Encontro Prometido. #2

Um conto erótico de Ezra.
Categoria: Homossexual
Contém 2449 palavras
Data: 05/01/2017 22:42:23
Última revisão: 05/01/2017 22:45:55
Assuntos: bar, encontro, Gay, Homossexual

Desci do ônibus sem pressa alguma. Que horas eram mesmo? Lembro que há muito o sol já tinha se colocado em seu devido lugar, dando assim o espaço merecido para a lua. Devia passar pouca coisa das oito, mas a rua já fervia como em todos os finais de semana naquele lado da cidade. O bar era o de sempre e minha turma, como eles mesmos gostavam de chamar, ocupavam a mesma mesa de sempre. Como em muitos pubs pelo mundo afora, a porta abrigava um pequeno sino e ao ser aberta ele soava anunciando a chegada de alguém esperado. Ou não.

Naquela ocasião eu era o atrasado, como sempre. Como em tudo. Que sina! Contornei as muitas mesas escutando o burburinho que eles faziam quando me viram entrar no local.

“Não é possível. Achei que fosse uma miragem” gritou Luiz lá do balcão. “Já estamos pra lá de loucos, volte pra casa” disse o Alan girando sua garrafa de cerveja no ar. Na minha cabeça eu conseguia ver aquela garrafa voar e acertar alguém, transformando toda aquela recepção irônica em uma algazarra descontrolada. Ao me aproximar Kath foi a única a sair em minha defesa. “Não sejam idiotas exagerados. Vocês cansam toda minha beleza” ela falou alto demais e talvez um tanto alterada para em seguida soltar uma gargalhada que fez todos os rostos virarem em nossa direção.

De todas as amizades que eu consegui fazer no mundo, os três que me esperavam foram os únicos que sobraram. Nos conhecíamos do ensino médio. Kath era a mais inteligente do grupo. Os cabelos vermelhos muito dizem de sua personalidade: forte, explosiva, mandona, audaciosa e esperta. Os olhos esverdeados fisgaram o garoto mais bonito que frequentava aquela escola e hoje dividem um bom apartamento no centro da cidade. O marido cuida da casa e ela, quando quer, sai para curtir a noite conosco. Alan e Luiz não se desgrudavam nem por um segundo. Melhores amigos desde que o mundo é mundo, eles arrasavam nos esportes e no quesito quebrar corações. São fortes, altos, bonitões, populares e no meio disso tudo, absurdamente simpáticos. Menos quando, em seus plenos vinte e oito anos, insistem que são dois adolescentes vivendo o auge da descoberta sexual. Desde cedo eu sempre me contentei em ser o mais ou menos. Nunca fui da turma dos descolados, nunca fui dos esportes e muito menos das paqueras. Ser alguém que passava despercebido sempre foi meu esporte favorito. Mas é claro que algumas vezes eu me via obrigado a entender que alguns garotos poderiam ser interessar por mim. Mesmo adulto e beirando os trinta, é difícil reconhecer que eu posso ser uma pessoa apreciável. Nessa altura eu deveria nutrir a vontade de constituir uma família ou de conquistar alguém para simplesmente dividir os dias. Considero que a causa da minha eterna solteirice seja mais a preguiça que tenho do modo como as pessoas tentam se aproximar das outras do que minha aparência. Kath sempre diz que gosta da forma como eu sorrio e quando não arrumo o cabelo, deixando os cachos tomarem a forma que quiserem. Alan diz que meus olhos castanhos estão sempre mais claros e eu acredito que ele está sempre mais bêbado. Luiz já elogiou meu tom de pele. Ele disse que fui abençoado pelos deuses ao ganhar um tom que brinca entre o claro e o bronzeado. Não acho nada extraordinário. Já eu costumo dizer que gostaria de ser alguns centímetros mais alto, mas na verdade acho que um metro e setenta é uma boa altura, não é?

Já perto da mesa eu tratei de mostrar um largo sorriso. Eu realmente estava feliz em vê-los.

- É sério, eu odeio vocês. Não sei porque ainda caio na lábia do “vem, vai ser divertido” – eu falei já puxando a única cadeira sobrando. É claro que eu estava feliz em encontrá-los. – Essa é a minha? – E sem esperar resposta dei um gole grande demais. A cerveja passava de quente.

- Aproveite seu desgosto com a vida e dê um jeito no Alan. Ele já quase comeu duas garotas com os olhos – me adiantou Kath em seu tom repreensivo. Naquelas noites ela fazia o papel de mãe de nós todos.

- Alan, tente ser menos escroto. Você não é mais adolescente, amorzinho.

- Posso tentar – ele garantiu, sarcasticamente.

- Héteros! – Eu e Kath bradamos em uníssono, risonhos.

E é claro que eu tentaria mudar o foco daquela conversa:

- Onde está seu homem?

- Obviamente ficou em casa cuidando das coisas dele. – Me respondeu Kath com sua piscadinha característica. – E onde está o seu?

- Eco! – Brincou Luiz que chegou a tempo de pegar o assunto.

- Está por aí no mundo. E seja quem for, espero que demore. Pense numa preguiça que estou de aturar outro ser humano. – Minha resposta saiu junta de um suspirar exagerado. Que cena!

- Você precisa achar um Alan versão gay. – Alan brincou.

- Como é?

- Isso que você escutou. Um homem atencioso...

Kath quase cuspiu o que tentava engolir.

- Respeitoso... – continuou ele.

Luiz praticamente gargalhou.

- E gostoso pra caralho! – Concluiu fingindo ignorar as reações contrárias ao que dizia.

- Amigão, então... Tente se achar menos, pode ser? Tá bem feio.

- Eu e ‘feio’ não combinamos na mesma frase, comecemos por aí – ele me respondeu em seu riso galante e cheio de provocação.

A música que tocava no ambiente não foi suficiente para tornar nossas gargalhadas menos exageradas e somente após percebemos que atraímos toda a atenção do bar, nos contemos em cochichos e risinhos.

A noite rolava solta, a música mais alta, a pista cheia, os meninos paquerando em qualquer lugar. Eu e Kath éramos os mais centrados daquele grupo. Ela obviamente por causa do marido que a esperava em casa, eu pelo tédio que sentia em interagir com outras pessoas. Nossa diversão estava em reparar o ambiente ao redor e fazer nota de cada movimentação que víamos. Não debochávamos. Não mesmo. Era mais como comentários aleatórios sobre a forma como os outros levavam a vida e atravessavam aquela noite. Coisa de quem não tem muita vida própria.

Eu bebericava praticamente o último gole de um drinque de nome impronunciável quando vi os dois grandalhões voltarem para a mesa. Alan retornara com os lábios tão vermelhos que imediatamente concluímos que alguém havia tentado roubar dele aquela boca bonita. E com os próprios lábios. Luiz claramente estava perdendo. “Estou facilitando pro Alan” ele disse em defesa própria. “Virei moço de família, não ficaram sabendo?”

E novamente uma sequência de gargalhadas descontroladas.

Eu virei o último gole que sobrevivia no fundo do copo quando Kath direcionou suas palavras para mim em sussurro e criando uma barreira com as próprias mãos, como se quisesse fazer um comentário confidencial:

- Balcão. Lado esquerdo. Regata escura. Ombros deliciosos. Ele quer tanto você.

- Eu sei que você está bêbada quando começa com suas suposições – constatei.

- Idiota. Ele estava olhando pra você, posso apostar. – Ela insistiu, ainda em sussurros.

- Entre o olhar e o querer há um buraco proporcional ao seu nível de embriaguez, Kath. Contenha-se!

- Se você não for lá, eu vou.

- Tá, eu vou! – Eu disse ao me levantar subitamente impedindo que ela fizesse o que prometera. – Mas eu não sei flertar, vai ser um completo erro – eu completei em um sussurro antes de sair da mesa ainda encarando-a, claramente apreensivo.

- Seja sincero! – Kath instruiu em um riso divertido. Ela sabia que tal cena seria divertida de assistir.

Conferi a hora no meu relógio de pulso tentando pensar no que fazer e vi que ainda se aproximava da meia-noite. O balcão estava praticamente todo ocupado e o único espaço vazio era justamente ao lado do tal suspeito que Kath dizia mostrar interesse por mim. Trabalhando toda minha naturalidade, plantei meus cotovelos sobre o balcão e me debrucei nele, fingindo esperar pela atenção do único balconista que atendia naquela noite. Nenhum olhar na direção do homem, nenhum centímetro sequer mais próximo. Nada. Eu não conseguia fazer nada. Na escola da vida eu era o aluno que matava a aula de flerte e aproximação. Só de pensar em criar um tensão sexual minhas mãos tremem e suam desastrosamente. Constrangedor!

Mas antes que eu pensasse em criar uma situação no intuito de descobrir se tal interesse existia, ele tomou a frente e me livrou do desconfortável papel principal:

- Vou te ensinar como conseguir a atenção dele.

A voz grossa e incrivelmente máscula me fez olhar na direção de quem a proferia. Cumprindo o que tinha prometido, o vi enfiar o polegar e o dedo indicador da mão direita entre os lábios e produzir um som agudo e prolongado que fez não só o barman, mas o bar inteiro olhar na direção do sem noção que fazia aquilo. Em menos de um minuto o barman já estava em nossa frente, pronto para preparar o que pediríamos.

- O que você quer? – O homem perguntou-me com uma das sobrancelhas arqueadas. Vi logo que era com a intenção de parecer sensual ou qualquer coisa do tipo. Eu quis rir.

- Eu... Eu não sei. Água, talvez.

E foi ele quem riu.

- Água?

- Acho que já bebi demais. Uma água, por favor. – Terminei o pedido direcionando minhas palavras ao barman.

- Que seja. Outra cerveja. E mais gelada, se possível – ele concluiu o pedido antes de mirar seus olhos nos meus. – Alguns daqueles grandalhões é seu boy?

- Boy?

- Você entendeu – ele disse contornando com o dedo as muitas marcas que a madeira gasta do balcão exibia.

- Não, impossível. Eu jamais despertaria algum tipo de desejo sexual por dois canalhas como aqueles.

- Analisando previamente já posso parar de tentar flertar com você.

A frase me fez rir e eu controlei o riso para continuar olhando o sorriso tão bonito e sedutor que ele me entregava. Parte do meu riso era felicidade em saber que sim, ele estava interessado, a outra era em ver alguém admitir que era uma canalha. Quando foi que as pessoas decidiram ser tão sinceras? Eu tinha perdido essa transição interessante.

- Desistiu muito fácil – eu brinquei abrindo a garrafa que o barman tinha deixado sobre o balcão. O meu gole não escondia meu sorriso faceiro. Eu estava flertando. E sem ajuda de terceiros. Não diretamente!

- Ainda tenho chance, então? – Ele aproveitava para dar um gole na cerveja servida.

- Não foi isso que eu quis di...

Mas antes mesmo que eu pudesse concluir minha frase ele estava inclinando-se em minha direção e fazendo aqueles lábios gelados tocarem os meus. Eu sorri, é claro, e meu sorriso emoldurou o que ele esboçava quando percebeu que seria correspondido. Eu me aproximei na intenção de sentir melhor o calor que ele poderia me proporcionar e imediatamente a mão dele, também gelada, estava procurando pela pele mais macia da minha cintura.

- É uma merda isso... – eu falei em um sussurro ao parar o beijo procurando o ar.

- O que foi?

- Canalhas beijam tão bem!

.

O bar estava consideravelmente mais vazio, as horas tinham corrido e já atravessávamos a madrugada. Alan e Luiz já tinham conquistado suas garotas da noite, Kath encontrara um grupo de conhecidas e eu permitia que meu corpo fosse pressionado contra a pilastra pelo corpulento com quem tinha flertado no balcão. As luzes ainda mais baixas e a pista de dança movimentada tornava aquele o lugar ideal para deixar que nossos toques se tornassem insinuativos demais.

A boca dele, e consequentemente os dentes, estavam cravados em meu pescoço. Eram beijos, chupões e mordidas que faziam meu corpo transitar entre o rígido e o fraco, entre o ‘vem cá’ e o ‘sai daqui’. As mãos indecentes e os dedos curiosos varriam minha pele com força e se eu não o impedisse, ali mesmo eu ficaria sem roupa. A bebida tinha me deixado quente.

- Não vê que eu quero você? – Ele sussurrou depois de algumas mordidas na ponta da minha orelha.

- É, eu to vendo.

- Vamos pra sua casa. Pode ser?

Eu tremi. Na minha vida não é todo dia que eu ouço alguém mostrar interesse em ir para minha casa com intenções tão explícitas.

- Desde que eu chegue inteiro, tudo bem?

- Não posso prometer – ele disse novamente forçando o corpo grande no meu.

- Será que pode me dizer seu nome, pelo menos?

Ele não tirava os lábios dos meus para falar:

- Ninguém é tão exigente na madrugada de um sábado. Eu só quero comer você, gostoso.

E as palavras, tão sinceras, doíam na pele mais que as mordidas nada excitantes que ele me dava. Eu precisei interromper aquele beijo violento.

- Não há exigência nisso. Estamos falando de algo importante.

- Na cama você escolhe o nome que vai querer me chamar. Adianto que gosto de cretino e papai. – E novamente ele me servia aquele sorriso cafajeste além de todas as contas.

Tudo bem. Era um encontro casual que resultaria em um sexo casual, mas eu jamais me entregaria para alguém que me veria como apenas mais um. Não é que eu seja especialmente único. Longe disso. Mas também não sou assim tão vazio. Não, não sou mesmo. Se dependesse de pessoas daquele tipo, bom... Eu ficaria sem sexo por ainda mais tempo.

- Quer saber? – Comecei enquanto impedia que ele continuasse vasculhando minha pele com sua boca molhada e pegajosa. – Você não pode ir pra minha casa. É isso, não pode. Todos meus amigos estarão lá e isso pode ser meio esquisito...

- Calma aí, você vai me fazer perder essa noite por causa de um nome?

Ele poderia parecer tudo, menos decepcionado.

- Acho que sim – eu disse ainda indeciso. Dispensar alguém era algo novo para mim.

- Otário! – Ele bradou enquanto ajeitava o volume crescido no meio das pernas, inchando o tecido da calça. – Sério, que otário!

E enquanto ele se afastava, claramente raivoso, eu só conseguia rir. Eu gargalhei exageradamente quando vi Kath se aproximar com o olhar de quem queria muito saber o que tinha acontecido ali.

- Adivinha?

- Impossível – ela adiantou. – Desembucha!

- Eu dispensei alguém.

- Oi?

- Sim, eu dispensei o carecão.

- Não...

- Eu dispensei e quer saber? Estou muito, muito bem com isso!

- Fala sério, Ez...

- Vem! – Eu a puxei pelo braço em direção ao balcão ignorando o fato de ter um grupo esperando por ela. – Isso merece outro drinque. Não, dois drinques. E por minha conta. Eu conquistei mais um nível no jogo que é a vida.

.

.

Alexsandro Afonso, você é novo por essas bandas? Vem sempre por aqui? haha Seja bem-vindo aos meus contos, rapaz. :)

Impact, seu comentário (ou a falta dele, melhor dizendo) me deixou com uma pulga atrás das duas orelhas.

Jades, adorei saber que meu personagem carrega algumas coisinhas suas. haha Eu também costumo me enrolar inteiro. Problemão, viu! Sobre sua contribuição: bem acho minhas coisas meio paradas mesmo. Fico caçando jeito de colocar mais situações ali, mas quem disse que funciona? Obrigado sempre pelos apontamentos. ;)

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Comentários

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Estou ainda tentando entender qual o problema de transar com alguém sabendo que será apenas uma transa e tchau... Um "fora" apenas porque o sujeito fez charme para dizer o próprio nome? Se dissesse o nome, o protagonista teria levado um desconhecido para dentro de casa e transaria com ele sem problemas? O personagem do "cafajeste", a meu ver, foi sincero, honesto, correto. Era gostoso e despertou o tesão do protagonista. Sem saber o nome do outro, o protagonista ficou horas em amassos com ele - portanto, devia estar gostando muito. Mas, de uma hora pra outra, o beijo gostoso virou pegajoso e o cara virou "o careca". Parece-me que isso aconteceu fundamentalmente porque ele foi sincero, honesto, correto. Era melhor ter fingido que se iniciava um grande amor, comer e depois ir embora pra sempre e deixar aquele gosto de "fui enganado e usado"? Provavelmente, essa passagem deve ter sido escrita para demonstrar as dificuldades do protagonista em lidar com sua sexualidade, creio eu. Vou pra terceira parte, pra ver.

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Jades, qual o problema com Londres? Já vai me falando que é pra me ajudar nas melhoras. haha O assunto "caneca" já está liberado. :D

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oiii, adorei a atitude do Ezra em dispensar o otário. e levar gente pra casa sem nem saber o nome é só estando matando cachorro a grito mesmo né. tô querendo saber da caneca hahaha. Sobre o conto deletado, deixe-o guardado por um tempo, quando você voltar a olhar pra ele vai ter ideias novas. Ele era bom sim, eu gostei. Só estava meio paradinho na parte de Londres, no mais era bem criativo. Abraços

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HAHAHAHA eu não sou novo, só mudei o nome de AllexSillva pra esse que está agora hihihi

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fez muito bem em dispensa lo, acima de tudo,tem que saber se valorizar. gostei da sua atitude.

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