendendo o copo.
Eu peguei o copo e levei a boca, aspirando o cheiro revigorante do guaraná e bebendo parte do líquido em seguida.
-Viu? -Perguntou marota assim que tomei a bebida e sentou-se ao meu lado. -Eu não embebedaria alguém. -Levou o copo a boca.
Eu me mantive em silêncio observando os músculos de seu rosto e pescoço mexerem-se enquanto ela sorvia a bebida.
"Se o seu beijo já é delicioso, imagina com gosto de guaraná!" Pensei, enquanto me deixava seduzir pela cena.
Ela bebeu todo o conteúdo do copo e me olhou em seguida.
-Vai ficar com cortes no lábio. -Falou olhando diretamente pra minha boca que eu mordia sem perceber.
Eu soltei o lábio inferior que prendia entre os dentes e virei o rosto fumegante.
Ela gargalhou.
-Acho que alguém tá afim de mim. -Debochou.
Eu fiquei com raiva, larguei o copo pela metade no chão e levantei, caminhando em direção a porta.
Senti sua mão em meu braço e virei.
-Onde você pensa que vai? -Perguntou me olhando nos olhos.
-Me solte! -Esbravejei e tentei me soltar.
-Não. Eu falei que queria conversar com você numa boa.
-Numa boa? Você me trouxe aqui pra zombar de mim e pensa que sou obrigada a ficar e ouvir suas bobagens. -Falei cheia de ódio.
"Desiste. Ela sabe que você ta afim..." minha consciência resolveu me atormentar.
-Bobagens? Mas eu falei a verdade. -Continuou debochando.
Antes que eu pudesse debater, ela me puxou e virou para ela.
-Me solta! Eu quero ir embora!
-E você vai. Depois que conversarmos. -Disse me analisando
-Nós não temos nada o que conversar. -Rebati.
-Mas é claro que temos. -Aproximou-se mais.
-Nós conversamos outra hora, então. -Tentava evitar o contato visual, mas queria entrar em um acordo com ela e sair dali rapidamente.
-Não. Nós vamos conversar hoje.
-Olha já está tarde, eu falei pra minha mãe que chegaria cedo. Outra hora podemos combinar de sairmos juntos, você e Bruna, Rodrigo e eu. -Tentei ser casual, mas estava com as pernas bambas.
Ela segurou meu rosto e me fez encará-la, enquanto parecia refletir. Eu aproveitei e sutilmente me livrei de suas mãos.
Fui indo para a porta, quando senti novamente sua mão em meu braço.
-Por favor, me deixe ir. -Dizia enquanto me virava.
Olhei pra ela e vi seu rosto limpo de deboches. Parecia até estar triste.
-Fique, por favor.
Continua...
E aí galera? Já que eu fui boazinha e postei quatro capítulos juntos, vocês podiam comentar né? Rs