SURPRESAS DO CORAÇÃO - PARTE XXXI

Um conto erótico de GREY
Categoria: Homossexual
Contém 2353 palavras
Data: 06/11/2016 23:18:42
Última revisão: 07/11/2016 02:16:49

XXXI

Todos nos seus respectivos lugares. Os pais de Janaína ficaram do lado oposto da filha, três cadeiras ficaram vazias: na cabeceira, ao lado de Janaína e uma ao lado do presidente da câmara, bem próximo a cabeceira. A constatação era somente uma, os lugares vazios correspondiam à reserva para o prefeito, sua esposa, Dona Helena e Mauricio.

Os irmãos mais novos de Mauricio pelo visto não participariam da comemoração. Certamente não deu para virem de são Luis, presumir. Logicamente ou Dona Helena ou Mauricio sentaria ao lado de Janaína, já que a cabeceira sentaria o prefeito.

A possibilidade de Mauricio sentar ao lado de Janaína me causou mal estar. Sem querer lembrei-me do episódio de Pinheiro. Tinha ciência que Janaína nutria sentimento pelo grandão, e pior: Janaína não perdia tempo, atacava mesmo.

“Controla-te”, gruni para me mesmo. O fato é que enquanto Janaína teve a oportunidade de ficar próximo de Mauricio, por minha vez, o lugar reservado era um tanto quanto distante, no fim da mesa. Se eu fosse paranóico teria acreditado que aquilo fora proposital. Na intenção de dissipar qualquer resquício de paranóia que queria me dominar, justifiquei pelo fato que as reservas foram feitas, no que diz respeito à cabeceira, que quiseram colocar em destaque a família do presidente da câmara, por isso Enoks, a esposa e a filha ficaram adjacente a família do aniversariante. Por isso, também Mauricio não pôde exigir que eu ficasse próximo dele. Era uma questão política.

Divagava nas minhas análises quando os três lugares foram preenchidos. E o que eu não queria aconteceu. Mauricio acomodou-se ao lado de Janaína. Em função disto, revirei os olhos.

Dona Helena levantou e tomou a palavra. Em tom de explicação, ela disse:

- Pedir que minha governanta, em meu nome, pedisse desculpa a todos os presentes. Sei que o natural seria que eu os tivesse recebidos juntamente com meu primogênito que tá fazendo mais uma primavera. A justificativa é que tivemos um contratempo de foro privado.

Espero que me desculpem, sobretudo espero que tenham sido bem servidos na minha casa. Não abro mãos que meus convidados não sejam bem servidos na minha casa. Prezo muito que todos que adentram minha residência saiam satisfeitos. Satisfeito. Enfim, mais uma vez minhas sinceras desculpas e não veem meu atraso como desconsideração, porque não foi. Por fim, obrigado por terem aceitado meu convite para junto conosco, a familiar Alencar, celebrar o aniversario do meu filho Mauricio, meu primogênito.

Em uníssonos aplaudimos Dona Helena. Durante o aplauso procurei pela atenção de Mauricio. Ele, contudo, parecia uma esfinge fria, sisudo em nenhum momento procurou-me a fim de cruzarmos os olhares em demonstração de saudades, ou pelo menos pelo um simples apenas “tô aqui”. Se ele assim procedesse bastava um olhar e eu entenderia.

Mas nada. Os olhos dele estavam fixados na mãe. E dela não tirava nem para o lado, nem para o outro. Era como se eu não existisse. Ele sabia da minha presença, sabia que eu fui convidado, ou deveria saber.

Enoks dos Santos fez menção que também queria falar. Os aplausos pararam.

Ele iniciou:

- Senhora Alencar, tenha plena certeza ninguém nesta mesa viu o atraso como desconsideração da parte de vocês. Sim, eventualidades existem, a vida é cheia de contratempos, e isso não é algo que se possa ter o domínio. Surge na vida de repente, por isso, senhora Alencar, por favor, tenha a mais plena certeza, entendemos. – Ele ficou em pé, agora com a atenção voltada para Mauricio. – Te conheço há muito tempo, Mauricio, muito tempo mesmo. Lembro de você quando adolescente jogando bola. E hoje, completando 26 anos, um homem feito. Sinto-me feliz por fazer parte desta comemoração. Parabéns meu jovem, acima de tudo, fico mais feliz pela decisão que tomaste.

Nisto o prefeito o interrompe.

- Muito obrigado presidente mais essa parte eu farei, eu sou o responsável de anunciar a decisão do meu filho que muito alegrou o coração deste pai.

Que decisão é essa? Fiquei curioso. E ao mesmo tempo sentir que qualquer que fosse a natureza da decisão de Mauricio, não seria positivo para o meu lado.

Fiquei inquieto.

- Mas, primeiro tenho que lhes contar em como o meu primogênito alegra os meus dias, o quanto os meus dias ganham sentido pela existência do meu filho. Eu ensinei presidente Enoks, o Mauricio jogar bola. Sabia que torcemos pelo mesmo time, Janaína? Quando criança a primeira palavra dita por ele foi...? Quem advinha?

Os presentes riram. Um dos convidados que eu não conhecia deu a resposta em forma de interrogação:

- Papai?

- Sim. Papai. – Confirmou o prefeito em pleno contentamento.

Enquanto o prefeito discursava busquei novamente os olhos de Mauricio. Ele agora estava fixo no pai. Mas, não parecia aparentemente feliz. Estava muito sério, aliás, até parecia que o grandão estava ali forçado.

A verdade é que todos os presentes foram envolvidos pelo discurso do prefeito, de fato, ele tinha uma excelente oratória.

- Helena até reclamou, porque em vez de chamar, mamãe, chamou papai primeiramente. Eu, claro, fiquei muito feliz.

Será que o grandão tá fugindo de mim? Como uma sineta essa hipóteses zoou no meu ouvido.

- Sem mais delongas, antes de anunciar que esse jantar não é tão somente para celebrar o aniversario do meu filho Mauricio, quero apresentar a todos o Engenheiro Caio Durans. – Eu faço menção em agradecimento pela gentileza. O prefeito continua a discursar agora entorno da construção da estrada de Mariana.

Enquanto o prefeito discursava ocorreu o que tanto queria: os olhos de Mauricio encontraram os meus. Mas, não foi do jeito que eu almejei. No olhar dele pude ler: “você aqui? O que estar fazendo aqui?”. Era nítido que ele não me queria ali ao mesmo tempo em que transparecia pesar. De repente Mauricio ficou inquieto.

Por minha vez, como não poderia diferente me sentir confuso. Não conseguia entender o porquê da atitude de Mauricio. Por mais que tentasse.

- Obrigado engenheiro pela presença. Eu pessoalmente pedir para Helena convidá-lo.

Então, não foi o Mauricio que me convidou? Isso explica a cara de espanto de Mauricio quando o prefeito fez menção do meu nome. Tento juntar o quebra cabeça. Não logro êxito.

Mauricio insistentemente não tirou mais os olhos de mim. Sem dúvida há uma nuvem no seu olhar. E definitivamente ele não queria que eu estivesse no jantar. Por quê?

O prefeito voltou ao assunto do jantar.

- Desde quando os nossos filhos nascem é uma alegria sem igual, e por algum tempo pensamos que para sempre estarão na nossa inteira dependência. Mas, com o tempo percebemos que criamos os filhos não para nós pais, porém sim, para o mundo. E isso fica evidenciado no momento em que eles decidem casar.

“Casar?” Repito a meia voz para me mesmo em forma de interrogação. Uma confusão instala na minha cabeça. “Com quem? Como assim?”.

- Sim, pessoal. O meu filho Mauricio decidiu casar, por isso falei que esse jantar não era tão somente comemoração do seu aniversario, mas também do seu noivado que aconteceu hoje á tarde.

Perdi o chão. Em poucas palavras eu fui reduzido à flor machucada no jardim. Meus sonhos, meus planos se tornaram insignificantes, perderam o sentido, uma vez que em todos, quer sonhos, quer planos o grandão estava. Ele fazia parte.

- Mauricio noivou com Janaína, filha de Enoks dos Santos. – voltou-se para o presidente da câmara e muito amigável, falou: - nossas famílias serão uma só, vereador.

O quebra cabeça se juntou. Entendi tudo. Compreendi o porquê do sumiço. O porquê nos olhos deles quando cruzamos o olhar, li que ele não me queria no jantar do seu aniversario. A dor cresceu, extremada como se vários golpes eu tivesse levado no estomago. Balancei a cabeça a fim de manter racional, mas não conseguir... A voz do prefeito foi ficando longe. Longe. Sei que Mauricio ficou de pé juntamente com sua noiva e exibiram as alianças.

Urgentemente tomei água. O ideal era algo mais forte. Mas não tinha... Champanhe eu não queria. Eu definitivamente precisava gritar. Precisava chorar. A dor crescia em demasia. A dor não era apenas no coração, era na alma. Eu me sentir humilhado, pois parecia que eu fui levado para assistir esse anuncio de propósito. Tudo foi drasticamente calculado.

Eu tinha que chorar, mas, claro, não poderia ser ali. Até cogitei permanecer ali e não dar o gostinho de ver meu sofrimento para quem arquitetou aquilo, mas sou fraco, não dei conta. Caso permanecesse cairia ali mesmo em pranto. Por isso, educadamente, ao máximo tentando evidenciar equilíbrio fui à Dona Helena e falei:

- Não tô me sentindo muito bem, por favor, vou sair à francesa. Muito obrigado pelo convite e não se esqueça de dar meus votos de felicidades aos noivos. Acho que vou ao hospital. – Falei a fim de demonstrar mais veracidade na desculpa empregada.

- Eu entendo meu caro. Posso ajudar em alguma coisa?

- Muito obrigado. Apenas transmita meus votos.

Quando me voltei para me retirar meus olhos novamente cruzaram com os de Mauricio. E uma lágrima quente rolou discretamente. Era me deixa que, de fato não poderia permanecer, não tinha como. Ele reparou na lágrima que rolou cujo efeito foi ficar mais inquieto ao lado de Janaína.

Quando entrei no meu carro, desabei. Chorei. Chorei muito. Parecia que eu iria ter uma convulsão, desorientado. Minha cabeça passou a doer.

Um negócio alojado a altura do peito como que querendo sair pela boca. Depois se transformou num embucho na garganta. Meu coração sangrava.

- Porque meu Deus? Porque meu Deus?

As interrogações eram meio de reduzir a dor extremada que me maltratava, instalada no meu coração. A dor era violenta, profunda, por isso havia a necessidade de falar mesmo que não houvesse ninguém. Embora, a interrogação fosse proferida para Deus, há muito sabia que ele não se preocupava comigo.

O fato é que eu teria que fazer algo para reduzir a aflição que me violentava vigorosamente por dentro, ainda mais que o episódio fatídico do meu passado veio á tona de forma colossal. Tinha consciência que falar diminuía a dor, bem como escrever, sim no fim da minha adolescência como tinha quem me escutasse, aprendi a botar, o que sentia na alma, no papel.

Deste modo, procurei caneta e papel pelas gavetas do carro, não só achei o que procurava como também me deparei com a chave da casa de Mauricio que pela ocasião do aniversario de casamentos dos pais dele, havia me dado. No primeiro momento não devotei muita atenção a chave, também pudera, a dor me dilacerava por dentro.

Com papel e caneta à mão tratei de jogar no papel a minha dor.

Escrevi:

" Talvez

Ás vezes,

Penso que vou morrer sem conhecer o que é o amor, sem ser coberto pelo véu da paixão. Pior, deixarei esse mundo sem deixar para traz quem chore por mim, quem faça menção do meu nome.

Minha saída da vida será um evento sem muito significado, uma vez que ninguém observará, prestará atenção, não tomará ninguém de surpresa, não a assombrará a ninguém por não existir quem observe, ou surpreenda-se muito menos que se assombre, por isso será um evento despercebido, insignificante, desprezível.

Tão logo parta, cairei nos braços do nada, pois assim como minha existência fora um vazio será um esquecimento total a minha partida, porque não haverá rastros que ficam, pegadas feitas, sentimentos vividos, lembranças sentidas.

É triste, mas quando a deixar tenho a leve impressão que a deixarei com o coração completamente cheio de espinhos, solidão e um incrível desejo frustrado por ser abraçado, beijado, a cariciado, sobretudo escutar entre beijos: eu ti amo.

Se pudesse- porque a mim é imposto-nunca que preferiria a solidão, o fato de não ter ninguém pra repartir a vida, as lágrimas, os momentos infelizes, os momentos difíceis.

Tô condenado ao sofrimento. Fico triste. Mas muito mais em saber que não fui amado e com o tempo o meu nome desaparecera, será esquecido porque não deixo ninguém para traz simplesmente porque, de fato, nunca tive ninguém."

Não satisfeito, escrevi outro texto, diga de passagem, com o rosto molhado por lágrimas:

"Um dia

Um dia às lágrimas que rolam pelo meu rosto terá fim,

Um dia a tristeza que tanto machuca meu coração cessará,

Um dia a dor intensa que maltrata meu coração também terá fim,

Um dia o sonho de amar será realizado,

Um dia a vontade tê-lo será concretizado.

E aí não mais sentirei pesar, não mais serei acometido por inveja ao ver casais sorrindo na praça, andando de mãos dadas.

Aí não sentirei o frio da noite me assolando, não mais terei as mãos da solidão me atormentando.

Aí não mais passarei o dia dos namorados sozinho, chorando, triste e com o gosto de amargo na boca.

Um dia eu terei você! Enquanto isso eu continuo crendo,

Continuo sonhando mesmo arrasado pela dor, machucado sem ter uma boca pra beijar, braços para me envolver, um corpo para me apoiar, enfim, sem ter ninguém.

Um dia tudo estará resolvido,

... Eu terei você!"

Entre soluços constatei o obvio, eu amava Mauricio. Por isso, a dor violenta.

Repetir pra mim mesmo a constatação:

- Eu amo Mauricio. Eu amo esse homem, por isso escrevi “um dia tudo estará resolvido... Eu terei você!”. Eu o amo.

Aparentemente não era um sentimento restrito ao meu coração, caso tomasse por parâmetro nosso ultimo encontro, o qual ocorreu na casa dele. Do modo dele, sim, houve declaração de juras, por quase ele também declarou que estávamos namorando. Abro a gaveta e escorrego a chave entre os dedos enquanto analiso ouvi da boca do próprio Mauricio o porquê dele ter preferido Janaína a mim, sobretudo porque sei que há sentimento entre nós.

Peso a ideia. Não é estapafúrdia, tento me convencer.

- Caio, o teu problema é que tu pensas demais. Em excesso teme o que a sociedade vai pensar; enfim, em que os outros vão pensar. Foda-se se a ideia é ruim, no mínimo Mauricio te deve uma explicação. Foda-se se vai ou não gostar. – Disse, em voz alta, para me mesmo.

Convencido.

Liguei o carro e dirigir rumo à casa de Mauricio. Eu o esperaria para termos uma conversa decisiva.

Portanto, quando ele voltasse para casa teria uma surpresa.

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Comentários

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Oi Amei o conto, quando vais continuar ? Por favor?🙏🙏🙏 Adoro Caio e Maurício ❤

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Outro conto q amo e esta abandonado..Que pena!

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Poxa, que triste! chorei! rs eu sempre choro em histórias assim, espero um final feliz aí

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Nossa gostei demais do seu conto, é muito envolvente... comecei a ler hoje e não parei até terminar... ansioso pelo próximo capitulo.

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Não demora! Eu quero uma boa resposta pra essa merda que o Maurício tá fazendo!

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Sabia que era armação de casamento com aquela vadia!!!😠👊 reage Caio e Maurício, por favor não caiam nessa!!!! Lutem até o fim pelo amor de vocês ✊ 💌 💕 💖 💘!!!! Continua logo!!! 👏👏👏😢💔🙍🙌

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Fiquei com pena do menino!! Torcendo para o Maurício escapar dessa loucura!! Conto muito obrigado interessante!!

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