Capítulo 01 – o Garoto Novo
Ele estava me olhando, dava para sentir seus enormes olhos verdes sobre mim, seu perfume invadia minhas narinas como nenhum outro já invadira.
- Erick!
Minha amiga, Débora cutucou o meu ombro.
- O que?
- O novato não para de olhar para você? – ela falou olhando para o menino que me fitava descaradamente, ele estava sentando a duas carteiras da gente.
- Como é o nome dele mesmo?
- Carlos Eduardo, mas os meninos o chamam de Cadu.
- Débora e Erick, parem de conversar! – disse a velha professora a nós olhar furiosamente.
- Sim, Dona Rosa – Débora voltou para seu lugar.
Novamente, dava para sentir que Carlos Eduardo me olhava, ele podia não esta muito perto, mas era como se estivesse. Seu cheiro, sua pele, seus olhos, seu cabelo, tudo nele era perfeito.
Meus pensamentos estavam perdidos naquele garoto novo, era seu terceiro dia na escola e ainda não tínhamos nós falado, mas ele sempre me olhava, era estranho, mas ao mesmo tempo era arrebatador para meu pobre coração apaixonado.
Fiquei viajando em meus pensamentos por horas, até o recreio, quando sai de minha sala na companhia de Débora, seguimos para a cantina da escola.
- Estou morrendo de fome – disse Milena, uma amiga minha que estudava em outra sala.
- Você sempre esta com fome, não sei como não engorda – retrucou Débora – Vamos comprar algo – ela pegou Milena pelos braços – Vai querer alguma coisa? – ela perguntou para mim.
- Um suco de maracujá!
- Só isso? – Milena pareceu espantada – Ai! Eu preciso comer, vamos logo, Deb.
As duas foram em direção à lanchonete e eu me sentei com meu livro, à sombra de uma grande árvore que ficava bem no centro do pátio escolar. Como era de costume, eu estava com um livro lendo, quando ele chegou e sentou-se ao meu lado.
- A Escolha – disse o garoto loiro sentado ao meu lado – É bom esse livro?
- Ainda não sei, agora que estou começando a ler – disse a ele.
- Sabe, estou com saudades de você e de nossos momentos juntos – ele me olhou, seus lábios carnudos e vermelhos era uma tentação, mas eu tinha que ser forte.
- Cláudio, por favor!
- Me deixa terminar – ele suspirou – Sei que errei, pisei feio na bola contigo, mas eu só te peço uma coisa, me da mais uma chance, apenas uma!
- Cláudio, você errou comigo e não foi uma e nem duas vezes, eu sofri por causa de você, meu pai quase me expulsou de casa quando descobriu a gente – meus olhos já deviam estar marejados – e como você me paga? Eu te respondo. Com um belo par de chifres.
- Me deixa explicar!
- Não tem explicação, você me traiu e pronto, doeu muito e ainda hoje dói, mas eu estou tentando superar você.
- Eu te amo! – ele disse chegando perto de mim.
- Quem ama não trai – disse colocando minha mão sobre seu peito, para afasta-lo.
- Me perdoa – ele insistiu, como inúmeras vezes.
- Me deixa Cláudio. Tenho que seguir em frente, pensar no futuro – suspirei – e nesses planos, não a lugar para você.
- Você me ama, eu sei que você me ama – ele disse.
- Não meu querido, eu até posso sentir algo por você, afinal ficamos juntos por quase um ano – estava com vontade de chorar, mas não poderia dá esse gostinho a ele – Mas suas atitudes mataram o sentimento belo que eu nutria por você.
- Eu posso fazer você me amar de novo, basta querer – ele pegou minha mão sobre seu peito.
- Eu não quero e acho melhor sair daqui, antes que eu me arrependa de algo – me levantei e fui em direção às meninas que estavam sentadas comendo seus lanches.
Cláudio foi meu primeiro namorado, foram quase um ano de felicidades e infelicidades ao lado dele, ele sempre me tratou bem, mostrava afeto e carinho, assumiu-se para a família e me fez fazer o mesmo, quase causando minha expulsão de casa. Mas ele tinha um problema, não sabia ser fiel, foram inúmeras as traições que eu perdoei e deixei passar, mas um dia toda bomba relógio explode e foi no dia do aniversário dele, onde ele convidou um amante dele, que eu terminei tudo, não fiz barraco, pois não sou disso, apenas terminei com ele e pronto.
- Cadê meu suco? – disse sentando a mesa.
- Você demorou demais – Milena riu – E eu estava com sede.
- Ave! – suspirei.
- O que o Cláudio queria com você? – Débora perguntou.
- O de sempre, foi com aqueles papinhos que estava arrependido e tudo mais e pediu para voltar – disse.
- E você? – Milena analisou-me – O que disse?
- Que não, não quero voltar a sofrer e ser motivo de chacota como era há tempos atrás por causa dele.
- Ótimo, pois se você voltar com ele – Débora falou – e depois ficar chorando pelos cantos como fazia quando ele ia para festa com outros meninos, eu vou te dar um soco bem no meio do teu nariz.
- Credo, amiga – Milena colocou a mão na boca – quanta violência!
- Depois de tudo o que ele já passou perdoando aquele sem graça, acha que vou deixar meu amigo sofrer mais uma vez – ela me abraçou.
Não demorou mais que alguns minutos para a sirene bater novamente, avisando que era hora de voltar para a sala de aula. Ao entrar na sala de paredes brancas com várias carteiras verdes, com alguns alunos sentados nelas, um deles chamava a minha atenção já fazia alguns dias, Cadu. Ele me acompanhou com os olhos quando entrei, discreto como sempre, mas olhou cada passo que dei.
Ele já tinha feito algumas amizades com alguns garotos bagunceiros da sala: Ítalo, Matheus e Josh. Mas não eram péssimas influências, eram apenas meninos que conversavam demais nas aulas de português e matemática.
Sentei em minha carteira com cuidado, a todo momento podia sentir o poder dos seus olhos seguindo meus passos, aquilo me deixava eletrizado, como vontade de descobrir quem era aquele garoto e o que ele fazia aqui na escola.