Abracei Helena com força e sem pedir retribuição do prazer que eu a tinha dado, me encaixei em seu corpo, enquanto ela ainda estava em transe, fiquei fazendo carinho em seus cabelos esperando que se recuperasse. Helena passou alguns minutos em completo silêncio, e me pós a pensa que as vinte e quatro horas anteriores pareciam um filme mal feito de romance clichê. Mas, era real, ela estava ali, na cama, respirando profundamente, de olhos fechados, abraçada a meu corpo. Foi então que ela abriu os olhos amendoados e ficou a me encarar em completo silêncio, tanto que chegou a me assustar, mas é que duas pessoas não permanecem em silêncio por muito tempo, uma hora um silêncio engole o outro, e eu fui engolida pelas palavras de Helena. E ela foi logo dizendo ‘’tá pensando em mim¿’’, e eu realmente estava, e sabia que não ia parar de pensar tão cedo. De repente senti raiva e passei a me odiar e a pensar em como eu parecia uma presa fácil diante da beleza daquela mulher, em como uma só pessoa poderia ter tanto de mim em tão pouco tempo. Logo eu, habituada que estava a transas casuais, agora estava ali pensando que aquele era o momento certo de pedir pra ela ir embora, mas meu corpo não queria, imaginá-la atravessar a porta era incompatível com as vontades do meu coração. Foi minha vez de ficar em silêncio, enquanto ela esperava uma resposta satisfatória pra pergunta feita anteriormente, então falei ‘’não consigo não pensar’’ e ela sorriu satisfeita, enquanto isso meu corpo fervilhava entre raiva, desejo e vontade. O dia estava clareando e resolvemos dormir, a noite tinha sido pesada e o álcool dava sinais de ainda estar pulsando nas veias. Pegamos no sono, um sono tranquilo, o qual fazia tempo que eu não tinha. Veja bem, o trabalho com fotografias, a faculdade de artes visuais, e a administração de uma empresa herdada pela família era a minha sina diária. O dinheiro era suficiente pra ter uma vida mais do que boa. Mas a perda dos meus pais em um acidente de carro, a ausência de parentes e uma propensão ao abandono fizeram com que eu me enquadrasse em um mundo próprio, que só via luz em boates aleatórias da cidade nos finais de semana e que sempre terminavam em uma transa qualquer. Meu círculo de amigos se restringiam as antigas amigas de escola que agora faziam faculdades diferentes, Manoela fazia odontologia com Helena e Amanda se arriscara na engenharia mecatrônica. Com um circuito tão fechado de pessoas, a ideia de deixar alguém entrar na minha vida, pela porta da frente, brincando com meu cachorro e dormindo na minha cama, era algo realmente assustador. Meu coração era um deserto árido e inabitável. Minhas únicas paixões na vida tinham sido a arte e Manoela, que se tornara uma de minhas melhores amigas. Era complexo de fato, mas a presença e a energia de Helena tinham despertado algo em mim que estava completamente adormecido. Acordei e eram seis da manhã, depois de dormir exatas 3 horas de sono. Infelizmente, não pude me dar ao luxo de permanecer mais tempo deitada, a empresa que oferecia serviços de marketing estava no vermelho e eu precisava estudar todos os casos possíveis, para não fecharmos as portas. Pensei no peso da responsabilidade e no quanto eu queria ignorar isso e ficar mais 1 horinha cama. Me deixei ficar olhando Helena dormir, ela que a essa altura já tinha se acomodado e estreado quase toda a extensão da cama, me deixando com um espaço mínimo. Achei uma tremenda graça, nunca havia estado com alguém assim, que me roubasse espaço na minha própria cama. Sorri do fato e levantei, dolorida e com uma forte dor de cabeça. Tomei um bom banho e vesti uma roupa adequada pra resolver os problemas do dia, ao terminar, sentei na cama enquanto me debatia entre deixar ou não um bilhetinho. Droga, eu nunca tinha feito um bilhete na vida, o que eu diria afinal de contas?
‘’Obrigado pelo sexo, você é demais. ’’ Desastroso
Que tal assim?
‘’A noite foi linda, acorde bem’’ - horrível, parece autoajuda ou sei lá o que
Então escrevi:
‘’Espero te ver quando eu chegar. ’’ PERFEITO!
Deixei o bilhete no criado mudo e saí sem fazer muito barulho. Entrei no carro e fiz o percurso até o trabalho, cheguei cedo e já havia uma pilha enorme de contratos e revisões pra fazer. O dia tendia a ser longo, e minha mente não estava disposta. Sentei contrariada, e pedi pra que a Dona Gilda, a secretária, trouxesse um café. Comecei a analisar todos os documentos e no meio deles, minha mente se transportava pro meu quarto, e ficava imaginando o que Helena estaria fazendo. Não bastasse isso, conseguia sentir seu cheiro impregnado em minhas mãos. Impossível, depois do banho que eu havia tomado, o cheiro era obra da minha cabeça. E meu corpo inteiro se incendiava com o pensamento nela. Lembrei cada centímetro daquele corpo que eu beijei, mordi, lambi e fodi. Não via a hora de sair daquele lugar e voltar pra casa continuar o que deixamos pendente na madrugada. Helena era o único compromisso que me fazia desejar se cumprido o quanto antes. Depois de ler o máximo de papéis possíveis, terminou o expediente e resolvi almoçar em casa, coisa que eu não fazia desde que meus pais eram vivos. Pedi a secretária que arrumasse o restante das coisas e parti para o estacionamento, ansiosa por chegar em casa. Passei em meu restaurante preferido e comprei comida pronta, eu não entendia de cozinha e nem podia esperar que ela entendesse. Ao chegar na rua da vila onde eu morava, meu coração começou a se remexer dentro do peito, eu mal podia esperar pra vê-la de novo. Entrei com o carro e estacionei na entrada de casa. Vi Zeus correndo em minha direção, abanando o rabo e fazendo festa. Entrei pela porta e chamei por Helena, ninguém respondeu. Caminhei até o quarto, e a cama ainda estava desarrumada. Fui no banheiro, nada dela. Fui na cozinha, área de serviço, varanda, sala. Ela não estava. Olhei na mesinha de centro e encontrei um bilhete ''desculpe, mas eu não posso''. Sentei no sofá e fiquei encarando Zeus, que parecia se compadecer do meu estado deprimido. Droga, mais uma vez tinha aberto as portas e fui feita de idiota. Senti uma tremenda raiva, mas não dela, de mim. Levantei num pulo, abri todas as janelas da casa, pra que seu cheiro saísse, lavei todos os lençóis e a toalha que ela havia usado. Pronto, tinha decidido, nunca mais iria vê-la de novo...