Continuando...
O sono tomou conta de mim aos poucos,e logo eu estava dormindo novamente.Acordei horas depois com um barulho,e a enfermeira me pediu desculpas por ter derrubado o suporte quando ia tirar o soro.
Balancei a cabeça em afirmação,e soltei vários bocejos.A enfermeira apanhou uma bandeja pequena no balcão e se aproximou.Ela pegou um seringa e injetou no vidro,e em seguida veio até mim.Olhei assustado ao ver ela pegando no meu braço,mais deixei que ela aplicasse.
Quando terminou,ela jogou a seringa no lixo.Apanhou um copo d'água na bandeja e estendeu pra mim junto com dois comprimidos enormes.Recebi e tomei um de cada vez,sob o olhar vigilante dela.
A enfermeira deu uma palmadinha na minha testa,e saiu pela porta.Com um gosto amargo na boca,passei a observar o teto.A porta se abriu e uma mulher baixa e gorda,de cabelos curtos entrou.
-Oi mãe!-disse sem sorrir,olhando pra ela.
-Que idéia foi essa de ir preso,seu imprestável?-Ela perguntou irritada.
-Sabe como é,não deu pra bolar nada antes,e aconteceu.-respondi voltando a olhar pra o teto.
-Da próxima vez avise,muleque!...Não quero os polícia batendo na minha porta.-Ela disse.
-Tá escondendo o que?-perguntei voltando a olhar pra ela.
-Quando tu sai?-Ela perguntou,ignorando o que eu havia dito.
-Sei lá...Daqui vou direto pra gaiola,e acho que vou a julgamento.-Respondi sem interresse.
-Tomara que ganhe dois fechado,tô precisando dar um tempo de tu,miserável-Ela disse com desprezo.
-Se tiver sorte,pego até quatro.-disse com sarcasmo.
-Passei lá na tua vó,e teus tios disse que nem bateram nos ouvidos dela,que tu tava aqui no hospital.E do jeito que eles são,vão impedir a veia de te visitar.-Ela disse me encarando,pra ver qual seria a minha reação.
-Valeu!-disse sem devolver o olhar dela.
-E não espera visita minha não...Que eu não vou bater ponto em delegacia,por causa de vagabundo safado.-Ela disse,se virando e saindo logo em seguida.
-Valeu...valeu mesmo mãe.-disse desanimado após ouvir a porta bater.
O resto dia se passou sem nenhuma surpresa ou visita.Fim de tarde veio uma médica de cabelos castanhos avermelhados,que me examinou e logo mais a noite,veio a enfermeira com a refeição e mais remédios.O dia seguinte se passou na mesma rotina,e logo veio o próximo,que era uma sexta feira.
A enfermeira trouxe comida e remédios,e eu me levantei e comecei a caminhar pelo quarto,entediado.Caminhei até a porta,mais como imaginei ela estava trancada.Na hora do almoço a enfermeira voltou novamente,e no fim de tarde a médica.Que dessa vez me examinou mais devagar,e então anunciou que me vestisse,que já era hora de voltar pra cela.
Peguei minha roupa na gaveta do balcão e fui até o banheiro,aonde tomei um banho rápido,e depois de me enxugar,me vesti.
Um policial apareceu e me encostou a parede,onde me algemou.Pegando no meu ombro,me levou até a viatura.Entrei no banco de trás e depois de alguns minutos,chegamos a delegacia.O policial abriu a porta e me puxou para o lado de fora,me levando porta a dentro.Passamos por um portão e por várias celas lotadas,e então paramos em frente a última,aonde ele bateu nas grades e abriu,me empurrando pra dentro.Virei de costas e ele tirou as algemas,e ai esfreguei meus pulsos que já estavam doloridos.
Os presos se aproximaram e todos me comprimentaram,se dizendo felizes por me ver bem.Tive uma surpresa ao chegar ao fundo da cela,pois Betão e mais uns quatro garotos da minha cidade estavam ali sentados.
-O que vocês estão fazendo aqui?-perguntei enquanto olhava de um pra o outro.
-O mesmo que tu mané,preso!-Betão respondeu irritado.
-Mais porque?-perguntei curioso.
-Os gambé tão de esquema,pra pegar quem comanda as bocas na região...Nois tava entregano pó num lugar e o cliente era um gambé sem farda.-Betão respondeu sem olhar pra mim,levando um cigarro a boca.
Entendi que aquele era o fim da conversa,e fui até André que estava sentado do outro lado.
-Tá melhor parceirinho?-Ele perguntou com um sorrisinho.
-Pronto pra outra!-respondi me jogando ao lado dele.
-Fala isso não muleque...Quase morri de preocupação com tu.-Ele disse sério.
Coloquei a mão no ombro dele e agradeci por ser meu amigo.André sorriu e juntos,ficamos observando Betão.
Sexta terminou e veio Sábado e depois Domingo,e então veio a Segunda.Minha avó e as mães do André e do Betão vinheram nós visitar e trouxeram várias coisas,como comidas e roupas.O Heitor,o advogado que o Eduardo tinha trazido dias atrás,também apareceu na sexta de tardezinha,e disse que eu tinha uma chance de sair,mais tinha que ver o andamento do depoimento do Betão e os outros.
A manhã de Segunda passou sem grandes surpresas,e eu já estava até acostumado,apesar de me sentir um pouco sufocado com as celas.Depois do almoço,sentei com o Betão e André,e ficamos jogando papo fora.
Heitor veio acompanhado de um policial e parou em frente a cela.Me levantei e sentindo meu coração na mão,fui até ele.
-A juíza decidiu que você pode aguardar o julgamento em casa.-Ele anunciou após uns minutos em silêncio.
-Sério?-perguntei sem acreditar.
-Você não tem muitas passagens e a única que tem,não é tão grave.Além do mais,o depoimento dos garotos teve partes importantes que ajudaram a aliviar a tua situação.-Ele explicou com um sorriso.
Eu podia sair daquele lugar,finalmente eu podia.Meu coração ficou mais leve e quase dei pulos de alegria.Me virei e corri até onde os meninos estavam,e contei que estava saindo.
-Num disse meu parceirinho?-André perguntou após ficar de pé,me encarando.
-Mais e você?-respondi sentindo um aperto no peito,ao lembrar que ele ainda ficaria ali.
-Tô de boa...Já peguei pena uma vez e passa rápido.Só num quero tu vindo me visitar nesse buraco,falou?-Ele respondeu com um sorriso.
-Falou,meu parceiro!-Disse enquanto o abraçava.
Me despedi de todos e então fui até a cela,que o policial abriu,e sai junto com Heitor até o lado de fora.Eu tinha a sensação de que tinham me tirado um peso,e agora seria até capaz de voar.
-Heitor,tu sabe aonde minha vó trabalha?-perguntei ao chegarmos a calçada.
-Em um dos negócios do seu Eduardo...Uma padaria que fica no centro.-Ele respondeu.
-Como eu chego lá?-perguntei ansioso.
-O escritório é a caminho de la.Te dou uma carona.-Ele respondeu após passar a minha frente.
O acompanhei de perto e entramos em um carro pequeno e vermelho.Depois de alguns minutos paramos em frente ao local e desci apressado.Minha ansiedade era tanta que nem reparei o quanto o local era bonito,tratei apenas de chegar ao balcão e perguntar pela minha avó.A moça que me atendeu sorriu e me fez passar por uma porta,que ia dar numa cozinha enorme cheia de coisas e gente.
Eu a vi sem precisar procurar,ela estava cordenando uns rapazes no preparo de alguma coisa.Me aproximei e ela me olhou surpresa e depois emocionada.Ela caminhou até mim e pegando pela minha mão,me levou de volta ao balcão e então entrou em uma sala,aonde tinha uns armários.
-Meu menino,você saiu!...Deus seja louvado!-Ela disse enquanto acariciava meu rosto.
-Ainda não estou livre,né vó?...Tem o julgamento ainda.-Disse me sentindo emocionado ao olhar pra o seu rosto enrugado.
-Mais vai ficar,tenho certeza.-Ela disse feliz.
-Me perdoa vó?-pedi com os olhos cheios d'água.
-Não tem o que perdoar meu anjo,pois é a você mesmo,que faz mal.Cria juízo meu filho,sai desse caminho enquanto da tempo...Ouve a tua avó!-Ela respondeu com carinho.
-Prometo que eu vou sim...Vou estudar e tentar arranjar um emprego.Eu prometo!-Disse enquanto pegava suas mãos e beijava.
Minha avó me abraçou forte e em seguida me deus uns trocados,pra que eu chegasse em casa.Me pedindo para visita-la mais vezes,deixou que eu fosse.
Sai da padaria e como ela me indicou,desci a direita e fiquei no ponto.Não demorou muito e uma van parou e eu entrei.Depois de quarenta minutos,cheguei a minha cidade e fui direto pra casa.Ao chegar lá,bati com força na porta e esperei.
-O que tá fazendo aqui Satanás?-Minha mãe perguntou após abrir a porta e me ver.
-Eu sai...desculpa aí por não avisar.-Disse enquanto passava por ela.
O resto da tarde,minha mãe me xingou de palavras que eu nem sabia que existia.A noite resolvi ir até a escola conversar com a diretora,que aceitou que eu retomasse as aulas.Quando voltei pra casa,minha mãe tinha saído com o piolho e eu me senti grato a ele,pois tive uma noite de sono tranquilo.
Acordei no dia seguinte e pela paz do ambiente,notei que minha mãe não tinha chegado ainda.Me levantei,tomei um banho e em seguida fui até a cozinha,onde achei três ovos na geladeira,e pus para cozinhar.Ouvi uma batida forte na porta e fui abrir,dando de cara com Eduardo.
-O que você quer?-perguntei.
-Primeiro a educação...Bom dia!-Ele respondeu sério.
-Bom dia!-disse automaticamente.
-Segundo...Posso entrar?-Ele perguntou,passando por mim.
-Já entrou né?...Então senta!-respondi apontando para o sofá velho.
Ele caminhou até lá e se sentou,ocupando quase a metade do sofá que era pequeno.Me sentei ao lado dele e esperei!
-Bem,eu vim avisar,que o Heitor não vai poder te defender no julgamento.Então eu assumo o caso apartir de agora,e você vai falar e fizer o que eu mandar.-Ele disse,sua voz grossa e profunda preenchendo a sala.
-Tá bom!-disse sem animo.
-Eu não defendo marginal,então essa é a primeira e última vez.Se aprontar novamente,vai se ferrar.Porque por mais que eu tenha um carinho e respeito enorme por sua avó,não vou passar a mão em cabeça de vagabundo.Estamos entendidos?-Ele perguntou sério.
-Sim!-respondi cansado de ouvir todo mundo me chamar de marginal.
-E agora a sua divida...-Ele disse enquanto apertava os punhos.
-Que divida?-interrompi surpreso.
-Os gastos extras que fiz ao tentar lhe ajudar,como gasolina e a sua entrada no meu hospital.-Ele respondeu
-Não tenho dinheiro.-disse receoso.
-Eu sei,e por isso vai pagar em serviços prestados à mim.-Ele disse cada vez mais sério.
-Perai...Vou trabalhar de graça pra você?-perguntei após um tempo em silêncio,entendo aonde ele queria chegar.
-Não...vai trabalhar pra pagar o que você gastou.-Ele respondeu.
Irritado,fiz um barulho com a boca,e então ele se virou de frente pra mim.Seu olhar caiu sobre o meu,penetrando fundo em meu intimo,despertando uma emoção,que fez meu coração bater mais forte e minhas mãos suarem.
Vi seu rosto sob um novo ângulo,e tudo nele pareceu atraente.Até sua cicatriz,já não parecia tão feia assim e senti vontade de toca-lá.
Eduardo estendeu sua mão e em um ato inesperado,pegou a minha cintura,fazendo todo meu corpo formigar,indo em direção ao seu como um imã.
Quando sua boca estava prestes a se encaixar na minha,o celular dele tocou,nós fazendo pular para bem longe um do outro.
-É o Diego...Er...Depois...bem,depois a gente combina quais serão os serviços.-Ele disse nervoso,com o celular na mão,se levantando.
-Tá certo!-disse sem olhar pra ele.
Ouvi a porta abrir e se fechar,e me deixei esticar no sofá.Dentro de mim,um misto de sensações estranhas,mais o pior era saber que eu estava sentindo desejo por um homem e que não era qualquer homem,era aquele,logo aquele que me odiava tanto.
Continua...
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Olá,boa noite!
Atheno ele não é peludo kkkkkk
Morennaa é o que parece,aguarde os próximos capítulos.
Geomateus a reação do Diego,ao ver Eduardo com Lúcio.
Martines,O autor K,impact,Ru/Ruanito e Valter só obrigado pelos comentários,pelas notas e por estarem sempre me incentivando.
Obrigado a todos que lerão...
Espero que gostem desse capítulo...
Até amanhã!