Estranho casal de vizinhos
Senti no rego a frieza metálica do cano da arma, por isso, não havia entendido o que crioulo fuinha que me cercou tinha grunhido, mas pressenti que não se tratava de boa coisa, pela expressão criminosa dele. Estava me preparando para retrucar, perguntando o que ele queria, quando a voz do moreno encorpado atrás de mim, fez meu corpo gelar, apesar do sol escaldante que banhava a praia.
- Já era mermão! Perdeu! – era ele que segurava o revólver que havia enfiado pelo cós do short até o meu rego. O olhar dele, ao me virar assustado em sua direção, era tão ou mais gélido do que o cano da arma. – Qualquer gracinha e eu faço um pipoco estourar essa bundona de tanajura. – ameaçou.
Enquanto o crioulinho olhava preocupado para todos os lados, a mão do moreno entrou no bolso do short e sacou a carteira numa fração de segundos. Em nossa direção retornavam dois caras sarados que estavam praticando corrida no calçadão. Eles já haviam passado por mim minutos atrás, correndo no mesmo sentido em que eu caminhava com o Thor preso à guia. Tinham olhado para mim como se eu fosse o sonho de consumo deles, lançando um sorriso impregnado de sacanagem e seguiram seu caminho fazendo um comentário entre eles. Desta vez fui eu quem os encarou, mas com uma expressão de aflição estampada no olhar. Achei que não fossem parar, pois já estavam a uns dois metros de nós quando, repentinamente, um deles se virou com uma agilidade impressionante, e acertou um golpe na cabeça do moreno fazendo-o cair ajoelhado no chão. Ao mesmo tempo em que ele caía, levava junto meu short desnudando minhas nádegas. O outro passou uma rasteira no crioulo levantando as pernas dele acima da cintura e fazendo-o estatelar-se sobre as pedras do calçadão. Antes que ele tentasse se levantar, um pé já estava comprimindo seu peito de encontro ao chão, fazendo-o ganir de dor. O moreno conseguiu reagir, depois que o atordoamento do golpe lhe devolveu as forças. Apontou a arma na direção do sujeito que o agredira e disparou. O estampido chamou a atenção das outras pessoas que caminhavam pela praia. O rapaz que veio em meu socorro conseguiu se esquivar e, com outro golpe, que me pareceu de algum tipo de luta marcial, conseguiu desarmar o moreno e imobilizá-lo com o rosto sendo esfregado contra o calçamento. Instantes depois, estávamos cercados de curiosos e uma viatura da polícia acabava de estacionar, dela desceram dois policiais com as armas empunhadas.
- Tudo bem com você? – perguntou o que tinha rendido o crioulo, que agora seguia algemado para a viatura.
- Sim. Tudo. Tudo bem. Obrigado! – eu ainda estava sob o impacto da abordagem.
- Você se machucou? Ele fez alguma coisa com você? – perguntou o outro, vindo juntar-se ao amigo e a mim.
- Não. Foi só o susto, eu acho. – devolvi confuso, apertando o Thor no colo.
- Você está com o short parcialmente arriado. – advertiu o que tinha rendido o moreno, num sussurro rouco quase ao pé do meu ouvido.
- Ah! – só então percebi os olhares fixos na minha bunda exposta.
Os policiais disseram que eu precisava acompanha-los até a delegacia para registrar o flagrante. Como não havia espaço na viatura eles acionaram uma segunda. Mas, um dos rapazes que me socorreu disse que eles estavam com o carro próximo e que me acompanhariam até a delegacia. Perdemos o resto da manhã diante do delegado relatando o ocorrido.
- Podemos te deixar em casa, ou onde você quiser. – disse o Júlio, o que tinha rendido o crioulo. Na delegacia fiquei sabendo como se chamavam meus benfeitores.
- Obrigado! Mas não é preciso, vocês já fizeram muito. Não quero estragar ainda mais o dia de vocês. – declinei, cheio de gratidão.
- Não será incômodo algum, esteja certo. Pelo contrário, vai ser um prazer. – disse o Eduardo, que tinha escapado do tiro.
- Vocês foram muito audazes e corajosos. Fiquei desesperado quando vi que aquele desgraçado ia disparar contra você. Foi muito louco, da sua parte, enfrentar um sujeito daqueles. Você sabe, eles não têm o que perder. Dentro de alguns dias a polícia vai libertá-lo e a coisa continua. – falei, expressando toda minha indignação e meu carinho pela ousadia dele.
- Você tem razão. Pode parecer cruel e insensato o que vou dizer, mas no meu entender bandido bom é bandido morto, pois a gente sabe que mesmo atrás das grades a bandidagem continua. – disse o Eduardo.
- Concordo plenamente com você. Vivemos num país sem leis, ou melhor, elas até que existem, brandas é verdade, mas existem. Só não são cumpridas. – argumentei.
- Bem! Não vamos deixar que as mazelas do país ou, esse incidente superado, estrague nosso dia. Venha conosco e vamos almoçar num lugar bacana, assim você supera esse golpe. – disse o Júlio.
- OK! Mas faço questão de pagar o almoço. É o mínimo que posso fazer por vocês. Afinal, não é todo dia que a gente conhece dois heróis nos dias atuais. Isso era coisa da Idade Média. Mas é o que vocês são para mim. – sentenciei, aceitando a carona e o convite.
- Foi por uma boa causa, Erick! Pode ter certeza! – exclamou o Eduardo, dando uma piscadela discreta e safada na direção do Júlio.
- Uma excelente, eu diria! – acrescentou Júlio.
Depois de termos saboreado uns camarões tailandeses sensacionais no El Pallomar com vista privilegiada para a floresta da Tijuca e a lagoa de Marapendi, o Júlio e o Eduardo me deixaram diante do meu condomínio. Percebi que o Eduardo guardou bem a localização do edifício, pela olhada que ele deu nos arredores, como que procurando uma referência para um eventual retorno. Foi ele também que colocou em minhas mãos seu cartão de visitas, depois de anotar o número de um celular no verso. Desci do carro reiterando, gentil e carinhosamente, meus agradecimentos com a certeza de que os dois eram parceiros com algum sólido acordo entre eles. Eu só não sabia se esse acordo era do tipo comercial ou íntimo. Na ânsia de voltar para a tranquilidade e a segurança do meu apartamento, isso era algo secundário.
Eu segurava o Thor no colo quando, segundos antes das portas do elevador se fecharem e, o casal do apartamento vizinho ao meu, interromper o curso das portas.
- Oi! Aproveitou o dia ensolarado para dar uma voltinha com o cachorro? Qual é mesmo a raça dele? Você já me falou uma meia dúzia de vezes e eu sempre esqueço. – perguntou Carol com um sorriso calculista. O marido, Aldo, limitou-se a franzir os lábios no que deveria ser um sorriso de cumprimento.
- Oi! É um buldogue inglês. – respondi, forçando um sorriso para parecer gentil.
- Os meninos são apaixonados por ele. Toda vez que encontram com vocês no playground do prédio eles vêm contanto o que ele fez e como é engraçadinho. – continuou ela, tentando manter a conversa.
- Ele tem mesmo essa capacidade de cativar as crianças. – retruquei, torcendo para chegarmos logo ao nosso andar.
Eles eram meus únicos vizinhos no décimo quinto andar do condomínio localizado na Barra da Tijuca, e eu não simpatizava com aqueles modos efusivos dela e aquela cara carrancuda do marido. Os filhos, dois garotos com dez e oito anos, eram bem legais. Não só por serem fissurados no Thor, mas por que tinham a alegria contagiante e ingênua da infância.
Eu tinha me mudado para o Rio de janeiro há menos de três meses. Estava detestando tudo. A mudança havia me sido quase que empurrada goela abaixo pelo meu chefe, na empresa de importação e exportação onde eu trabalhava. Eu vinha ao Rio com uma frequência de dois a três dias por semana para acompanhar os negócios da filial carioca. O custo com a ponte aérea e a hotelaria começou a incomodar meu chefe. Numa tarde onde uma daquelas insuportáveis crises de mau humor se abateu sobre ele, a decisão foi tomada.
- Trate de preparar sua mudança. Em duas semanas quero que fique definitivamente no Rio. Já conseguimos um ótimo apartamento e você se muda para lá, evitando esse constante aumento de custos. – determinou, enquanto ficava abanando no ar um relatório onde provavelmente constavam as despesas com as minhas idas e vindas. Não tentei argumentar, pois sabia que ele, naquele estado de ânimo, me despediria sem nenhum remorso.
A minha aversão pela cidade foi aumentando cada vez que tinha que ir para lá a serviço, e ficava sabendo que alguém do escritório tinha sido assaltado ou ficado retido no meio de um tiroteio. Os morros coalhados de barracos das favelas me pareciam embutir a criminalidade. Também não me adaptei ao calor insuportável, ao modo folgado dos habitantes e a seu intragável sotaque. E, por fim, aquele estranho casal de vizinhos.
O apartamento, no último andar de uma das três torres cercadas por amplos jardins, foi a única coisa de que gostei. Eram duas unidades por andar, com muito espaço, até exagerado para as minhas necessidades, e uma área lateral descoberta por estar localizada no topo do edifício. Com a ajuda de um paisagista eu a tinha transformado num jardim, onde o Thor podia se sentir como se estivesse em nossa antiga casa em São Paulo.
Carol e os dois meninos ficaram bisbilhotando desde o dia da minha mudança. Ela fazia esforço para parecer simpática, mas algo me dizia que por trás daquela cara prestativa se escondia mais do que ela estava disposta a revelar. Os dois garotos concentraram sua atenção no Thor e, para eles, tanto fazia qual era a personalidade de seu dono. Estavam a fim das brincadeiras cheias de energia do cão. Aldo me parecia um sujeito de duas caras, por isso antipatizei com ele logo de início. Quando eu encontrava a família no andar, com a Carol e as crianças junto, ele se mostrava risonho e com todos aqueles trejeitos de carioca descolado, chegando a insistir para eu entrar no apartamento deles e tomar uma cerveja com ele. No entanto, quando o encontrava pela manhã, a caminho do trabalho, ambos de terno e gravata, ele mal rosnava um ‘bom dia’ e fazia questão de fingir que não me conhecia assim que outros moradores entravam no elevador.
Podia-se dizer que formavam uma bela família. Os garotos eram duas crianças lindas. Carol uma mulher na casa dos trinta e tantos, talvez perto dos quarenta, era bastante atraente embora eu notasse alguns traços de vulgaridade em algumas atitudes dela, mas nada que comprometesse sua virtude. Aldo também devia estar com uns trinta e poucos anos, era um homem que não passava despercebido. Era mais jovem que a esposa, embora ela conseguisse disfarçar muito bem essa diferença com frequentes idas à academia e ao cabelereiro. Ele era um pouco maior do que o meu um metro e oitenta e cinco, tinha os ombros muito largos e vigorosos que, com a cintura enxuta, davam ao seu torso o formato de um triangulo invertido. As pernas eram bastante musculosas, assim como os braços. Quando descíamos o elevador a caminho do trabalho, eu precisava me esforçar para não achar graça do terno mal ajambrado que ele trajava, onde parecia que as costuras iam se rasgar ao menor movimento dele. Ficava imaginando se ele não tinha espelho em casa para ver sua figura esdrúxula refletida diante de si, e que descaso fazia a esposa que não dava uma ajuda para melhorar aquele visual. Eu também não tinha deixado de reparar no tamanho da jeba que se alojava debaixo das calças apertadas dele. Era algo que me fazia estremecer, quando ainda estava meio sonolento àquela hora, me deixando tão aceso quanto uma fogueira junina.
Aos poucos, fui reparando que eles pareciam estar em todos os lugares onde eu estava. Se levava o Thor para um passeio no final da tarde ou, no início da manhã, aos finais de semana, pelo calçadão da Barra, cruzava com eles. Se circulava com a bike pela ciclovia junto a orla, dava de cara com a Carol e os meninos e, eventualmente com o Aldo. Se saía chutando a areia da praia enquanto a noite ia fazendo acender as luzes dos edifícios ao longo do caminho, e as primeiras estrelas começarem a piscar no céu tomado pelo lusco-fusco, de repente, me via acompanhado da presença deles. Nessas ocasiões, quem dominava o papinho forçado que entabulávamos era a Carol. Ela me enchia de perguntas, com uma curiosidade que chegava a ser indiscreta. Enquanto eu tentava me esquivar, educadamente, do interrogatório, conseguia perceber certa satisfação que o Aldo sentia ao ver a esposa me atormentando com tantas perguntas. Precisei começar a trancar a entrada de serviço para evitar a incomoda invasão que ela adotara como tática de se achegar a mim. Quando menos esperava, lá estava ela, ou sozinha, com um pedaço de bolo disso, uma sobremesa daquilo, uma torta salgada daquilo outro, ou com os garotos, se justificando por estarem com saudades do Thor. Também precisei me valer de todo arsenal de desculpas que conhecia para me livrar dos inúmeros convites, ora para um lanche, ora para um almoço onde ela tinha errado a mão e feito comida demais, ora para uma pizza com vinho no final da noite, quando os garotos estavam na casa de uma irmã com os primos. Como para todas essas ciladas eu vinha me mostrando mais safo do que um adolescente cabulando as aulas, ela passou a se valer de outros ardis.
Começou se queixando do fogo que o Aldo tinha para o sexo. Fez-se de vítima de suas mais impronunciáveis depravadas necessidades. Dizia que era o tipo de mulher que tinha crescido aprendendo que sua função, além de boa dona de casa e mãe zelosa era satisfazer, inconteste, as vontades do marido. E era o que estava fazendo, mas que de uns tempos para cá, o Aldo tinha se tornado um crápula, exigindo que ela fizesse coisas que jamais seria capaz de fazer. Ela só não entrou em detalhes mais escabrosos, por que eu a interrompi, alegando estar com pressa e fugindo dela como o diabo foge da cruz. Depois, no exílio do meu quarto, muitas noites rememorava essas conversas, quando então, me aparecia a imagem daquele caralhão do Aldo. Era aterrador e, ao mesmo tempo, excitante.
O Aldo e a Carol tinham uma casa em Búzios. Eu vibrava, a cada feriadão, quando eu podia ir visitar minha família em São Paulo ou, quando eles pegavam as crianças e iam desfrutar a casa de praia. Era um jeito de me ver livre daquele casal, e de seus conflitos. Numa sequência de dois feriados seguidos eu não tive como recusar o convite para acompanha-los, uma vez que já tinha esgotado todo meu repertório de desculpas ao longo de meses.
A casa era luxuosamente despojada, num condomínio da praia de João Fernandes. Eles me hospedaram numa das suítes avarandadas voltadas para o mar, colada à deles. No centro do quarto uma cama enorme, cercada por um dossel de onde pendia um fino cortinado de voil, se sobressaía ao restante da mobília, discreta, mas de muito bom gosto.
- Está bem instalado? – perguntou o Aldo, quando fui me juntar a eles na varanda debruçada sobre o promontório, cerca de hora e pouco depois de chegarmos.
- Sim! É maravilhoso, obrigado. Aliás, a casa toda é muito aconchegante. Fico me perguntando, o que nos faz viver em cidades tão abarrotadas quando existe toda essa beleza para se desfrutar? – respondi, ao sentar-me numa das poltronas.
- Ainda mais vocês dois que precisam vestir aqueles ternos sisudos faça chuva ou um sol de rachar. – observou Carol.
- Nem me fale! Só de pensar naquele terno me esmagando chego a sentir calafrios! – exclamou o Aldo. Eu voltei a achar cômica a figura dele dentro dos ternos.
- Você é bem branquinho. Sempre viveu em São Paulo? – perguntou a Carol, me deixando constrangido, pois, repentinamente, percebi que estavam com os olhares fixos no meu corpo.
- Sim. Na verdade cheguei ao Brasil aos treze anos. Até então morei na Suíça, onde meu pai nasceu. Fomos morar em São Paulo quando ele assumiu a vice-presidência de uma financeira de origem suíça, com negócios por toda América Latina. – esclareci, expondo mais da minha vida do que pretendia, ou julgasse necessário eles saberem. Pareceu-me que, enquanto eu falava, aqueles olhares não se desconcentravam de mim.
- Eu bem que tinha falado para você, amor, que ele não era brasileiro. Lembra? – confessou Carol, procurando a confirmação do marido. E me deixando intrigado por servir de assunto nas conversas deles.
- Você deixou alguma namorada para trás quando se mudou para o Rio? – disparou ela, em seguida.
- Não. Não deixei ninguém por lá. – eu me sentia acuado. Ficava imaginando que rumo esse papo ia tomar, e me apavorei.
- Você é tão bonito! Um tipão! A mulherada, desesperada como anda, deve fazer uma marcação cerrada com você, não é? – continuou ela. O Aldo tinha outra vez aquela cara de quem estava se divertindo com o meu sufoco.
- Imagina! Não tenho nada de especial. Não pode existir um cara mais normal do que eu! – exclamei, olhando em volta para ver se havia um jeito de me escafeder dali.
- Isso é modéstia sua. E você não precisa disso para tentar convencer as pessoas do contrário. Ninguém é cego, não é amor? – ela estava ficando impertinente. Desta vez o Aldo quebrou aquele silêncio que me deixava mais agoniando ainda.
- Esse short que o diga! – exclamou, com um risinho lascivo.
- Vou dar uma caminhada, ver se encontro os meninos, tenho receio de que o Thor apronte alguma e se perca deles. – retruquei, ansioso por me livrar daquele papo.
Senti os olhares deles grudados em mim quando percorri a varanda e comecei a descer os degraus de madeira até a praia. Por azar, a poltrona na qual eu estava sentado era bastante baixa e fazia o corpo da gente afundar nas almofadas, com isso as fendas laterais do short abriram e uma parte do tecido ficou presa no meu rego, deixando uma nádega obscenamente exposta. Fiquei sem jeito de levar a mão à bunda para ajeitá-lo e fiz como se não tivesse notado.
Passei o resto do dia me esquivando deles. Após o jantar um casal, que eles costumavam encontrar quando vinham à Búzios, apareceu para tomar umas cervejas e jogar conversa fora. O filho que os acompanhava logo se enturmou com os amigos que só via nessas ocasiões. Fazia muito calor e a camisa, que eu havia colocado para me sentar à mesa do jantar, estava colada ao meu corpo. Por ser branca, em pouco tempo, os mamilos estavam tão nítidos como se eu não estivesse usando nada. O Aldo cochichou alguma coisa no ouvido do sujeito e, desde aí, ele também não tirava mais os olhos de mim. À semelhança do Aldo ele era um camarada meio tosco, daqueles que fazem propaganda de sua masculinidade. Daqueles que veem as mulheres como seus brinquedos sexuais, e aos homens, que não têm o mesmo porte físico que o deles, como viados dos quais se tira o sarro ou se faz de escravo. Algo me dizia que era assim que pensavam a meu respeito. Inventei uma dor de cabeça para me recolher no meu quarto. Escutei o casal se despedindo umas duas horas depois e levando os garotos para dormirem na casa deles, após os pedidos insistentes do filho. Afundei meus pensamentos na leitura do livro que tinha comprado na véspera numa livraria do Barra Shopping, enquanto o Thor roncava na caminha dele, fatigado pela demanda dos garotos.
Passava um pouco da meia noite quando o Aldo e a Carol abriram a porta do quarto, sem se anunciar, e que eu, distraidamente, havia me esquecido de trancar. Levei um susto, pois estava só com a bermuda de seda do pijama. A Carol usava um negligee preto transparente, curtíssimo, sem calcinha e sutiã por baixo. Os pelos pubianos, bastante ralos ou depilados, formavam um triângulo entre as coxas. As tetas, um pouco grandes demais para sua compleição, talvez pela mão de um cirurgião, exibiam dois enormes bicos salientes nos mamilos, tão escuros quanto a pele do crioulo que me assaltara semanas antes. O Aldo, que vinha quase colado nas costas dela, trajava uma cueca ou, como eu, uma bermuda de seda, mas com uma abertura pela qual se identificava uma profusão de pentelhos escuros, enquanto por uma das pernas aflorava a cabeçorra arroxeada do cacetão dele.
- Viemos ver se você está precisando de alguma coisa! – exclamou ela, sem o menor pudor.
- Não! Não, obrigado. Está tudo ótimo. – respondi gaguejando, enquanto tentava soltar o lençol para me cobrir.
- Tudo pode ficar melhor ainda! – afirmou ela, vindo sentar-se na beirada da cama.
- Não estou entendendo. – retorqui, sabendo exatamente onde eles queriam chegar com aquilo tudo.
- Você não precisa se preocupar, somos muito discretos. – disse o Aldo.
- O Aldo gostou de você desde a primeira vez que te viu, não é amor? – assegurou Carol.
- Gosto de caras como você, corpo escultural, todo lisinho, bunda grande, coxas grossas, um rostinho sensual. Vamos nos dar muito bem, esteja certo disso. Tenho tudo para satisfazer seus desejos. – era mais do que ele jamais tinha falado comigo. Eu tremia. Não sei se da segurança com a qual ele fazia as afirmações ou, se motivado por aquele tórax viril que se encaixava em todos os meus sonhos.
- Deve estar havendo algum mal entendido. Eu não sou um garoto de programa, nem alguém propenso a um ménage a trois. – afirmei balbuciando.
- Sabemos disso! E é exatamente isso que deixa o Aldo com mais tesão, não é amor? Esse seu jeito de rapaz certinho. – revidou a Carol.
- Eu já percebi que você andou esticando o olho para o voluntarioso aqui. – disse o Aldo, pegando na rola.
- Lembra que eu disse que o Aldo é cheio das vontades? Então, eu só faço o feijão com arroz. Mas ele está querendo caviar e lagosta, e isso não é a minha praia. – explicou a Carol, no papo mais louco que eu já tive na vida.
- Para ser sincero, eu estou em choque. Acho que aquele uísque que eu recusei a pouco quando os amigos e vocês vieram, vai cair bem agora. – comentei, tentando absorver aquela maluquice toda.
O Aldo foi buscar a bebida e, quando me estendeu o copo, deslizou a mão pelo meu braço até o ombro. Acariciou meu pescoço antes de colocar um beijo e em seguida mordiscar minha pele. Enquanto eu esvaziava o copo engolindo aquela bebida, que descia queimando minha garganta, em goles enormes, a Carol se reclinou ao meu lado e o Aldo meteu a outra mão dele debaixo do penhoar agarrando uma de suas tetas e a apertando com força até ela gemer. Ele era bruto. Tendo esvaziado o copo ele o tirou das minhas mãos depositando-o na mesa de cabeceira. Pegou meu queixo e colou seus lábios nos meus. Minha cabeça girava feito um pião. A Carol pegou a mão do Aldo, tirou-a de seu seio e a levou até a buceta. Ele enfiou os dedos nos pelos pubianos e os puxou fazendo-a gemer. Depois, meteu dois dedos na xana dela, fazendo um vaivém que a fazia contorcer-se alucinadamente. A língua dele entrou na minha boca e ele me instigou a chupá-la, me fazendo sentir seu sabor másculo. Ele foi se inclinando sobre mim e esfregando a rola nas minhas coxas até que ela escapuliu pela abertura da cueca. Estremeci todo quando senti que ele melava minha coxa com seu pré-gozo. Não sei de onde a Carol tirou a embalagem de uma camisinha e começou a encapar a rola do marido. Enquanto ela o encapava desajeitadamente, ele apertou um dos meus mamilos entre os dedos grossos, esmagando o biquinho enrijecido como fizera com a Carol, e me obrigando a soltar um ganido.
- Só esse vagido já me deixa louco de tesão. – disse ele, me encarando cheio de desejo.
- Eu não te disse que ele podia ser a cadelinha que você tanto procura? – murmurou a Carol, procurando afastar a mão do marido que judiava de sua vagina.
Em seguida, ela levantou o penhoar e abriu as pernas, deixando à mostra os lábios vulvares intumescidos e avermelhados. O Aldo os encarou e deu um tapa na buceta dela. Ao mesmo tempo, levou a mão que flagelava meu mamilo até minhas nádegas, tirando minha bermuda com um puxão violento.
- Debruça! – ordenou, forçando meu corpo contra o colchão.
Ela e eu ficamos esticados lado a lado. Ela com as pernas e a vagina abertas, e eu com as nádegas carnudas ao alcance da sordidez dele. Ele percorreu meu rego com o polegar, e quando topou com a minha rosquinha pregueada, meteu-o em mim. A sensação daquele perigo iminente travou meus esfíncteres ao redor do polegar dele. Dava para ele sentir como era diminuto e apertado aquele introito intacto que ele explorava feito um possessor. A Carol percebeu que o interesse do Aldo estava mais voltado para o novo brinquedo dele do que para a xana conhecida e fustigada dela. O desafogo que isso lhe causava era evidente. Eu não conseguia entender esse alijamento, mas não demoraria a compreender a extensão dessa liberação.
- Estou toda molhadinha! – balbuciou ela num gemido promiscuo.
O Aldo tirou o dedo do meu cu e se atirou por cima dela. Agarrou as coxas dela e a penetrou como um garanhão ensandecido perseguindo uma égua no cio. Ela soltou um ‘ai’ pungente e deixou-se foder até ele se fartar. Indiferente e, imóvel como uma estátua, com os braços acima da cabeça, ela o deixou estocar suas entranhas com a bestialidade de um animal. Estranhei toda essa apatia dela, enquanto ele tentava gozar, trabalhando feito um mouro, sobre a frigidez daquele corpo. O suor começou a brotar nas têmporas e no peito do Aldo. Seu olhar mirava o teto como se ele estivesse procurando inspiração em algum lugar dentro da sua imaginação. Fiquei tão tocado com a sofreguidão dele que envolvi seu torso suado num abraço passional. Ele tirou a pica da buceta dela e agarrou meu rosto em suas mãos. Beijou-me numa agonia carente. A língua dele voltou a entrar em mim e eu a chupei com voracidade e desejo. Ele arrancou a camisinha do caralhão enrijecido e insatisfeito, e o bateu contra o meu rosto. O pré-gozo me lambuzava todo e o tesão consumia meu corpo. Abocanhei a chapeleta indecorosa e passei a acaricia-la com movimentos firmes e circulares da minha língua. Ele soltou um urro que ecoou pelo quarto. Eu já não ouvia e nem percebia o que acontecia a minha volta. Só me deliciava naquela rola suculenta. Carol nos observava impassível. Aldo agarrou meus cabelos e fodeu minha boca, atolando a pica na minha garganta. Precisei me esforçar para respirar pelo nariz e conseguir todo o ar de que precisava. Eu empurrava a barriga dele com as mãos espalmadas sobre a musculatura tensa, tentando refrear a brutalidade da qual ele se valia para me foder. Mas eu não tinha forças para conter tanto furor. Alcei meu olhar subjugado até encontrar com o dele, fitando-o com meiguice. Um espasmo abalou sua pelve e, segundos depois, eu sentia o sabor forte da porra cremosa dele, enchendo minha boca com aqueles jatos copiosos. Aquilo escorria pela minha goela mais deliciosamente do que a bebida que eu havia ingerido antes. Engoli até a derradeira e grossa gota que pingou do cacete dele. O olhar do Aldo ganhou um brilho inusitado. Ele deslizou a mão que segurava a rola pelo meu rosto com uma suavidade e um carinho que me abalaram. Ele me ergueu puxando meu corpo de encontro ao dele, e me apertou em seus braços. O suor quente dele tocou minha pele e fez meu cuzinho pestanejar. Gemi próximo ao ouvido dele, um gemido excitado e suplicante. A mão dele deslizou pelas minhas costas e foi bulir minha bunda com descaramento e cupidez. Ele fitava meu rosto ansioso quando meteu outra vez o dedo no meu cuzinho. Gemi com mais premência. O dedo circundava meu ânus por dentro permitindo que ele sentisse a mucosa macia, úmida e quente. Ele abriu minhas pernas como a pouco estavam arreganhadas as da Carol, pincelou a rola no meu rego e, com um golpe certeiro e truculento, enfiou-a em mim. O gemido que aflorara aos meus lábios se transformou num grito e, pela primeira vez, eu sentia uma pica atolada no meu cu. Eu me contorci debaixo dele como uma presa abatida, mas o peso do corpo dele me conteve submisso e desejoso. Ele pareceu crescer sobre mim, seus ombros se alargaram, seus braços viam a musculatura saltando, seu tronco se transformou numa muralha, suas coxas ganharam potência. A jeba dura e grossa ia penetrando em mim como uma broca perfurando a madeira, com o mesmo ímpeto e a mesma devastação. Virei meu rosto compungido na direção da Carol, e ela me encarava solidária, mas aliviada. Então tudo se tornou cristalino e límpido em minha mente. Ela deixou o quarto, enquanto o Aldo bombava meu cuzinho estimulado pelos meus ganidos. Acariciei o rosto dele, enfiava as pontas dos meus dedos nos pelos do peito dele e sorria com candura para ele. Ele não se sentiu mais sozinho, protagonizando um espetáculo de ator único. A carne quente que apertava sua rola era a de alguém que compartilhava com ele aquele momento e toda a emoção que ele carregava. Ele sorriu para mim. As estocadas continuavam potentes, mas perderam a brutalidade. Deslizavam dentro do meu cu numa cadência libidinosa, sem urgência, sem imposição de obrigação. Meu tesão chegou a um limite extremo, a algo que jamais tinha sentido, e eu gozei lambuzando meu ventre, uma vez que a pelve dele comprimia meu pintinho contra a minha barriga. Nada podia ser mais sublime, mais idílico do que o que eu sentia naquele momento. O Aldo gozou em mim, pela segunda vez em pouco tempo, coisa que não fazia desde há muito e, ao deixar a porra jorrar, liberando o tesão acumulado, ele parecia querer semear em mim todos os sonhos e ilusões de uma vida toda. Ele deixou o corpo cair sobre o meu e, instantes depois, ressonava tranquilo com a cabeça no meu ombro, os beijos em seu rosto e meus dedos acariciando seus cabelos. Parecia um Hércules vencido, refugiado no regaço da compreensão. Peguei no sono com as coxas enrodilhadas ao redor dele e a pica molificando no meu rabo.
Acordei na manhã seguinte com o sol já alto se projetando através da porta da varanda. O Aldo estava esparramado na cama com os braços e pernas abertos. Ronronava feito um leão que acabava de fertilizar seu harém. A jeba tinha a rigidez matutina deliciosamente projetada. Tive vontade de chupá-la, mas o Thor pulou na cama reclamando minha atenção. Após uma ducha rápida, fui encontrar a Carol na cozinha. Ela preparava um café tardio.
- Obrigada! – disse ela, antes mesmo do ‘bom dia’.
- O que foi aquilo, Carol? Sinto como se eu fosse um invasor. – retruquei.
- Foi a minha redenção! Você proporcionou ao Aldo tudo aquilo que me sinto incapaz de proporcionar. Colocou aquela coisa abjeta e enorme na boca, permitiu que ele a enfiasse no seu cu, algo que jamais permiti. – sentenciou, com a mesma convicção de quem acabara de encontrar a solução de um problema. – Sinta-se feliz, não há por que você sentir outra coisa qualquer.
- Eu estou feliz, não tenho como negar! Mas isso não me impede que eu me sinta um intruso, alguém que está onde não deveria. – argumentei.
- Bobagem! Só há um lado nessa história, e é esse que você deve focar. Esteja certo de que o que aconteceu ontem a noite foi bom para todos nós. – revidou ela, estendendo uma caneca de onde saiam os vapores perfumados de café fresquinho.
O Aldo sentou-se à mesa quando ela e eu já havíamos terminado nosso desjejum. Soltou um bom dia lacônico. Tinha vestido a mesma cueca que tinha ficado sobre a cama onde me fodeu. Não se importou quando o caralho saiu pela abertura ao sentar-se.
- O que pretendem fazer hoje? – perguntou, enquanto comia um pedaço de queijo, gerando em mim uma expectativa atemorizante, que só se dissipou quando percebi que ele se referia a um programa pelos arredores.
- Podíamos pegar uma escuna e almoçar em alguma ilha por aí. As crianças só voltam no final da tarde. – respondeu a Carol.
- Ahã! Por mim está ótimo. Tudo bem para você, Erick? – perguntou. Por instantes achei que a noite anterior tinha sido um devaneio meu, que nada daquilo havia acontecido no mundo real, tal a indiferença cerimoniosa com a qual ele me tratava.
Passando por cima de uma porção de senões, que minha consciência fazia questão de me fazer lembrar, eu aceitei aquela situação, mais movido pelo tesão do que pela razão. Eu carregava uma culpa que me impedia de estar completamente envolvido naquela conjuntura, embora estivesse atolado nela. Eu passava pelo menos duas noites por semana, quando não mais, dividindo o leito conjugal com a Carol e o Aldo. Era ela quem criava o cenário e o clima, despachava os filhos para a casa da irmã, metia-se conosco sob os lençóis, se submetia aos aliciamentos seviciosos do marido, e depois se retirava sorrateira, deixando o Aldo e eu trepando até que nos faltassem as forças. Com o amanhecer também vinham o meu arrependimento e indignação com o Aldo. Tendo me usado a noite toda, com suas prerrogativas de macho alfa, para satisfazer seus instintos, com a aurora todas as minhas carícias e submissões evaporavam da mente dele, e ele voltava a me tratar com uma frieza polar. Certa vez fiz um desabafo com a Carol, ela se limitou a me implorar que relevasse e não deixasse o Aldo na mão.
- Me perdoe Carol, mas não vou mais me submeter a isso. – afirmei, quando ela veio me chamar para mais uma daquelas orgias.
- Seja razoável! Esses machos são assim. Você não vê, um touro corre atrás de uma vaca no cio como um desesperado, vira o mundo do avesso para meter o cacete nela, depois que se esbaldou, sai farejando a vaca no cio mais próxima, tomando-a para si sem nenhum pudor. – argumentou ela.
- Mas você está falando de bestas, de animais que se guiam pelo instinto, e não de seres pensantes! – exclamei revoltado.
- Um macho é um macho, não importa a espécie. Se os culhões os atormentam, as atitudes não são tão diferentes assim. – retrucou ela.
- Que pensamento mais estapafúrdio! Não concordo com essa filosofia e, muito menos vou aceita-la na minha vida. – declarei.
Ignorei seu choro que não tinha outra intenção que a de me comover. Deixei as semanas passar. Lidei com os cumprimentos frios do Aldo com altivez. Me fiz ausente para o que quer que fosse, inclusive para os garotos que, com isso, acabaram deixando o Thor menos ansioso e agitado. Mesmo assim, ele corria até a porta toda vez que escutava as vozes deles no hall de elevadores, e latia farejando por debaixo da porta até que eles se fossem.
- Por que você está se fazendo de difícil? – perguntou-me o Aldo, num sábado quando, apesar dos meus cuidados, o encontro aconteceu no momento em que voltava do supermercado.
- Não estou me fazendo de difícil. Resolvi que para mim basta. – retruquei sereno.
- Temos um trato! Não é certo uma parte quebra-lo sem que haja um acordo com as outras partes. – declarou, como se nosso envolvimento fosse um negócio.
- Engano seu! Tínhamos o que eu julgava ser um envolvimento afetivo, e não um trato. Lamento que seja essa a sua ideia. – afirmei.
- Puro jogo de palavras! Dá no mesmo. Para que procurar pelo em ovos?
- Sua frieza é impressionante!
- Essa deve ser uma opinião recente, pois já faz alguns meses que você geme debaixo do meu calor. – a desfaçatez dele me irritou.
- Os teus calores, as tuas necessidades de macho e sabe-se lá o que mais, não te dão o direito de ter duas caras. Uma quando a demanda dos culhões está te amofinando, e outra, quando eles foram recompensados.
- Isso são coisas de cabeça de mulher e de homens como você. Machos são práticos, não ficam devaneando e gastando massa encefálica para ver problemas onde eles não existem.
- Você é muito grosseiro! De uma truculência e insensibilidade ímpar. Não acredito que eu esteja ouvindo isso de você depois de tudo. – explodi, sem perceber que estava berrando com ele no hall. – Faça um favor enorme para nós dois, me esqueça! – propus, enquanto a Carol abria a porta do apartamento deles atraída pelo meu tom de voz.
Com o afastamento deles me vi cheio de tempo ocioso aos finais de semana. Só então percebi que tinha feito poucos relacionamentos no Rio. Quase não conhecia uma galera muito legal que trabalhava comigo, não tinha dado retorno a uma serie de ligações do Eduardo e do Júlio, me fazia de desentendido quando um médico atlético e sensual, que jogava tênis nas mesmas quadras próximas ao condomínio, me cercava com um papo cheio de segundas intenções.
- Oi Júlio! Não sei se você ainda se lembra, é o Erick, o do assalto. – arrisquei, depois de terem se passado quase três meses da última ligação dele.
- Oi! Claro que sim. Como eu podia esquecer? O cara que gosta de passear com seu buldogue pelo calçadão da praia. Eu que pensei que você tinha se esquecido da gente. – a voz dele do outro lado da linha expressava a alegria que ele estava sentindo com o meu contato.
- Dos heróis a gente nunca se esquece! – brinquei.
- E eles das donzelas desprotegidas. No caso, dos mancebos incautos. – respondeu ele, tirando uma comigo. – Mas, o que te fez lembrar da gente?
- Saudades! – achei que eu também podia ousar um pouco. – Estou ficando um ano mais velho, e como conheço pouca gente no Rio, resolvi juntar a galera mais próxima para uns comes e bebes aqui em casa. O que você acha, dá para você vir?
- Sem dúvida! Você já conversou com o Eduardo? Depois que você falou em saudades e galera mais próxima, a gente fica ainda mais animado.
- Não. Ainda não liguei para ele, vou fazer isso em seguida. Você acha que ele também topa?
- Não precisa ligar para ele. Ele está aqui do meu lado, vou passar a ligação para ele e tenho certeza que ele vai adorar. – disse ele, aumentando as minhas suspeitas de que rolava algo entre os dois.
- Erick! Fala meu Adônis! O que foi que você falou com o Júlio que deixou ele assim todo alvoroçado? – quis saber o Eduardo quando atendeu o telefonema.
- Eu estou convidando vocês para comemorarmos mais uma primavera minha. E aí, dá para você vir?
- Claro! Só marcar dia e hora que estamos baixando aí. – ele estava tão eufórico quanto o Júlio. – Mas você podia dar o ar da graça antes disso, que tal o horário do almoço amanhã? Vamos te levar num lugar incrível.
- Legal! Combinado.
Eu estava mais contente quando desliguei o telefone. Percebi que se saísse do casulo teria a oportunidade de conhecer uma porção de pessoas bacanas. Fui dormir ansioso com o encontro do dia seguinte.
No início da tarde amena do dia seguinte, varrida por uma brisa úmida, eu estava almoçando com o Eduardo e o Júlio no Corrientes 348 na Marina da Glória, recém-reformada. Eu já conhecia a unidade de São Paulo, embora não fosse um fã ardoroso de carnes. Não restava dúvida de que os dois eram cariocas que conheciam bem sua cidade natal. O lugar fervilhava de gente bonita disputando as mesas mais próximas ao atracadouro. Não sei qual foi o estratagema que usaram, mas nós conseguimos uma delas, como num passe de mágica. Eles me disseram que não tinham pressa para retornar ao escritório. Eu não tinha nada de importante para fazer na empresa e também tinha toda a tarde para desfrutar da companhia deles. Até então sabíamos pouco um do outro. Nada que ultrapassasse os limites de uma amizade insipiente. Fiquei sabendo, enquanto saboreava um tenro bife de choriço, que o Eduardo e o Júlio eram amigos e tinham se tornado sócios numa representação de artigos esportivos. O Júlio estava namorando uma colega desde os tempos da faculdade, e pensava em se casar dentro de um ano ou pouco mais. O Eduardo, nesse tempo, tinha namorado três garotas e a atual parecia ser aquela que ia conseguir enfiar uma aliança no dedo dele. Eles costumavam tirar um tempo só para si, longe das namoradas, como naquela manhã em que tinham me salvado do assalto. Era um tempo para realizar outras fantasias que as garotas não encarariam sem muitos protestos. O Júlio já teve experiências com caras na época da faculdade e gostou. Como o Eduardo manifestou curiosidade numa relação com outro cara, eles acabaram por ter um assunto em comum, e daí nasceu a amizade deles. Nunca tiveram nada um com o outro, pois o interesse de ambos era o mesmo.
- Gostamos de caras como você! Culto, bem estabilizado financeiramente, pecaminosamente sensual e com um corpaço escultural feito o seu. Discreto e inteligente para fazer parte do círculo de convívio íntimo de amigos, sem levantar a menor suspeita do que rola entre quatro paredes. – segredou o Eduardo.
- Quando te vimos passeando naquele dia no calçadão, comentei com o Eduardo que era de um Adônis feito você que ele estava precisando para viver o lado ‘B’ da vida dele. – acrescentou o Júlio. – Afinal, gozar a plenitude da vida só é possível quando se experimenta todas as possibilidades, sem nenhum tipo de preconceito.
- Uau! Isso é que é ser pego de surpresa! – exclamei.
- Por quê? Vai me dizer que você não percebeu que estávamos de olho em você naquele dia? Não é possível que nunca tenham te abordado, um tipo gostoso como você não está dando sopa por aí. – questionou o Eduardo.
- Não! Não é isso. Eu saquei o lance de vocês naquele dia. É que eu achava que vocês estavam juntos, entende? – justifiquei.
- Nós? Não! Ambos somos chegados numa gostosa. Mas, não estamos imunes a alguém como você. Tesão não se tenta entender, se sente! O que rolar a partir daí valeu! – afirmou o Júlio.
Como estávamos em clima de colocar as cartas na mesa, até por que isso ia dar novo impulso a nossa amizade, relatei o que tinha acontecido com o Aldo e a Carol, sem mencionar nomes e dar maiores detalhes.
- Cara! Que doidera! Mas o mais extraordinário é que você se entregou virgem para um cara desses. – surpreendeu-se o Júlio.
- Virgem, cara! Vinte e sete anos e virgem! Com esse tesão de corpo todo. Eu dei mole, vacilei, perdi minha chance! – exclamou o Eduardo. – Caralho! Estou com a barraca armada! – emendou, enquanto começávamos a rir.
- Você não faz ideia do quanto esse cara me aporrinhou depois que te deixamos na sua casa. Ele já tinha inventado uma porção de situações para te reencontrar. Jurava que ia virar celibatário se não conseguisse ter a sua bunda uma única vez que fosse. – delatou o Júlio.
- Nossa! Assim vocês me deixam sem graça. – retruquei.
- Não se ofenda! Estou falando isso por que já te consideramos um super amigão. E, um lance com você ia ser a melhor coisa desse mundo. – admitiu o Eduardo.
- Não estou ofendido! Ao contrário, me sinto lisonjeado. Estou tendo a confirmação agora que vocês, além de lindos, são dois caras incríveis. – brindamos a essa amizade tilintando os copos, onde um translúcido e perfumado vinho branco reluzia nas taças suadas.
Não me surpreendi quando, naquele fim de semana, o Eduardo me convidou para velejar com um primo dele que morava em Paraty. Durante o dia singramos ao sabor do vento por entre as ilhotas cercadas por águas de um verde esmeralda intenso. Tão aprazível quanto o sol que me bronzeava eram as mãos do Eduardo, passando protetor solar pelo meu corpo, enquanto eu deitado na proa ouvia as ondas se chocando contra o casco. Durante a noite eu acalentava a pica gulosa dele no meu cuzinho, afagando e saciando sua voracidade sexual, na suíte de uma pousada quase deserta. O Edu era o meu segundo homem com ele aprendi que, não só cada transa é única, como cada homem tem outras carências e outros atributos a oferecer. O Edu tinha uma pegada forte, uma jeba impetuosa, por vezes até bruta, mas era dono de uma dominação obsequiosa e gentil. Ele sabia reconhecer e valorizar todo carinho e entrega que estava recebendo. Um macho a quem se tinha prazer de ser submisso.
Às três horas de uma madrugada da semana que se seguiu aos dias em que estive em Paraty, acordei com os latidos do Thor e umas pancadas na porta de entrada de serviço. Cambaleando de sono fui ver o que era. Um misto de preocupação e raiva tomou conta de mim quando ouvi o Aldo dizendo ‘abre’, ‘abre’. Pensei que tivesse acontecido algo grave e ele estivesse precisando de ajuda. Destranquei a porta às pressas e o encontrei com o braço apoiado no batente da porta, usando uma daquelas suas cuecas de seda, por cuja abertura se via todo seu prodigioso dote, molengão e descarado. O rosto tinha aquela expressão maliciosa de quem está prestes a cometer uma contravenção.
- Você ficou maluco! Sabe que horas são? O que faz aqui, nesses .... com essa...? – perguntei zangado, apontando para o seu membro. Ele não tinha bebido, como eu havia suposto inicialmente.
- Podemos conversar? Só um pouquinho? Você fica ainda mais tesudo quando está alarmado assim! – disse ele, entrando antes mesmo de eu concordar.
- Eu trabalho amanhã, isto é, hoje, dentro de algumas horas, sabia? – protestei.
- Eu juro que vou ser rápido. Não estava conseguindo dormir. – afirmou ele. Algo me dizia que aquela certamente não seria uma conversa rápida. E, aquele cacetão fazendo questão de ficar exposto tal como uma fofoqueira debruçada sobre o peitoril de uma janela para se inteirar da vida alheia, me fazia crer que a coisa não ficaria apenas numa conversa, pois meu cuzinho piscava, feito as luzes de mudança de direção de um veículo.
- E o que é que eu tenho haver com isso? Tome um calmante e vá para a cama! – sugeri, furioso por estar sentindo aquilo.
- Tudo! Você tem tudo haver com as minhas insônias! – revidou.
- Você bebeu? Que absurdo é esse?
- Sinto sua falta! Quero você, perdidamente!
- Faça-me o favor, Aldo! Isso é hora para ficar enchendo meu saco?
- Não fica bravo, isso me dá mais tesão! Depois você reclama quando perco o controle. – seu olhar não desgrudava das minhas coxas e dos meus peitinhos, onde o tesão também estava provocando a saliência dos biquinhos. – Não quero encher o seu saco. Quero preencher seu cuzinho. – o caradurismo dele não conhecia fronteiras. A cobiça expressa no olhar, que ele não tirava das minhas coxas, me excitou.
- Vá para casa, Aldo! Não seja chato.
- Eu sei que você está tentando me esquecer com aquele garotão que veio te buscar no sábado de manhã, e que só te trouxe de volta tarde da noite no domingo. – despejou de supetão.
- Não seja ridículo! Você está controlando a minha vida?
- Viu? Viu como você ficou bravo? Foi por que eu acertei na mosca!
- Você tem a Carol! Eu também tenho o direito de ter a minha vida. – justifiquei, arrependendo-me por estar dando explicações.
- Você não foi feito para pertencer a um garotão cheio de músculos e pouco miolo. – sentenciou, tentando colocar as mãos em mim.
- Saiba que ele é muito bem resolvido na vida, e maduro. – afirmei, procurando conter aquelas mãos que meu corpo estava implorando para sentir. – Quanto a músculos, olhe para você, e me diga se tudo isso que está aí é necessário.
- Que eu me lembre você gostou de se abrigar neles! – revidou, com a safadeza cada vez mais explícita.
- O seu problema, Aldo, é se achar ‘o macho’, aquele que pode tudo. Aquele que usa e descarta quando não lhe interessa mais. Aquele que não tem a menor sensibilidade para com quem lhe satisfaz os desejos e as necessidades. Obrigado, mas eu não me submeto a alguém como você. – retruquei.
- Então me ajude a mudar! Em quase dez anos de casamento a Carol não me mudou.
- Veja o absurdo que você está dizendo! Se em dez anos ela não conseguiu fazer de você um macho sem o menor respeito pela parceira e, que só sabe copular, por que eu haveria de conseguir? – questionei, estarrecido por ele admitir que é do tipo que só dá valor a machos como ele, o restante, daí incluindo a própria mulher, serem vistos como seres secundários, a que se concede algumas benesses.
- Por que você sente alguma coisa por mim! Eu arriscaria dizer que você se apaixonou por mim, assim como eu por você. E é isso que faz a gente querer mudar. – ele, de repente, tinha ficado sério.
- Eu não ... – ia protestar, quando ele colocou o dedo sobre os meus lábios e, agarrando uma das minhas nádegas, me puxou contra o corpo dele.
Foi o suficiente para eu amolecer, feito gelatina, deixando meu corpo escorrer naquele peito peludo e másculo, cujo calor tinha a capacidade de sublimar o raciocínio da gente. Aceitei e retribuí o beijo dele, assim que sua língua entrou na minha boca. Eu mal havia ouvido a porta bater e já estava com a bermuda do pijama nos joelhos, e ele se debruçando sobre mim na minha cama. Ele agarrou meu tronco, lambeu, chupou e mordiscou meu pescoço, enquanto se esfregava na minha bunda nua, simulando os movimentos de um macho enrabando. Eu gemi. Quis protestar por ele me pegar daquele jeito, mas meu cu estava impaciente para levar rola.
- Diz que não quer mais nada comigo, agora! Me chama de bruto. Sente o tesão da minha pica e fala que eu sou um macho insensível, fala! – grunhiu, arfando por entre os dentes cerrados.
- Ai, Aldo! – o duro era convencer meu cuzinho a recusar aquele caralhão que babava no meu rego.
- Fica de quatro! – ordenou impositivo.
Obedeci. Mas, ao mesmo tempo, decidi que era hora de ensinar a ele uma lição. Agarrando meus quadris, ele se encaixou em mim na posição de monta. Minhas nádegas estavam separadas, o rego exposto e o cu vulnerável. A cabeçorra entrou detonando. Gani, e cravei os dedos crispados nos lençóis, fazendo com que ele reparasse na minha agonia. Ele cobriu minhas mãos com as dele, e aí começou a lição. Imediatamente, girei os punhos e fiz meus dedos se encaixarem nos poderosos dele, apertando suas mãos e demonstrando que estava rendido e precisava da segurança dele. Ele tinha agora duas opções. Metia aquele caralhão com toda a truculência de um macho reprodutor, me fodendo enquanto eu urrava dominado pela dor, assumindo uma posição defensiva em relação a sua pica no meu cu ou, ele metia o caralhão impetuosa e complacentemente no cuzinho que eu lhe franqueava, me fazendo gemer sem saber se o fazia pela dor ou pelo prazer que ele estava me fazendo sentir, dando-me a chance de retesar os músculos pélvicos apertando e agasalhando sua rola com todo o carinho e paixão que tinha para oferecer. Ele optou pela segunda possibilidade. Levou um tempo entre a penetração predadora e a continuação, metendo a jeba no meu cu demorada e progressivamente, usufruindo o carinho que eu lhe dei. A lição foi aprendida. Era com esse tipo de atitude que eu comecei fazendo ele se transformar.
Quando o despertador tocou, ele e eu estávamos enrodilhados em conchinha. Um leve movimento me fez perceber a consistência da pica que ainda continuava cravada no meu cu. Fui afastando a bunda da virilha dele devagarinho, sentindo aquele monstro saindo lentamente. Ele tinha gozado tanto que meu rego estava todo esporrado. Algo repuxava e doía nas minhas entranhas a cada passo em direção ao banheiro. Abri a ducha e me deixei envolver pela água tépida. Lavei a porra do rego, mas não a que estava no cu. Queria guardar o Aldo dentro de mim por todo aquele dia. Ele estava parado encostado à porta quando notei que tinha acordado. Ele sorriu ao perceber que eu não tinha tirado a porra dele do meu cuzinho. Veio até mim e me abraçou. Nos beijamos por tanto tempo que acabei perdendo hora.
- Quero ouvir você dizendo que me ama. – rosnou no meu ouvido.
- Primeiro quero ouvir isso de você. – retruquei.
- Você não dá o braço a torcer, não é? Mas eu sei o que fazer para você confessar que me ama. Não vou me dar por satisfeito só vendo você tomando todo esse cuidado com a minha porra. Mais cedo do que você pensa, vai confessar direitinho, enquanto eu estiver te dando uma surra com essa pica. – garantiu ele, chacoalhando aquele caralho que onde jorrou a umidade que eu aconchegava no cu.
No sábado, o sol pespontou cedo na linha do horizonte, como uma bola alaranjada, deixando um rastro brilhante sobre o oceano. Não esquentou demais e o dia transcorreu mergulhado numa mornidão tranquila. Ao anoitecer, a brisa que vinha do mar e entrava pelas portas abertas da varanda se misturava ao perfume dos convidados. O céu estava límpido e por sobre o mar mergulhado na escuridão, cintilavam milhões de estrelas. O Thor nunca tinha visto o apartamento tão cheio de gente. Fazia festa a cada convidado que chegava, depois ia curtir a tranquilidade da sua cama. Ainda faltavam chegar alguns colegas do trabalho quando vi o Aldo e a Carol entrando pela porta aberta. Eu só os tinha convidado na véspera e, dadas as condições da minha mal parada situação com o Aldo, achei que não fossem aparecer.
- Parabéns! Quem ganhou um presente com a sua vinda ao Rio fomos nós. Eu te gosto muito! – disse a Carol, me entregando a caixa na qual uma fita verde musgo formava um laço de alças complicadas, e me abraçando.
- Obrigado! Fico contente que tenham vindo. Vocês são de casa, fiquem à vontade. – agradeci, desembrulhando a camisa social de uma marca conceituada.
- Parabéns! – felicitou-me o Aldo, num abraço que me fez estremecer, pois me transportou para outros momentos quando aquele abraço vinha acompanhado de sensações carnais. Se ele tinha mais alguma coisa para dizer, não conseguiu, ou não quis.
- Obrigado! – respondi sincero, tão parcimonioso quanto ele.
O grupo de convidados não era grande, mas me alegrei com a imediata identificação e o nível de descontração das pessoas. Percebi que íamos entrar madrugada adentro, e que todos estavam felizes com isso.
- Qual é o rolo entre você e o marido da vizinha? Não me diga que são eles, os que você mencionou, esses dias lá no restaurante da marina? – quis saber o Eduardo.
- Nenhum! Que ideia! Isso são águas passadas. – respondi, dando-lhe a confirmação de que se tratava deles, mesmo não mencionando uma palavra a respeito.
- Não é o que está me parecendo. O rio pode ter levado as águas para você, mas o sujeito ali, não sei não. É que o camarada parece um cão de guarda. É só alguém chegar perto de você que o sujeito rosna. – observou.
- Imaginação sua! Talvez seja preocupação por eu estar aqui sozinho no Rio, e ele queira saber se as pessoas com quem me relaciono são bem intencionadas. Deve ser só isso. – argumentei, sem encontrar algo mais convincente para dizer.
- Vai nessa! O cara está defendendo o território com garras e dentes! – exclamou, rindo junto com o Júlio.
- Você é uma figuraça! Sou apaixonado pelo seu bom humor. – rebati.
- Ufa! É a primeira vez que você se declara apaixonado por alguma coisa em mim. Com um pouco de sorte, quem sabe, você não acaba se apaixonando por mim de uma vez. – ele dizia isso muito próximo do meu ouvido, como se estivesse testando a paciência do Aldo, ou seu desprendimento quanto a mim.
- Sei que não tenho chances com você. O máximo que vou conseguir será me tornar seu amante. E eu não me vejo vivendo como o estepe de um carro, com as sobras do que alguém não conseguiu devorar. – confessei.
- Me dói concordar com você! Tenho que admitir que você não é do tipo que deve se contentar com pouco, sendo que merece tudo. – revidou ele, beliscando minha bunda disfarçadamente.
Escutei os garotos disputando alguma coisa no apartamento da frente. Havia sobrado mais bolo do que eu seria capaz de comer em uma semana. Pensei em interfonar e pedir para a Carol dar uma passada em casa, mas resolvi bater na porta deles e levar eu mesmo o bolo. Eu não tinha porque me esquivar de nada. Ela me obrigou a entrar, mesmo diante da minha obstinada recusa e, de sua cara de choro recente. Não questionei a razão do choro, uma vez que os problemas conjugais deles não me diziam respeito e, por que o Aldo estava sentado na varanda com uma revista nas mãos. Me despedi dela com a promessa de estar me devolvendo o prato do bolo dentro de algumas horas, e dei um aceno para os garotos que continuavam a disputar um game diante da TV.
- Eu consegui me manter uma mulher atraente ao longo desses anos, apesar do Aldo ser um consumista sexual predatório e insensível. – disse ela quando me trouxe o prato de volta, algumas horas depois. - Cheguei a um ponto onde preciso pensar mais em mim e no meu futuro. Conheci um cara, na verdade um senhor, ele acaba de fazer setenta anos, tem uma ótima condição financeira e não me parece do tipo sovina. As condições de saúde o levaram a se abster de sexo, o que para mim é o mais importante. Eu não me sinto mais em condições de suprir as necessidades de um macho. Enchi, cansei, sei lá. Devo ter um dedo podre para escolher os homens. Foi assim com o pai dos meninos. Ele me usou, encheu meu ventre e quando eu estava grávida do menor sumiu sem dar satisfações. – contou ela, ignorando meu silêncio.
- Eu não fazia ideia de que os garotos não eram filhos do Aldo. Em Búzios eu pude ver o alívio que estava sendo para você quando o Aldo me penetrou. Mas não sabia que as coisas estavam tão mal paradas entre vocês. – afirmei surpreso.
- Não sei o que deu no Aldo. Ele e eu tínhamos chegado a um acordo quanto ao que eu ia ceder na cama. Mas, desde que conheceu você o acordo não está funcionando. Ele quer me obrigar a fazer coisas que eu não vou fazer. Deixo-o amanhã. Por isso queria te agradecer pelo que você fez. Por ter entrado numa fria sem muitas chances de recusar. – penitenciou-se.
- De forma alguma! Eu sempre podia ter recusado se não estivesse a fim. E, não o fiz. Portanto, sou o único responsável pelos meus atos. Na verdade, eu é que me sinto incomodado por vocês terem chegado a esse desfecho. Quem sabe se eu conversar com ele as coisas não voltam ao normal? – argumentei solícito.
- Por que eu não quero! Nunca amei o Aldo. Ele podia me sustentar e aos meninos e nos proporcionar segurança, foi isso que me levou a ficar com ele. Também não sei se ele me amou um dia. Se o fez, não deu para saber. – afirmou decidida.
- E eu que pensava que vocês fossem um casal tão bem resolvido a ponto de conseguirem trazer alguém para compartilhar os prazeres do leito conjugal. Incrível! – constatei estarrecido o quão errado eu estava.
- Eu não suporto nem a ideia de pegar nas cuecas usadas dele para levar para lavar, quanto mais colocar aquele pau na minha boca. Você viu o tamanho daquilo? E o cheiro que aquilo tem? Só de lembrar fico enojada. E ele insistia, queria que eu o pusesse na boca queria entrar com ele na minha bunda, um absurdo! Um pervertido! Desde o princípio fui categórica, só onde minha anatomia feminina foi preparada para isso, e com camisinha, pois não quero mais ter filhos e muito menos sentir o esperma de um homem dentro de mim. Eca! – disse ela, expondo a fria relação sexual que havia entre eles.
- Mas, Carol, quando duas pessoas sentem afinidade uma pela outra, cresce o desejo de ter um contato mais íntimo. Quando se amam então, isto se torna vital. Um não vai ter nojo do outro por que são os cheiros, os fluídos que vão uni-los de uma maneira única. – argumentei.
- Eu acho deprimente! Homens como o Aldo têm um cheiro que me embrulha o estômago. – admitiu ela.
- O Aldo cheira a macho! Mesmo depois do banho e de usar algum perfume, ele exala sua potência. E disso você não pode se queixar, por que o Aldo é um homem vaidoso que se cuida. O cheiro almiscarado que brota de todos os seus poros, nada mais é do que a virilidade máscula dele. E, para ser sincero, eu vou te confessar, isso o deixa irresistível, foi o que me atraiu desde a primeira vez que o vi.
- Bem! Dizem que há gosto para tudo. – percebi que ela estava me qualificando na mesma categoria em que talvez colocasse uma prostituta, ou um depravado, como ela definiu o marido.
- Talvez isso tenha impedido de vocês serem mais unidos. Machos como o Aldo têm orgulho do seu sêmen. Gostam quando você o prova e o engole, gostam quando você elogia suas ejaculações abundantes, gostam quando você dá valor àquele sumo que ele te oferece como um presente. Afinal, isso é o que eles têm de mais precioso, o que mais os identifica, é a essência deles. – afirmei, deixando me levar pela mesma emotividade que senti ao experimentar pela primeira vez a porra de um homem, que foi justamente o Aldo.
- Você realmente vê os homens sob uma ótica muito diferente das mulheres. Impressionante! – exclamou, com cara de nojo. – Mas, agora, te ouvindo falar assim, começo a compreender por que o Aldo ficou tão encantado com você. Além da sua beleza, desses fundilhos avantajados e bem torneados, você fez com ele o que eu nunca fiz. E, quem sabe se outra mulher já o fez. Ainda por cima, você soube suprir essas carências dele com muito carinho. – emendou assertiva.
- O Aldo é um homem muito atraente. Nunca fui indiferente a ele. Ele mexe comigo, não nego. O que me incomoda nele é essa grosseria, a falta de consideração que ele tem, não só com você, mas com as mulheres em geral e com homossexuais como eu. Ele gosta e deseja o que proporcionamos a ele, no entanto, nos vê apenas como seres que estão aí para serem usados por machos como ele. – revelei.
- Nisso você toda a razão! Ele é bem assim. Eu só torço para que o cara que conheci já tenha aposentado, em definitivo, o pau e as fantasias. – sentenciou pensativa.
- Mesmo que ele tenha se aposentado, como você diz, não se esqueça, Carol, que homem nenhum é um banco com livre acesso ao crédito. Eles também querem e precisam de carinho, de afeto, e de que você os valorize por si mesmos, e não pelo que têm a te oferecer. – de repente, eu a via como alguém que acha que o casamento é um negócio, no qual as mulheres entram com o cuidado com os filhos e a casa, e os homens como os principais financiadores dessa relação. Um conceito arcaico, mas que parecia ser exatamente aquele pelo qual ela se guiava.
- Mas eu não sou interesseira! Ou você acha? Seja sincero! – questionou. Provavelmente por que cheguei ao amago da questão.
- Não tenho como te julgar e nem costumo fazer isso. Cada pessoa tem suas razões e motivos para ser como é. – concluí.
Recebi mais duas ou três ligações dela depois que deixou o Aldo, afirmando que ela e os meninos estavam bem e se adaptando a nova vida. Depois nunca mais soube dela. O Aldo nada comentou comigo a respeito, nem demonstrou se a separação o tinha abalado. Continuou levando a vida como se apenas tivesse virado a página de um livro, e estivesse aberto para descobrir o que as seguintes continham. Aparecia mais vezes em casa, me convidava para ir a Búzios, a provar os pratos de algum novo restaurante ou, simplesmente, a dar uma caminhada pelo calçadão da praia ao entardecer. Ficava zangado quando alguém me assediava ou quando eu ‘exagerava nas atenções’, como dizia ele, com algum homem. Aparecia com flores, um sorriso desamparado e a pica cheia de tesão quando queria dormir comigo. Me enrabava a noite toda e, na manhã seguinte, ficava assobiando debaixo do chuveiro e durante o café da manhã antes de irmos para o trabalho. Um ano se passou.
Nesse ano o Aldo mudou muito.
Deixou de ser aquele macho irascível, prepotente e impositivo que, tendo esvaziado seus culhões, pouco se lhe dava quem tinha lhe mitigado a premência. Ele não deixou de ser um macho voraz, meu cuzinho que o diga. Mas hoje, sou o centro de suas emoções, sou aquele que aquece seu coração, sou aquele a quem primeiro convergem seus cuidados. Quando acordo ao lado dele, depois de uma noite de amor, com a ardência no cu me lembrando da performance dele e, ele me sorrindo de um jeito único, doce, até infantil, e me sussurrando ‘eu te amo’, tenho vontade de chorar, pois sei que a felicidade está contida nesses furtivos segundos. Ao ver a minha lágrima brotar, ele me beija, seca-a com o polegar e me diz que sou um bebê chorão. Por que, agora, ele compreende e sente todo o amor que tenho por ele.
Eu não transformei sua essência, pois seria descabido. Não quero um fantoche, quero um parceiro, um macho que seja meu esteio. Não consegui tirar dele o hábito de deixar suas cuecas espalhadas pela casa, a despeito de ainda morarmos cada um em seu apartamento. Mesmo tendo brigado com ele por conta disso algumas vezes, hoje, quando me deparo com uma delas, usada e no lugar mais insólito, não consigo me zangar. Sei que esse é o jeito dele de me dizer que não estou mais sozinho, que ele faz parte da minha vida e que, ao recolhê-las, levando-as ao rosto e aspirando seu cheiro viril, eu sou muito amado. Por isso decidi que, na próxima vez em que ele me propuser vivermos sob o mesmo teto, vou surpreendê-lo com o mais afetuoso ‘sim’.