Não Era Só Uma Noite. #2

Um conto erótico de Caio Alvarez
Categoria: Homossexual
Contém 2255 palavras
Data: 03/11/2016 15:56:34

Exatos quatro dias tinham se passado desde o último encontro curioso e nada proposital com Vincenzo. Os olhos estáticos, brilhantes e quase assustados não saiam da minha cabeça, mesmo quando eu tentava afastá-los. Se ligava o computador eu os via no reflexo, se me olhava no espelho, eu jurava que podia vê-lo atrás de mim. Era como uma assombro que, curiosamente, eu gostava de ter por perto.

Olhava além dos ombros do garçom do restaurante onde eu estava naquela quarta acinzentada quando uma nuca assustadoramente parecida com a de Vincenzo cruzou o caminho do meu olhar. Quase saltei da cadeira e corri na direção do homem. Este sim seria um encontro provocado. Somente percebi o quão aquilo poderia ser perturbador quando vi o rapaz inclinar o rosto em outra direção e me dar uma visão completa do seu perfil. Não era Vincenzo e isso era um alívio e um terror. Eu queria encontrá-lo e ao mesmo tempo não queria.

Sempre podemos voltar a ser um jovenzinho de vinte e poucos anos. Anote isso!

Eu ri sozinho quando voltei minha atenção para quem estava sentado à minha frente, ocupando a outra cadeira da mesa de apenas dois lugares.

- Você não escutou nada do que eu disse – afirmou Alexandre com uma certa revolta.

- Eu escutei – menti. – Disse algo sobre o show ter sido um sucesso e...

- Mentiroso. Isso foi antes de você se perder naquela direção – ele disse virando o pescoço para olhar na direção que eu olhava. –Só pode ser um gato. Não me diga que você estava olhando sozinho. Egoísta! – Ele terminou de falar esticando o braço e dando um leve tapa em meu antebraço.

Eu gargalhei e me forcei a esquecer a nuca que chamava minha atenção.

- Não era ninguém, seu tarado. Só estava pensando.

- Em quê?

- Trabalho, trabalho, trabalho. Infelizmente não ganho a vida fazendo show de gente famosa.

Ele revirou os olhos. Fazia isso quase toda vez que eu tentava provocá-lo.

- Não nego que você continua um tédio – dizia com um sorriso brincalhão. – Mas olha só onde você chegou. Ou melhor, onde chegamos.

Ele estendeu seu copo de refrigerante e me forçou a fazer o mesmo para um brinde nada formal. Mesmo com vinte e nove anos, Alexandre era praticamente o mesmo garoto de antes. Com exceção do seu corpo, é claro. Agora ele desfilava por aí exibindo ombros ainda mais largos e sempre perfeitamente bronzeados. A careca, os olhos negros e a boca carnuda sempre especialmente rosada formavam a composição de seu rosto rude, mas simpático quando sorria. O queixo quadrado de linhas bem marcadas ajudava a passar a ideia de que ele sempre estava de cara fechada, mas Alê era tão aberto, às vezes literalmente, que em dois segundos de conversa essa ideia se dissipava mostrando sua real personalidade: um filhote de felino pronto para meia dúzias de afagos. Ele continuou falando. Tinha muitas questões não resolvidas:

- Antes de você se perder por aí nesses pensamentos libidinosos envolvendo pessoas aleatórias, eu falava da sua falta de consideração.

- Como é?

- Custava ir ao evento?

- Olha minha cara de quem vai ao show de boyband americana. Isso é coisa para essa nova geração.

Ambos rimos concordando que Alexandre só estava lá porque a agência dele organizava os dois shows dos garotos descolados na cidade. A comida chegou com uma demora acumulada, mas nada poderíamos fazer, era horário de almoço e aquele era um restaurante bastante movimentado. Eu me servia de outra garfada generosa do meu Boeuf bourguignon quando Alexandre falava lentamente:

- Aliás, estive pensando... - “Essa frase sempre vem munida de um curiosidade impertinente” pensei. – E Vincenzo?

O nome dele pronunciado em voz alta era como o estouro seco de um disparo feito em minha direção. Eu teria engasgado se ainda tivesse comida em minha boca. Eu tomei um gole da minha cerveja, contrariando os franceses que servem o prato acompanhado de vinho que também é usado no preparo do prato. Não tive dúvidas de que Alexandre notou minha inquietação.

- Vincenzo? O que tem ele? – eu perguntei fingindo uma despreocupação quase caricata.

- Nunca mais apareceu, não é?

- É, nunca mais apareceu – eu concordei.

Eu não relataria o possível encontro e muito menos minhas dúvidas quanto a veracidade do mesmo.

- Mas você pensa nele. Sua bochecha está corada.

Havia um sorriso divertido no rosto de Alexandre. Ele gostava de me colocar em situações do tipo.

- Pare de imaginar coisas e termine sua comida. Tenho mesmo que agir como seu pai sempre?

- É bom ter um paizão de vez em quando.

Feliz por conseguir mudar o assunto, logo me peguei gostando da clara provocação. Ele sempre fazia questão de deixar explícito o quanto ainda queria voltar ao nível que atingimos antes do meu basta. Quando não estávamos implicando um ao outro, estávamos lançando provocações como dois adolescente em plena ebulição de hormônios.

- Você gosta disso, não é? Você gosta desse lance de paizão.

- Mas é claro que eu gosto. Eu estou sempre acima dos que se aproximam de mim. Eu gosto quando alguém me ordena algo – ele dizia com o mesmo sorriso insinuativo.

- Eu não estou mais aqui – eu disse empurrando meu prato, sinalizando que tinha terminado minha comida. Dei o último gole na minha cerveja olhando-o através do copo.

- Eu continuo te vendo, mané. Responda-me: há quanto tempo não nos divertimos?

- Cinco anos – eu precisei.

- Viu só? Cinco anos. Eu estou com saudade de você.

Seu sorriso provocativo vinha acompanhado de um pé sugestivo que roçava minha canela por baixo da mesa.

- É exatamente por isso que eu não deixo você beber vinho quando estou por perto.

O garoto Alexandre estava de volta. Aquele de antes, ainda mais excitante que o novo. Ele ergueu a taça e tomou todo o líquido que descansava nela de uma só vez.

- Continue aí com sua negação.

Aos risos ele levantou e estendeu a mão, me chamando para levantar. Não esperamos o garçom para fechar a conta e fomos diretamente ao balcão. Mesmo podendo, eu não frequentava restaurantes chiques ou super recomendados. Eu gosto de nutrir minha simplicidade. É assim que eu me conecto com minha real essência.

Recebia meu cartão das mãozinhas minúsculas da atendente quando uma movimentação chamou minha atenção na saída do restaurante. Havia um carro parado na calçada e eu virei meu rosto na direção dele no exato momento em que o vidro traseiro subia, vagarosamente. Não consegui ver muito do interior, mas o que vi foi suficiente para fazer meu corpo tremer: o olhar de Vincenzo cruzou com o meu por poucos, mas quase infinitos segundos, antes que o vidro se fechasse completamente e carro sumisse em uma arrancada.

Somente lembrei que eu estava parado no meio do corredor impedindo outras pessoas de passarem quando Alexandre tocou minha cintura, me direcionando para a saída que eu olhava fixamente.

- Você anda muito distraído. Vai se perder assim no meio dessa cidade maluca e você vai ver o que é correr riscos.

- Você viu aquilo? – eu perguntei sério, claramente ignorando o que ele dizia.

- O quê, você dormindo ali em pé? Vi sim.

- Não, seu cretino. Você viu o carro que estava na calçada?

- Aqui você quis dizer?

Já fora do restaurante, estávamos exatamente onde eu tinha visto o carro parado.

- Sim, ele estava exatamente aqui antes de sair cantando pneus.

- Tinha vinho demais na sua carne e cerveja demais no seu copo, Caio – ele riu, sarcástico.

- Não seja idiota. Tinha um carro aqui. É claro que tinha um carro aqui.

Mesmo com tanta certeza, eu não diria ter visto Vincenzo dentro do carro luxuoso. Isso só atestaria o único diagnóstico possível: eu poderia estar ficando maluco. Num cenário mais otimista, Vincenzo apenas estaria brincando comigo num excitante jogo de estou-aqui-agora-não-estou-mais.

O resto do dia pode ser resumido em um compilado de imagens dos dois últimos encontros acertando meus pensamentos com força suficiente para me tirar de qualquer lugar que eu estivesse. Eu conhecia a capacidade que Vincenzo tinha de ser misterioso, mas aquilo tudo não fazia sentido algum. Já tínhamos algo juntos. Se ele estava de volta na cidade e se ele queria um encontro decente comigo, realmente não fazia sentido ficar se escondendo pelos cantos como um admirador secreto.

Eu olhava a televisão imerso em memórias quando o telefone tocou. Tateei a cama e o achei, atendendo imediatamente a chamada de Alexandre.

- Seja breve, eu estou quase dormindo.

- Não serei, eu estou com tesão.

Eu não segurei o riso e ouvi a risadinha sensual do outro lado da linha.

- Com tesão e aparentemente bêbado – eu acrescentei.

- Um tanto alto, mas morrendo de tesão.

- E o que eu tenho a ver com isso?

- Eu quero gozar – ele sussurrando, sabendo o quanto eu gostava daquilo.

- Filmes, revistas, contos. Já lhe apresentei a Casa dos Contos. Use-a!

Ele suspirou do outro lado. Ouvi sua voz sair tremida entre os lábios que pareciam estar apertados:

- Estou lhe dando a honra de me fazer gozar como quando éramos jovens.

- Como nos velhos tempos? – eu perguntei já com a mão dentro da cueca.

- Como nos velhos tempos. – Concordou em outro sussurro quase implorativo.

- Deixe o celular sobre o peito, mas deixe-o perto do seu queixo. Eu quero sentir a vibração da sua voz – eu disse sem pressa.

- Pronto!

- Me chame de pai. Você não gosta?

- Pronto, paizão – ele corrigiu em outro sussurro.

- Aperte seu pau com força.

- Estou... Estou apertando.

- Você não gostava quando eu lhe apertava assim? Agora chupe os dedos da outra mão, vai.

Ouvi o barulho de sua língua molhar os dedos com gosto. Eu quase conseguia sentir o cheiro forte de saliva. Ao falar sua voz era baixa e perigosamente sensual:

- E agora, paizão?

- Agora você vai enfiar os dedos na sua bunda gostosa do jeitinho que eu fazia. Enfia sem vergonha pro seu paizão.

Eu ouvia o barulho da masturbação dele e os suspiros se transformarem em gemidos manhosos quando ele fez o que eu mandei.

- Está gostando, meu menino? – minha voz passeava entre a rudeza e o carinho.

- Está tão gostoso, paizinho.

- Este sou eu todo dentro de você. O que está sentindo?

- Calor. Você é tão quente.

- Eu sou quente mesmo, mas dentro de você é que eu entro em combustão. Quer mais forte?

- Me machuca, paizinho – ele implorou ao telefone entre gemidos e respirações pesadas.

- Então enfia seu dedo até sentir os outros forçarem sua entrada apertada. Força mais, meu pequeno.

Ele gemia cada vez mais alto e puxava o ar cada vez mais forte. Mesmo me tocando muito levemente, eu gemia ao telefone, excitado ao me imaginar dentro de Alexandre. Maduro, eu sabia que não havia outro tipo de amor entre nós dois, senão o amor da amizade. Qualquer coisa além disso era tesão e mais nada. Havia um lugar seguro nisso que fazíamos e estar nele me deixava confortável. Eu estava me divertindo e dando diversão ao devasso Alexandre. O que é o prazer senão a diversão mútua?

- Eu vou gozar – ele falou com dificuldade.

- Então goza. Explode comigo dentro de você. Não tira o dedo.

E então aqueles gemidos se transformaram em murmúrios sofridos saídos de lábios apertados. Ele estava gozando enquanto imaginava meu corpo caído sobre o dele, num sexo nostálgico e molhado. Alguns segundos de silencio reinaram após o ápice da sua performance solo.

- Você é tão gostoso, Caio!

Minha garganta travou e queimou como se me fizessem engolir um punhado grosseiro de terra. Uma onda de arrepios violentos percorreram meu corpo, fazendo saltar cada pelo que cobria minha pele. Minhas entranhas congelaram subitamente como se me tomassem a vida. Eu parei de respirar no exato momento em que entendi que aquelas palavras tinham saído direto dos lábios de Vincenzo antes da ligação ser interrompida. Eram fortes e reais demais para serem coisas da minha cabeça. Eu não estava bêbado, sob o efeito de alguma remédio ou coisa parecida e também não estava ficando maluco. A voz era de Vincenzo.

- Eu sempre consigo fazer você cair na minha lábia. – A voz de Alexandre me arrancou dos meus pensamentos. Eu não conseguia falar e ele continuou. – Se você estiver dormido eu vou lhe matar.

Eu consegui fazer um “estou aqui” sair forçadamente. Eu estava sem voz e algo me impedia de perguntar se Vincenzo estava lá com ele. Era surreal demais para mim.

- Como assim você não se defendeu?

- Não fui seduzido, se é isso que você quer dizer – eu forcei uma provocação.

- Sabemos que você queria. E não acha que está faltando aquele ‘eu te amo’ pós-sexo? – ele perguntou aos risos, satisfeito e divertido.

- Seu romantismo barato me deixa enjoado.

- Eu também te amo, seu cretino – ele disse ainda rindo ao desligar o telefone.

Eu não conseguia me mover e fiquei como um corpo sem vida sobre a cama. O teto mantinha meus olhos abertos, mas meus pensamentos estavam além dele, buscando cenas aleatórias: o toque das mãos de Vincenzo em meu corpo no leilão, os olhos sendo bloqueados por um vidro escuro que subia lentamente, os lábios duros em meu pescoço enquanto eu me apaixonava pela cidade cintilante aos meus pés, as mãos dele percorrendo meu corpo num corredor especialmente iluminado e decorado. Enquanto as cenas surgiam no teto projetadas por meu cérebro, eu apaguei como alguém que dorme no meio do filme e perde o final da trama.

Se existe mesmo alguém que cria o roteiro de nossas vidas, esta força maior estava se divertindo ao criar as cenas daquele filme que era minha vida. Os takes nada diziam sobre o fim e isso era, ao mesmo tempo, um terror e minha maior excitação.

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Comentários

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AllexSillva, pois trate de se segurar aí, vai que o negócio só tá começando, né? haha Jades, loucura é assunto recorrente em meus escritos. Gosto dessa ideia de pertubação mental. E eu bem sei que isso não lhe assusta. Bagsy, foi mancada da sua parte me falar que está sendo corroído por dentro pois com certeza vou usar isso ao meu favor. haha Alê é viciante e irrecusável, não é? O danado sabe como manter nosso interesse nele. Quanto ao "real" Caio, bom, ele é igualmente interessante. Todos os abraços! Marimarinna, eu não sei como agradecer ao seu comentário. É bom ter você aí, viu. Caio é um personagem complexo, não duvide de uma possível loucura. E sim, tem coisa aí! Ru/Ruanito, oba! :)

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Eu não consigo explicar como isso ta cada vez melhor. Um milhão de vezes melhor. Você é o cara!.

Que show de conto. Como sempre.

Será qie Caio ta pirando? Não. Tenho quase certeza que tem coisa aí.

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Amei o sexo pelo telefone! Hahahahahaha o Alê sempre maravilhoso, que isso. Já imaginei mil coisas eu sendo o paizão dele! E, S. Porra. O que você tá fazendo con o Caio? Isso tudo é abstinência? Ou o quê? Ansioso pelo que vem por aí. Quero saber no que vai dar tudo isso. E como assim você me diz que o Caio existe? Me apresenta ele agora mesmo hahahahaha e quanto a ficar de olhos abertos, eu to. Mas num demora demais a me mostrar as coisas não se não eu fico corroendo por dentro! Abraço!

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Nooooossa!! Que demais! Eu acho que seu CAio está ficando louco, só pode haha, muito bom mesmo! Adoro!!!

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Excitação e mistério num único capítulo é de mais para minha pessoa hahahaha

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