CAPITULO 13 - PARTE 2: CLARA
- Me desculpe Maria Clara eu não queria causar esse transtorno. -- Ao ouvir a voz da Bianca saí do choque.
- Como você me achou? -- Perguntei.
- Minha mãe... Nossa mãe me pediu para vim até aqui. Não sei como ela sabia... Só me deu o endereço.
A Marina olhava confusa para nós duas. O Fabinho estava tão nervoso que começou a roer as unhas e eu estava prestes a ter um treco. Como minha mãe sabia onde me encontrar?
- Ela quer te ver Maria Clara.
- Por que?
- Porque ela é sua mãe e porque ela te ama.
- O que ela quer comigo?
- Não sei. Isso só ela poderá te dizer.
- Ela ainda esta casada com o Sandro?
- Sim.
- Obrigada por ter vindo Bianca. Foi um prazer te conhecer, mas se ela ainda esta casada com aquele monstro não faço questão de visita -la.
- Maria Clara por favor! Mamãe está internada há mais de dois meses num hospital municipal e creio que ela não tem muito tempo de vida.
Senti um aperto em meu peito. Como assim minha mãe não tinha muito tempo de vida? Olhei para a Marina e para o Fabinho na esperança deles me ajudarem a tomar a decisão certa.
- Se é assim vamos já pra lá. -- Falou a Marina.
Entramos no carro e fomos em direção ao hospital. Quando cheguei na porta do hospital eu travei. Não conseguia me mover. Foi ali, exatamente ali naquele local que eu nasci. Aquele lugar estava caindo aos pedaços, uma espelunca, um verdadeiro descaso do governo com aqueles cidadãos que pagam os impostos em dia e dependem do atendimento público. A Bianca me estendeu a mão direita e eu peguei. Ela me guiou até uma sala na UTI. Em cima de um dos leitos estava a minha mãe, eu logo reconheci. Ela parecia esta dormindo, mas quando cheguei perto ela abriu os olhos e me encarou.
- Minha... Fi... Lha...
Minha mãe estava bem velha aparentemente. Não parecia esta nada bem.
- Oi
A Bianca saiu da sala e avisou que ficaria na sala de espera junto com o Fabinho e a Marina.
- Que bom que você veio... Eu precisava muito te ver.
- Como a senhora sabia onde me encontrar?
- Eu sempre soube onde te encontrar...
- Como?
- Helena. Ela sempre me manteve informada. Essa foi a minha condição para dar a sua guarda para ela...
- Mas ela nunca me falou nada... E você deu-me assim tão fácil?
- Era o melhor a ser feito.
- Não. Não era. Você é minha mãe! Deveria ter lutado por mim.
- Eu fui fraca filha. Não teve um dia sequer da minha vida que eu não me arrependesse disso. Me perdoe minha filha! Por favor!
Ela começou a chorar. Aquilo me amoleceu. Independente de tudo ela ainda era a minha mãe. E inexplicavelmente eu a amava.
- Ta bom. Eu te perdoou. Só não chora...
- Aaah Clarinha eu te amo tanto. Você se tornou uma linda mulher. Eu nunca vou conseguir me perdoar por todo mal que te fiz.
Enquanto ela falava comigo os aparelhos emitiam sons estranhos. Chamei a enfermeira, mas ela estava ocupada medicando um outro paciente.
- Filha te ver hoje foi a minha maior alegria. Nunca se esqueça que te amo. Você sempre foi uma ótima filha. Eu que fui uma péssima mãe. Por favor não deixe seus irmãos desassistidos. Diga que eu os amo muito... Te... Amo... Clarinha...
Ela me puxou para um abraço e foi então que ouvi o tão famoso barulho da morte. Ela se foi. Uma dor me tomou. Perdi minha mãe pela segunda vez, so que agora era pra sempre.
Os médicos chegaram e eu fui para a sala de espera da a notícia.
- Então Bianca... Infelizmente ela faleceu. -- Fui direta, nunca gostei de enrolação.
A menina começou a chorar, chorar muito mesmo. Dava pena. A abracei e chorei junto. Compartilhávamos da mesma dor naquele momento.
O Sandro chegou ao hospital acompanhado de um menino. Comecei a tremer involuntariamente. Ele abraçou a filha e depois veio em minha direção. Eu recuei. A Marina pegou em minha mão esquerda e o Fabinho em minha mão direita. Ficamos assim... Os três de mãos dadas.
- Oi Clarinha. -- Ele se dirigiu a mim com um sorriso. Faltava alguns dentes na boca. Eu não consegui pronunciar nenhuma palavra. Aquele homem me causava muitas sensações ruins.
- Não vai falar comigo? Sempre fui como um pai pra você.
Ele tentou encostar em mim, mas a Marina o impediu. Segurou o braço dele antes que ele conseguisse me tocar.
- Se você tentar tocar nela de novo você vai se arrepender. -- Ameaçou Marina. Ele sorriu e voltou para onde estava seus filhos.
Não suportei ficar naquele lugar. Fui pra casa. A Marina e o Fabinho sempre atenciosos me perguntavam se eu estava bem. Uns amores mesmo.
Naquela noite eu chorei demais ao lembrar os momentos que passei com minha mãe Antonieta. A Marina perguntou se eu queria que ela dormisse comigo, mas recusei. Precisava desse tempo sozinha.
No dia seguinte eu enviei dinheiro suficiente para fazer um enterro decente. Eu ainda estava em duvida se iria ou não, pois teria muitos parentes e eu ainda não estava preparada para revê-los.
O enterro foi marcado para as 16:00hs. Antes das três da tarde a Marina chegou em minha casa vestida totalmente de preto.
- Eu fico tão chique de preto, não acha?! -- Brincou.
- Eu não vou Marina!
- Como assim?
- Vai ter muita gente lá. Não quero ir.
- Você vai sim. Separe uma roupa preta bem chique. Você precisa esta deslumbrante. E você também Fabinho.
Fiz o que ela me pediu. Me vesti como uma Bertolazzo. No caminho eu ja estava tensa. O Fabinho tentava inutilmente me acalmar.
Quando cheguei na capela do cemitério havia muitas pessoas. Reconheci algumas de imediato. Tentei sorri, mas não consegui. Minha expressão era séria.
Me aproximei do caixão e encarei o cadáver. Passei minha mão na testa dela com delicadeza. Tinha muitos olhares em mim. Todos me olhavam curiosos. Apesar de esta de cabeça baixa eu sentia. De repente eu ouvi uma voz direcionada a mim.
- O QUE VOCÊ FAZ AQUI SUA INGRATA? -- A mulher falava com raiva e num tom bem alto.
- Tia Claudine?
O show estava prestes a começar. Tia Claudine sempre foi muito barraqueira e com certeza era um barraco que ela pretendia armar ao me abordar ali.