Num canto deserto da faculdade, atrás do prédio da engenharia, havia um beco mal iluminado onde alguns casais se encontravam para dar uns pegas, geralmente depois das nove. Naquela noite fria de julho, tanto aquele lugar como quase todo o campus era puro silêncio. Qualquer caxias, louco ou desavisado que passasse pelos corredores do quinto andar estaria abandonado à própria sorte, e minha torcida era para que essa pessoa fosse mulher; porque eu, como a maioria dos alunos, não tinha absolutamente nada para fazer ali naquele dia e horário.
De cima para baixo, fui rastreando cada andar à procura de alguma garota com roupas recatadas e olhar medroso, vítimas preferidas de homens como eu, por mais submissas e menos propensas a reagir. Já no térreo, não tendo encontrado alma viva, fui matar a sede na lanchonete. A lata de refrigerante estava no fim quando chegou uma garota que eu já conhecia de vista, mesmo sendo de outro período. Começamos a conversar de uma mesa para a outra na frente do atendente, que ouviu sua pergunta sobre o paradeiro da minha mochila e minha resposta pouco convincente. A situação era arriscada e logo passei para a mesa dela, para falar mais de perto e tocar-lhe casualmente mãos e ombros. Quando resolvi que a caça estava pronta para o abate, parti para comentários sugestivos no ouvidinho, sobre gostar de uma pegada mais forte e tal. Ela fez que sim, dando uns sorrisos sacanas de quem já entendeu tudo.
O clima estava esquentando, mas a necessidade de mijar todo aquele refrigerante foi maior e tive que pedir licença para ir ao banheiro. Enquanto me levantava, ela tirou o celular de dentro da bolsa, sem querer derrubando junto uma caixa de remédio. Ato contínuo, guardou a caixa e começou a teclar.
“Que é?" me intrometi.
"Nada de mais. Fiquei de dormir na casa de uma amiga e preciso avisar que vou me atrasar um pouco."
"Não, o remédio. Pra que é?"
"Ah, isso..." ela disse distraída, ainda teclando. "Às vezes eu demoro um pouco pra pegar no sono."
“OK. Volto logo", forcei tom casual.
Na volta, mais uma lata de refrigerante me esperava, aberta e tudo. A mulher estava gostando e gastando comigo. Agradeci e bebi quase de um gole só, na pressa de levá-la para o tal canto.
Fomos conversando em voz baixa pelo campus silencioso, minha mão na parte inferior das suas costas, guiando-a até a parede do fundo, contra a qual a prensei para um beijo lento e suave e cheio de promessas que eu tinha toda a intenção de quebrar. Eu a segurava pelos cabelos e provocantemente esfregava o pau na xota, ela enganchava os dedos nas alças de cinto das minhas calças e provocantemente esfregava a xota no pau. Minutos depois, sugeriu continuarmos os pegas no banheiro feminino. Ia ser mais fácil do que eu pensava, o que não significava que não fosse violento e forçado em algum ponto. Minha intenção não era só gozar. Estupro não é sexo. Estupro é controle, poder e auto-afirmação.
Aos beijos, fui com ela até o banheiro convenientemente localizado no fim de um corredor deserto. Antes que pudesse puxá-la para dentro de uma das cabines, a porta rangeu e duas garotas entraram sorrateiramente. Nos olharam de rabo de olho, depois uma para a outra. As três se cumprimentaram e a garota da lanchonete me apresentou às outras.
"O que faz esse rapaz no banheiro feminino?" uma me perguntou com um sorriso jocoso.
"Acho que ele entrou pela porta errada", a outra respondeu antes que eu tivesse tempo de abrir a boca.
"Você está perdido?" A dona da pergunta me olhou fixo. "Ah, está sim", disse em tom afetado, como quem fala com um animalzinho.
Essa tinha o corpo bem feito valorizado por jeans escuros e regata lilás, e um belo rosto oval emoldurado por cabelos negros lisos. A terceira tinha cabelos castanho-claros de corte joãozinho, top branco curtíssimo, latinha de cerveja na mão e sorriso ameaçador no rosto. Todas as três me observavam com calma e segurança, cada uma elegantemente esperando a outra se servir primeiro. Eu já me sentia mais galinha do que raposa.
Quem fez o primeiro movimento foi a garota da lanchonete. Passou para trás de mim e desabotoou minha camisa devagar, como se exibisse às outras duas algum tipo de posse. A de cabelos curtos tomou o lugar à minha frente e sem muita cerimônia abriu minhas calças. Claro que eu tinha vontade de tocá-las com a mesma liberdade, mas minhas mãos pareciam mais satisfeitas em pender dos lados do corpo, inertes. Por algum motivo, eu me sentia cansado, muito além do normal àquela hora, pregado demais para fazer algo além de me manter de pé, entregue à sensação nova de ser despido por vinte dedos firmes. Peça a peça, foram jogando ao chão minha camisa, tênis, calças e cueca, desceram pelo meu peito, traçaram o contorno do meu pau duro e começaram uma preguiçosa massagem por todos os meus treze centímetros. Risadinhas suaves, palavras indistintas, mãos, mechas de cabelo. E a afirmação de que eu precisava? Confuso e um tanto descoordenado, tombei sobre a bancada e finalmente entendi. Foi quando uma mão se fechou nas minhas bolas e apertou com força suficiente para fazer meu corpo se curvar de dor.
"Devagar, devagar!" alguém pediu.
"Ele gosta de pegada forte.” Era a voz da garota da lanchonete.
Meu protesto saiu num fio pela minha boca quase fechada, como se eu tentasse gritar num pesadelo semi-consciente. Se consegui alguma palavra, não fez diferença. A garota da lanchonete baixou calças e calcinha, subiu na bancada, montou na minha cara e me mandou chupar. Tentei colaborar para não me complicar ainda mais, mas o tranquilizante só me dava coordenação para ficar lá parado, língua para fora, à mercê da buceta que se esfregava na minha boca. Em cinco minutos, os gemidos que começaram com a suavidade de marolas numa manhã de verão ganharam a força de uma ressaca de maio, intercalados por pressão intermitente na minha cabeça. Enfim, deu a rebolada final, saiu de cima e me estapeou a cara, aos risos.
A alguma distância, outra voz risonha sugeriu que me reanimassem com um banho frio. Duas mãos enfiaram minha cabeça sob a torneira, enquanto outra abria o registro. O primeiro jato pegou minha nuca em cheio, se espalhando para todo lado, mas depois a pressão diminuiu e a cuba começou a encher. Quando chegou à metade, os dedos nos meus cabelos me empurraram para um mergulho rápido. Quatro mãos arrumaram meus pés em posição de revista policial, correram pela minha bunda e abriram as duas bandas. Num gesto brusco e pouco delicado, três dedos ensaboados se enterraram em mim. Olhei para o lado e vi com incredulidade uma vassoura azul ser trazida em câmera lenta de um dos cantos do banheiro. Não, elas não iam...
Mas fizeram. Me deram uma foda tão forte de cabo de vassoura que achei que a ponta sairia pela minha boca e tudo que restaria da minha aventura seria meu cadáver literalmente empalado, deixado de aviso para cretinos como eu. Se não estivesse tão drogado, teria gritado como nunca gritei na vida. Depois que finalmente cansaram daquilo, alguém me empurrou para o chão. Mais uma cena que vi em câmera lenta, sem esboçar qualquer gesto para evitar o desastre, como se não passasse de um observador de mim mesmo. Minha cabeça flutuou para baixo com a lentidão de uma bolha de sabão, mas atingiu o piso com a força de uma bola de boliche. O banheiro se inclinou no eixo, as cores desbotaram para o preto e as vozes diminuíram de volume. Ou já elas saíam pela porta, ou já eu apagava em posição fetal nos ladrilhos gelados.
Quem me descobriu na manhã seguinte foi o faxineiro, que decerto tendo me tomado por bêbado ou drogado, como eu era conhecido por ficar, me acordou com chutes na sola do pé. Eu continuava nu, atordoado e na mesma posição constrangedora. Com alguma dificuldade, plantei as mãos no chão e consegui erguer o tronco, sem tentar me sentar, porque isso sim seria impossível. Torcia que o homem me oferecesse a mão, mas ele deu de ombros e saiu sem notar a pequena poça vermelho-amarronzada no piso cinza-chumbo. Das minhas peças de roupa, só sobraram a cueca azul-clara e as meias, sinal de que meu castigo ainda estava longe de terminar.
A boa notícia era que o céu ainda não estava completamente claro quando saí do prédio seminu, mãos cruzadas sobre a virilha, rosto ardido de vergonha. Para evitar olhares pelo caminho, me arrastei de cabeça baixa até a saída de maior movimento, onde teria mais chances de pegar um táxi rápido. Na altura do portão, meu coração era um tambor rufando na base da garganta. O próximo número daquele circo seria um número cômico.
Não fui às aulas na próxima semana, nem no próximo mês, nem nunca mais. Tive que mudar não só de faculdade, como de cidade. Fazer o quê? Mesmo que eu tivesse o desplante de acusar alguém, era caso perdido. O máximo que uma possível testemunha poderia ter visto seria um cara se oferecendo para uma garota na lanchonete e de lá saindo com ela por livre e espontânea vontade. Até quem desconhecia meus planos iniciais achou merecido, e eu estaria mentindo se dissesse que a lembrança de algumas coisas que elas fizeram comigo não me deixa de pau duro às vezes.
Muitas vezes.
Na verdade, quase toda noite.