Olá "Conteiros" desculpe pela eternidade... prometo não abandona-los.
Sabem qual é a melhor coisa de Praga? Exato, não existeCapítulo 7 - Lágrimas aqui, lágrimas alí
“Sabe o que sempre me deixou curioso? Porque os filmes de Hollywood sempre retratam o fim do mundo da forma mais agradável possível, ‘o(a) mocinho(a)’ se vê diante de uma situação catastrófica porém está sempre tão bem vestido e alimentado… De vez em quando alguém morre mas no final todos se reencontram e acham uma solução.
Depois de todas as mudanças e do surgimento de Praga eu redefini o que era cruel para essa época.
Gostava da sensação de ir dormir depois de um desses filmes e sonhar com todo aquele cenários de destruição… hoje eu só quero acordar.
Por mais que a tranquilidade reinasse sobre o vilarejo algo dentro de mim sempre insistia em desconfiar da situação.
O sol já estava pronto para se recolher e os seus raios alaranjados adentravam pela janela da casa central onde se encontravam os papéis da colheita, da contagem de munição e uma planta rústica do local.
Quando a Madame Sara resolveu anexar algumas pequenas casas, para abrigar aqueles que fugiam da crueldade externa, exigiu o máximo controle sobre tudo que aconteceria dali por diante: a quantidade de alimento produzido e consumido, a localização dos poços de água, os pontos de vigilância, o número de armas e seus responsáveis… tudo deveria estar explícitos para que qualquer morador tivesse acesso - ‘Confiança gera confiança meu pequenos César, além do mais governar não faz meu tipo’ dizia a velha.
Depois de todos esses anos, acumulando e atualizando tudo, eu ainda não conseguira enxergar o propósito - a não ser é claro acumular poeira - porém era um trabalho que devia ser feito.
-Me desculpe por hoje… eu… eu realmente não deveria ter falado daquela maneira. - disse Miguel escorado na entrada do local.
O homem estava sem camisa e todo suado, sinal de que o trabalho nas plantações havia castigado o moço. Seu olhar era de arrependimento completo e frustração por ter cometido um erro tão grave.
Decido porém que o melhor era não reavivar aquele momento e apenas concordo positivamente com a cabeça. De forma inconsciente eu coloco a mão sobre a marca que o aperto havia causado.
O silêncio era um claro sinal de desaprovação ao ato anterior, ninguém jamais havia me tratado com brutalidade. Não venha me julgar, eu sou um homem feito e aquele aperto não foi tão forte... mas eu estava realmente começando a gostar e confiar em Miguel, fiquei assustado.
Sem perceber, o homem já havia se aproximado e surpreendeu-me com um abraço carinhoso me envolvendo.
-O que eu preciso fazer para você esquecer aquilo? - perguntou Miguel enquanto percorria meu pescoço com seus lábios.
-Não me toque… - afastei o homem com força - sai daqui - terminei sem olhar para o rosto de Miguel.
Sem dar atenção ao meu pedido o homem continua a caminhar sobre o ambiente revirando as folhas empoeiradas.
-Não ouviu o que eu disse? Saia… -digo dessa vez batendo na mesa e com a voz alterada.
-Veja quem criou coragem, o pequeno César. Hahahahaha, que piada - retrucou Miguel com deboche em sua fala.
Aquele não era o homem que eu havia conhecido a alguns dias, agora de fato presenciei a metamorfose completa, nem se dignou a disfarçar seu olhar maníaco.
A escuridão da noite já começara a tomar conta do céu, as crianças ainda brincavam e cantavam nas ruas do vilarejo e os mais velhos haviam se dirigido para o bar em busca de suas diversões noturnas de bebedeira e riso.
-Vamos lá, eu estou afim de trepar com você… até onde eu ouvi falar por aqui você quase nunca faz isso, resolvi fazer essa caridade. - continuou o homem que se mostrava cada vez mais agressivo.
-Que merda você está falando? Saia daqui enquanto pode andar.
Miguel começa a se aproximar calmamente sempre me encarando enquanto passa a mão sobre seu membro insinuando um convite.
-Venha aqui príncipe de merda, deixa eu fuder com você…
Antes mesmo de chegar até mim sua caminhada é interrompida por um soco certeiro que o faz cambalear seguido por um cuspe com algum sangue misturado.
-Seu monte de bosta, eu vou te matar… - praguejou Miguel enquanto caia sentado no chão.
-Eu duvido.
Aquilo não parecia real - não o soco é claro, J.B e Afrodite havia me ensinado bem - eu sentia que meu coração estava quase saindo pela boca.
Talvez eu fosse mesmo um príncipe de merda que havia se apaixonado em apenas dois dias por uma maluco bipolar que ameaça pessoas alheias de morte.
Me viro e vou de encontro a escada, eu precisava sair daquele lugar e esfriar a cabeça longe daquele homem.
Sem perceber, Miguel levanta e me imobiliza passando seu braço esquerdo em torno do meu pescoço e apertando.
Sinto um objeto metálico e gelado encostando na minha orelha e caminhado até o meu pescoço - era uma faca que recordava ter visto em algum lugar.
-Se você gritar eu corto sua língua. - ameaça sussurrando no meu ouvido. -Na verdade eu estava planejando te matar enquanto você dava para mim, enquanto meu pau ainda estivesse dentro de você… quer dizer, nada impede. Hahahahaha.
Havia notado que a faca e a mão de Miguel estavam manchadas de sangue que se encontrava quase seco. Foi como um mergulho gelado.
Eu me lembrava de ter visto aquela faca, era do Elias… que sempre o acompanhava no bolso de trás por todos os lugares.
-Seu desgraçado, você matou ele… -gritei enquanto tentava me soltar.
Miguel aperta a faca no meu pescoço, fazendo um pequeno corte que sangrava com exagero, obrigando-me acalmar.
O homem me arrasta para o canto da sala e me joga contra a parede.
-Não pense que eu não te mataria agora mesmo, monte de bosta… vire-se para mim.
Aquele rosto era medonho, torcia para ser um sonho… ou melhor, um pesadelo. Não havia misericórdia nos seus olhos e sem medo, suas mãos não tremiam ou se quer fraquejou.
Miguel chega mais perto, sua respiração não estava alterada ao contrário da minha que parecia respirar por dois, e encosta sua faca no meu peito com força.
-Nada mais justo… depois de tanto trabalho eu deveria aproveitar, eles podem esperar. - disse o insano.
-Não faça isso por…
O homem desfere um tapa certeiro na minha cara. Chega cada vez mais perto sempre me encarando com seus olhos sombrios. Naquele momento eu senti a dor da morte de Elias, o cheiro do sangue ainda estava presente.
Sinto a mão de Miguel encostando no meu membro e apertando a fim de provocar uma ereção.
-Sabe foi muito trabalhoso matar o seu amigo. Na verdade foi até fácil, difícil foi tirar toda a pele dele, mas ele finalmente parou de falar.
Foi inevitável e irreversível, as lágrimas correram por imaginar aquela cena. Eu havia pedido para Elias aceitar a ajuda de Miguel no campo, agora ele estava morto… e eu era o culpado.
-Ha não não não… não chore meu príncipe, eu vou fazer a mesma coisa com você. Quem sabe, quando eu acabar, você consegue reencontrar seu velho amigo.
Miguel continuava a forçar a faca contra o meu peito e, sem qualquer sinal de hesitação ele continua a tentar me beijar enquanto continua a apertar meu membro.
Aquele comportamento, aquela atitude, fazer coisas tão brutais e sem demonstrar remorso ou medo…
-Vire-se… agora.
-Não faça iss…
Fui interrompido por um soco forte no estômago. Aquilo me tirou o ar, viro com relutância enquanto Miguel coloca a faca na minha nuca. Ele estava determinado a fazer aquilo e qualquer movimento meu poderia me matar.
Ele prensa meu quadril contra o dele me fazendo sentir seu membro rígido.
-Pode ser que esta seja uma boa foda, essa sua bunda parece uma delícia… talvez eu sinta falta de te fuder.
Eu queria gritar, clamar por alguém, mas não chegariam a tempo. Além os únicos que ainda estavam nas ruas eram as crianças, não suportaria se alguma coisa acontecesse a alguma delas… Elias já havia morrido por minha culpa, ninguém mais teria aquele final.
Na noite anterior eu havia adormecido na varanda enquanto ele repousava em meus braços, agradeci por aquele momento curto de felicidade… acho que Praga farejou essa felicidade e fez questão de destruí-la - para você que vive agora com essas pessoas, não diga paz ou felicidade em voz alta, Praga pode te ouvir e arrancá-las de você.
-Saia de perto dele.
Fui pescado das minhas lembranças e trazido de volta a realidade por uma voz familiar e reconfortante. Era Sara.
Senti que Miguel se afastava com passos calmos e, ao me virar, vi que repousou a faca sobre a mesa como um sinal de paz. Talvez pelo fato da senhora portar uma Colt mirando fixamente para a cabeça do homem.
-A vadia cantora apareceu… ótimo. - exclamou Miguel com um atrevimento assustador. -Talvez eu tenha que matar mais de dois hoje, só não sei se vou conseguir fuder com voc…
Antes mesmo que pudesse terminar a frase eu acerto o rosto do desgraçado com um soco certeiro, todo ódio e raiva que estava sentindo pela morte de Elias foi transformado em força… ele não sairia ileso depois de tudo aquilo.
-Seu desgraçado, ele não merecia aquilo… -digo com a voz trêmula enquanto mais um golpe estava a caminho.
Dessa vez o sangue espirrou no chão e os olhos do Miguel expressavam o medo pela primeira vez.
-Thommas… - disse o homem tentado não se engasgar com o próprio sangue. -Por favor.
Aquelas palavras despertaram em mim um monstro violento que eu jamais imaginaria. Meu propósito era claro e Sara sabia daquilo. Miguel cai no chão sem conseguir se segurar e, com piscadas longas, insinuava um possível desmaio devido as fortes pancadas.
-Meu filho… não o mate.
-Ele merece… -tentei não demostrar a tragédia para Madame Sara, ela e Elias antigos amigos. -Ele merece.
-Mas você não meu filho, não se torne igual a ele… não o mate.
-Thommas… -disse Miguel tentado se levantar porém cai novamente depois de um chute no rosto, agora pude ouvir seu nariz se quebrando e o sangue jorrando. -Por favor… não faça isso.
Eu não mais me reconhecia, estava com aparência tranquila e nem um músculo se atrevia a tremer, meu corpo e mente desejava aquilo.
Levanto Miguel segurando-o com as duas mãos pelo pescoço, o homem tentava lutar contra o sufocamento se debatendo mas nada adiantava.
Cravava meus dedos em seu pescoço com cada vez mais força enquanto o homem soltava pequenos sons de choro e desespero, era apenas questão de tempo antes que aquele monte de lixo deixasse de se debater.
Por mais irônico que possa parecer notei, enquanto seus olhos me encaravam com medo assombroso, suas lágrimas escorrendo enquanto gesticulava a palavra ‘pare’ com os lábios sem que uma palavra saísse. Respondi com apenas um sorriso.”Esses episódios estavam ficando cada vez mais intensos, dessa vez pude sentir o sangue quente descer pela minha mão. Foi assustador e meus olhos estavam cheios de lágrimas após reviver tudo aquilo.
-Thommas, vocês está bem? -perguntou Deb com preocupação, você não disse nada depois que entrou.
Ao olhar ao redor percebo que já havia voltado para casa e estava sentado na poltrona, minhas mãos estavam suadas e sentia um calafrio enorme, como se despertasse de um curto momento de sonambulismo.
Amanda também me encarava enquanto descia as escadas se apoiando no corrimão. Mesmo depois dos cuidados com o ferimento ela estava com dificuldade de andar normalmente.
-Vou até a cozinha pegar alguns copo… -disse Deb balançando a garrafa de vodka -Tem certeza que está bem?
Apenas concordo com a cabeça enquanto enxugo as mãos suadas na camisa. Aquilo nunca havia acontecido, ultimamente eu começara a lembrar de acontecimentos passados mas nunca naquela intensidade.
Eu havia apagado por alguns segundos, suficiente para caminhar do lado de fora da casa para a sala, mas aquilo pareceu durar horas… eu revivi cada detalhe, o vento quente do entardecer, a textura dos papéis, o toque do metal da faca e até… pelos Deuses até o sangue quente.
Olhei para a entrada da casa e vi Bob parado com olhar de preocupação pelo episódio, certamente percebeu que aquilo não era normal. Minha expressão era de medo e não havia necessidade de pedir ajuda para ele, o ruivo já tinha percebido.
Bob caminhou até a minha frente, abaixou e segurou a minha mão. Ele percorreu com o olhar cada canto do meu rosto, estava descontente com algo.
-Você não está bem, acho melhor se deitar… está branco e gelado -constatou Bob preocupado.
-Não precisa, eu estou bem… apenas assustado. -respondo sorrindo.
-Assustado com o que? Achei que ele iria finalmente tirar o seu atraso. -disse Amanda com provocação enquanto se jogava no sofá mais largo.
Aquilo era mesmo do feitio de Amanda, a sua diversão diária desde o dia em que nos conhecemos era irritar Bob… ambos cabeça dura, nunca prestava.
-Você é inconveniente por definição genética? - respondeu Bob olhando para trás procurando encarar a moça.
-Essa doeu Amanda… -disse Deb trazendo os copos e tentando aliviar a tensão entre os dois, um truque útil às vezes.
-Acho que não sabe o significado da metade dessas palavras, Senhor Eunuco. - retrucou Amanda sem sinal de derrota.
-Hahaa, Eunuco… ela está ficando criativa. -debochei da situação.
Nesse momento Bob olha indignado para mim, era um crime não o defender nessa situação, porém o ruivo deixa escapar um pequeno sorriso aliviando assim todo aquele clima.
-Você realmente precisa dela? Pense no silêncio que teríamos se ela não existisse mais. - o ruivo perguntou para Deb com olhar esperançoso.
Nesse momento todos riram incontrolavelmente, no fundo todos concordavam -menos a própria Amanda é claro - e a piada foi em um time perfeito - na verdade eu espero muito que aquilo seja uma piada.
-Tá legal velhotes, vamos fazer um jogo. Cada um tem direito a uma pergunta, porém elas só podem ser feitas depois que metade da garrafa estiver vazia… é para dar coragem. -sugeriu Amanda com seus olhos arregalados implorando para aceitarmos.
-Eu não vejo problema, - disse Bob fazendo com que meu espanto e da Deb fosse repentino.
-Uau, foi rápido. -respondi sorrindo.
-Então tá, vamos lá. -disse Deb mais chocada do que eu.
Bob se sentou no chão entre as minhas pernas enquanto permaneci sentado na poltrona, Deb se sentou ao lado da irmã e todos começaram a beber.
A tarde estava basicamente agradável, o sol não estava mais a pino.
Deb sempre deixava todas as janelas abertas a fim de que o ar circulasse o máximo. Mesmo depois da retirada dos corpos havia um cheiro insistente no ar que recordava aquela cena, ou era apenas uma má impressão deixada em nossos narizes.
A sala era agradável, chegamos até pensar em retirar os quadros que enfeitavam a estante e as paredes. Porém decidimos por deixar, afinal de contas aquele lugar não era nosso - além do mais, o sorriso da garotinha na foto era reconfortante.
Nos primeiros minutos o máximo que se via eram pequenos goles acanhados, porém depois que os nervos se acalmaram e a conversa fluía a garrafa foi se tornando cada vez mais vazia.
-E então… quem começa?E ai, gostaram? O que será que vem depois? :O
Queria agradecer a todos vocês que leem e acompanham essa "série". É muito gratificante saber que vocês estão gostando tanto. Nunca pensei que um dia chegaria a escrever e publicar, obrigado pelo Feedback positivo.
Comentem sobre o capítulo. Amo vocês meus "Conteiros".
PS: A Amanda não é um doce de pessoa? ;)