GENTE!!! Obrigado pela recepção tão positiva. Quero agradecer a todos e espero que continuem gostando do conto. Estou me emocionando ao escrever também, essa é a parte legal de criar, a gente se emociona a medida que descobre qual caminho cada personagem vai trilhar.
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Como os jovens dizem: "torta de climão". De maneira séria, o Guilherme afastou John, que arrumou o terno e se afastou.
— Não. Nossa história já passou e... — percebendo a presença de Nariko e Felipe.
— Olha, temos plateia. — John deu uma risada sem graça.
— A gente não viu.... — Felipe se afasta e acaba esbarrando na prateleira. Alguns objetos acabam caindo, mas Nariko consegue segurar todos.
— Felipe?! — questiona Guilherme ficando vermelho e desesperado.
— Felipe, uma ajudinha. — murmura Nariko, que segura os objetos nas mãos.
— Oi? — soltou Felipe olhando para Nariko e Guilherme. — A gente tava de passagem, mas o Alfred não disse que você estava com visitas e... acho melhor a gente ir. — puxando Nariko.
Guilherme e John ficam sem reação, pois Nariko sai carregando todos os vasos. Depois de um tempo, Felipe e Nariko retornam para devolver todos os objetos.
— A gente voltou só pra deixar essas coisas. — avisou Felipe, ajudando Nariko.
— Acho que esse veio aqui, e essa nesse lugar. — Nariko deixou os objetos de qualquer jeito. — O resto a gente deixa espalhado que dá uma vida nova para a sala. Vamos? — olhando para Felipe, visivelmente, desconfortável.
— Esperem. Fiquem. — interveio John, pegando no ombro de Guilherme. — Conversamos depois. — olhando para Felipe e Nariko. — Com licença. — saindo.
Climão. Climão. Oh, querido, Climão. O silêncio reina na sala da casa dos pais de Guilherme. Nariko pede para ir ao banheiro. Então, as coisas ficam um pouco mais complicadas. O que aconteceu? Guilherme recebeu um beijo de um homem bonito. "Ele não era solteiro?", a pergunta reverberou nos pensamentos de Felipe.
— Desculpa. — lamentou Guilherme.
— Ei, não precisa se preocupar. — pediu Felipe, que sentou ao lado de Guilherme.
—Preciso. O John é um ex-namorado e....
— Eu só passei aqui pra avisar que está tudo bem. Consegui efetivar minha matrícula e já me instalei no dormitório. — levantando do sofá, mas é impedido por Guilherme que segura em sua mão.
Os olhos de Guilherme estavam hipnotizando Felipe. Ele sentia um magnetismo único quando ficava ao lado do seu amigo. Sabe quando suas mãos ficam suadas sem motivo? O Felipe sabia, e como sabia. Foi necessário muito esforço para resistir aos olhinhos de Guilherme.
— Escuta. — Guilherme se sentiu incapaz, mas queria conversar mais com Felipe. — A minha mãe pediu para a gente comprar algumas roupas, afinal aquelas poucas peças que eu te emprestei não vão ser suficientes.
— Realmente não precisa.
— Para de ser orgulhoso. Aceita. — pediu Guilherme, que sabe ser insistente, principalmente, quando mostra seu olhar de cachorrinho perdido. — Você chegou agora, é um país novo. O inverno vai ficar cada vez pior. Aceita. — pegando no ombro de Felipe. – Por favor.
Aquele olhar foi suficiente para fazer Felipe recuar e aceitar o pedido. Eles foram junto com Nariko comprar algumas roupas. Felipe ficou surpreso com o preço de algumas roupas, ele levou sete camisetas por 13 libras. Antes do anoitecer, os jovens conseguiram comprar todas as roupas, Alfred deu aquela ajudinha no final. Eles decidiram jantar no McDonalds para variar.
— Nossa, Felipe, você vai comer tudo isso? — Nariko questionou assustada ao ver os sanduíches na bandeja de Felipe.
— Você ainda não viu nada, Nariko. — respondeu Guilherme, que já conhecia a saciedade do amigo.
— Tenho um ótimo sistema digestivo. — brincou, enquanto comia o primeiro Big Mac. – E tudo por cinco libras. — olhando para Guilherme. — Agora você é a única pessoa que vem no McDonalds e pede uma salada.
— Realmente. Não é fácil, mas é uma escolha que eu fiz.
— Você ia gostar de morar no Japão. — afirmou Nariko, enquanto falava os nomes de alguns pratos veganos do Japão.
— Já passei quatro meses em Tóquio. Adorei. Acho a culinária japonesa única.
— O máximo que eu cheguei perto do Japão foi no sushi que tem perto da minha casa no Brasil. — afirmou Felipe, devorando mais um sanduíche e surpreendendo os amigos.
Se tem uma coisa que impressionou Felipe foram às ruas de Londres. Elas transpiram a história do local. Guilherme explicou algumas coisas para Felipe e Nariko, que escutaram tudo com atenção.
Alfred deixou o grupo na Escola e Guilherme entrou para conhecer o dormitório de Felipe. Nariko se despediu e foi para o seu quarto. A conversa entre a dupla rendeu bastante, eles perderam a noção do tempo, mas logo Guilherme teve que voltar para a sua casa.
— Bem. Já vou. Tem certeza que não quer dormir lá em casa?
— Não. Amanhã vai ter uma cerimônia para homenagear os alunos que morreram no desastre do aeroporto. — explicou Felipe, que estava cansado demais para sair do dormitório.
—Entendi. Então, — abraçando Felipe. — te vejo outro dia.
— Tudo bem. — Felipe retribuiu o abraço, mas não soltou de Guilherme.
Quanto tempo dura um abraço? Cinco minutos é um tempo normal, não é? O calor dos corpos se encontraram criou um clima mágico entre os dois. O coração de Guilherme parecia um tambor e Felipe conseguia sentir. De repente, Felipe se afastou alguns centímetros e beijou Guilherme. Um beijo suave e sem pressa.
— Uau. — Felipe riu de nervoso e se afastou de Guilherme, que piscou de maneira engraçada e demorou um pouco para entender o que aconteceu.
— Eu... eu... te vejo amanhã?
— Sim. — respondeu Felipe, que tentou encostar na parede, mas não conseguiu e quase caiu. — Opa, claro que quero te ver amanhã. Depois da cerimônia. Vamos dar um passeio?
— Perfeito. Tem um parque muito bonito. Podemos começar por lá. — sugeriu Guilherme, que ainda estava nervoso por causa do beijo.
— Claro.
Eles ficaram se olhando por um tempo. Então, foi a vez de Guilherme de 'tomar coragem' e beijar Felipe, mas, dessa vez, o beijo foi apressado e mais gostoso do que o primeiro. Guilherme pressionou Felipe contra a parede e eles adoraram aquela sensação, uma mistura de desejo e felicidade. Com vergonha, Guilherme saiu sem se despedir e deixou o amigo igual um bobo escorado na parede.
Naquela noite, Felipe dormiu parcialmente bem, mas ainda teve um pesadelo com o acidente no aeroporto. No dia seguinte, ele aproveitou que acordou cedo para arrumar seu quarto, que era basicamente uma sala bem pequena, uma mini cozinha com fogão elétrico, micro-ondas e um frigobar e no final a cama.
De origem humilde, Felipe adorou o quarto, porque era fácil de organizar. Ele se arrumou para participar da cerimônia em homenagem aos alunos que morreram.
Ao chegar no auditório, Felipe encontrou John e Leopold, o pai de Guilherme. O jovem descobriu que o pai de seu amigo era dono da Escola de Intercâmbio e ficou preocupado por causa do beijo que deu em Guilherme.
A cerimônia foi bonita, os jovens que perderam a vida eram finalistas do curso e queridos por muitos. No fim do cerimonial, Leopold chamou por Felipe, que mesmo acanhado resolveu conversar com o empresário. Animado, o pai de Guilherme agradeceu por Felipe ter salvado o filho do desastre no aeroporto.
O bate-papo acabou rendendo um estágio para Felipe. Graças ao pai de Guilherme, o intercambista conseguiu uma oportunidade no escritório da própria escola. Ele ficaria responsável pela operação de funcionamento da instituição, ou seja, seria uma espécie de faz tudo no local.
***
Naquela tarde, Tchubirubas, o cachorro abandonado, não se sentia bem. Ele vomitou todo o almoço e ficou encolhido no seu cantinho. Uma chuva da tarde também não ajudou muito a situação do animal.
Por coincidência do destino, Felipe, Guilherme e Nariko estavam no parque para tirar umas fotos, mas foram pegos pelo mau tempo. Eles se abrigaram em um coreto e ficaram conversando para matar o tempo. Depois de alguns minutos a chuva passou. Animado com as novas oportunidades e querendo mandar imagens bonitas para a família, Felipe pediu para tirar uma foto sentado na estrutura do coreto.
— Tem certeza que é uma boa ideia? — questionou Nariko, pegando a máquina e olhando em volta.
— Cuidado, por favor, rápido. — pediu Guilherme, segurando a mochila de Felipe.
— Claro. Vamos tirar antes que os guardas venham. — alertou Felipe, sentando e fazendo uma pose. Nariko fez diversas fotos.
— Vou mudar de posição e... — Felipe não conseguiu terminar a frase, pois acabou escorregando e caindo para fora do coreto.
— Felipe. — gritou Nariko, que conseguiu registrar o momento da queda.
Felipe caiu em cima de Tchubirubas. O cachorro chorou, saiu de perto e olhou para Felipe. O jovem se aproximou do cachorro para pedir desculpas, mas Tchubirubas não parecia muito feliz e atacou o jovem. Felipe ficou correndo de um lado para o outro do parque e o animal o perseguindo.
"Desculpa. Cachorrinho bonzinho", dizia o jovem correndo o mais rápido possível. Depois de muitas perseguições, roupas rasgadas e alguns arranhões, o cachorro desistiu de perseguir Felipe e se afastou. De longe, o animal arranhou o chão com a pata traseira e jogou terra na direção do rapaz.
— Espera. Ei, Guilherme. — Felipe olhou para Guilherme e sorriu. — É o cachorro do aeroporto. Ele nos salvou.
— Cachorro? Aeroporto? — questionou Nariko confusa com as palavras em português.
— Desculpa. — Felipe soltou falando em inglês para a amiga entender. — Lembra que nós estávamos no aeroporto na hora do acidente? Esse cachorro nos ajudou a achar um jeito de sair. Ele salvou nossas vidas.
— Tem certeza que é o mesmo cachorro? — perguntou Guilherme.
— Tenho... ei... Tchubirubas? . — Felipe soltou o primeiro nome que lhe veio à cabeça. Ele tentou chamar a atenção do cachorro.
— Tchubi.. o que?! — soltou o cachorro latindo. — Saí daqui!
— Ele te mordeu? Você está bem? — quis saber Guilherme analisando o amigo.
— Sim. Ele só rasgou a minha calça nova e arranhou um pouco o meu braço. Mas que cachorro bravo.
— Gente. — Nariko apontou na direção do cachorro. — Olha. — o trio ficou boquiaberto ao verem o animal dando a língua para Felipe.
— Você viu... o que eu vi? — perguntou Felipe atônito.
— Ele deu... ele deu língua. — respondeu Guilherme.
— Esse cachorro não é normal. Vamos sair daqui. — implorou Nariko, enquanto guardava a câmera na mochila.
Depois de passear no parque, Guilherme fez mais uma consulta no médico. Ele queria saber quando poderia tirar os pontos. O jovem aproveitou para o fisioterapeuta checar o seu pé. Depois de um tempo, Guilherme foi liberado, mas ainda faltavam uns dias para que pudesse retirar os pontos.
Como estava com tempo, Guilherme aproveitou para fazer algumas compras. Andar de muleta não era a coisa mais prazerosa do mundo, mas era melhor do que ficar sozinho em casa. Enquanto escolhia umas camisas, Guilherme foi surpreendido por sua melhor amiga, Paris DiGioni, uma influencer de moda e beleza.
Os dois estudaram juntos em um internato na Inglaterra. Com a formatura, Paris precisou se dedicar ao seu instagram e passou a viajar o mundo para desbravar o universo da maquiagem. Apesar da distância, os dois sempre conversavam pelas redes sociais.
Paris era uma deusa. Por um tempo, Guilherme achou que estava apaixonado pela amiga, porém, ao beijá-la percebeu que era 100% gay. Os dois decidiram tomar um café para colocar a fofoca em dia. Paris não avisou que voltaria para o Reino Unido por causa de seu pai. Ela contou para Guilherme que o Sr. DiGioni, um influente empresário, não aceitava o seu namorado.
— O nome do escolhido é Steve. — confessou Paris de maneira apaixonada.
— Steve? — questionou Guilherme, puxando na memória os colegas do internarto. — Nunca ouvir falar. De qual família ele é?
— Esse é o problema. — disse Paris, olhando para os lados e falando baixo. — Ele não é de família rica. O meu pai nem sonha que a gente se pega.
— Olha, então já tá rolando uma pegação.
— Ele é perfeito amigo. É um jovem empresário e está crescendo aos poucos. Ele é dono de uma ONG que apoia crianças no Quênia. Um projeto muito lindo. Eu fiquei inspirada. — Paris contou e Guilherme percebeu que nunca viu a amiga tão apaixonada.
— Escuta. A minha família vai dar um jantar especial. Vão poucas pessoas. Topa ir? — Guilherme convidou, antes de tomar um pouco do café.
— Claro, querido. Estou com saudades dos Thompsons.
***
Os pais de Guilherme, Leopold e Anastácia se amavam, mas também adoravam brigar. Eles são oriundos de famílias tradicionais e se conheceram na adolescência. Por causa da pressão de suas famílias, eles acabaram se casando e descobriram essa paixão no dia a dia.
Da união, nasceram três filhos que são amados. Só que nos últimos anos, os dois vêm lutando para entender a sexualidade de Guilherme. Eles ficaram com medo da reação dos outros parentes quando o jovem saiu do armário.
O tempo passou e nada melhor do que o tempo para colocar tudo em seu devido lugar. Aos poucos, Leopold e Anastácia foram entendendo o filho e pararam de pressioná-lo. Para celebrar o aniversário do primogênito, eles dariam um jantar para alguns amigos e familiares. Dessa maneira, Anastácia acreditaria que Guilherme se sentiria importante e parte da família.
— Ontem falei com o Sirius. — Leopold falou para a esposa, que estava retirando a maquiagem em sua penteadeira.
— Odeio aquele homem arrogante.
— E ele, com certeza, nos odeia. Comprei a empresa dele. — anunciou Leopold, tirando o paletó e deitando na cama.
— Mais uma empresa?! — Anastácia parou de retirar a maquiagem e olhou para o marido. — Lembra que temos apenas três filhos, tá? E eles podem não querer seguir a carreira que você escolheu.
— Mas podemos vender. Não se preocupe. — pediu Leopold, levantando da cama e andando na direção da esposa. — Lembra, — massageando os ombros de Anastácia. — que temos três filhos lindos e saudáveis. Eles vão ter que nos aguentar na velhice.
— Verdade. Estou feliz que estamos nos reaproximando de Guilherme. O meu bebê passou por poucas e boas. — garantiu Anastácia, retirando os últimos resquícios de maquiagem e abraçando o marido.
— Sim. Errei muito com o Guilherme. Preciso reconquistar a confiança do meu filho. Por pouco, a gente quase o perdeu neste acidente horrível. Hoje, por exemplo, o clima foi tão fúnebre. Eu não me imagino perdendo um filho.
— Oh, querido. — Anastácia o abraçou e beijou seu rosto.
Após um primeiro ensaio fotográfico desastroso, Felipe achou que uma segunda sessão daria certo. O trio voltou para o Hyde Park em uma quarta-feira cinzenta. Com um talento ímpar, Nariko arrasou nas primeiras fotos e Guilherme pediu para fazer algumas também. Eles procuraram por lugares bonitos para fazer as fotos.
No início, Guilherme ficou nervoso, principalmente, por causa das muletas. O corte na cabeça foi escondido com maquiagem, um outro talento escondido de Nariko. A moça sentiu uma energia diferente dos amigos e decidiu dar um empurrão para os dois. Nariko começou a sugerir fotos de casal.
Os pombinhos pareciam travados, e de fato estavam, principalmente, depois do beijo. Felipe foi mais ousado e pediu para abraçar Guilherme por trás. Na foto, o rosto de Guilherme parecia que ia explodir de tanta vergonha.
— Vocês parecem tão fofos juntos. — afirmou Nariko, mostrando o resultado das fotos.
— Nossa. — soltou Guilherme e olhou para Felipe. — O seu sorriso é lindo. Poderia iluminar toda essa cidade. — falando em português.
— Obrigado. — agradeceu Felipe, que ficou sem jeito.
— Será que eu preciso abrir o google tradutor? — questionou Nariko, visivelmente confusa.
— Desculpa. — os dois se desculparam.
De repente, Tchubirubas apareceu correndo e assustou os três. O animal estava sendo perseguido por outros cinco cachorros. Por impulso, Felipe começou a correr atrás de Tchubirubas. Guilherme até tentou, mas por causa do gesso ficou para trás. Já Nariko não sabia se ajudava Guilherme ou corria atrás de Felipe.
Tchubirubas fez algo para chatear os outros cachorros, entretanto, aquela era uma luta injusta. Os outros animais cercaram Tchubirubas, que mesmo assim não perdia a pose de arrogante e latia. Quando um dos cachorros pulou para atacá-lo, Felipe gritou e o atrapalhou.
— Ei. Que tal mexer com alguém do tamanho de vocês? — Felipe ficou ao lado de Tchubirubas.
Os cachorros não pensaram duas vezes e atacaram os dois. Eles estavam em um campo de barro e a briga fez com que uma nuvem de poeira levantasse. Nariko preferiu não se envolver, ela ficou com medo. Guilherme chegou pouco tempo depois, mas ao ouvir os cachorros latindo não se mexeu. Eles ouviram os gritos de Felipe, mas não o enxergavam.
— Seus cachorros bonzinhos! — gritava Felipe, que pegou Tchibirubas nos braços e correu para um banheiro próximo.
Depois de toda confusão, Guilherme e Nariko se encontram com Felipe. O jovem parecia ter saído de um triturador, as roupas rasgadas e todo sujo. O braço de Felipe estava todo arranhado. Tchubirubas não parecia melhor, ele estava com vários cortes no rosto.
Com pena do animal, o trio de amigos seguiu para um veterinário. Eles pegaram o metrô, mas os passageiros ficaram olhando. Felipe sentou com Tchubirubas em um dos bancos, mas as únicas pessoas perto deles eram Guilherme e Nariko. Não demorou muito e os jovens chegaram ao seu destino, o centro veterinário 'Lar Cão Show'. Por causa do atendimento, apenas Felipe pode entrar com o cachorro. Eles ficaram sentados na sala de espera, enquanto outros animais eram atendidos.
— Que briga feia, hein? — Felipe perguntou para Tchibirubas, que resmungou. — Ei. Eu sou amigo, ok? Não vem dando uma de bravo não. Seu chato.
— Os humanos são todos iguais. — disse o cachorro, mas Felipe só ouvia seus latidos.
— Fe...Felipe Ra..Ramos. — o veterinário chamou o jovem com dificuldade.
— Eu! — Felipe exclamou, levando o cachorro para a sala de consulta.
Devido aos seus ferimentos superficiais, Felipe foi atendido por uma das enfermeiras do local, enquanto Tchubirubas passava por uma bateria de exames. Ele também recebeu uma vacina antirrábica, afinal, ninguém sabia a origem dos cachorros.
Naquele dia, Guilherme descobriu que Felipe não gostava de injeção, o motivo? Ele desmaiou enquanto a veterinária aplicava o remédio. Depois de quase uma hora, o veterinário que atendeu Tchubirubas voltou e deu algumas notícias que deixaram todos chocados.
— Não existe um jeito fácil de falar isso, mas esse animal foi violentado. Fiz um exame no reto dele e descobri que ele foi abusado. — disse o veterinário, mostrando o laudo para Felipe, Guilherme e Nariko. — Vocês o encontraram no parque, não é?
— Sim, senhor.
— Infelizmente, isso é comum. Um crime hediondo. — ressaltou o veterinário, que passou uma lista de medicamentos para Felipe dar ao cachorro.
— Que droga. Quem faria isso com um animal inocente? — Felipe lamentou, fechando os punhos.
— Gente ruim. — disse Nariko, acariciando o cachorro que estava sob efeito de medicamentos e dormia no colo de Felipe.
— Vocês querem adotar? — questionou o médico.
— Sim. — Guilherme e Felipe responderam juntos. Eles se olham e sorriem. — Vamos adotá-lo.
Com os papéis de adoção assinados, Felipe levou Tchubirubas para o seu quarto da escola. Animais lá eram proibidos, mas Guilherme ia pedir permissão dos pais para ficar com o cachorro. Nariko aproveitou o tempo livre para comprar ração e alguns objetos que seriam úteis para a estadia do cachorro no dormitório.
Depois de assinarem o papel da adoção, Felipe, Guilherme e Nariko seguiram para o quarto de Felipe na escola. Animais lá eram proibidos, mas Guilherme ia pedir permissão aos pais para levar o cachorro. Eles compraram ração e objetos que seriam úteis para a estadia de Tchubirubas.
— Gente, — Nariko chamou a atenção dos amigos. — vou dormir. Obrigado pela tarde interessante. — saindo do quarto.
— Você foi muito valente hoje. — Guilherme disse se aproximando de Felipe e o abraçando.
— Obrigado. — agradeceu Felipe, aproveitando o carinho de Guilherme. — Só que esse doguinho salvou as nossas vidas. Acho que é o mínimo que poderíamos fazer, não é?
— Ele tá apagado, né? Espero que durma bem. — afirmou Guilherme se afastando de Felipe e fazendo carinho no cachorro.
— E você já vai para casa? — quis saber Felipe sentando na cama e pegando a caixinha de primeiros socorros.
Antes de ir embora, Guilherme fez os curativos no amigo. Felipe tirou a camisa e deixou Guilherme desatento. Houve uma atração mútua, ainda mais agora que o sinal verde estava apitando com força. Ao passar a gaze com antisséptico, Felipe soltou um grito apertado, então, contou com a delicadeza do amigo para não sofrer tanto no processo.
O clima entre os dois mudou rápido. Após a sessão de enfermagem caseira, Guilherme tocou nas costas de Felipe, que virou e beijou o amigo. A pegação foi inevitável, porém, os dois não queriam apressar os passos de um futuro relacionamento.
— Eu, desculpa. — pediu Felipe contendo a ereção e levantando da cama.
— Estou gostando. Gosto muito de você. — Guilherme se declarou e ficou vermelho com a revelação.
—Eu também. — Felipe afirmou. — Eu senti ciúmes de você hoje mais cedo.
— Nossa. Desculpa por isso, o John é sem noção. Pera aí,você sentiu ciúme de mim?
— Um pouco. — Felipe disfarçou e tossiu. — Quase nada. Só pensei que vocês fossem namorados e...
— Que fofo. — soltou Guilherme abraçando Felipe.
Em um dia, Felipe adotou um cachorro e se declarou para um garoto. Londres é um lugar mágico, não é? De madrugada, Tchubirubas começou a chorar. Felipe levantou e deitou ao lado do cachorro.
— Calma. — Felipe acariciou o cachorro, que se aninhou em seus braços. — Eu não vou machucar você. Eu sou amigo. Eu também já fui violentado, sabia? — revelou o jovem, que soltou uma risada abafada. — Pelo meu pai. Você é... você é a primeira pessoa ou animal que eu conto. — lágrimas escorrem pelos olhos de Felipe e Tchubirubas lambe o rosto do novo dono. — Nunca contei para ninguém. Ele me machucava toda noite. Quando a minha mãe descobriu, ela nos pegou e fugiu. Eu prometo que não vou deixar ninguém te machucar, Tchubis.
Infelizmente, Felipe acordou com dor no pescoço, já que passou a noite cuidando de Tchubirubas. O cachorro levantou e fez xixi no tapetinho higiênico, que Nariko instalou no banheiro do dormitório. Apressado, Felipe tomou café e colocou ração para o animal. Ele aproveitou o dia para organizar a programação do intercâmbio.
Em seguida, o jovem pegou a coleira do cachorro e decidiu dar uma volta no quarteirão. Enquanto passeava, Felipe ligou para Guilherme e eles conversaram durante um tempo.
— Ei, a minha família vai fazer uma festa de aniversário atrasado. Você topa aparecer? — perguntou Guilherme, que estava deitado em sua cama.
— Claro. Eu preciso levar alguma coisa? — quis saber Felipe, que segurava a guia de Tchubirubas.
— Só o seu corpinho sexy. — brincou Guilherme. Ele logo se arrependeu da piada.
— Meu corpinho é sexy? — Felipe se vangloriou e fez Guilherme rir.
— Bobo.
***
A semana passou em modo Flash. Felipe lutou para se adaptar a rotina e demandas do curso, mas o brasileiro não desistiu fácil. No dia do aniversário de Guilherme, Felipe demorou muito tempo para escolher uma roupa adequada. Ele deu banho em Tchubirubas e os dois partiram em direção a casa da família Thompson.
Ao chegar no apartamento, Felipe foi recebido por Alfred, que pegou o seu casaco e colocou em um armário. Guilherme estava no sofá conversando com Paris, a sua amiga de longa data e próximo a eles estava John para o desespero de Felipe, que quase tropeçou no tapete da sala.
Após o mico, Felipe foi apresentado a Paris. A moça ficou encantada com a beleza de Felipe e entendeu o motivo de Guilherme ter se apaixonado tão rápido. Já John por outro lado, achava a presença do estudante um estorvo, pois não aceitava o fim de seu relacionamento com Guilherme e faria de tudo para atrapalhar o casal.
O jantar foi servido e todos se sentaram à mesa. Leopold fez um brinde aos amigos e família. De repente, os pratos chegaram e Felipe precisou se controlar para não passar vergonha na frente das pessoas. Guilherme mostrou para ele o jeito certo de comer cada prato. Na hora da sobremesa, ele não aguentou, Alfred trouxe um delicioso pudim.
— Obrigado. — agradeceu Felipe, após comer a quinta fatia de pudim. — Estava incrível.
— Onde ele coloca tanta comida? — questionou Paris falando em italiano. — Se eu comer um desse inteiro preciso malhar por cinco horas.
— É a mágica dele. — garantiu Guilherme sorrindo.
— Então, meu filho, — Leopold chamou a atenção de Guilherme. — já decidiu onde vai trabalhar?
— Pai, acho que na Escola de Intercâmbio.
—Sério?
— Que maravilhoso. — soltou Anastácia, que estava feliz ao ver o interesse do filho nos negócios da família. — Você vai aprender muito sobre as empresas do seu pai lá.
— Ótimo. Vou falar com a equipe da escola. E você, Felipe? Começa segunda-feira, né?
— Sim, senhor e...
De maneira desengonçada, Felipe tentou se apoiar na mesa, mas acabou puxando o pano e derrubando tudo. Todas as louças caíram no chão e os convidados ficaram desesperados.
— Minhas louças! — exclamou Anastácia, pegando no rosto, pois o molho tártaro virou em cima dela.
— Você está bem? — perguntou Leopold, limpando o rosto da esposa com um lenço.
— Nossa. — disse Guilherme, ajudando Felipe a levantar do chão.
— Eu deveria ter filmado essa cena. — soltou John se divertindo com o mico de Felipe.
— Para de rir e ajude o rapaz. — pediu Paris. A amiga de Guilherme escapou de ser coberta de macarrão e agradeceu aos céus, pois o seu vestido era caríssimo.
— Isso é melhor que a encomenda. Pega essa, pobrezinho. — pensou John fazendo o bom samaritano e ajudando Felipe.