AMOR DE PESO - 01X22 - A CERIMÔNIA DA CONFUSÃO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Homossexual
Contém 4828 palavras
Data: 07/11/2016 20:28:20
Última revisão: 24/12/2020 05:31:57

Antes do conto quero me desculpar, a minha vida tá uma correria. Com as eleições, feriados e afins, não conseguia terminar o conto. Então desculpem mesmo. Espero que entendam. O próximo capítulo de 'Amor de Peso' será na próxima semana. Espero que gostem:

Pai e mãe,

Nunca quis ser uma pessoa ruim e machucar quem estava ao meu redor. Diogo, Alicia, Brutus, Ramona e Letícia, eles foram afetados por todas as escolhas que fiz.

***

Lá estava eu, deitado no chão sujo da festa. O Brutus me levantou, perguntou se eu estava bem e tentou seguir Diogo, mas eu fui o impedi e disse que era para deixar quieto. Afinal, mereci aquele murro, deveria ter conversado com o Diogo desde o primeiro dia em que fiquei com o Zedu. Eu não sabia o que fazer, comecei a chorar.

Manaus trouxe coisas ótimas para mim, entretanto, veio um combo de confusão. O Brutus se provou um ótimo amigo e andamos até a área externa da casa de Ramona. Sentamos na calçada mesmo, para a minha surpresa, o Brutus estava com uma garrafa de vodca na mão.

— Podemos passar o resto da noite aqui? — perguntei, encostando minha cabeça no ombro do Brutus.

— Podemos. Afinal, você quebrou o som do Bernardo. E só por isso ganhou mil pontos comigo. — ele respondeu tomando um gole de vodca.

— O Bernardo, o que tem ele?

— Tentou seduzir a Ramona.

— Aaaah, cara, sério, você e a Ramona?

— Você e o Zedu. Como eu não percebi isso? Grandão, eu sou um lixo de amigo. Não imagino o que tem sido para o Zedu. Desculpa.

— Tudo bem, Brutus. Você é um ótimo amigo. — falei, pegando a garrafa de vodca e tomando.

— É engraçado essas merdas que acontecem, né? — ele comentou, rindo e coçando a cabeça.

— Brutus! — exclamei, tomando um gole generoso e fazendo uma careta. — Eu ainda não cheguei na parte engraçada, mas assim que chegar te aviso. — tomando outro gole.

— Ei. — me repreendendo e tomando a garrafa da minha mão. — Vai devagar grandão.

No lado de dentro, Bernardo e Ramona tentavam dar um jeito para ligar a caixa de som. Enquanto, a Letícia passava mal no banheiro e era amparada por Arthur. Aproveitando a distração de todos, Alicia achou Zedu escondido no escritório do pai de Ramona.

A patricinha não conseguia acreditar que o Zedu havia se apaixonado por um homem, ainda por cima, um homem gordo. Aquele fato não entrava na cabeça dela. De repente, a Alicia se tornou uma metralhadora de ofensas.

— Zedu, eu nunca fui tão humilhada. E, logo com um gay e gordo, um gordo!!! — gritou Alicia, andando de um lado para o outro.

— Cala boca. Não fala assim dele. A culpa é minha. — Zedu tentava manter um tom de voz baixo.

— Vai defender o namoradinho?! Ele é um gordo ridículo. Zedu, pelo o amor de Deus, o que as outras pessoas vão pensar? A tua reputação...

— Que reputação? Eu tenho 17 anos, estou no ensino médio e sou gay. Desculpa, se eu te machuquei. Eu não quero mais viver com medo, Alicia. E se você me ama mesmo, por favor, apenas aceita.

— Quer saber? Vai à merda, Zedu. Espero que tú seja infeliz com esse gordo ridículo. Vocês se merecem. — saindo do escritório e batendo a porta com violência, deixando Zedu aos prantos.

O amor pode superar vários preconceitos, por exemplo, o Arthur é cheio de frescura, mas, enquanto a namorada vomitava no banheiro, ele segurava os cabelos dela. A Letícia estava fora de si, queria dançar, só que sua situação não cooperava.

— Arthur, pega o meu remédio. Estou com dor de cabeça. Está na bolsa. — pediu Letícia, sentando no chão do banheiro.

Os segredos não são bons para os relacionamentos, Zedu e eu, aprendemos da pior maneira. Arthur ficou surpreso ao ver o frasco de seu remédio na bolsa da namorada. Então, ele percebeu os sintomas dos efeitos colaterais do medicamento.

Arthur segurava o cabelo de Letícia enquanto ela vomitava no banheiro. Ela disse que estava com muita dor de cabeça e pediu para o namorado pegar seu remédio. O Arthur abriu a bolsa de Letícia e encontrou seu frasco de remédio.

— O que significa isso?

— O quê? — Letícia, ainda no chão, não conseguia olhar para Arthur, pois, sua visão estava turva.

— O que você está fazendo com o meu remédio? — perguntou Arthur, novamente, dessa vez, com um tom mais urgente.

— Você deixou na minha bolsa, então, tomei por causa da minha dor de cabeça. Que remédio é esse?

— Letícia, você está muito bêbada e toda vomitada. Vamos? — ele guardou o remédio no bolso e ajudou a namorada. – Vou te levar para o quarto da Ramona.

— Eu não estou bêbada. — reclamou Letícia, levantando com dificuldade.

—Imagina, Joana Cana Brava.

"Quem acredita sempre alcança", como diria o saudoso Renato Russo. Após passar quase uma hora reconectando os cabos dos aparelhos de som, Bernardo e Ramona, decidiram se divertir. A minha amiga correu para a pista de dança quando tocou "Raise Your Glass", da Pink.

Engraçado, que o estresse pode ser diluído através da dança. Um fato sobre a Ramona? Ela amava seus amigos e, tudo, eu disse tudo, a afetava. Então, ela usava a música para aliviar a tensão. Bernardo teve dificuldades para acompanhar o ritmo dela, mas não desistiu.

Finalmente, Bernardo conseguiu conectar os cabos que eu desliguei, mas depois do barraco as pessoas preferiram ficar comentando do que se divertir. A Ramona foi para a pista de dança com o Bernado para tentar fazer o povo dançar também.

— Gente, ainda estou surpresa com o Zedu e Yuri. — comentou Ramona, após arrasar na pista de dança.

— Isso é um problema para você? — ele perguntou.

— Claro que não. Eu amo os dois. Quero que eles sejam felizes. — afirmou Ramona, pegando um copo de caipirinha e tomando.

— Ramona. — Zedu pegou no ombro de Ramona. — Você viu o Yuri?

— Zedu. — Ramona percebeu uma alteração no olhar do amigo. — Ei, calma. — pediu Ramona, limpando às lágrimas de Zedu. Vamos no escritório do papai.

Eu não tinha mais nada para fazer, além de encher a cara. O Brutus foi primordial nessa missão, pois, ele conseguiu mais álcool. Enquanto, a gente abria uma garrafa de vinho, a Alicia apareceu e começou um pequeno barraco.

Sabe, aquele momento que você está tão bêbado e esquece como se fala? Alicia me xingava de todos os nomes possíveis e imagináveis. Eu apenas concordava com cabeça e, vez ou outra, bebia um pouco de vinho. O Brutus fazia caras e bocas.

— Pode ficar com ele. Vocês dois se merecem. Espero que vocês peguem Aids. Espero que vocês morram. — espraguejou Alicia, antes de me dar um tapa no rosto. — Vai pro inferno, Yuri. — indo em direção a um carro preto.

Como forma de consolo, o Brutus me entregou outra garrafa de vinho. A gente sentou e voltamos a falar sobre nossas vidas amorosas complicadas. Tá, o Brutus é devar, se eu fosse bonito igual a ele, já teria feito a Ramona minha namorada. Apesar de bêbado, procurei dar bons conselhos para o meu amigo fortinho.

Dentro do escritório, era a vez da Ramona de aconselhar o Zedu. Ele chorou abraçado com a amiga. Aos prantos, Zedu garantiu que não tinha a intenção de machucar ninguém. E, adivinha como Ramona decidiu lidar com a situação? Álcool.

— Toma. — entregando a garrafa para o Zedu. — Essa é boa.

— Valeu. — Zedu tomou e não fez careta. — Os olhos do Diogo. — bebendo mais.— Ele estava muito decepcionado.

— Infelizmente, algumas pessoas saíram machucadas, Zedu. — pegando a garrafa e tomando, mas fazendo careta e respirando fundo. — Por que vocês não contaram para a gente?

— Medo, eu acho. Medo que as coisas mudassem. O Brutus surtou quando descobriu que o Yuri era gay.

— Agora, a pergunta que não quer calar. Como? — questionou Ramona, pegando na mão de Zedu.

— Eu amo o Yuri. O amo desde a primeira vez que o vi. A gente estava praticando slackline na praça, ele passou de carro por nós. Parecia triste, a cabeça pressionada contra o vidro. Ele estava lindo. — pegando a garrafa e bebendo.

— Zedu. Isso faz quase seis meses. — comentou Ramona, triste por não ter percebido a luta interna do amigo. — Posso te contar um segredo?

— Claro.

— Eu sou apaixonada pelo Brutus. — anunciou Ramona, ficando intrigada pelo riso que Zedu soltou.

— Alerta de spoiler: ele te ama também.

— Sério?

— Sim. Só não entendo o que falta para vocês ficarem juntos. Não aguento mais ouvir do Brutus falando sobre você.

— Bem. Espero que ele me convide para o baile.

— Ramona. — Zedu falou com a voz rouca. — Obrigado.

— Pelo o quê?!

Um abraço. Zedu pulou e abraçou Ramona de uma forma tão pura, que a minha amiga não segurou às lágrimas. Os dois choraram por quase dois minutos. Zedu falou que estava com medo de enfrentar sua família, então, Ramona deu o melhor conselho que poderia.

— Zedu, entenda uma coisa. Todo mundo tem o seu tempo. Se você não está preparado, ninguém pode te julgar. Fora, que os teus pais te amam. Eles vão entender. Se quiser, a gente pode ir com você. Lembre-se, não está sozinho. — ela disse, limpando às lágrimas de Zedu e beijando sua testa.

Mesmo com o contratempo, a festa continuou até altas horas. Ramona, Bernardo e Arthur tentaram organizar o máximo que eles puderam. Bebidas jogadas no chão, vômito de todas as espécies, vidro quebrado e o sofá detonado, sim, a minha amiga prometeu que jamais daria outra festa na vida.

No dia seguinte, acordei com uma dor de cabeça fora de série, por alguns minutos, esqueci de tudo que aconteceu, mas, a realidade, a doce realidade, sempre é mais dura. O Brutus me usou como travesseiro, pois, desmaiei no sofá, a Ramona descansava encolhida em um canto da sala e o Bernardo jogado no chão.

Ainda zonzo devido a ressaca, Zedu saiu cambaleando da casa de Ramona. Ele entrou em casa e encontrou a mãe preparando o café. Gentilmente, Teodora pediu para Zedu sentar à mesa, antes de subir para o quarto. O coração de Zedu estava acelerado, quase se tornando uma bateria de escola de samba.

Um pouco desconfortável, Zedu sentou na cadeira e ficou olhando a mãe servir o seu café. "Ela me ama", pensou Zedu, na esperança de receber uma reação positiva da parte de Teodora. Enquanto tomou um gole do café, Zedu, não resistiu e começou a chorar.

Zedu chegou em casa e encontrou a mãe preparando o café. Ela pediu para ele sentar e comer algo antes de dormir. Ele sentou e ficou olhando a mãe enquanto ela serviu o seu café.

— O que foi meu filho? — Teodora perguntou, assustada com a reação de Zedu.

— Nada. — Zedu mentiu, levantando e indo em direção ao seu quarto.

— José Eduardo? — questionou Teodora, seguindo Zedu e segurando em seu braço. — Meu Filho, o que houve? Aconteceu algo?

Cansado de carregar um fardo dão pesado, Zedu, abraçou a mãe e chorou. Nos últimos dias, ele se sentiu um verdadeiro lixo por esconder seus sentimentos. Calma, Teodora pegou na mão do filho e o levou para a sala. Ela sentou e fez Zedu deitar em seu colo. Com toda delicadeza do universo, Teodora acariciou os cabelos do filho e lembrou da época em que ele era apenas um bebê.

— Zedu. Você sabe que pode contar tudo para a mamãe, né? — Teodora queria garantir que o filho confiasse nela. — Então, conta, por favor, o que você fez?

— Mãe, desculpa. Eu, eu, eu sou gay.

Três letras. Três letras que para algumas pessoas podem ser insignificantes, mas que para José Eduardo significa o mundo. Por um segundo, Teodora, parou de acariciar os cabelos dele, por isso, Zedu esperou uma bronca ou ameaça.

Assim como Zedu, Teodora é uma mulher com expressões fáceis de desvendar. Ela tirou os óculos de grau, limpou a garganta e deu um beijo na testa dele. Esse ato de amor, um simples ato de amor, fez Zedu chorar igual uma criança. O seu fardo já não parecia tão pesado e uma ponta de esperança surgiu no horizonte.

— Há quanto tempo você sabe disso?

— Mãe, eu sempre soube, mas evitava. — Zedu confessou pela primeira vez.

— E a Alicia?!

— Eu meio que contei para ela. — Zedu levantou e pegou na mão de Teodora. — Mãe, desculpa, não vai me expulsar de casa ou pedir para eu esconder meus sentimentos. Eu não sei se consigo.

— Bem, meu filho, não vou esconder que estou surpresa. Eu, eu não imaginava que você fosse gay. Por favor, pare de chorar. Eu estou do seu lado. Você é um jovem amoroso, bom estudante, responsável e que só me deu alegrias. Ser gay, isso não é uma vergonha.

— Tenho medo da reação do papai. — explicou Zedu, ainda segurando nas mãos de sua mãe.

— Tudo isso vai se arrumar no seu tempo. Agora, quero que você sente na mesa e tome seu café. — levantando e oferecendo a mão para Zedu. — Você sempre será o meu bebê. Não importa o que aconteça.

— Obrigado, mãe.

Enquanto o Zedu estava feliz, eu caminhava para casa com ressaca... moral. Entrei em casa sem chamar a atenção de ninguém. A minha tia bateu na porta e, como sempre, disse que estava tudo bem, ainda avisei que dormiria o dia todo. Na verdade, chorei na maior parte do tempo. A expressão do Diogo me pegou de jeito, porque eu tive que mentir? Ele merecia a verdade.

No almoço, desci e encontrei todos na sala de jantar. Eles estranharam a minha expressão e fizeram diversas perguntas. Depois que meus irmãos subiram para os seus quartos, contei a verdade para a tia Olivia, que desaprovou a reação de Diogo.

— Eu não tiro a razão dele. — tentei amenizar o ato do Diogo. — Tia, eu fui o culpado. Poderia ter evitado tudo sendo verdadeiro.

— E o Zedu?

— Não sei. Ele se preocupa tanto com a reação dos outros. Eu o entendo, estive nesse lugar de dúvida.

— Quer que eu faça algo?

—Eu joguei a merda no ventilador, então, preciso limpar. Não se preocupe eu estou bem. — Obrigado, por ficar do meu lado mesmo quando sou errado. — agradeci a abraçando.

Saí tão apressado da casa de Ramona que nem me despedi. Ela e alguns convidados tiveram que limpar a casa em um tempo recorde. Na hora do almoço, Brutus a convidou para um restaurante regional. Eles comentaram sobre o escândalo que foi protagonizado por nós na festa.

— Ramona. Eu sei que você está preocupado com a minha reação por causa do Yuri e Zedu, mas estou de boa. Juro. Eu não imagino o que está passando na cabeça deles, porém, eles tem 100% do meu apoio.

— Eles acham que a gente não aprovaria?

— Sim. Deixei claro para o Yuri que o Zedu é meu irmão e nunca o deixaria de lado. — garantiu Brutus, deixando Ramona toda orgulhosa. — Os comentários na escola vão ser fortes, precisamos ficar ao lado deles, principalmente, do Zedu.

— Disse tudo. Tenho certeza que a Alicia vai fazer algo.

Na história dos heróis, os vilões sempre se escondem em um lugar secreto para armarem contra os mocinhos. Naquela tarde de domingo, João, Lucas e Alicia, se reuniram para colocar um plano em ação. Algo que me prejudicaria em frente à todos da escola.

A ideia era aproveitar a premiação que aconteceria na segunda-feira. Eles pensaram em várias possibilidades de me humilhar, então, Alicia sugeriu um brincadeira que viu em um filme antigo. João e Lucas ouviram cada palavra com atenção, eles estavam dispostos a acabar comigo, quer dizer, quase todos.

— Cara, o Yuri pode se machucar. A gente pode fazer outra coisa. — sugeriu Lucas, vendo que João estava obcecado por mim.

— O gordo merece sofrer. — afirmou João batendo na mesa com sua mão direita.

— Queridos, João e Lucas, o meu motivo para vingança é obvio, mas onde vocês entraram nessa história? — Alicia perguntando, pois, não via motivos para tanto ódio.

— Odiamos aquele gordo. Isso basta.

— Enfim, acho que deveríamos chamar o Diogo. Afinal, ele também foi traído. — sugeriu Alicia. — Vou mandar uma mensagem para ele.

Sim, eu não sabia, mas havia reunido um fã-clube que tinha um único objetivo: acabar comigo. Alicia contou todo o plano para Diogo, que demorou a responder, entretanto, topou ajudar na armação de João. O que um coração machucado pode fazer, né?

Algumas pessoas dizem que a ignorância é uma benção, tipo, eu não tinha ideia do que me esperava, então, até aquele momento, a única preocupação era acabar com a ressaca. Desci para a cozinha e tomei um litro de água. Em seguida, fui em direção à sala e comecei uma sessão solo de cinema.

Depois de muito zapear pelos canais, decidi conectar meu celular e assistir uma animação da Disney. Escolhi "A Princesa e o Sapo", pois, adoro a história da Tiana, uma das minhas princesas favoritas. O Richard chegou de um aniversário e se juntou a mim. Não demorou muito para a Giovanna aparecer.

Cantarolamos todas as canções do filme. A minha preferida é "Quase lá", um solo perfeito. Na canção, Tiana explica para a mãe que vai correr atrás dos seus sonhos e nada vai ficar no seu caminho. Eu queria tanto ter essa coragem e determinação.

Acordei naquela tarde com dor de cabeça. Desci e tomei uma aspirina. Fiquei na sala assistindo a um filme. Richard chegou de um aniversário, e não demorou muito para Giovanna aparecer.

— Tiana nunca decepciona. — comentou Giovanna quando o filme acabou. — Ei, seus bobões. Vocês já decidiram? — ela perguntou, nos deixando sem entender.

— O quê? — respondeu Richard confuso.

— Vocês sabem. As férias estão chegando. A gente vai para a casa da vovó?

— Não! — Richard e eu, respondemos juntos, isso fez Giovanna rir.

— Ainda bem. — disse ela, levantando do sofá e ficando na minha frente. — Não aguentaria.

— A titia tem a nossa guarda total. Então, fiquem despreocupados. — afirmei.

Não deve ser fácil abrir mãos de seus sonhos por causa da família. Eu sabia que o maior desejo da tia Olivia era fazer um intercâmbio, mas, após a morte dos meus pais, ela precisou ser adulta e cuidar de nós. Acho que nunca vou conseguir expressar a minha gratidão, então, tento sempre ajudar em casa. Como naquela tarde, que apesar da ressaca, fiquei de babá dos pestinhas.

Afinal, depois de uma semana de trabalho, a tia Olivia merecia curtir o namorado. Eles decidiram jantar fora e, mais uma vez, a titia pagou a conta do restaurante. No caminho de volta, o Carlos parecia um pouco impaciente.

— O que meu bebê tem? — quis saber tia Olivia, fazendo uma voz infantil.

— Nada. — respondeu Carlos, sem tirar os olhos do tráfego.

— Carlos. Pode confiar em mim. O que está acontecendo?

— Essa situação. — Carlos parou por um minuto, mas foi cortado pela titia.

— Qual situação?

— Você gastando seu dinheiro comigo.

— Sério? — questionou titia, pensando bem antes de responder. — Carlos, eu não sou uma donzela em perigo. Não vejo problema em pagar uma coisa, muito pelo contrário, isso só mostra que sou independente.

— Eu sei, mas você é minha namorada.

— Vamos fazer assim. Que tal a gente rachar as contas? — sugeriu tia Olivia.

— Fechado. Eu não quero que você pense que sou um homem das cavernas. Eu amo ver sua independência, apenas queria te agradar também. Afinal, estamos em um relacionamento.

***

No dia seguinte, peguei carona com a tia Olivia. Não queria ver meus amigos, principalmente, o Zedu. Cheguei cedo na escola e avistei Alicia conversando com tia Ray, a zeladora. Passei direito, entretanto, senti o raio de ódio mortal que ela lançou contra mim. Para piorar a situação, esbarrei com o João na porta do auditório.

No outro dia, peguei carona cedo com a minha tia. Não queria ver meus amigos naquele momento, principalmente o Zedu. Cheguei cedo na escola e avistei Alicia conversando com a Tia Ray, a zeladora da escola. Passei direto e quando entrei no auditório encontrei o João.

— Olha, se não é o balofo pegador. Só para avisar que eu não pego obesos. — desdenhou João, tendo o típico comportamento escroto.

— Sério, João. Vai querer perturbar esse horário da manhã?

— Estou de bom humor hoje. — passando e esbarrando em mim. — Espero não pegar nenhuma DST.

— Ridículo. — respirei fundo e segui para um dos acentos disponíveis. — Quero que esse dia acabe logo. — pensei, enquanto pegava o celular e lia várias mensagens dos meus amigos. — Caramba. Eles esperaram por mim.

Como disse mais cedo, um coração ferido pode fazer coisas ruins. O Diogo chegou e procurou Alicia, ele pediu que eu não me machucasse com a brincadeira. Eles foram surpreendidos por João, que já havia preparado a armadilha. O único preocupado o suficiente para desistir era Lucas, ele implorou para João desistir, mas a resposta foi negativa.

Diogo chegou um tempo depois e Alicia o chamou para conversar. O meu ex-namorado falou que não queria se envolver no plano deles mais do que já estava. João agradeceu ao material que Diogo deu.

— Você é fraco, Diogo. Até o idiota do Lucas desistiu do plano. O Yuri merece pagar pelo nosso sofrimento. Ele será humilhado na frente de todos! — esbravejou Alicia, que estava com sangue nos olhos.

— Já posicionamos tudo. Quando você fizer o lance, Alicia, eu vou soltar o cartaz. — explicou João, soltando um riso nervoso.

— Que cartaz? — questionou Diogo, ficando preocupado com a magnitude do trote.

— Você vai ver.

Aliviado com a aceitação da mãe, Zedu, apareceu disposto a fazer às pazes comigo. Ele não queria mais viver uma mentira. Foram 17 anos vivendo uma mentira. Anos se privando de amar e ser amado. Não existe sentimento pior que o de medo. E aquilo não fazia mais parte da vida dele.

Evitei tanto os meus amigos que esbarrei com eles quando saí para tomar água. Sabe aquele momento constrangedor onde ninguém fala nada, mas todos se olham? Eu sei. O Brutus até tentou quebrar o gelo, porém, a piada não funcionou. Respirei fundo, contei até três e abri meu coração para eles.

— Antes que vocês digam alguma coisa... é... vocês foram os primeiros amigos que eu consegui fazer de verdade, amigos que não me julgaram por causa do meu peso e nem da minha sexualidade. Eu sinto muito. Desculpem, sabe, se machuquei alguém com as minhas mentiras, eu não queria.

— Ei, grandão. Respira. Calma. — pediu Brutus pegando no meu ombro e apertando.

— Yuri, infelizmente aprendemos nos erros. Você não confiou na gente, mas somos seus amigos. — garantiu Letícia me abraçando. — Mas quem diria, hein, você e o Zedu. Quero ser madrinha.

— Obrigado, pessoal. Vocês são os melhores, mas não tenho nada com o Zedu. Acho que nunca teremos.

— Como assim? — quis saber Ramona.

— Somos muito diferentes. Enfim, o importante nessa história será sempre a amizade de vocês.

É tão bom ter amigos. O Brutus estendeu a mão para frente e pediu para fazermos a mesma coisa. Em seguida, ele falou que a regra de outro do grupo seria a verdade. Como eu amo essas pessoas. Eles conseguiram me cativar, cada um com o seu jeito especial. Acabei fazendo uma nota mental, escolhi a qualidade de todos eles.

***

Brutus: bobalhão e medroso, mas com o coração de ouro.

Ramona: amorosa e dona do sorriso mais acolhedor que já vi.

Letícia: não mede esforços para ver a felicidade dos amigos.

***

O nosso momento ternura foi atrapalhado pela Dona Ray, que nos colocou dentro do auditório por causa da cerimônia. O Zedu evitava falar com as pessoas, afinal, ele era o assunto da vez nos corredores da escola. Ele trombou com o Diogo. Eles ficaram se olhando por um tempo, então, Zedu tentou dizer algo, mas não conseguiu.

— Ei, José Eduardo. — soltou Diogo, quando passava ao lado de Zedu. — Se eu fosse você cuidaria melhor do Yuri. Ele corre risco no auditório. — andando na direção oposta ao auditório.

— Correndo risco? Namorado? — Zedu parou por um tempo e conseguiu juntar todas as peças da mensagem de Diogo. — Yuri!!! — ele exclamou, correndo em direção ao auditório.

Os alunos homenageados ganharam uma fileira exclusiva. O Zedu se aproximou de mim, mas fiquei nervoso. Ele baixou e disse que precisava conversar comigo. Pedi para resolvermos a situação, após a cerimônia. A gente se assustou, quando a diretora da escola deu inicio a programação.

O aviso de Diogo despertou o lado protetor de Zedu. Ele sabia que algo aconteceria, mas o quê? Usando toda sua habilidade de espião, Zedu pegou a câmera de um dos alunos que registrava o evento. A diretora fez um discurso eterno sobre responsabilidade e escolhas. Confesso, que apesar de longas, aquelas palavras mexeram comigo.

***

Dois saltos numa semana

Eu aposto que acha que isso é muito inteligente, não é, garoto?

Voando em sua moto

Observando todo chão abaixo de você desabar

Você se mataria por reconhecimento

Se mataria para nunca, jamais parar

Você quebrou outro espelho

Você está se transformando em algo que não é

***

Sabe quem é o melhor aluno em matemática, português e inglês? Eu. A diretora chamou o meu nome. Os alunos que estavam ao meu lado me parabenizaram. O Zedu prestava atenção em cada movimento meu. Subi ao palco e recebi três medalhas. Como a vergonha não era pouca, ela resolveu que os alunos precisaram discursar.

Que situação embaraçosa. Os alunos pareciam impacientes, vamos ser realistas, né? Ninguém quer passar parte do dia preso em um auditório, ainda mais, para ver outros alunos serem homenageados. Pensei nas palavras que queria usar, pois, não preparei um discurso legal.

— Oi? — falei perto do microfone e minha voz ecoou pelo auditório. Eu queria sumir, mas o Yuri corajoso resolveu aparecer. — Me mudar para Manaus, foi a coisa mais radical que já fiz na vida. Essa terra tão calorosa me recebeu de braços abertos e pude conhecer o verdadeiro significado da palavra amizade. Eu sei que muitas pessoas me julgam por causa do meu peso, houve uma época em que acreditei nos comentários maldosos. Que uma pessoa gorda nunca teria amigos ou encontraria o amor. Mas, precisei viajar mais de quatro mil quilômetros para perceber que aquelas pessoas estavam erradas. Hoje, eu tenho amigos maravilhosos e uma família acolhedora. Eu não sou perfeito, longe disso, já errei e machuquei pessoas que estão nesse auditório, porém, errar é humano e aprendi bastante nos últimos meses. Bem, acho que é isso. Obrigado aos professores e colegas.

***

Não me deixe chapado

Não me deixe seco

Não me deixe chapado

Não me deixe seco

Calando-se na conversa

Você será aquele que não pode falar

Todo seu interior cai em pedaços

Você apenas se senta aí desejando que ainda pudesse fazer amor

Eles são aqueles que vão te odiar

Quando você achar que decifrou o mundo

Eles são aqueles que cuspirão em você

Você será aquele que estará gritando

***

Os alunos aplaudiram. Eles aplaudiram o meu discurso. Falei de coração aberto e eles aplaudiram. Cara, os últimos meses da minha vida foram uma loucura. Primeiro, o meu caso com o Léo. Depois, a paixão não correspondida do Diogo. E, por último, mas não menos importante, o amor pelo Zedu.

Enquanto era acolhido pelos meus colegas de classe. A Alicia se posicionou atrás do palco. Ela lembrou da noite em que me viu beijando o Zedu. No coração da Alicia, o único sentimento que existia era ódio. A pior parte? Eu não tirava a razão dela, só não chegaria ao extremo de me vingar.

— Esse gordo vai pagar! — exclamou Alicia, pegando uma corda e puxando.

***

Não me deixe chapado

Não me deixe seco

Não me deixe chapado

Não me deixe seco

É a melhor coisa que você já teve

A melhor coisa que você já, já teve

É a melhor coisa que você já teve

A melhor coisa que você já teve se foi

***

O João pode ser um idiota, mas é engenhoso. Ele preparou uma armadilha digna de "Esqueceram de Mim". Ao puxar a corda, Alicia, iniciou uma série de mecanismo que derrubaram um balde cheio de gosma verde e camisinhas usadas na minha cabeça.

— Yuri!!! — gritou Zedu.

No mesmo momento, um cartaz abriu no meu do auditório. "YURI, GORDO E VIADO. CUIDADO, SE FICAR COM O YURI, USE CAMISINHA". Os alunos ficaram em choque. O único que ria era o João, então, aos poucos, alguns alunos começaram a rir também.

Zedu vê o balde preso no teto e se desespera. Ele grita o meu nome e corre na minha direção. Alicia percebe e puxa a corda. Uma gosma verde e cheia de camisinhas cai na minha cabeça. João aperta um botão e um cartaz abre no meio do auditório. YURI, GORDO E VIADO. CUIDADO, SE FICAR COM O YURI USE CAMISINHA.

Eu não conseguia enxergar nada. A meleca verde estava dificultando minha visão. Dei dois passos, mas acabei escorregando, fiquei deitado no chão e abracei a humilhação. A diretora tentou me ajudar e acabou se estabanado no chão. O silêncio mortal durou pouco e o auditório virou uma baderna.

***

Não me deixe chapado

Não me deixe seco

Não me deixe chapado

Não me deixe seco

Não me deixe chapado

Não me deixe chapado

Não me deixe seco

***

— Me perdoa, Yuri. — Diogo pediu aos prantos, sentando do lado de fora do auditório.

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Comentários

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cara não sei o que é mais lindo, teu gosto musical ou tua criatividade haha nota dez radiohead e oasis melhores bandas

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Acho que de todos os lugares da internet esse é o último que eu achava que encontraria uma música do Radiohead, hahaha. the bends: melhor album!

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Nossa, vc me matou do coração com essa sua ausência, viu !! Não faz amis isso com seus leitores

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Cara seu conto está incrível muito bem escrito você tá de parabéns👏 mas agora eu acho que o Yuri tem que tomar uma posição e ser mais objetivo ter mais certeza do que ele quer! Beijos você tá de parabéns💋

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GRANDE IDIOTA ESSE DIOGO. YURI TEM QUE DEIXAR DE SER BABACA E VIVER A VIDA AO LADO DO SEU AMOR QUE É O ZEDU. O RESTO QUE SE DANE. AS PESSOAS FALAM POR BEM OU POR MAL. ENTÃO DANE-SE. PARE DE TER AUTO PIEDADE YURI. ISSO TÁ FORA DE MODA. O NEGÓCIO É IR A LUTA. CABEÇA ERGUIDA.

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nota DEZ cara, já estou ansioso pelo proximo capitulo.

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