Praga - o novo mundo - Capítulo 1 - Quando em Roma...

Um conto erótico de T.B
Categoria: Homossexual
Contém 1646 palavras
Data: 15/11/2016 19:28:53

Capítulo 1 - Quando em Roma...

Nós desejamos por muito tempo isso. Nos diversos filmes e livros, onde Hollywood produziu versões e versões de um mesmo assunto: O fim do mundo. Zumbis, alienígenas, catástrofes naturais, super humanos… todas estas almejavam a nova ascensão humana a partir de um ato heroico de um protagonista; porém a realidade se mostra mais cruel.

Tudo começou quando nosso desejo de consertar os males acumulados sobre o planeta floresceu. Parece um boa ideia, e na prática até que estava dando certo. Um ideal de preservação de toda a raça humana foi instaurado e o planeta começou a ser “consertado”.

Graças a grandes campanhas de conscientização e a exposição do provável futuro o ser humano começou a se dar conta do tamanho de seu estrago. Leis rígidas sobre extração e descarte foram implantadas e, por mais que pareça impossível, mostraram resultados positivos. Aquela visão de conquista de riqueza, acúmulo de bens a qualquer custo e os olhos fechados para seus efeitos não se vendia mais, conscientização era o mantra dominante.

A boa prática começou a contaminar todas as outras áreas da sociedade: religião, culturas, filosofia de vida, sexualidade, etnias... passaram a ser discutidas com respeito e a serem aceitas. (engraçado usar a palavra “contaminar”, para a atual situação).

Em questão de duas décadas o mundo atual se tornou um exemplo para o futuro. Parece que os dois milênios vividos anteriormente era apenas a fase rebelde de um filho que chama a atenção de seus pais com atitudes controvérsias, e por mais que para si se torne óbvio o atos ilegais a sua ignorância o impede de sentir remorso. E como num piscar de olhos toda a enxurrada de hormônios que antes o fizera ser tão insuportável agora não mais se encontra, e sua mente se esclarece para o futuro que agora busca objetivos limpos para grandes realizações.

Ditaduras se dissolveram, o povo se tornou ativo contra a praga da corrupção, a ignorância era combatida com conhecimento e o passado se tornou um aviso aos novos habitante que nasciam em um mundo totalmente diferente. A maioria se sentia confiante em um futuro de paz e avanço… a maioria.

Morte…

As pessoas apenas morriam, e aos milhares.

Seria descontentamento dos deuses, ou algo mais científico. Orações eram oferecidas de cada canto do planeta as diversas divindades, tudo em busca de respostas. Investigações governamentais eram feitas de forma rígida, todos os órgãos eram examinados, tudo em busca de respostas. Estava óbvio que o demônio que os afligia estava mais perto que o imaginado, na verdade em si mesmo.

Existe no homem um desejo primitivo, instintivo pela destruição, sua ou de cada coisa a sua volta. Como se a tranquilidade o deixasse mau, inútil, sem propósito e o caos era sua única conquista. Na verdade também pode ser uma questão bem mais simples: a ânsia que o mesmo sente de demarcar todos os lugares com sua urina, cada poste, cada hidrante… tudo deve ser seu, apenas seu.

Na realidade, agora, pouco importa se foram os radicais, os terroristas ou um acidente, nada mais daquilo existe. O que importa é se seremos mortos enquanto dormimos ou morreremos de fome enquanto acordados. Refletindo agora, Hollywood não havia explicado as entrelinhas, acho que em seus camarins os atores ainda jaziam de papel higiênico e balas de menta nas horas apertadas.

Não sei em que ano estamos, isso não é mais importante. Não existe mais datas a serem comemoradas, apenas dias a serem vividos… corrigindo, a serem sobrevividos. Como eu disse nada é como Hollywood havia prometido, chegar ao ponto de comer restos de animais mortos é mais do que rotina.

Lembro-me vagamente de alguns aniversário enquanto criança, acho que ainda consigo sentir o cheiro das balas de morango, o barulho das línguas de sogra, e o grande astro da festa… não eu é claro, o bolo. Não era realmente necessário aquela dimensão e desperdício, mas quem adivinharia que tempos depois eu estaria roendo os ossos de um animal qualquer achado às margens do rio.

-Sinto tanta inveja por você se desligar com tanta facilidade desse mundo. Na verdade chego até ficar com raiva - disse Bob balançando suas mãos a frente da minha vista.

Desde que tudo mudou e coisas ruins começaram a acontecer eu me desligava de vez em quando, talvez para fingir que ainda posso sonhar com algo mais agradável e que não passe a impressão de morte em tempo integral.

-É o único luxo que eu ainda me permito, na verdade é o segundo - digo dando uma leve piscada.

Bob - cujo nome verdadeiro era Lucas, porém insistia em ser chamado assim - nunca foi de muitas palavras, ou era no braço ou na faca, ao menos era essa sua imagem feita.

-Sabe, eu estou começando a desconfiar de você. Não tenho certeza mas se for o que eu estou pensando, o assunto vai ficar sério.

Creio eu que passar os piores dias da terra com a pessoa descrita acima era algo que poucos aguentaria, porém na atual conjuntura andar com um homem que arrancaria a cabeça de um caboclo antes do café - ou o fazer sujar as calças de medo- era até que vantajoso.

-Posso garantir que tudo está na mais pura normalidade… claro não tudo, olhe a sua volta - apago a pequena fogueira com pisadas leves.

-Por que eu não estou me convencendo? - Bob engrossa a voz.

-Sinceramente Luc… quer dizer Bob, eu não lhe devo satisfação sobre aquilo que minha mente produz.

Sem falar nada Bob sorrateiramente se aproxima me encarando. Sabe aqueles documentário do NatGeo em que o leão se aproxima e a tensão aumenta, foi quase isso.

-Eu posso rachar ela no meio e descobrir, garanto que vai ser divertido - Bob estava tão perto que eu poderia adivinhar o estado da digestão do alimento apenas pelo hálito.

Seguindo o ditado “Quando em Roma, faça como os romanos” eu me aproximei mais ainda e resolvi incorporar o cenário de final do mundo, o desafio se tornou meu propósito.

-Quer tentar a sorte? - disse eu cerrando os olhos em sinal de combate.

Bob era muito habilidoso na luta corporal, na verdade era um pré requisito básico a qualquer um que tente uma chance em “Praga” (era esse o nome dado aos novo mundo, irônico não? “Bem vindo a Praga”, “Sobreviventes de Praga” não muito originais mas era autoexplicativo). Tudo o que eu havia aprendido sobre defesa corporal era com ele, é claro que isso me custou vários hematomas e algumas contusões leves.

Eu, com certeza, não iria ganhar uma luta com Bob porém eu tinha uma faca escondida no cinto da calça. Em apenas dois movimentos ele estaria sangrando no chão. Ou talvez um chute nas partes baixas, depois de cair no chão uma grande pedra faria o resto do trabalho.

E se ele resistisse eu estaria morto em pouco segundos, era muita tensão. Pensei bem e encontrei uma maneira de acabar com ele, apesar de ter me treinado ele não havia me ensinado tudo. Agora é só colocar em prática.

-Estou esperando, ficou com med… - Bob foi interrompido por um beijo, não muito agressivo, mas aquele longo e único. Aquele que traz serenidade e que contrasta com a sua rispidez.

Bob era durão, aprendeu a duras penas que o mundo era cruel… na verdade ele se tornou. Acompanhar a tendência era a única escolha, se adequar assim como os nossos ancestrais.

-Golpe baixo… - disse Bob dando risadas ainda com os lábios próximos.

-O fim do mundo está te deixando muito estranho Sr. Bob - disse ironicamente - , quem sabe alguns dias de férias resolvam essa sua agressivi… - fui interrompido por um beijo mais forte, trazido para perto dele com as mãos em minha cintura.

Por mais que sua imagem saliente sua brutalidade e dureza Bob apenas era protetor, mais uma vez o reflexo do novo mundo.

-Eu saberei se você estiver me traindo dentro dessa sua mente, nem que eu tenha que abrir ao meio - avisou Bob avançando para mais um agrado.

-Eeeeeeeei, guarde suas energias Cowboy - afastei o Sir, talvez para o provocar e o deixar mais sedento, mas realmente deveríamos estar de partida.

Arrumando todos os itens antes de retomar a caminhada eu me vejo vagueando pelas poucas memórias do passado. Era recorrente e agradável esses episódios, porém de repente eu acesso uma que a muito eu não visualizava:

“Quem sabe eu algum dia te veja feliz, você é tão meticuloso com suas ordens a comunidade que deixa o tempo passar, e consequentemente um amor - afirma Sara teimosa como sempre.

Não me entenda mal mamãe, mas em questão de amor a senhora não é perita.

Hahahahaha… engenhoso como sempre Sir Thomas, te ensinei bem. - Sara insinua sua saída do recinto - Quem sabe você um dia apresente a sua velha mãe um cavalheiro a altura.”

Por mais que o mundo estivesse mergulhado em trevas ela nunca se deixava abater, uma “Dama do Teatro” era como gostava de ser chamada. Como nuvens cinzentas que cobrem o céu límpido de forma repentina a cena de sua morte se estampa e é revivida. Uma lágrima discreta cai.

-Aposto que esta me traindo, mas ele nunca será tão bonito quanto eu - Bob interrompe meus pensamento, e discretamente enxugo minha lágrima.

-Realmente ele não é mais bonito, porém é um Lord.

-Lord? Parece um fracote.

Pode até parecer mentira, parado olhando para os olhos de Bob eu vejo o homem que me salvou. Era bem mais sensível que aparentava, lembro de uma vez que o vi chorar quando eu disse que o amava. Na verdade nem parecia que a frase anterior havia saído de sua boca.

-Conheço alguém que iria adorar ter te conhecido.

Apanhamos nossas bolsas e começamos a caminhar, era uma jornada sem destino e, apesar de parecer divertido, a trajetória sempre fazia meu coração disparar. Ainda havia sobreviventes, porém a lei havia mudado - a sobrevivência é dos mais cruéis.

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