Armadilha entre as pernas da biba
João não cabia em si de contente quando, num exame ginecológico, a esposa recebeu o diagnóstico de que sua falta de apetite, cansaço fácil, um asco repugnante a todos os odores do marido e, aquele aumento repentino dos seios nada mais era do que a chegada do primeiro filho. Estavam casados há quatro anos e ele vinha se sentindo aflito com a demora da esposa em engravidar. João era um sujeito bronco, tinha estudado até ensino fundamental e, depois ingressou numa escola do SENAI, onde obteve um diploma de técnico mecânico. Era seu orgulho e estava exposto na sala, enquadrado numa moldura metálica que ele havia escolhido com muito zelo. Graças a essa formação, conseguiu emprego numa montadora de veículos e, por mais de uma década, passou por diversos setores da empresa. Sua ambição, no entanto, era ter sua própria oficina mecânica. Pouco tempo depois de casado, conseguiu ter seu próprio negócio e, tratou de fazê-lo prosperar. A chegada desse filho pôs fim ao seu tormento, uma vez que achava que essa demora só poderia ser um problema da mulher, já que ele não tinha dúvidas de que sua masculinidade não era, nem sequer de longe, discutível. Espalhou a novidade aos quatro ventos, orgulhoso de sua façanha e, acompanhou a esposa em cada consulta do pré-natal, pois estava ansioso para saber o sexo da criança. Embora, em seu íntimo, torcesse por um varão. Os meses se passavam e o ginecologista relutava em afirmar se era uma menina ou um menino, dizendo que a posição do feto impedia uma identificação precisa pela ultrassonografia. João saía das consultas mais preocupado do que frustrado, e partilhava sua angústia com a esposa, sempre calada e conformada com seu destino. Para ela, o importante era gerar um bebê saudável, pois conhecendo o marido como conhecia, temia ser abandonada caso algo não saísse como ele idealizava. A agonia se estendeu até o nascimento. Quando, finalmente, a enfermeira trouxe a trouxinha da qual emergia tão somente um rostinho rosado e cheio de dobraduras para junto da janela do berçário, João fez questão de desembrulhar o bebê e confirmar o sexo do filho.
- O doutor já vem conversar com o senhor. – disse a enfermeira, recolocando a criança no berço.
Era um menino. João tinha visto o bilauzinho e um saquinho meio esquisito. Mas, a cara da enfermeira lhe dizia que havia algo mais por trás daquilo. Ele caminhou de lá para cá e de cá para lá pela hora e meia seguinte. O médico não tinha um semblante muito tranquilizador e isso deixou João ainda mais preocupado.
- Seu bebê nasceu com a genitália ambígua. Teremos que proceder a alguns exames no decorrer dos próximos meses para confirmar minha suspeita de hiperplasia adrenal congênita. Mas, por hora, nos próximos dias sua esposa e filho receberão alta, e é hora de curtirem o nascimento do primogênito. – João não entendeu nada, quis fazer uma série de perguntas ao médico, mas não sabia por onde começar. Também não quis passar por ignorante, e já arquitetava planos de como fazer com que a mulher fizesse todas as perguntas para saber o que era essa tal genitália ambígua e o que era essa hiperplasia adrena qualquer coisa.
Nos meses seguintes, durante as consultas com o pediatra, as notícias foram surgindo, nada tão boas quanto eles desejavam. Embora o bebê estivesse se desenvolvendo e ficando cada dia mais bonitinho, pairava uma indagação no ar. Os encaminhamentos a diversos especialistas só serviam para aumentar a agonia do João e da esposa e, para causar um rombo em suas finanças. Até que um dia, cansado de tantas idas e vindas e, cada vez mais dúvidas, João tomou uma decisão.
- Cristina! Esses doutores só estão tentando nos extorquir. O Daniel, o nome era outra escolha dele onde a esposa não teve como opinar, está crescendo saudável e espertinho. No meio das perninhas dele tem um pinto, então eu não sei onde é que está a dúvida desses médicos. Chega de levar dinheiro para encher os bolsos deles. Vamos cuidar do nosso filho e fim de papo! – sentenciou, numa noite em que tinha se debruçado sobre a contabilidade da casa e da oficina após o jantar e, constatado que estavam novamente no vermelho.
Cristina não estava de pleno acordo, mas diante da situação financeira pela qual passavam, desistiu de contrariar o marido. Coisa que ela só raras vezes tinha ousado fazer e, cujas consequências, conhecia muito bem.
Daniel foi crescendo e se tornando uma criança encantadora. Além de bonito, tinha uma personalidade alegre que cativava a todos. Nem a chegada do segundo filho, dois anos depois, outro garotão, tinha abalado seu carisma.
Quando ingressou no ensino fundamental, Daniel era uma criança igual às outras, irrequieta e curiosa. No entanto, seus traços delicados, faziam com que as outras crianças às vezes se confundissem. Os próprios adultos passaram a encará-lo com um ponto de interrogação estampado na cara. Tratava-se de um menino ou uma menina? Difícil dizer, por isso fixavam os olhares sobre ele tentando adivinhar a resposta. A primeira reação de Daniel foi de raiva. Não gostava de como olhavam para ele, e zangava-se com facilidade. Aos poucos, foi se convencendo de algo estava errado com ele, e começou a ficar introvertido e calado. O irmão mais novo já era maior do que ele, tinha a mesma compleição física robusta do pai, enquanto ele parecia ter parado de crescer e, principalmente, de se desenvolver como os outros garotos de sua idade. Ainda no ensino fundamental, começaram a chama-lo de mulherzinha. Foi o que bastou para determinar seu isolamento. Como um caramujo, enfurnou-se numa concha imaginária que construiu a sua volta.
João começou a se incomodar com o pintinho do garoto. Aquilo não crescia como o restante do corpo do filho. Para piorar a situação, o garoto vivia com as pernas fechadas, embora ele insistisse para que ele as mantivesse abertas e separadas quando ia se sentar ou mesmo caminhar.
- Abre essas pernas moleque! Parece uma bichinha. Sempre com as pernas juntas, como é que vai ter espaço para esse caralho crescer. – dizia, deixando Daniel ainda mais travado e confuso. Algumas vezes, já cansado de tanto ralhar com o menino sobre o mesmo assunto, dava-lhe uma surra daquelas. – Se te pego mais uma vez com essas pernas fechadas te desço a cinta até você aprender a andar e sentar feito um macho. – ameaçava.
Ao chegar à puberdade que, aliás, veio bastante tarde, Daniel já não sabia quem era. Tinha uma boa estatura, mas a voz continuava com o mesmo timbre de uma criança, as pernas eram compridas e continuavam tão lisas quanto as de um bebê, e parecia que sempre faltava tecido nas calças na região da bunda, pois as ancas largas e roliças nunca cabiam nas calças que se ajustavam na cintura. De um garoto para a sua idade ele tinha pouco, enquanto não lhe faltavam os atributos de uma mocinha.
Se sua vida já não tinha sido um mar de rosas até então, devido a todo tipo de gozação que precisou aturar, tudo piorou numa amanhã após a aula de educação física. O professor havia dispensado os garotos no final da aula e a trupe correu para os chuveiros a fim de tirar o suor que lhes cobria os corpos. Daniel sempre procurava ser um dos últimos a entrar no vestiário e nas duchas, depois que quase todos já tinham deixado o local. Era menos constrangedor despir-se diante uma meia dúzia de retardatários do que daqueles mais afoitos e prontos para caírem de pau em cima de uma vítima qualquer. Fazia calor e Daniel tinha sentido uma dor difusa durante toda a aula de educação física, que não consistiu em nada mais extenuante do que alguns abdominais, uns polichinelos, uma corridinha ao redor das quadras e algumas séries de saltos. Quando a água, quase fria, caiu sobre seu corpo ele sentiu como se ela estivesse apagando o fogo que queimava sua pele. Ensaboou-se lentamente, usufruindo cada segundo debaixo daqueles jatos refrescantes. De repente, aquela dor voltou, mais intensa e como uma fisgada que varou suas entranhas. Ao mesmo tempo, viu que a água que escorria para o ralo estava tingida de sangue. Sangue que saia do meio de suas pernas, daquela fenda longa que estava abaixo de seu pau. Ele soltou um grito tão desesperado que assustou os poucos remanescentes que ainda estavam no vestiário. Eles acorreram aos chuveiros e viram Daniel segurando o pinto entre as mãos e o sangue escorrendo por suas coxas. O professor foi chamado às pressas e dispersou os curiosos. Quando tocou nos ombros do garoto ele estava em pânico e histérico. Tratou de acalmá-lo e, enquanto pedia a ajuda de outros professores para levarem-no a um pronto-socorro, não conseguia acreditar no que estava vendo. Um garoto estava tendo a menarca aos treze anos.
Quando João e Cristina chegaram ao pronto-socorro, Daniel estava petrificado numa maca numa saletinha reservada. O médico que os atendeu explicou a situação e, ao inteirar-se da história pregressa do garoto, sugeriu que ele fosse examinado por um especialista e que fossem levados a cabo aqueles exames que tinham sido deixados por fazer lá no passado. João encarou-o com desprezo e disse que ninguém mais ia extorquir um centavo dele, colocando em dúvida o sexo de seu filho.
Um silêncio incômodo sobre esse assunto reinou por toda a casa durante um mês inteiro. Ninguém ousava tocar na delicada questão. Tudo foi voltando ao normal, exceto para Daniel, que mal tinha a atenção dos pais. Chorava todas as noites quando estava recolhido em seu quarto até que o cansaço o vencesse e ele caísse num sono agitado.
- Eu sempre te avisei. Vigia esse moleque. Mas, essa sua moleza de mãe sempre fez vista grossa quando o garoto sentava de perna cruzada, caminhava feito uma gazela ou deixava os cabelos crescerem parecendo uma menina. Olha no que deu! – exasperava-se João, fazendo questão de ignorar todas as informações que ouvira do geneticista.
- Deixa de ser besta homem! Você ouviu o que o especialista falou. Você com essa sua teimosia é que tentando criar um menino que provavelmente nunca vai ser um homem. Não venha colocar a culpa de ele ser assim para cima de mim. – protestou Cristina.
Sem saber o que fazer, Daniel seguia suportando sua sina. Vestia-se como um garoto e, quase nunca se olhava no espelho. Aquela imagem que ele via refletida não lhe pertencia. Sua cabeça era feminina e o que estava diante dele era um corpo que nada tinha haver consigo. Todo esse tormento pelo qual passava nunca diminuiu seu amor pelos pais e pelo irmão, que de uns tempos para cá vinha evitando ser visto em sua companhia. Insegurança de adolescente.
Daniel saía da escola e ia ajudar o pai na oficina, por imposição deste. Segundo João, um ambiente onde só costumavam circular machos era melhor influência que os temores e cuidados excessivos de uma supermãe. Ele se encarregava de entrar em contato com as lojas de autopeças para fazer as cotações das peças que o pai precisava para um cliente, atendia ao telefone, fazia pequenos serviços no escritório que ficava num mezanino da oficina e, ajudava na faxina e organização das bancadas de trabalho. Daniel era prestativo e em pouco tempo angariou a amizade dos clientes mais assíduos. Os mecânicos que João havia contratado para auxiliá-lo na oficina também se davam muito bem com ele, e gostavam de seu bom humor e seu sorriso fácil.
Um desses mecânicos era Marcos, um jovem de vinte anos com mais testosterona circulando nas veias do que neurônios no cérebro. Ele chegava, todas as manhãs, vindo de uma academia perto de casa, onde costumava madrugar depois de ter jogado goela abaixo uma jarra de liquidificador cheia de ovos crus, aveia, frutas e o que mais lhe desse na veneta, acrescido de uma dúzia de comprimidos que comprava aos quilos em lojas de energéticos e vitaminas. Trajava quase sempre um jeans apertado e uma camiseta sem mangas que deixava exposto o resultado de tantas horas na academia, uma montanha de músculos. Logo que João o contratou, ele sentiu uma atração irresistível pelo filho do patrão. Ao final da primeira semana os dois pareciam ser amigos de longa data. Havia algo naquele nariz pequeno e ligeiramente arrebitado, naqueles olhos amendoados cercados por cílios longos, naquele rosto imberbe de traços suaves e, principalmente, naquela bunda carnuda do garoto que deixava Marcos com os pensamentos agitados na cabeça. Daniel, depois daquele sangramento no vestiário da escola, não conseguia mais controlar aquele furor que se instalava entre suas coxas toda vez que via um homem que o interessava. E, o peitoral largo que se exibia através dos botões propositalmente desabotoados do macacão de trabalho, juntamente com todos aqueles músculos gingando sob a pele morena, quando estava apertando parafusos ou manipulando habilmente as ferramentas dentro do capô dos automóveis, eram imagens que brotavam em seus sonhos noturnos enchendo-o de tesão. João via que o filho não desgrudava o olhar daquele macacão aberto e, quando estava no alcance do garoto, dava-lhe um tapa na cabeça, enquanto reclamava com o empregado sobre aquela pouca vergonha.
- Olha a compostura seu Marcos! Não quero ver funcionário meu andando seminu na frente dos clientes. Está com calor, vá tomar uma ducha! E trate de manter esses botões fechados. Dá até para ver o bagulho por essa abertura! – exagerava, repreendendo o narcisismo do funcionário.
Toda vez que João precisava se ausentar da oficina por alguma razão, Marcos tratava de subir ao mezanino para dar umas chavecadas em Daniel que, ainda tímido e desconfiado, não sabia como lidar com todo aquele assédio. O que ele sabia, era que seu coraçãozinho disparava quando aquela fala mansa, entoada numa voz grave e aquele olhar concupiscente pousavam sobre ele. Não demorou a que o primeiro beijo entre eles desse novo rumo àquela amizade. Ele aconteceu num final de tarde. O expediente havia se encerrado e as portas já haviam sido descerradas. Os mecânicos haviam trocado seus uniformes de trabalho e, devidamente limpos e trajando suas roupas comuns, aguardavam até que todos estivessem prontos para seguir rumo a suas casas. João estava preso num engarrafamento e tinha ligado avisando para que Daniel o esperasse para irem para casa juntos. Marcos viu nisso a oportunidade de ficar a sós com o mancebo que vinha lhe roubando a tranquilidade. Esperou até que todos saíssem, abriu o último botão que já estava próximo à virilha e subiu, ligeiro, as escadas. Daniel estava sentado diante do computador atualizando umas planilhas que ajudavam o pai a controlar melhor as atividades da oficina. Logo de cara, nem reparou no amigo que se aproximou sorrateiro as suas costas. Só sentiu a presença dele quando a respiração morna começou a roçar a pele de sua nuca e, aquele cheiro de suor e graxa começou a entrar em suas narinas.
- Oi! Pensei que já tinha ido com os outros. – exclamou, quando se virou para encarar o amigo. – Meu pai pediu para que o esperasse, está retido no trânsito. – revelou.
- Não quis te deixar sozinho. – a voz era a mesma que ele usava nos elogios constantes que dirigia a Daniel. Era a mesma que ele sabia ter o poder de deixar o garoto completamente ligado nele.
- Obrigado! Mas não quero que perca seu tempo comigo. Já sou grandinho e sei me cuidar. – disse Daniel, contente por estar tão próximo daquele corpanzil sarado.
- Ficar com você nunca é perda de tempo. Pelo contrário, gosto de ficar ao seu lado. – era preciso garantir que ele confiasse plenamente nele antes de passar para as etapas seguintes.
- Também gosto da sua companhia! – confessou Daniel.
Só então ele notou que no fundo daquela abertura do macacão havia um chumaço adensado de pelos que partia da barriga do Marcos rumo a um desconhecido que o atraiu imediatamente. Marcos atirou-se sobre um sofá surrado que estava ao lado da mesa onde Daniel estava e abriu amplamente as pernas. O contorno das coxas grossas apareceu sob o tecido e, ele enfiou descaradamente a mão na abertura e deu uma ajeitada no caralho. As mãos de Daniel chegaram a sentir uma comichão, de tanto desejo de estarem elas alisando aquela pica. Marcos sentiu as vibrações que começaram a assolar Daniel.
- Sabe que eu sonho com um beijo seu! – disse Marcos, num arrojo estudado para não assustar o garoto.
- Que isso! Para de me alugar! – respondeu Daniel, enrubescendo.
- É sério! Não estou tirando uma com a sua cara, juro. Acho a sua boca linda, não dá para ficar impassível diante desses lábios vermelhos, eles mexem comigo, sabia? – o atrevimento ia num crescente.
- Bobagem sua! – retrucou Daniel, acanhado.
- Bobagem, é? Dá só uma olhada nisso. É uma tortura estar tão perto de você e não poder tocá-lo. – sentenciou, tirando a mão de dentro do macacão e deixando que Daniel admirasse a rola a meia bomba embaixo do tecido.
- Bem que o pessoal diz que você é um tarado. – a frase saiu no automático, pois não só o olhar, mas também a mente de Daniel estavam completamente fissurados naquela verga.
- Eu sou tarado por você! Só você não quer enxergar isso, e me deixa assim todo agoniado. Sabia que faz mal o tesão ficar enrustido? Dizem que pode até subir para a cabeça. É assim que você está me castigando. – a isca final estava lançada.
- Eu não estou te castigando! Jamais faria qualquer coisa para te magoar. – era esse aspecto da personalidade de Daniel que Marcos queria atingir, seu sentimentalismo diante de qualquer desvalido ou desgraça.
- Então me dá um beijo! Para provar que não está me castigando.
Daniel sabia que se desse um passo em direção àquelas pernas abertas e aquele peito másculo, não teria mais nenhum controle sobre seus atos, e se entregaria a luxúria daquele macho. Marcos puxou o tronco de Daniel contra o peito e começou a roçar de mansinho os lábios nos dele. Quando o corpo de Daniel tremia em seus braços, ele o beijou com desejo e paixão. Saborearam-se por um bom tempo, as salivas se mesclavam, os corpos premiam-se um contra o outro, afagavam-se com carícias cuidadosas, ansiavam por algo mais urgente que o simples toque, tinham fome um do outro. A pica do Marcos estava tão alvoroçada que a cabeçorra apontou pela abertura do macacão. Daniel sentiu o cheiro viril que o pré-gozo exalava e sentiu-se tentado a tocar naquele membro colossal. Tocou-o com suavidade, como se qualquer precipitação de sua parte pudesse causar qualquer transtorno àquela bela anatomia. Enquanto a ponta de seus dedos tateava delicadamente por toda extensão do cacete, sentindo cada veia latejando intrépida com o afluxo de sangue que ia aquecendo a pele dele, Marcos abria mais as pernas e descerrava o macacão para que todo seu sexo ficasse exposto e a mercê de Daniel. Impaciente com o zelo e o temor de Daniel diante daquele cacetão, Marcos o segurou pelos cabelos e trouxe o rosto do amigo para junto de seu falo. A proximidade daqueles lábios carnudos fez com que mais pré-gozo aflorasse da cabeçorra. Daniel a levou a boca e estremeceu todinho quando sentiu o sabor daquele macho. Sugou aquele néctar com avidez, ouvindo os sons roucos que brotavam diretamente da garganta do Marcos.
- Não para! Chupa minha rola, chupa. – implorava, deleitando-se com aquela boquinha quente sorvendo seu tesão.
Marcos libertou seu torso do macacão, e o olhar cada vez mais excitado de Daniel fixou-se naqueles músculos que ele tanto admirava. Estavam ali ao alcance de suas mãos, desejosos daquele contato. Marcos puxou a camiseta de Daniel pelo pescoço, acariciou as costas dele, mas focado unicamente no início do reguinho que submergia do cós do jeans de Daniel. Meteu a mão lá dentro e sentiu a pele aveludada daquela bunda roliça. Pediu que Daniel abrisse o jeans e, com ambas as mãos, desceu a cueca e a calça simultaneamente. A bunda mais perfeita e imaculadamente alva que já tinha visto emergiu, lasciva e assanhada. Ele a amassava com suas mãos ásperas e brutas, extraindo gemidos de Daniel que ainda tinha sua rola na boca. Marcos tomou Daniel nos braços, não imaginava que aquele corpo escultural fosse tão leve e delicado, deitou-o no sofá e começou a chupar os peitinhos que iam se enrijecendo com sua voracidade safada. Aos poucos, foi abrindo as pernas de Daniel, puxou-o até a beirada e começou a lamber aquele reguinho liso, onde apenas um corrugado rosadinho se movia como se xuxasse o ar a sua volta, ou como se quisesse que qualquer coisa ao redor o penetrasse. Marcos não se importou com aquela coisa bizarra que estava entre as pernas de Daniel, algo como uma pica minúscula e um protótipo de escroto, algo tão surreal quanto inusitado. Aquilo em nada o desestimulava de ter aquele corpo em seus braços, de estremecer com aquelas carícias que Daniel lhe dedicava, com o desejo de ter aquele ser tão cativante ao dispor de sua gana. Quando Marcos se posicionou em pé diante de suas pernas abertas e de seu cu desprotegido, Daniel teve a dimensão daquele macho e as intenções dele tão aclaradas que, pela primeira vez, acanhou-se diante dele.
- Não vou te machucar! Se doer você me diz que eu paro. – sussurrou, contendo sua tara.
O cuzinho de Daniel piscava e roçava provocadoramente sua glande apontada contra a portinha exposta. De nada lhe valeram naquele momento as visitas aos puteiros que fazia desde os dezesseis anos, nem o oferecimento de uma vizinha que lhe concedia todo tipo de satisfação carnal quando o marido, um representante comercial, estava viajando e, muito menos, o assanhamento das garotas que, diante de seu porte másculo, ofereciam suas xoxotas molhadas, esfregando-as em suas coxas grossas, nos bailinhos que frequentava. Ele estava frente a frente com o que mais queria, com a pessoa que mais tinha despertado em seu peito um desejo não só de acasalamento, mas de completude, de amor. Temeu falhar. Mas, quando viu aqueles olhos amendoados cintilando e aprovando cada gesto seu, ele forçou a pica contra o cuzinho e sentiu aquela musculatura espástica se fechando ao redor de seu falo, recebendo-o com a mansidão de um regaço protetor. Daniel soltou um grito convulso ao sentir seu cu se rasgando e aquela carne pulsando indômita entrando em seu corpo. Aquele olhar fixo em suas reações lhe deu motivos para saber que estava seguro e, que aquele macho, apesar de enorme e abrutalhado, não estava querendo outra coisa que não o seu acalento. Amaram-se por tanto tempo que seria impossível contabilizar, pois tinham sido transportados para um Éden só deles. O movimento cadenciado da pelve de Marcos contra seu cuzinho provocava uma dor que se diluía em suas entranhas preenchidas por aquele caralhão que cutucava cada milímetro de sua mucosa anal. Era o que de mais sublime Daniel já tinha sentido. Entregou-se plena e irrestritamente. Durante essa entrega, sentiu brotar de seu interior uma umidade que, aos poucos, aflorou pela mesma fenda onde perdia sangue tão irregular e desconfortavelmente, de tempos em tempos, que não se podia chamar aquilo de menstruação, embora o fosse, ou algo parecido. Marcos sentiu seu cacete tão sensível que mal podia movê-lo, um espasmo comprimiu toda sua virilha e, urrando com o prazer que aquilo lhe causava, gozou naquele cuzinho morno, tão farta e delirantemente que se sentiu o ser mais gratificado desse mundo. Seus corpos haviam escorregado até o chão, Marcos estava sobre Daniel e recebia seus beijos amorosos e não queria que aquele momento acabasse. Só se soltaram quando ouviram um carro estacionando diante da oficina. Arrumaram-se às pressas e, quando João chegou ao mezanino, nem percebeu o cheiro de sexo que ainda pairava no ar.
Desde aquele dia passaram a se encontrar com frequência. Transavam na oficina após o expediente quando isso era possível, encontravam-se nos finais de semana e Marcos colocava Daniel na garupa de sua motocicleta saindo, sem rumo, até encontrarem um local deserto para se amarem longe de curiosos e preconceituosos. Haviam encontrado uma maneira de viver aquela paixão.
Tudo ia bem até que, num domingo frio e chuvoso de inverno, quando João e Cristina tinham ido visitar uns parentes que residiam em Campinas, e o irmão de Daniel tinha ido se encontrar com uma garota pela qual andava arrastando as asas; acharam que estariam seguros no quarto de Daniel. Marcos estava tão fissurado por ter se passado quase uma semana sem que ele enfiasse seu caralhão no cuzinho de Daniel que foi logo o arrastando para a cama. Daniel aprendera a conviver com aquele fogo que se apoderava de seu amado e, ele mesmo, não conseguia ficar muito tempo sem sentir aquele macho engatado dentro dele. A prudência foi posta de lado em nome da urgência que ardia em seus corpos. Um defeito no carro obrigou João a rebocá-lo até a oficina e retornar para casa antes de terem chegado a Campinas. O casal, contrafeito com a frustrada viagem, entrou em casa e foi surpreendido pelos gemidos alvoroçados que vinham do quarto do filho. Ao abrir a porta, João encontrou Daniel de quatro com as pernas apartadas e Marcos estocando sua jeba colossal do cu do filho que gania feito uma cadela de rua sendo enrabada por uma matilha de vira-latas.
- Filho da puta! Desgraçado! – berrou histérico, partindo para cima do Marcos, aos socos.
Nem o flagrante e nem os socos fizeram a pica amolecer, sacou-a do cuzinho de Daniel, rija e inconformada, para se defender da agressão. Desferiu uma série de socos no patrão revidando com a mesma fúria com a qual estava sendo atacado. Daniel que gritava por estar sendo enrabado, agora berrava de desespero e medo pelo que pudesse acontecer com aqueles titãs se digladiando em seu quarto. Meteu-se entre eles e foi esmurrado, mas conseguiu que Marcos alcançasse suas roupas e se evadisse.
- Viado, filho da puta! Nunca conseguiu ser macho e agora está acabando com a reputação da família. – João, encolerizado, esbofeteava o filho sem dó nem piedade. Tirou a cinta e açoitou o corpo nu que tentava se proteger por todos os meios. Teria acabado com Daniel se a mãe não implorasse clemência.
Marcos, ameaçado de morte pelo patrão, que o intimidou na presença de dois sujeitos cuja fama era conhecida e temida por todo o bairro onde a oficina estava instalada, foi demitido e desapareceu. Daniel, que nunca tinha sido compreendido pela família, passou a ser encostado como um objeto inútil e até incômodo. Tinha voltado a trabalhar com o pai na oficina, mas qualquer olhar de um cliente ou uma brincadeira de algum funcionário, reacendiam no pai aquela cólera que o levava e ser surrado até se mijar nas calças. Tinha se tornado impossível continuar a viver com a família. Por sorte, ele estava com dezessete anos e concluiria o ensino médio no final daquele ano. Daniel estava determinado a entrar numa faculdade longe de São Paulo e estava se desdobrando nos estudos, uma vez que nada mais havia que o distraísse, para conseguir uma vaga numa universidade pública onde também pudesse residir, já que não podia contar com o apoio financeiro dos pais.
Daniel tinha se saído muito bem no exame nacional do ensino médio e sua nota o habilitava a uma vaga na Universidade Federal de Viçosa, distante quase setecentos quilômetros de São Paulo, o suficiente para viver sua vida sem o jugo opressor do pai. Optou pelo curso de agronomia que era uma referência da universidade. Mudou-se num janeiro tórrido e chuvoso para um dos alojamentos da universidade. Embora precário e bastante simples, teria que dividir o espaço com outros três estudantes, mas isso não o impediu de se arriscar em mais essa empreitada. Ele ainda não sabia como seria a reação dos outros estudantes quando soubessem de sua condição peculiar e, nem bem como revelaria essa condição. Do que ele tinha certeza é que precisava fazê-lo, pois a descoberta acidental poderia gerar reações intempestivas. Estava acostumado a esse tipo de reação desde que se conhecia por gente, e não queria ter que enfrentar uma batalha se essa descoberta fosse feita sem um devido preparo psicológico dos outros estudantes que conviveriam com ele.
Encheu-se de coragem numa noite em que os outros voltaram um pouco alterados depois de uma das inúmeras baladas que aconteciam aos finais de semana na cidadezinha, ainda no primeiro semestre. Ou o nível alcoólico que encharcava seus cérebros, ou o fato das coisas inusitadas perturbarem menos a juventude universitária, o fato é que, depois de um silêncio, algumas perguntas visando esclarecer a curiosidade de cada um, eles não fizeram daquilo um cavalo de batalha, como Daniel havia imaginado. Poucas semanas depois, foi como se ele nada tivesse dito de tão extraordinário que os impedisse de continuarem o bom convívio que tinham estabelecido. Alguns mexericos aconteceram, como seria de se esperar, uma vez que a capacidade de guardar um segredo nunca foi o forte do ser humano. Alguns gracejos começaram a pipocar daqui e dali, vindos de algumas pessoas de sua turma, essencialmente masculina, dado o caráter da profissão. Lidou com eles da mesma maneira que tinha feito sua vida toda, ignorando-os na medida do possível. Mesmo porque não passavam de gozações sem muito lastro de verdade, uma vez que ninguém tinha posto os olhos sobre a sua genitália, nem mesmo os que moravam com ele no alojamento.
As zoações que mais o incomodavam, ou pela persistência, ou pelo fato de partirem de dois estudantes de sua turma, cuja atenção logo lhe caiu nas vistas, por serem dois primos que tinham aquele mesmo porte físico que mexia com seus hormônios desde que conhecera Marcos. Pedro e Fernando eram primos e filhos de fazendeiros da região do triangulo mineiro. Tinham uma condição social muito diversa de Daniel. Talvez por conta disso estivessem mais empenhados em curtir a vida longe do controle dos pais do que em se dedicarem aos estudos. Ambos dividiam um apartamento num dos melhores condomínios da cidade, cada um tinha uma picape reluzente do ano e, não poupavam nos barzinhos da cidade, onde noitadas regadas a chopp e, garotas penduradas em seus pescoços, só terminavam com o raiar do dia. Pedro foi o primeiro a reparar na beleza e no encanto que Daniel provocava nas pessoas, induzindo o primo, que também acabou por ter sua atenção voltada para aquele corpo um tanto andrógino, mas indiscutivelmente lindo. O bullying começou com os boatos que circulavam sobre Daniel, pois até então ambos o tratavam normalmente, até mesmo com certa indiferença, uma vez que ele não pertencia ao círculo de amizades deles.
Daniel tinha conseguido um bico no barzinho mais famoso da cidade. Nas noites de sexta-feira a domingo ele preparava drinques atrás do balcão concorrido do barzinho. Isso o tinha colocado na berlinda, uma vez que quase todo o campus universitário passou a conhecê-lo. A beleza, que estava cada dia mais evidente, e os mexericos acendiam todo tipo de sentimento sobre sua pessoa. Uns o amavam, outros o odiavam e, outros ainda, não sabiam como lidar com o que ele despertava neles. Talvez Pedro estivesse nesse último grupo, bem como seu primo, por consequência. Os dois eram movidos a disputas. Um tentava superar o outro com as mais estapafúrdias façanhas, tinham crescido assim. Ao mesmo tempo em que essas disputas os tornavam mais afeitos do que irmãos, havia ocasiões em que quase chegavam às vias de fato.
- Vamos apostar cinco mil reais para ver quem vai comer o cuzinho daquela bichinha de primeiro? Aposto que ganho. E mais, que tiro umas fotos com o celular na hora que estiver enrabado aquele tesão de bunda e coloco na Internet. – desafiou Pedro, quando faziam comentários, numa rodinha de amigos e garotas, ao redor de uma mesa onde quase não cabia mais nada de tão abarrotada de garrafas de cerveja.
- Duvido! Não pense que ele é daquele tipo de viado que sai dando para o primeiro cacete que aparecer. Dizem que ele é jogo duro. Já teve uma porrada de malandro querendo comer aquela bundinha e, que se deu mal. – retrucou Fernando.
- É uma questão de cantada! Os trouxas não souberam levar o lero certo. Olha só, me diz se essas ancas não estão pedindo por um cacete? Cada uma das metades ginga dentro das calças como que suplicando, me arromba, me arromba. – zoou, ao ver Daniel colocando uns drinques que havia preparado sobre a mesa ao lado da deles.
- Fechado! Você com sua boca suja não tem a menor chance. É só ver o jeitinho dele, todo sério e recatado. Essa eu ganho fácil, fácil. – apostou Fernando.
O empenho de ambos começou no dia seguinte. Pedro valeu-se da tática de estar com dificuldade para acompanhar a disciplina de cálculo para se achegar a Daniel, que era um excelente aluno em todas as disciplinas, pois de seu desempenho dependiam os auxílios que recebia do programa de assistência estudantil.
- Cara, parece que o professor está falando chinês, não estou entendendo absolutamente nada e já me ferrei no bimestre passado. Qual é o jeito de a gente aprender essa porra? Você teve a maior nota da turma na prova passada, me dá umas dicas. – desembuchou Pedro, todo amável e sorridente, num dos primeiros papos que levava com Daniel desde o início do curso.
- Não tem muito mistério. Precisa prestar atenção nas aulas, anotar o que o professor fala e fazer uma revisão antes das provas. Pelo menos é assim que eu faço. – respondeu Daniel, um tanto desconfiado daquela aproximação repentina. Tendo ainda frescas em sua memória as últimas tiradas de sarro dele.
- Você falando parece fácil, mas eu não estou conseguindo melhorar meu desempenho desse jeito. – mentiu, pois nunca sequer pensou em anotar nada do que era dito em aula, e nem se deu ao trabalho de abrir um livro que fosse para estudar antes das provas. O que ele queria era comover o colega que sabidamente não se negava a ajudar ninguém. – Você podia me dar uma força revisando o conteúdo comigo, na biblioteca ou lá em casa, o que for melhor para você, por favor! – usou de todo seu cinismo para fazer aquela cara de cão sem dono.
- Tenho pouco tempo. Não sei se consigo te ajudar. Por que você não conversa com a Monica, ela também foi super bem na prova passada? – argumentou, tentando se livrar dessa tarefa ingrata.
- Ela é meio esnobe. Não vai com a minha cara. Pô, me dá essa força, cara? – Pedro se não era bom aluno por pura falta de interesse, era pós-graduado em cinismo, a cara de pau dele era infalível.
- Me desculpe, cara, mas eu realmente não tenho tempo para tirar umas horas e te ensinar. Trabalho naquele barzinho, você bem sabe, nos finais de semana, e tenho um monte de coisas para fazer durante a semana. – a conversa já estava durando mais do que Daniel desejaria, e tentou encerrá-la.
- Me diz o que eu posso fazer para te ajudar. Faço qualquer coisa. Assim você fica com um tempinho e a gente ajuda um ao outro. Fala que topa, vai! Vou te buscar de carro, te levo de volta, faço o que você mandar. – cada argumento valia, afinal estavam em jogo cinco mil reais.
- Não é isso. Olha, só para você não dizer que estou de má vontade, quando eu for revisar a matéria eu te aviso, e a gente combina alguma coisa, OK? – era ceder ou, ficar horas ali contra argumentando. Assim que tinha se afastado um pouco de Daniel, Pedro cerrou o punho e deu um soco no ar, comemorando. Tinha dado o primeiro passo para enrabar aquele cuzinho.
Fernando foi menos performático. A sorte também parecia estar conspirando a seu favor. Uma chuva torrencial despencou justamente no final da aula de fundamentos de química orgânica. A bicicleta com a qual Daniel se deslocava pelo campus estava engatada no bicicletário diante do edifício dos laboratórios. Chegar com ela até o edifício dos alojamentos significava encharcar-se até os ossos.
- Quer uma carona? – a voz rouca e grave veio pelas suas costas quando já estava perto da porta de saída. – Colocamos sua bicicleta na caçamba e eu te deixo no alojamento, pois, pelo visto, parece que essa chuva vai demorar a passar. – a gentileza não era forçada, mas continha algo de estranho que Daniel não conseguiu decifrar.
- Se não for te desviar do seu caminho, eu aceito. Valeu! – agradeceu, com um daqueles seus sorrisos que os amigos diziam serem capazes de derrubar muralhas.
- É meu caminho, vamos? Numa boa! – retrucou Fernando.
A distância a ser percorrida mal passava dos três quilômetros, tempo que Fernando usou para se aproximar de Daniel com um papinho descontraído e simpático, que acabou por tirar dele aquela impressão pouco favorável que fazia de Fernando. Mesmo com a carona, ambos ficaram molhados enquanto tiravam a bicicleta da caçamba e a prendiam no bicicletário. Vendo que a camisa de Fernando estava colada ao corpo de tão encharcada e que seus cabelos pingavam como uma goteira, Daniel convidou-o a subir e se secar antes de ir para casa. Nada podia estar dando mais certo, pensou Fernando, e aceitou o convite. Um dos estudantes que moravam com Daniel estava de saída no exato momento em que este destrancava a porta.
- Nossa! A coisa está tão brava assim aí fora? Vocês estão ensopados! Será que esse guarda-chuvinha vai dar conta? – inquiriu o rapaz que saía.
- Pode se preparar! Está caindo um toró. – respondeu Fernando.
Entraram no apartamento e Fernando se chocou com o que viu. Tudo estava relativamente bem arrumado e limpo, mas era de uma simplicidade paupérrima diante dos lugares que conhecia como moradia. Não disse nada, mas seu silêncio foi o suficiente para que Daniel percebesse o que se passava por sua mente.
- É bem simplão. Meus pais quase não me mandam grana. Dependo do auxílio moradia da universidade, mas dá para levar. Estou aqui para estudar e me formar e não passando férias, não é? – o tom sincero e singelo das palavras dele refletia o que se passava em sua alma.
- É claro! – enquanto as palavras de Daniel ainda ecoavam em seus ouvidos, Fernando pensou em sair dali e dizer ao primo que estava desistindo da aposta. Aquele coração exposto nestas poucas frases, certamente não merecia ser vítima do ardil abjeto que ele e o primo estavam tramando.
- Pendura a camisa naquele varal, vou pegar uma toalha para você. – disse Daniel, sumindo por uma porta.
- Valeu! – o olhar do Fernando continuava varrendo cada canto daquele apartamento.
- Toma! Vou fazer um chá, você quer? – ofereceu Daniel, estendendo uma toalha e se dirigindo ao pequeno balcão que servia de cozinha, sem se importar com aquela mudez repentina.
- Aceito, obrigado. Mas, não precisa se incomodar. – subitamente ele teve vontade de continuar conversando com aquele garoto que acabara de despertar nele um interesse inusitado.
Eram quase nove horas da noite quando a chuva começou a amainar. Durante horas eles haviam conversado sobre uma porção de coisas e nenhum dos dois sentiu o tempo passar. Fernando tinha conseguido colocar alguns sorrisos naquele rosto lindo e, só então, se deu conta de que nunca tinha visto um naquela face.
- Acho que a camisa já secou, vou indo. Obrigado pelo chá! – disse, cobrindo o torso nu para tristeza de Daniel que, do início acanhado, tinha se sentido recompensado pela visão daquele tórax viril e potente.
- Eu que agradeço a carona e lamento ter feito você perder tanto tempo. – retrucou Daniel.
- Ganhei meu dia. Foi muito gostoso conversar com você. Eu que agradeço. – revidou, encarando aqueles olhos expressivos, e sem vontade de partir. – Ficou tarde e nenhum de nós jantou, topa ir comigo até a lanchonete do Denis? Assim a gente continua nosso papo. – convidou.
- Já está tarde. Tenho aula no primeiro horário, e você também, não se esqueça. – respondeu, embora estivesse com vontade de continuar naquela companhia interessante.
- Tarde nada! A gente não demora, come alguma coisa, rapidinho, e eu te trago de volta. Deixa de desculpas e vamos embora! – disse, pegando Daniel pelo braço e o arrastando até a porta, sem deixar de notar que aquela pele tinha a temperatura exata para despertar uma coisa boa nele.
Depois de deixar Daniel de volta ao alojamento, Fernando voltou para casa e, numa conversa rápida com Pedro, abordou a questão da aposta e a perspectiva de desistirem dela. Ele já não se sentia tão indiferente a Daniel e, a possibilidade de causar alguma mágoa o incomodava.
- Se você arregar está me devendo cinco mil, aposta é aposta. – respondeu Pedro, convencido de que, de qualquer maneira, a aposta estava ganha.
- Acho uma disputa ridícula, feita sob o efeito de um bocado de cervejas e que pode ferir os sentimentos do Daniel. – retrucou Fernando.
- É só uma bicha, cara! Você acha que vai melindrar uma coisa daquelas? Aquilo é mais safado do que você e eu juntos. – argumentou Pedro.
- Não dá para conversar com você! Um dia desses você acaba se ferrando por ter atitudes como essa. – ponderou Fernando.
- Você sabe que vai perder a aposta para mim, é por isso que vem com esse papinho.
Enquanto Pedro inventava uma estripulia atrás da outra para conseguir seu intento junto a Daniel, nada dava certo. Ao contrário, parecia que ele ficava cada vez mais desconfiado e arredio com as propostas que Pedro lhe fazia. Com Fernando a coisa era totalmente diferente. Os encontros com ele sempre eram leves, traziam uma alegria que Daniel só tinha sentido nos braços de Marcos, por conta disso estava crescendo entre eles uma amizade que se consolidava dia-a-dia.
Pedro não estava gostando nem um pouco dessa amizade não programada. Percebeu que estava perdendo terreno e que o primo estava cada vez mais próximo de conseguir comer aquele cuzinho. Às vezes, se perguntava se já não o tinha feito e estava escondendo o fato. Depois, refletia e chegava à conclusão de que ele não se calaria se tivesse ganhado a aposta. Pressionado por essa dúvida, resolveu que havia chegado a hora de usar métodos mais drásticos, pois o segundo semestre estava terminando e aquilo não estava resolvido. O bando de colegas que tinha testemunhado o acordo dos primos também mantinha a coação sobre Pedro, uma vez que sabiam ser ele o menos escrupuloso quando se tratava de levar adiante uma brincadeira de mau gosto. Como todo ser humano tem aquele lado sarcástico implantado em seu subconsciente, eles queriam ver o circo pegando fogo, e pressionavam Pedro a tomar uma atitude.
Algumas festas no campus da universidade eram contempladas com a presença de algum cantor ou banda famosos, e sempre movidas a muita droga e bebida. Um desses shows estava para acontecer em duas semanas e Pedro decidiu que a hora era aquela. Teria que atrair Daniel até o show, coisa que não ia requerer muito esforço, uma vez que os estudantes gostavam desses shows, e batizar alguma bebida e servi-la a Daniel. Daí para frente seria fácil alcançar seu objetivo. Não era fácil atrair Daniel para o seu lado, mas a presença do primo facilitou tudo para ele. Ultimamente Daniel nutria um interesse crescente pelo Fernando, podia-se dizer que aquilo já era tesão, e gostava de estar na companhia dele, mesmo que para isso tivesse que aturar aquele mala do Pedro. Após relutar um bocado, pois não tinha o hábito de beber bebidas alcoólicas, Daniel aceitou aquele drinque que Pedro fez questão de pagar para toda a galera do grupinho. Ingeriu aquilo sem vontade e, indiferente ao sabor da bebida, não se deu conta de que estava batizada. A dose, sem trocadilho, cavalar que colocaram no drinque fez com que Daniel logo se desinibisse e entrasse num estado psicodélico. Tudo o que estava reprimido em seu subconsciente desabrochou e ele sentiu que podia viver uma vida de puro gozo e prazer. Tanto aquela fenda, pouco explorada e disforme que estava entre suas coxas, quanto o cuzinho, que lhe tinha proporcionado as melhores experiências da vida, estavam tão ouriçados que ele mal se continha. Pedro era um macho atraente, vigoroso, o volume que trazia entre aquelas pernas grossas, e sempre muito abertas, quando ele caminhava já tinha sido alvo das observações de Daniel. No auge do delírio, com a cabeça rodando e a visão enxergando as mais loucas imagens que já tinha visto, Daniel amparou-se entre aqueles bíceps parrudos e deixou que eles o transportassem. Nada foi mais idílico do estar aconchegado neles, foi a última coisa de que se recordava quando acordou num quarto estranho, estirado completamente nu sobre uma cama de motel. Seu corpo não queria obedecer aos comandos emitidos pelo cérebro, só a muito custo conseguiu se mover e, ao fazê-lo, viu que estava deitado ao lado do Pedro, também nu, ressonando de sono. Uma dor transfixante vinha do meio de suas coxas, tanto do cuzinho quanto daquela fenda. Ele estava úmido e havia manchas de sangue no lençol. Todo o leito tinha cheiro de porra, e ele sentiu vontade de vomitar. Engatinhou em direção a uma porta que lhe pareceu ser um banheiro, pois não conseguia manter-se em pé. Todo conteúdo bilioso que estava em seu estômago foi lançado numa golfada dentro do vaso sanitário, sobre o qual se debruçou e, sem forças, deixou-se apoiar por um longo tempo. Alcançou o chuveiro com o restante das forças que lhe restaram, e começou a lavar toda aquele umidade que não lhe pertencia do meio das coxas. Pedro entrou no banheiro enquanto a água tépida escorria por seu corpo entorpecido. Pegou no caralhão e mijou sonoramente no vaso. Sem dizer uma palavra, caminhou em sua direção e também se enfiou debaixo dos jatos fortes da ducha. Abraçou Daniel pela cintura e esfregou o cacetão, com aquela tensão priápica do acordar matinal, em suas nádegas.
- Nunca imaginei que você fosse tão fogoso! Cara, que cuzinho apertado é esse? Gozei pra caralho! – gorgolejou numa voz que ainda não havia acordado.
- Tire as mãos de mim! Por que estamos aqui? O que você fez comigo? – nem as palavras tinham força para deixar a garganta de Daniel.
- Fiz o que você me pediu. Você mal conseguia se controlar pedindo para eu te foder. Foi o que eu fiz. Só me explica uma coisa, que troço é esse aí na frente, no meio das suas coxas? Cara, nunca vi um troço desse antes, mas como tinha onde se alojar, minha rola não perdeu tempo. – sentenciou despretensioso.
- Você é nojento! Eu nunca que ia te pedir uma coisa dessas. Eu te odeio! – esbravejou Daniel, cerrando os punhos e desferindo-os contra aqueles bíceps sólidos como uma rocha.
- Ei, ei! Calma aí. Não vai querer dar uma de puritano agora. Ontem você arregaçou essas pernas e implorava para eu entrar aí dentro. – revidou Pedro, exasperado, apontando para os genitais de Daniel.
Um choro convulsivo sacolejou todo o corpo de Daniel. Algumas imagens perdidas em sua mente, sem nenhum nexo de continuidade, realmente confirmavam as palavras de Pedro. Aquele mesmo cacetão que estava agora diante dele, numa flacidez repousante, tinha pairado diante de seu rosto e, ele lembrava-se de que o tinha colocado na boca e sentido toda a masculinidade dele descendo por sua garganta.
- Você não vai começar a fazer drama agora, não é? Que saco! – vociferou Pedro. – Se quiser que eu te deixe no alojamento é bom andar logo.
Não se falaram mais até a picape estacionar diante do edifício dos alojamentos e Daniel descer caminhando com dificuldade até as escadarias da entrada. Não se virou quando ouviu o ronco do motor desaparecendo gradualmente.
Pedro chegou em casa e deixou-se cair sobre o sofá, o couro rangeu sob seu corpo. Tirou o celular do bolso e abriu as últimas imagens. Uma sequência de fotografias, bastante nítidas, comprovava sua aventura da noite anterior. Ele as reviu uma meia dúzia de vezes. A cabeça da rola começou a coçar e ele ajeitou a pica na calça, ela liberou um tanto de fluído pré-ejaculatório. De repente, aquela convicção de exibir as provas ao primo, de que tinha ganhado a aposta, desapareceu. Sentiu raiva de si mesmo, mas não ia contar a ninguém o que tinha acontecido, ia apenas inventar uma história que fosse plausível. Que se danasse a aposta, que se danassem os outros.
Daniel despiu-se e deitou-se na cama sem abrir a janela e deixar a luz do sol entrar. Ficou feliz por não encontrar ninguém em casa. Teria que mentir para justificar a noite passada fora e seu estado deplorável e, ele não gostava de mentiras. Ele sabia que aquela dor em sua pelve ia passar, tinha sido assim quando fazia sexo com Marcos. Subitamente lembrou-se dele e sentiu que os olhos estavam marejados. A saudade era tanta que ele queria estar nos braços dele agora, mais do que qualquer outra coisa. Sempre fazia isso quando aquela jeba imensa o esfolava deixando sua pelve dolorida. Recostar a cabeça no peito viril do Marcos parecia curar aquela dor mais rapidamente. Sentiu-se só. Pegou no sono e só acordou quando o colega de quarto, mesmo se movendo discretamente, chegou.
- A noitada deve ter sido daquelas, hein? – brincou o colega.
- Que me dera! Estava exausto, ainda bem que estamos chegando ao final do semestre. – respondeu Daniel, que viu a desconfiança do amigo estampada em sua cara, frente ao que estava presenciando.
- Você já decidiu se vai para a casa dos seus pais quando as aulas terminarem? – quis saber o colega.
- Ainda não. Acho que não. Faz quase um ano que estou aqui e ninguém sequer me deu um telefonema. Minha ausência parece ser um alívio para eles. – comentou pesaroso.
- Bobagem! Família é assim mesmo, um porre de aguentar. – retrucou o colega, cujos planos para as férias também não incluíam um retorno ao lar.
Fernando o procurou por diversas vezes nos últimos três dias e Daniel estava conseguindo fugir desse encontro. Sentia-se culpado sem saber por que. No quarto dia o encontro foi inevitável, pois tinham a prova de uma disciplina que cursavam em comum.
- Por onde você tem andado? Estou te procurando há dias? Você não recebeu meus recados? – havia um quê de preocupação na voz de Fernando, e Daniel gostou dessa sensação.
- Trabalhei muito nesse final de semana e ainda fiquei estudando para a prova de hoje. Recebi seu recado sim, mas não te encontrei pelo campus. – respondeu Daniel.
- Poxa! Eu estava preocupado com o seu sumiço. Pensei que íamos estudar juntos. – a sensação de que Daniel podia estar lhe escapando por entre os dedos, surpreendentemente, o incomodou.
- Desculpe! Não queria deixar você preocupado. – o tom dengoso de sua voz logo transformou a cara apreensiva de Fernando num sorriso disfarçado.
- Meu primo anda perguntando por você insistentemente. Está acontecendo alguma coisa entre vocês dois? – perguntou Fernando. Daniel sentiu o chão se abrindo sob seus pés.
- Não! Claro que não! Mal falo com ele. Depois daquela força que dei a ele para a disciplina de cálculo no semestre passado, trocamos meia dúzia de frases, se tanto. – Daniel percebeu que tinha corado e que sua voz tremia e, pior, que isso tinha plantado uma dúvida na cabeça de Fernando.
- Então não consigo atinar com essa persistência dele em saber de você. Tome cuidado com ele. Somos parentes, eu gosto muito dele, mas ele não é flor que se cheire. – concluiu. A suposição de que Pedro estivesse pondo em andamento seu plano agora o irritava.
- OK! Não tenho afinidade alguma com ele, não se preocupe. – era preciso por um ponto final naquele assunto, caso contrário, sua inabilidade para a mentira logo o colocaria em maus lençóis. E tudo o que ele não queria, era explicar que Pedro o tinha fodido por todos os seus orifícios.
Ao ficar sabendo, por um dos colegas de alojamento, que Daniel não iria para a casa dos pais e ficaria em Viçosa, Fernando o convidou para passar umas semanas com ele na fazenda da família em Tupaciguara, município próximo a Uberlândia onde morava. A princípio Daniel relutou em aceitar o convite, pois sabia já há algum tempo que Pedro andava com umas intenções esquisitas, dado que ele vinha demonstrando claramente que estava a fim dele. No entanto, o dono do barzinho onde fazia bico aos finais de semana, já tinha demitido dois funcionários e dito a Daniel que iria reduzir sua jornada durante as férias por conta da queda de movimento que sempre acontecia nessa época. Outro bico que Daniel tinha arrumado para as férias, numa loja de material de construção, só iria começar na segunda quinzena de janeiro. Portanto, ele teria ao menos quatro semanas de ociosidade.
Partiram assim que fizeram as últimas provas do semestre. Fernando apareceu uma hora antes do horário combinado, nem um pouco preocupado que Daniel percebesse sua ansiedade. Daniel também tinha dormido pouco e acordara de madrugada para arrumar sua bagagem, achando que isso fosse minimizar sua inquietação com aquela viagem. Enquanto arrumava suas coisas, foi atormentado por um pensamento inusitado. Pela primeira vez, teve receio de como os pais de Fernando o receberiam. As pessoas costumavam olhar para ele com uma boa dose de preconceito, embora ele tivesse um comportamento normal e discreto. Havia, contudo, uma essência feminina em sua aparência e seus modos que era responsável por essa opinião antecipada que faziam de sua pessoa. Ele vinha lidando com isso desde a infância, mas por algum motivo que desconhecia, desta vez isso o incomodava, a ponto de tirar-lhe o sossego e o sono. Será que esse envolvimento com Fernando não tinha ultrapassado o limite da simples amizade? Por que ele vinha se inquietando tanto quando Fernando se aproximava perigosamente dele e, o calor de seu corpo, ao chegar até ele, provocava um frio em sua barriga? Era isso que estava se passando em sua cabeça quando Fernando bateu à porta. Deixou-o entrar colocando o dedo sobre os lábios para que Fernando não fizesse barulho, pois os outros ainda estavam dormindo. Só que, para sua surpresa, Fernando pisou na sala sem dizer nada, apenas o abraçou e tocou seus lábios quentes perigosamente próximos aos dele, e depois abriu um sorriso maroto.
- Preparado? Temos um bocado de chão pela frente. Com estas estradas mineiras péssimas, vamos chegar lá no final da tarde, se não pegarmos nenhum bloqueio pelo caminho. – disse Fernando, dando um tapa na bunda de Daniel, após ajeitar sua bagagem na caçamba da picape.
- Vamos lá! Quem está na chuva é para se molhar! – exclamou, prevendo que a intimidade iniciada com aquele simples tapa não ia parar por aí. E, isso o preocupava.
Era noite quando chegaram a Uberlândia. Ficaram completamente parados por mais de duas horas na BR-040 devido a um grave acidente e tombamento de uma carreta que bloqueou totalmente a pista. A recepção que os pais de Fernando deram a Daniel foi quase tão afável e carinhosa quanto a que deram ao filho. Muito provavelmente Fernando deve ter preparado os pais quanto a ele, pensou Daniel com seus botões. Já não bastasse estar na casa de estranhos, coisa que ele raras vezes tinha feito na vida, o luxo da casa o deixou ainda mais inibido. Era algo tão diferente daquilo a que estava acostumado que até respirar parecia difícil. Ele nunca tinha sido um bronco, apesar de sua simplicidade. Seus pais o educaram muito bem apesar das dificuldades, e ele nunca tinha feito feio em lugar algum. No entanto, estava apavorado.
Dois dias depois o pavor tinha cedido lugar a uma disponibilidade prestimosa. Os pais, a irmã e outro irmão de Fernando o travam muito bem e ele se sentiu mais confiante; baixou a guarda, e deixou que seu jeito carismático e amável conquistasse a todos. Estava tudo combinado para irem à fazenda no fim de semana. E, como era de praxe, a mãe de Fernando costumava ligar para a irmã, que também morava em Uberlândia, e era a mãe de Pedro, avisando para se encontrarem por lá, uma vez que a fazenda da irmã ficava no município de Monte Alegre de Minas, não muito distante da fazenda deles. Depois dessa ligação, Pedro acabou aparecendo e foi surpreendido com a presença de Daniel.
- Você chamou o Daniel para passar as férias aqui? – ele encurralou o primo na primeira oportunidade que teve de ficar a sós com ele.
- Convidei. – respondeu Fernando, secamente.
- Qual é a sua? Que ideia besta foi essa? O que você pretende com isso? – cada frase saía como um projétil de uma arma.
- Qual é, pergunto eu? Deu vontade eu convidei. E daí? – revidou Fernando.
- O que você está querendo com isso? Ganhar a aposta? – questionou Pedro.
- Esquece isso cara! Eu já falei que acabou essa história de aposta. Estou fora! – respondeu irritado.
- Então qual é a razão de você trazer o Daniel para cá? – insistiu desconfiado.
- Gosto da companhia dele. Só isso. Precisa mais? – retrucou Fernando.
- Faz tempo que estou de olho em vocês. Você está se engraçando para o lado dele. Sei muito bem do que você está afim! Você está querendo comer aquela bundinha. Confessa. – exigiu Pedro.
- Você está louco, não sabe do que está falando. Cala essa boca para não falar besteira. – Fernando aproximou-se dele e enfiou-lhe o dedo em riste na cara.
- Eu sabia! Você está a fim dele! Que merda! – Pedro não se intimidou, e deu soco no móvel que estava ao seu lado.
- E você está assim, por quê? O que você tem haver com isso? Não é da sua conta! – retorquiu Fernando.
- Tudo bem! Vamos terminar com esse negócio da aposta. Acabou. Você não precisa usar mais tática alguma para comer aquele rabinho. A gente encerra isso por aqui. – sentenciou Pedro.
- Tudo bem! Eu já tinha proposto isso, faz tempo. – revidou Fernando.
- Portanto, você pode despachar o Daniel, não precisa ficar com ele por aqui. – quis determinar Pedro, achando que o primo acataria sua solução.
- Ele não é nenhuma mercadoria para eu o despachar. Aqui em casa todos gostaram dele, estamos nos dando muito bem e está bem legal ter ele conosco. Ele fica até que comece o trabalho que arranjou, sei lá quando. – confirmou Fernando.
- Porra! Confessa de uma vez que você está querendo enrabar o cu dele. – exasperou-se, percebendo que de nada adiantavam seus argumentos. – Você vai ter uma surpresa, ele é bem mais esquisito do que você pode imaginar, vai por mim. Depois não diga que não te avisei. – emendou, deixando transparecer que sabia algo mais do que revelava.
- Esquisito? Como? Do que você está falando? Onde você está querendo chegar com isso? – a irritação com o primo tinha se transformado em raiva, pois a maneira como Daniel evitava ficar na presença de Pedro indicava que ele não estava sabendo de alguma coisa entre os dois.
- Estou avisando! – Pedro sabia como provocar.
A conversa com o primo fez com que Fernando entrasse no quarto de Daniel naquela noite quando ele já estava dormindo. Aliás, a casa toda já estava mergulhada no silêncio. Daniel levou um susto quando percebeu o vulto sentado em sua cama, quase soltou um grito. Fernando estava ali bem uns quinze minutos, observando o respirar tranquilo daquele rosto de traços suaves. Teve vontade de beijá-lo, de conectar seus lábios àqueles tão polpudos e vermelhos, mas conteve-se.
- Oi! Aconteceu alguma coisa? O que você faz aqui? – perguntou Daniel, puxando o lençol sobre o corpo, como que o protegendo do olhar aguçado de Fernando.
- Nada, fique tranquilo. Está com muito sono? – retorquiu.
- Para falar a verdade, não. Estou cochilando e acordando a toda hora. – respondeu, sentando-se na cama e agarrando, ainda mais, o lençol para cobrir seu torso.
- Que medo todo é esse que eu o veja de pijama?
- Medo nenhum, ora!
- Então por que você está se embrulhando todo nesse lençol?
- Deixa de ser enxerido! Quanta pergunta! – as palavras saíam tremidas.
- Você sempre esconde seu corpo. Tem alguma coisa que você não goste nele? Mesmo debaixo das roupas folgadas que você usa, ele me parece bastante bonitinho. - observou.
Lá estava ele novamente diante de um dilema. Mentir ou dizer que toda a anatomia entre suas pernas era a coisa mais confusa e difícil de explicar? Fernando tinha se tornado uma pessoa especial para ele e, ele não queria mentiras entre eles. Mas, começar a falar sobre algo tão íntimo, àquela hora da madrugada, quando estava usando apenas um pijama, não estava em seus planos.
- O que aconteceu entre você e o Pedro? Eu já te perguntei isso uma vez e você deu uma desculpa. Hoje ele veio com um papo que você é mais esquisito do que parece. O que ele quis dizer com isso? – Fernando não aguentava mais ficar sem algumas respostas. Estava gostando de Daniel e esse mistério todo o deixava apreensivo.
- Nada! – não deu mais para engolir o choro. A hora havia chegado. Ele não suportava mais essa situação. Sentia que, de alguma forma, estava enganando a pessoa pela qual certamente já estava se apaixonando.
- Me conta tudo. Eu acho que mereço, ou não? – questionou Fernando, pegando o rosto por onde desciam as lágrimas entre as mãos.
- Merece! Eu gosto muito de você para continuar a fazer esse suspense. – respondeu, encarando aquele macho que lhe dava tanta segurança.
Daniel contou resumidamente todos os perrengues pelos quais passou dada a condição com a qual nasceu. Não fez menção aos detalhes escabrosos a que tinha sido submetido pelos colegas de escola e, nem detalhes sobre a insistência do pai em transformá-lo naquilo que ele não se sentia apto a ser. Nas entrelinhas Fernando conseguiu enxergar cada um desses dissabores, e pode compreender de onde vinha toda aquela timidez e retraimento. Quanto mais compreendia da situação, mais atraído por Daniel ele se sentia. Em dado momento não se conteve e tomou-o nos braços. Beijou-o com tamanha sofreguidão que Daniel se entregou aos seus desejos, abraçando-o e retribuindo cada beijo com todo seu desvelo. Por estarem imersos na penumbra do quarto, Daniel deixou-se tocar. O rosto assustado foi dando lugar à observação das expressões de Fernando à medida que ele ia descobrindo seu corpo. Fernando sentia aquela pele sob sua mão e ia se enchendo de tesão. Ela era tão alva, aveludada e perfeita quanto ele havia imaginado. Os peitinhos eram iguais aos de uma menina no início da puberdade, dois montículos que culminavam numa aréola rosada de onde apontavam dois biquinhos enrijecidos pelo toque de sua mão ávida. A rola de Fernando começou a adquirir desejos próprios lá embaixo, enquanto seu olhar era atraído para aquele corpo esguio e escultural, que ia se descortinando à medida que sua mão ia afastando a bermuda do pijama. Daniel encolheu-se. Fernando insistia. Como estava sentado de lado, as nádegas de Daniel iam se descortinando, roliças e carnudas, gostosas e tesudas. Aos poucos, Fernando ia tentando entender aquela forma bizarra que estava entre as coxas lisas e torneadas de Daniel. O lusco-fusco do quarto não deixava ver com clareza, embora algo parecido com um pintinho estivesse localizado sobre o que parecia o saco, havia um racho oblíquo, ligeiramente aberto no meio do saco.
- Eu nasci com a genitália ambígua. – murmurou Daniel, procurando juntar as coxas para camuflar aquilo que o torturava desde que se conhecia por gente.
Havia tanta suavidade naquele corpo e naquele recato que Fernando não conseguiu mais se dominar. Beijou os lábios trêmulos de Daniel e o trouxe para junto de si, inclinando-se sobre aquele corpo sedoso. Daniel o envolveu em seus braços e, enquanto correspondia aos beijos de Fernando chupando de mansinho a língua intrépida que este lhe metia na boca, começou a abrir as pernas até que Fernando estivesse encaixado nelas. Ergueu os joelhos até quase tocá-los nos ombros espadaúdos de Fernando e sentiu que a rola dele pincelava seu rego distendido. Gemeu cada vez que cacetão roçava suas pregas, e capitulou ante o desejo ferrenho estampado no rosto que o encarava. Fernando manobrou a pica de encontro à portinha ouriçada daquele cuzinho e a meteu no buraquinho estreito. Não fossem os lábios estarem se esfregando lascivamente, o gritinho de Daniel teria chamado a atenção para a luxúria que se desenrolava naquele quarto. Fernando sentia a rola se atolando nas entranhas mornas e tão justas de Daniel como se aquelas pregas o agasalhassem. O pau estava tão duro que Fernando chegava a sentir dor. Estocou-o na maciez que o apertava com um desespero voluptuoso. Daniel gania com aquela rola imensa devassando sua pelve contraída, mas se entregava sem nenhuma reserva. Suas mãos passeavam pelas costas largas que o encobriam e, quando a dor superava o prazer, ele cravava os dedos nos músculos rijos de Fernando, como se quisesse se agarrar a uma tábua de salvação. Ele estava tão feliz que afagava os cabelos e o rosto de Fernando, cobrindo-o de beijos carinhosos. Fernando acelerou o vaivém cadenciado que fazia sua pica ser acariciada pelos esfíncteres anais retesados de Daniel. Seus movimentos eram só tesão. Um tesão que chegou ao seu saco batendo contra as nádegas de Daniel, como uma descarga elétrica. As bolonas estavam dolorosamente cheias e ele sentiu uma comichão na cabeçorra do caralho. A porra eclodiu em jatos espessos, fazendo-o gozar um prazer de aliviação que assomou à garganta na forma de urros roucos e estertorosos. Ele encharcava o cuzinho com sua porra abundante e sentia Daniel erguendo os quadris de encontro a sua virilha para que seu sumo másculo se alojasse o mais profundamente na intimidade dele. Foi a mais recompensadora foda que tinha experimentado. Enrodilharam-se num abraço envolvente. Enquanto o arfar acelerado de suas respirações ia se acalmando, o sono os embalou num torpor prazeroso.
Na manhã seguinte, Fernando acordou com aquelas ancas nuas encaixadas em sua virilha e o caralhão à meia bomba, como de costume. Daniel tinha a respiração serena, que fazia seu torso se mover num sobe e desce mansinho, enquanto um dos seus peitinhos, apoiado sobre a mão de Fernando, roçava os dedos dele. Fernando sentiu tanto tesão que voltou a enfiar a rola naquele cuzinho desguarnecido de qualquer precaução. A jeba se alojou inteira antes que as pregas de Daniel se contraíssem num espasmo abrupto e defensivo. Ele ganiu assustado, mas gemeu um ‘bom dia’ quando sua mente o tranquilizou por estar nos braços de Fernando.
- Bom dia, meu tesudinho gostoso! – sussurrou Fernando entre dentes, deixando que a volúpia extravasasse numa foda demorada e condescendente.
Ao se juntarem aos outros, no café da manhã, constataram surpresos que Pedro já estava lá. Tinha vindo cedo para ir à fazenda junto com eles, ao invés de ir com a própria família. Ele foi o único a reparar naqueles rostos onde uma cumplicidade recente e pecaminosa resplandecia feito o sol que brilhava lá fora. Sua mão se cerrou com tamanha força que isquemiou a ponta de seus dedos, e o gole de suco que acabara de ingerir quase entalou em sua garganta. Sentiu-se traído, embora não conseguisse compreender a razão da fúria que se apossou dele.
As duas famílias se juntaram num final de semana agitado e descontraído, como sempre acontecia quando iam para a fazenda, fosse na de uma, ou na de outra família. Contrariando a regra, o único que se mostrava mais reservado era Pedro, o que logo chamou a atenção, pois ele sempre era o mais agitado e expansivo nesses encontros. Logo virou motivo de piadas e, a insatisfação com isso vinha se acumulando perigosamente, como o vapor dentro de uma panela de pressão.
Embora o sol a pino e o calor reinassem absolutos, Daniel continuava de bermuda e camiseta, enquanto os demais estavam de biquíni ou sunga em volta da piscina junto ao quiosque da churrasqueira.
- Tome um pouco de sol, você está tão branquinho! – exclamou a mãe de Fernando, encorajando o amigo do filho a se soltar mais.
- Obrigado. Estou bem assim. Fico parecendo um camarão quando tomo sol. – retrucou Daniel.
- Vai te fazer bem. É só ficar sob o guarda-sol e aplicar um protetor. Aproveite esse dia lindo! – insistiu ela.
Daniel não queria se mostrar ingrato à dedicação e cuidados que estavam tendo com ele, por isso, muito a contra gosto, foi vestir uma sunga que o irmão mais novo de Fernando lhe deu. A peça ressaltou a bunda carnuda e as cavas acentuadas das pernas faziam com que ela se enfiasse dentro do rego assim que ele dava alguns passos. Voltou para a piscina trocado, mas ainda com a camiseta cobrindo seu tronco, sob o olhar surpreso de todos. Despir-se diante dos outros sempre foi um trauma. Relutou o quanto pode para tirar aquela camiseta. E, quando a tirou pela cabeça, seus peitinhos salientes apontavam rijos para uma direção qualquer a sua frente, içando-se com o calor dos raios solares que os atingiram. Ninguém deixou de observar aquele torso andrógino e lindo, esculpido como se fosse o de uma obra renascentista. Acanhado, Daniel distribuía o protetor solar com movimentos lentos sobre a pele branca.
- Dá até comichão na mão de vontade de espalhar aquela loção por cima daquela pele! Você não está a fim de se candidatar? – pilheriou um jovem funcionário da fazenda com outro que estava ajudando no preparo do churrasco sob o quiosque.
- Vai falar isso para o caralho que já não está me dando uma folga desde que o garoto veio caminhando para cá feito uma modelo de passarela. – respondeu o outro, tentando não dar bandeira com o tesão que estava sentindo.
- O garotão tem umas ancas mais aprumadas que uma potranca. Vá ser gostoso assim lá na minha cama! – revidou o primeiro.
- Dá só uma sacada naqueles peitinhos! Se eu caio de boca neles não deixo um inteiro. – recomeçou o outro.
- Imagina aquela boquinha mamando meu cacete. Sou capaz de dar mais leitinho para aquela boca que todas as vacas do curral. – disse o primeiro, jocoso e sacana.
- O que é que está rolando aqui? Quem é que vai dar leitinho para quem? – interrompeu Pedro, ouvindo apenas o final da conversa entre os funcionários, mas deduzindo que falavam de Daniel, visto que não tiravam os olhos de cima dele.
- Nada não Pedro! Que isso? Você deve ter ouvido errado. – exclamou um, procurando esconder a ereção sob um avental que amarrou às pressas.
- Ouvi errado e escambau! Vocês tomem tento se não quiserem se foder. – ameaçou irritado. Era assim que ele estava se sentindo desde a manhã, irritado e sem paciência para ouvir baboseiras. Os dois funcionários estranharam aquele humor azedo.
Não era para menos. O que tinha dado no Daniel para estar tão à vontade com o Fernando? E que raios de porra era aquela de ficar passando protetor solar naqueles peitinhos e naquelas coxas? Merda! Por que ele estava sentindo todo aquele tesão ao comtemplar isso? Se soubessem o que tinha no meio daquelas pernas a coisa seria diferente, pensou contrafeito.
Estava entardecendo, o sol tinha adquirido um tom alaranjado e já havia começado a se inclinar no ocaso. As latinhas de cerveja que ele havia tomado não tinham conseguido tirar seu desassossego. O pessoal já tinha deixado a beira da piscina. Uns haviam ido tirar um cochilo, outros tinham voltado para dentro de casa onde estava mais fresco. Ele e o primo quase se esbarraram quando ambos tiveram a ideia de ir pegar uma água gelada dentro do quiosque.
- Você comeu o cu dele, não foi? – despejou Pedro. A garganta dele estava seca e as palavras saíram numa espécie de rosnado, o que irritou Fernando.
- Isso não é da sua conta! – objetou Fernando.
- Você fodeu a bichinha só para levar a aposta, mesmo eu te avisando que o trato estava desfeito. – continuou Pedro. – Gostou do que encontrou no meio das coxas dele? – provocou.
- Gostei! Para falar a verdade foi a transa mais maravilhosa que já tive. Ele não só foi extremamente carinhoso como apertou minha rola no meio daquela maciez toda e me fez gozar feito um garanhão. – revidou Fernando, percebendo que isso ia contra tudo do que o primo o queria privar.
- Você é um bosta!
- O bosta aqui é você! Um canalha de merda! O Daniel me contou o que você fez com ele. – retrucou Fernando.
- E o viadinho foi se queixar na sua cama, aposto que até chorou para te comover antes de abrir as pernas para provar o calibre da sua rola. – cuspiu Pedro.
- Ele não se queixou de nada. Apenas me contou o que aconteceu, como uma espécie de desculpa por não se entrar puro para mim. E se você quer saber, ele gostou muito do calibre da minha rola sim. Gemeu enquanto me acariciava agasalhando meu cacete. – Fernando sabia que aquilo ia mexer com os brios do primo.
- Filho da puta! Você não tinha nada que convidar ele para ficar com você, nem tinha o direito de enfiar a pica no cuzinho dele. Eu cheguei primeiro. Só eu podia ter comido ele. – rosnou, partindo para cima do primo.
Instantes depois, ouvia-se a pancadaria rolando no quiosque. Os funcionários que estavam por perto, terminando de arrumar as coisas, acorreram tentando apartar os dois. Daniel tinha ido ao encontro de Fernando que estava se demorando a voltar com a água gelada que tinha ido buscar, e ouviu parte da conversa acalorada entre os dois.
- Parem! Parem com isso, pelo amor de Deus! Vocês vão se machucar. Acode aqui, acode aqui. – desesperou-se Daniel, implorando pela intervenção dos funcionários e tentando apartar a briga. Mirando o rosto do primo, Fernando acabou por acertar um soco nas costas do Daniel atirando-o longe. A pancadaria cessou assim que ele se estatelou no chão.
- Olha o que você fez, canalha! – berrou Fernando, indo acudir Daniel.
- Eu não, foi você quem o acertou, desgraçado! – gritou Pedro, também indo amparar Daniel.
- Que história de aposta é essa? O que foi que vocês apostaram? – questionou Daniel, enquanto se punha em pé. Subitamente ninguém tinha uma palavra a dizer. – Vamos lá. Eu ouvi que vocês fizeram uma aposta, e que isso tem haver comigo. Quero saber, o que foi que apostaram?
- Não é nada. É bobagem do Pedro. Você sabe como ele é. Um mau caráter de merda. – respondeu Fernando.
- Agora eu é que sou o mau caráter. Seja homem e conta por que é que você transou com ele ontem à noite. – insinuou Pedro, sabendo que se Daniel estivesse minimamente interessado no primo aquilo ia afastá-los definitivamente.
- Cala essa sua boca! Eu vou quebrar a sua cara! – retrucou Fernando.
- Como ele sabe de ontem à noite? O que você contou para ele? Que droga de aposta é essa? – Daniel se sentiu vilipendiado e tinha medo de ouvir a verdade.
- Não liga. Ele está falando besteira, só para te provocar.
- Ele não é o bonzinho que está querendo aparentar, te convidando para passar as férias, te enchendo os ouvidos de baboseira e fazendo sabe-se lá o que com você na cama. – sentenciou Pedro. – E vocês, o que estão fazendo aqui ainda, se metendo em assunto de patrão? Sumam daqui! – emendou, ralhando com os funcionários que estavam se inteirando demais no assunto.
- Fernando, não mente para mim! Do que ele está falando, por favor. – suplicou Daniel.
- Fique tranquilo, é só provocação dele. – mentiu Fernando, com receio de perder o que tinha conquistado.
- Covarde! Fala para ele que nós apostamos o cuzinho dele. Conta para ele que você o enrabou para ganhar cinco paus. – a raiva do Pedro explodiu em definitivo.
- Miserável! Filho da puta! – berrou Fernando, voltando a se atracar com Pedro.
Um nó subia pela garganta de Daniel. Seu corpo apenas coberto pela sunga lhe pareceu devassado e ele cruzou os braços cobrindo os peitinhos. Saiu correndo dali como se uma fera o estivesse perseguindo, e sua vida dependesse dessa fuga. Ambos ameaçaram correr na direção dele, mas bastou um olhar de Daniel para que desistissem da ideia.
- Está contente agora, seu bosta! – vociferou Fernando.
- É bom que ele saiba de tudo de uma vez. Assim você não posa de santo. – revidou Pedro.
Daniel passou feito um raio pela sala onde os pais do Pedro e do Fernando conversavam. O que não impediu que eles vissem que ele estava chorando. O questionamento sobre a algazarra que tinham ouvido lá fora ficou sem resposta. Em seguida, os dois apareceram no encalço dele. Estavam transfigurados e via-se que tinham se engalfinhado. Pedro sangrava no canto da boca e Fernando tinha um calombo em franco desenvolvimento no olho esquerdo.
- O que é que está acontecendo? – a voz do pai do Fernando soou grave e inquisidora.
- Nada! – responderam a um só tempo.
- Então o que significam essas caras amassadas? Quero saber agora mesmo o que foi que aconteceu. Andem, desembuchem! – não havia como fugir pela tangente. Foram apenas lacônicos com os fatos.
- Vocês são homens ou moleques? Deviam ter vergonha do que fizeram. – disse o pai do Pedro, entrando na conversa.
- Para sua informação, Fernando, você vai demorar a ver cinco mil reais na sua mão outra vez. Isso ultrapassou todos os limites da decência. – sentenciou o pai dele.
- O mesmo se aplica a você, seu moleque! Suma da minha frente se não quiser que eu termine de arrebentar essa sua boca inchada. – vociferou o pai do Pedro.
Daniel não se juntou a eles no jantar e, na manhã seguinte, estava com a bagagem arrumada e pediu o favor de algum funcionário leva-lo até a rodoviária. Os pais do Fernando tentaram demovê-lo da ideia, mas foi inútil. Eles mesmos o deixaram na porta do ônibus e se despediram dele com um pedido de desculpas pelos atos dos filhos.
No reinício das aulas os primos procuraram por Daniel. No princípio em separado, e sem que um soubesse do outro, sem sucesso. Depois, resolveram se aliar na procura, temendo que o que tinham feito pudesse ter levado Daniel a desistir dos estudos. Procuraram no alojamento, onde os colegas informaram que ele tinha viajado; procuraram na casa de material de construção onde Daniel tinha feito bico durante algumas semanas, e o proprietário lhes disse que ele havia trabalhado conforme o combinado, mas não sabia do paradeiro dele; procuraram nos registros da faculdade e o nome dele constava como aluno regularmente matriculado. No entanto, ninguém o tinha visto e ele não compareceu as aulas nas disciplinas em que estava inscrito. Foi apenas na terceira semana, após o reinício das aulas, que ele assistiu à primeira aula na disciplina de entomologia geral. Eles o abordaram ao término da aula, era a última do dia.
- Por onde você andou? Estávamos te procurando. – disse Fernando, indiferente à disposição de Daniel de recusar qualquer papo com eles.
- Pisamos na bola, mas estamos aqui para nos desculparmos. – disse Pedro.
- Afinal, o vencedor já torrou a grana da aposta? Quem foi mesmo que ganhou? – o tom irônico refletia toda a mágoa que Daniel sentia.
- Não teve aposta, não teve vencedor! A gente se sente derrotado. – respondeu Pedro.
- Ah! Vocês se sentem derrotados. E eu, eu devo me sentir como? Mas o que importa a vocês como eu me sinta. Sou um lixo mesmo, não é verdade? Aliás, uma coisa bizarra com a qual a gente pode fazer qualquer tipo de sacanagem, até apostar quem vai ser o primeiro a foder a coisa, não é isso? – despejou Daniel, procurando disfarçar o choro que vinha junto com as palavras.
- Foi uma canalhice, a gente sabe. Mas eu quero que você saiba que o que aconteceu naquela noite não foi nenhuma sacanagem. Juro! – confessou Fernando.
- Eu comecei essa história. Fui desleal e sujo dando aquele boa noite cinderela e te levando para o motel, mas me arrependi naquele dia mesmo. Tanto que não contei nada para ninguém. Sei lá, eu não consegui depois de ... bem, depois do que aconteceu. – confessou também Pedro.
- Você me estuprou. É esse o nome que se dá ao que você fez. Você sabia que eu não ia cair no seu joguinho então resolveu me foder, entorpecido mesmo. – Daniel se sentia cada vez mais diminuído diante deles.
- Eu nem sei o que dizer. Acho que se ficarmos aqui te pedindo desculpas pela eternidade não vai diminuir o sofrimento que te causamos. Mas, acredite, eu estou muito arrependido de ter entrado nessa de aposta, de verdade. – disse Fernando.
- Eu idem! Perdão Daniel. – completou Pedro.
- Vamos fazer o seguinte. Cada um segue sua vida. A gente não se conhece, a gente não se fala, a gente não se magoa. Valeu? – concluiu Daniel.
- Não, cara! Eu não quero isso. Quero me redimir. Quero ser seu amigo. – apressou-se Pedro.
- Eu gosto de você e preciso da sua amizade. Me diz o que fazer para conseguir seu perdão. – disse Fernando.
- Vamos encerrar por aqui. Vai ser melhor para todos. – finalizou Daniel, deixando-os.
As tentativas de uma reaproximação continuaram, mas sem sucesso. Pedro e Fernando iam todos os finais de semana ao barzinho onde Daniel fazia bico, procurando quebrar aquela muralha que havia se formado entre eles. A garota que estava ficando com Pedro desde o ano anterior começou a desconfiar dessa persistência em conseguir a simpatia do barman charmosão. A garota era uma alpinista social, saída dos rincões perdidos do norte do estado. Cursava economia doméstica na universidade, que era o curso que mais agregava aquele tipo de mulheres, saídas do nada e à caça de algum incauto e desprevenido macho, mais abastado e incapaz de manter a rola fora de uma buceta oferecida, cursando faculdades com um futuro mais promissor. Ela vinha notando a indiferença com a qual Pedro a tratava depois da volta das férias. Apesar da insistência dela, ele se recusara a leva-la para conhecer os pais. Fez uma cena na semana anterior, quando Pedro tentou dispensá-la no final da madrugada de sábado, sem tê-la fodido. E, voltou a se pendurar nele, dois dias depois, como se ele não a tivesse despachado.
- Você está tão diferente comigo. Me conta o que é. Você está se enrabichando com alguma vadia? – insistiu, passando a mão na rola dele por debaixo da mesa do barzinho.
- Para com isso! Que saco! Quem está dando uma de vadia é você, com essa mão boba no meu cacete. – protestou Pedro, levantando-se e seguindo até o balcão, onde um banco havia vagado.
- Não precisa ficar tão mal humorado! Eu só quis ser carinhosa com você. – sussurrou ela junto ao ouvido dele, numa intimidade que já não existia mais.
- Chega, cara! Dá um tempo! Não estou a fim, eu já terminei com você. – advertiu, afastando os braços dela que o envolviam feito as garras de uma aranha.
Ela disfarçou, pois ele havia elevado o tom da voz e as pessoas em volta tinham escutado o fora que ele lhe deu. Ela ardia de raiva, mas dissimulada como toda mulher, manteve uma postura de blasée. Ela permaneceu na rodinha de colegas que cercavam Pedro, digerindo a atitude dele. Enquanto ele estava no banheiro o celular abandonado sobre o balcão tocou e ela o atendeu, na esperança de descobrir qual era a piranha que tinha lhe roubado o macho. Frustrada, disse à mãe do Pedro que daria o recado de que ela tinha ligado. Aproveitou a oportunidade e começou a vasculhar o celular. Não demorou a encontrar entre as fotos armazenadas o que nem seus olhos queriam acreditar. Tão nítidas quanto podiam ser as cenas reais, ela viu o barman completamente nu, deitado em diversas posições, com uma bunda muito mais atraente e gostosa que a dela e, uma estranha combinação de genitais, sendo enrabado pelo agora ex-namorado. Enviou, sem demora, as fotografias para seu e-mail pessoal e, enquanto Pedro contestava o fato dela ter atendido uma ligação que era dele, ao regressar do banheiro, ela já saboreava o gosto da vingança.
No dia seguinte, as fotos circularam pelo Whatsapp e pelas redes sociais, despertando as mais diversas reações e emoções em quem as recebia. O domingo calorento e o cansaço do trabalho na noite anterior tinham segurado Daniel na cama até o meio-dia. Fernando e Pedro, mais os colegas do alojamento estavam na sala e nada mais que alguns cochichos podiam ser ouvidos.
- Ah não! Vocês outra vez. Olha, eu já não estou aguentando mais essa pressão. Não ficou combinado que cada um seguia seu rumo. – desabafou, assim que viu os primos sentados na sala, e retomou a direção do quarto.
- Espera Daniel! Tem um babado muito louco acontecendo. É bom você ficar sabendo. – disse o colega que dividia o quarto com ele.
- Cara, eu não estou a fim de saber de nada que envolva esse dois. Para mim já deu! – respondeu Daniel.
- Tem umas fotos suas circulando na Internet. – soltou Fernando, de supetão. Estendendo o celular ao alcance de suas mãos. A sala caiu num silêncio sepulcral.
- Meu Deus! O que é isso? – um dos moradores do alojamento, que estava mais próximo de Daniel, amparou-o no exato momento em que ele ameaçava se estatelar no chão.
- Calma! Senta aí. Vocês têm uma água com açúcar aí para a gente dar para ele? – inquiriu Fernando preocupado.
Quando aquela zonzeira foi amenizando, Daniel encarou Pedro com um olhar fulminante. Ele jamais tinha visto uma expressão como aquela e, foi só então, que compreendeu toda a desgraça que tinha causado a Daniel.
- Como você pode chegar a esse ponto? Você acaba de me matar, cara. Você consegue entender isso? Eu sou um cara morto. – desabafou aniquilado, deixando-se afundar no encosto do sofá.
- Não fale assim. Por pior que tudo esteja parecendo agora, daqui a algum tempo ninguém mais vai se lembrar disso. – tentou amenizar um dos colegas do alojamento. No fundo ele temia uma reação drástica de Daniel, pois tinha assistido há menos de uma semana a um filme no qual um recruta se suicidava depois de ter sua homossexualidade descoberta dentro da escola militar.
- Não fui eu quem espalhou essas fotos, juro. Eu vou fazer de tudo para descobrir quem foi e te garanto que essa pessoa vai pagar caro por isso. – disse Pedro, tentando se redimir.
- Não importa quem as fez circular. Foi você quem as tirou. Para que? Para que tanta sacanagem comigo? O que foi que eu te fiz? – Daniel soluçava feito uma criança desamparada. – A maldita aposta, não é? – emendou, sem que ninguém dos outros, exceto Fernando, soubesse do que ele estava falando. Acharam até que já estava delirando por conta do choque.
Pedro baixou o olhar e saiu dali. Não conseguia encarar o que tinha engendrado, e sabia que nada podia ser feito para mudar aquilo. Estava tão desesperado que quase acabou com a picape debaixo da caçamba de um caminhão basculante, freou antes da desgraça e socou o volante com os punhos cerrados. Então, lembrou-se do celular na mão da garota e do recado que ela lhe dera. Os pneus cantaram sobre o calçamento de paralelepípedos enquanto a picape gingava descontrolada pela rua estreita, assustando os transeuntes e tirando blasfêmias dos que observavam a cena. Chegou até a república onde a garota morava e quase derrubou a porta aos socos. Ela própria tinha vindo atender e, antes de abrir um sorriso patético, sentiu aquele punho cerrado atingi-la com toda a força. Ela despencou no chão como um saco desestruturado. Pedro a levantou só para conseguir acertar outro soco naquela cara traiçoeira. A expressão no rosto de Daniel quando viu as fotografias veio-lhe à mente como uma acusação pelo seu delito. Descarregou toda a sua raiva naquele corpo como se estivesse socando um saco de pancadas. Os vizinhos a acudiram quando um braço e uma costela já estavam fraturados, e ela mal se mexia no chão ensanguentado e frio de cerâmica.
- Experimenta abrir essa sua boca nojenta para contar a quem quer que seja quem foi que te fez isso, e eu te garanto que vai ser a última coisa que você vai fazer na vida. – os olhos dele estavam injetados e vermelhos e, antes de sair, encarou as duas vizinhas que vieram acudir, dissipando qualquer intenção que tivessem de acusa-lo de alguma coisa.
Daniel viveu o inferno nos três meses seguintes. Na faculdade era quase impossível assistir às aulas. A simples presença dele causava murmurinhos e olhares que iam de piedosos a inquisidores. Seu rendimento escolar caiu e ele recebeu uma comunicação de que não teria mais o auxílio moradia no semestre seguinte, devendo deixar o alojamento. No barzinho ele teve que aturar todo tipo de gozação. Era abordado por garotas e machos interessados em todo tipo de sacanagem e perversão sexual. Alguns o abordavam com espírito solidário. Nas noites em que ele trabalhava o barzinho bombava. Agora, além da fama de charmoso que já atraía muitos fregueses, ele era procurado justamente por sua condição sexual, tal como acontecia nos circos de antigamente quando bizarrices eram exibidas como atração.
Pedro e Fernando o procuraram quando souberam que ele tinha que deixar o alojamento, temeram que ele interrompesse os estudos. Ele, no entanto, recusou a oferta de ir morar com eles. Na semana em que precisava deixar o alojamento, foi surpreendido pela visita não anunciada do pai do Pedro.
- Eu lamento a canalhice que meu filho aprontou com você. Desde que o Pedro saiu de casa para vir cursar a faculdade eu estou desconhecendo meu próprio filho. Suas atitudes estão muito distantes daquelas que nós conhecíamos. Tanto eu quanto meu cunhado estamos dando um corretivo nos dois, na esperança de que o comportamento dos nossos filhos melhore. Eu tenho plena ciência do que você está sentindo em relação a eles, mas gostaria sinceramente que você considerasse a possibilidade de ir morar com eles. O apartamento é grande e você teria um quarto exclusivamente seu. Ele está a sua disposição pelo tempo que desejar, sem nenhum custo. É o mínimo que meu cunhado e eu podemos fazer. Não prejudique seu futuro e seus estudos por conta das inconsequências dos nossos filhos. É isso que eu te peço para considerar. – ele tinha uma fala mansa e ponderada. Conversou com Daniel como se fosse um filho, imprimindo a cada palavra o carinho de um pai.
- Eu sou muito grato por sua preocupação comigo. Não sei se tenho condições psicológicas para conviver com eles depois de tudo. – respondeu Daniel.
- Eu sei disso. Você tem algumas semanas pela frente antes de tomar sua decisão. Pense apenas em você, até de uma forma um pouco egoísta mesmo. Só não estrague seu futuro. Minha casa também está a sua disposição durante estas semanas de férias. Seria muito bom tê-lo conosco. – acrescentou, com uma dolorosa pena pairando sobre suas costas pela atitude do filho.
- Mais uma vez muito obrigado. Mas estou indo visitar meus pais. – respondeu Daniel.
Daniel arrependeu-se de passar as férias em casa tão logo desembarcou na rodoviária. O pai e o irmão o aguardavam junto ao desembarque e, o cumprimento árido do pai já acenava com o que estava por vir. Obviamente alguma alma malévola tinha se encarregado de fazer chegar às mãos da família a depravação pela qual o filho tinha passado.
- Alguns meses fora de casa e o que temos agora, um filho viado e rameiro. – sentenciou o pai, quando estavam reunidos à mesa no primeiro almoço juntos. – Não bastaram os corretivos que eu te apliquei enquanto estava aqui, ou se esfregando com os funcionários da oficina, ou com os clientes. Aquela correia de motor devia ter descido sobre seu lombo muitas vezes mais, para você aprender a virar macho. O que foi que sua mãe e eu fizemos para merecer uma aberração, feito você? Me diz. – ele remoída toda sua frustração em cada palavra, que atingia Daniel como um punhal.
- Eu nunca fiz nada para desmerecer o que vocês fizeram por mim. – balbuciou Daniel, prestes a chorar.
- Não? O que você fazia com o Marcos pelos cantos da oficina e nas nossas costas era o que? Essas fotografias suas sem roupa sendo enrabado sabe-se lá por quantos machos, são o que? Um agradecimento pelo estamos fazendo por você? É isso? Pois saiba que para mim isso tem outro nome. – sentenciou, enquanto a mãe e o irmão iam tentando engolir a comida que estava nos pratos. – Você é adulto, a partir de agora lavo minhas mãos. Faça o que quiser da sua vida, mas faça isso o mais distante possível de nós. – emendou, com a frieza de um carrasco.
Sem opções, Daniel, ao retornar a Viçosa para um novo semestre, alojou-se no quarto disponível no apartamento do Pedro e do Fernando. Nenhum dos dois escondeu a alegria que sua decisão tinha lhes causado.
- Que fique claro para vocês que só estou aqui por pura falta de opção. Não seremos amigos, não seremos colegas, não seremos nada além de três pessoas vivendo sob o mesmo teto. É só me dizer quais são as tarefas que me cabem e eu as cumpro. De resto, me esqueçam. – avisou, sem que isso fosse levado em consideração pelos dois, que já tinham cada um seu plano para reconquistar a amizade dele.
Em pouco tempo ninguém mais falava sobre o acontecido, foi como se a memória coletiva fosse mais instantânea do que um raio. O ambiente universitário era tão dinâmico, sujeito a tantos novos acontecimentos licenciosos, que não dava para ficar emperrado num único caso. Logo a nudez picante de Daniel tinha o mesmo interesse que as bravatas de Calígula na Roma antiga.
Os anos seguintes do curso de agronomia foram pautados por uma convivência, de início, apática entre os três ocupantes do apartamento. Com o tempo, os diálogos monossilábicos foram sendo substituídos por palavras mais gentis. O recato inicial foi sendo trocado por uma informalidade que já permitia a livre entrada de qualquer um nos respectivos quartos a qualquer hora e circunstâncias. No último ano já era possível admitir a cena dos três deitados em trajes sumários sobre a mesma cama assistindo a um filme ou programa na televisão. Não raro acabavam adormecendo ali mesmo e Daniel muitas vezes acordava com a higidez priápica de um deles roçando sua bunda. Tinha feito as pazes com ambos e Daniel já conseguia ser tão carinhoso com os dois quanto seu jeito afetuoso determinava.
Pedro, que tinha sido seu mais cruel algoz, agora era seu mais acalorado protetor. Sentia ciúme do primo e das atenções que Daniel lhe dedicava. Era um pouco exclusivista, mas encarou a parceria com o primo como um mal necessário e sem importância. Nunca deixou sua ousadia de lado e, quando teve a certeza de que Daniel o tinha perdoado, deixou seu tesão reprimido aflorar sem nenhum prurido. Recordava-se de cada segundo em que sua rola esteve mergulhada naquele cuzinho, e fazia de tudo para vivenciar isso novamente.
Daniel sempre se achou uma pessoa confusa. Sua condição nunca lhe dera uma certeza de quem ele era realmente. Com o convívio, resgatou prontamente o que sentia por Fernando, inclusive foi com ele que se deitou primeiramente, no entanto, algo com a mesma intensidade brotou em seu coração com relação ao Pedro. Estava outra vez diante de duas coisas distintas sem saber exatamente qual delas tinha uma representatividade maior. Talvez até não tivessem, como acontecia com seu sexo, ambos eram bons e ambos o deixavam feliz.
Mesmo sabendo que Pedro não tinha agido de forma decente com ele, possuindo-o sob efeito de drogas e inconsciente, sentia muito tesão quando o corpão musculoso e viril dele estava parcialmente exposto, ou deitado a seu lado ao alcance de um afago. Fernando tinha se recolhido cedo naquela madrugada de sexta para sábado, por conta dos sintomas de uma gripe que se exacerbaram. Daniel estava exausto, o trabalho no barzinho tinha sido estafante pela ausência de outro funcionário. Ele chegou em casa pouco depois das quatro. Achou que uma ducha morna fosse relaxar seus ombros tensos e meteu-se no chuveiro. Pedro não conseguia pegar no sono. Há uma semana vinha tenho ereções espontâneas com muito fluido pré-ejaculatório engomando suas cuecas. Estava numa abstinência motivada por um súbito desinteresse em sair à caça. Ele não se sentia motivado a procurar as garotas que, de uns tempos para cá, sempre lhe pareciam ter o mesmo perfil, os mesmos papos, a mesma falta de originalidade. Levantou-se fulo da vida ao sentir que precisava urinar e que, a pica à meia bomba, já tinha melado novamente a cueca. Entrou no banheiro com a mão ainda coçando o saco e estagnou junto à porta quando ele e Daniel se encararam. Daniel tinha acabado de sair do box e passava suavemente a toalha sobre os mamilos, ainda sob o torpor da água morna que tinha escorrido pela pele. Pedro já se preparava para levar um esbregue por não ter batido na porta antes de entrar, mas isso não aconteceu. Daniel apenas continuou a encará-lo e à impudica condição de sua virilha.
- Ops! Não tinha percebido que você estava aqui. Estou louco para mijar. – disse, desculpando-se.
- Tudo bem! Pelo visto, por pouco não chega a tempo. – disse Daniel, entre um sorriso tão inocente que a rola do Pedro deu um pinote involuntário.
- Chegou tarde! – desconversou, enquanto mirava a privada e despejava a urina ruidosamente na água do vaso.
- Tarde e moído! Sinto o corpo todo alquebrado. – devolveu Daniel, fazendo a toalha percorrer as partes do corpo ainda molhadas.
- Você está lindo! – observou Pedro, sentindo a jeba engrossando na mão.
- Você também! – retorquiu Daniel, sem se dar conta da espontaneidade daquela resposta.
Pedro deu a descarga e se aproximou de Daniel, tão descarado quanto a ereção e seu desejo de tocar aquele corpo liso e esguio. Nem a cueca ele se deu ao trabalho de subir. Daniel não o impediu quando ele tomou a toalhas nas mãos e se encarregou da tarefa de enxuga-lo. O frescor do perfume da pele recém-lavada invadiu suas narinas e ele apertou Daniel contra o peito. Aspirou seu cangote antes depositar cuidadosamente um beijo naquela pele. Daniel sentiu um estremecimento percorrer seu corpo e se concentrar em seu ânus.
- Quero você! – segredou Pedro, num gemido junto ao ouvido dele.
Daniel virou-se para ele e passou os longos e delicados dedos sobre a barba por fazer, assentindo com um olhar doce e sem objeções. Pedro tomou-o no colo e o levou ao seu quarto. Inclinou-o sobre a espaçosa cama com um cuidado zeloso. Viu que os biquinhos dos peitos estavam em riste, sobressaindo das aréolas ingurgitadas. Só o hálito quente do Pedro se aproximando cobiçosamente de seus mamilos fez com que Daniel gemesse. Quando a boca se fechou ao redor de um deles e começou a chupá-lo, Daniel sentiu que entre as pernas algo mais se hasteava e que começava a se sentir molhado. Deslizou as mãos sobre aqueles bíceps volumosos antes de envolver o tronco largo em seus braços. Pedro deu um sorriso esboçando o prazer que isso lhe causava, e beijou os lábios tentadoramente vermelhos que o aliciavam. Enlaçou sua língua lambona na de Daniel e deixou-se chupar sensualmente por ele. Inquieto pela urgência de suas necessidades, ajoelhou-se ao lado do rosto de Daniel e fê-lo encarar seu mastro. Daniel esmiuçou detalhadamente cada centímetro da jeba, as veias sinuosas que a circundavam, o calibre da carne massuda, o volume descomunal do saco peludo, o prepúcio que cobria metade da cabeçorra saliente. O prepúcio o encantou e ele o tomou delicadamente entre os dentes, todo pré-gozo que estava contido debaixo dele escorreu para sua boca, inundando-a com o sabor da virilidade do Pedro. A ereção se completou, deixando a glande arroxeada livre na boca de Daniel. Ele a chupava com carinho o que fazia a profusão do fluído aumentar. Pedro rugia satisfeito com aquela boquinha macia mamando sua rola. Daniel encolheu as pernas e Pedro meteu um dedo no cu dele. Ficou dedando e circundando a portinha anal completamente impúbere até que os gemidos de Daniel se transformassem em quase súplicas. Separou as nádegas apertando-as com as mãos, e começou a lamber o rego lisinho, onde só a rosca rosada, profundamente inserida, destoava de toda aquela alvura castiça. As bordas da rosquinha se elevaram formando um tufo saliente que parecia estar implorando pela verga dele. Pedro colocou a cabeçorra sobre ele e forçou a penetração. Quando a glande destacada e imensa atravessou as pregas anais, fazendo Pedro sentir que se rasgavam e Daniel dar um gritinho angustiado, deixou o peso do corpo cair sobre a bunda roliça, e encaixou a virilha em suas protuberâncias. Engatado naquele traseiro sedutor, e tendo a rola acolhida num aperto úmido e morno, Pedro cuidou de meter seu falo potente numa sequência cadenciada no cuzinho que o engolia vorazmente. Daniel gania excitando-o ainda mais e aumentando a intensidade de suas estocadas. A eloquência do sexo rolando no quarto anexo fez com que Fernando despertasse. Em instantes, soube o que acontecia por trás da parede que os separava. Levantou-se e meteu a cara na porta entreaberta. Imediatamente uma ereção começou a hastear sua jeba. Sentia-se revigorado depois da medicação que havia tomado antes de se recolher. Pedro mandou Daniel ficar de quatro sobre a cama enquanto ele se reposicionava em pé numa das cantoneiras. Ao reintroduzir a pica num golpe brusco no cuzinho mais franqueado, eles notaram a presença de Fernando manipulando a jeba dentro da bermuda. Daniel deu um gemido estrídulo na direção dele juntamente com um olhar tentador. Ele entrou no quarto e se aproximou deles. Arriou a bermuda e fez a rola saltar para a liberdade. Daniel tomou-a nas mãos e levou-a à boca, chupando e lambendo a pica e o sacão sem se importar com os pentelhos encarapinhados e grossos que roçavam seu rosto. Teve a impressão de se ia desmanchar de tanta felicidade e prazer, sentindo a cobiça dos dois machos por seus orifícios. Depois de um tempo, Daniel começou a escalar o tronco peludo do Fernando até alcançar seu rosto e juntar seus lábios aos dele. Fernando gostou de sentir o sabor de sua rola na boca de Daniel. Os primos se entreolharam, Pedro deu uma leve erguida no corpo de Daniel segurando-o pela cintura, Fernando o amparou com as mãos debaixo das nádegas e Daniel passou seus braços no pescoço musculoso de Fernando. A ereção de Fernando roçava o racho molhado de Daniel. Pelo ganido estridente de Daniel, Pedro soube que Fernando havia metido a rola na fenda dele. Os primos o comprimiram entre seus corpos e Daniel foi estocado por trás e pela frente numa sanha desenfreada. As picas profundamente atoladas em suas entranhas provocavam espasmos por toda pelve, fazendo-o gemer como um animal lanhado. Seu corpo vibrava como as cordas de um instrumento quando um impulso tão intenso quanto um choque perpassou sua coluna, na frente ele estava encharcado e atrás seu cu se fechou pela contração abrupta dos esfíncteres, um prazer inebriante apossou-se dele. Pouco depois, as estocadas do Pedro se tornaram tão curtas e brutas que ele se viu obrigado a ganir. Pedro sentiu a comichão no saco e uma contração fez despejar a produção armazenada das bolas em jatos pegajosos que umedeceram todo o cuzinho de Daniel. Ele os sentia entrando fartos e cremosos, aplacando a ardência do cu. As estocadas de Fernando feriam tão profundamente seu íntimo que ele apertou as coxas ao redor da rola e jogava a pelve de encontro à virilha dele. Não demorou a que o gozo de Fernando se misturasse a umidade dele, alagando tudo até transbordar pelo racho arregaçado. O retesamento de seus corpos foi lentamente cedendo lugar a uma letargia reconfortante. Quando Daniel voltou a se apoiar sobre os próprios pés, soltou um derradeiro gemido e começou a cobri-los com seus beijos profícuos e carinhosos.
- Meus dois queridos! Meus dois queridos! – balbuciou, extenuado como se tivesse acabado de correr uma maratona, mas indefinivelmente pleno de felicidade.
- Ah tesão! – gemeu Pedro.
- Tesudo do caralho! – grunhiu Fernando.
A coligação entre os três só ganhou força e cumplicidade desde então. As disputas entre os primos deixaram de se desenvolver em outros campos, e só aconteciam para obter a primazia com Daniel, que as abrandava com sua meiguice e uma paixão crescente. Foi assim até o dia da formatura. Os três haviam não só conquistado um canudo que atestava seus conhecimentos, mas uma conjunção que atrelava seus corações a um único objetivo, viver aquele amor, mesmo que torto, mesmo que incompreensível para a sociedade.
- Nós não sabemos o que você fez para domar a irresponsabilidade e a rebeldia dos nossos filhos, mas o seu convívio com eles os transformou exatamente nos homens íntegros que sonhávamos. – disse o pai do Pedro, durante a festa de formatura, na presença do pai do Fernando.
- Queremos você perto de nós, pois não tenho dúvidas de que o mérito disso é todo seu. – acrescentou o pai do Fernando. – Venha morar conosco!
- Eu não fiz nada! Nós apenas resolvemos nos entender e esquecer as mágoas, a partir daí tudo entrou nos eixos. – esclareceu Daniel. – E, há muito não dito que, se os senhores ficarem sabendo, talvez não continuem a pensar da mesma maneira. – ele temia que seus segredos fossem lhe ocasionar mais uma frustração, e estava tão apaixonado pelos dois que não saberia lidar com essa perda.
- Digamos que o Pedro e o Fernando não mantêm segredos conosco e, que acima de qualquer tabu, nós valorizamos o amor que você sente por eles e eles por você. – declarou o pai do Fernando.
- Não queremos cercear o que vocês três construíram, uma vez que o fizeram se respeitando e sem impingir a ninguém um acordo que é só de vocês. Nós só queremos compartilhar a felicidade que vocês construíram, o resto não importa.
- Quer dizer que vocês sabem, isto é, que o Pedro e o Fernando ... – concluiu Daniel, dando-se conta de que sua condição já era do conhecimento deles.
- Sim! Como eu disse, não há segredos. No entanto, queremos que tenha a certeza de que tudo aquilo que sabemos, ou viermos a saber, fica exclusivamente entre nós. – garantiu o pai do Fernando.
- Vamos submeter aqueles dois molengas a mais uma prova. Queremos ver se são capazes de conduzir umas terras que compramos nas cercanias das nossas fazendas, com os conhecimentos que adquiriram. Achamos que você seria o melhor parceiro deles nessa empreitada. Talvez aquele que impeça que eles se devorem um ao outro. – disse, com um sorriso, o pai do Pedro. – Diz que aceita! Vai nos dar uma alegria e uma tranquilidade que você nem imagina. – acrescentou, colocando sua mão sobre o braço de Daniel.
- Nem sei o que dizer. Vocês têm sido tão bondosos, compreensivos e generosos comigo que eu nem sei como expressar minha gratidão. – Daniel não conseguia deixar de ser emotivo e já estava com aquele nó na garganta outra vez.
- Só diga que topa! É o melhor presente que pode nos dar. – responderam os dois.
Ele aceitou.
- Vocês são uns linguarudos. Daqui a pouco está todo mundo sabendo de mim. Vou encarar as pessoas e ficar na dúvida, será que essa sabe da minha condição? – queixou-se Daniel, depois de saber que seu segredo tinha sido revelado.
- Era a única maneira de continuarmos tendo você junto conosco. Como é que você acha que íamos explicar que queríamos levar você com a gente? – respondeu Pedro.
- Nós ainda dependemos da grana dos nossos pais. Ou colocávamos as coisas às claras ou ficaríamos sem você. Depois, não há com o que se preocupar, ninguém vai espalhar isso por aí, tenha a certeza. – garantiu Fernando.
Foi assim que em pouco menos de três meses Daniel estava se instalando com Pedro e Fernando em terras sem nenhum beneficiamento no município de Goiatuba. As terras tinham feito parte de uma enorme fazenda improdutiva que os antigos proprietários venderam, ficando apenas com alguns hectares ao redor da antiga sede compondo um sítio para lazer. As terras tinham se degradado ao longo dos anos de abandono e havia muitos desafios e trabalho para recompô-las novamente. Os três jovens, unidos por um amor ímpar, estavam com toda a disposição para fazer daquilo seu sustento e seu lar.
Os dois primeiros anos foram marcados por muito trabalho, com jornadas que ultrapassavam as doze ou catorze horas. Com maquinário emprestado das fazendas dos pais, eles próprios conduziam os tratores para recompor as pastagens, preparar o solo para receber o plantio das lavouras, construir galpões e a própria casa, pois não podiam arcar com muita mão-de-obra remunerada. A grana era curta e a demanda enorme, o jeito era por a mão na massa. Eles não se intimidaram. As energias eram todas empregadas nesse afã, sete dias por semana, trinta dias por mês. As poucas horas de descanso que sobravam entre a meia-noite e as cinco da madrugada serviam para cultivar seu amor. Quem mais penava era Daniel. Primeiro por que sua constituição física não era tão portentosa quanto a dos dois primos, embora ele trabalhasse tanto quanto eles. Segundo, por que ambos requisitavam seus cuidados no leito conjugal com uma disposição leonina.
Desde o dia em que aquele primeiro sangue escorreu por suas pernas em condições vexatórias no vestiário do colégio, Daniel sofria por alguns dias de uma cólica extremamente dolorosa e incômoda, toda a vez que aquilo se repetia. Por sorte, o fenômeno era raro e irregular. Ele chegava a ficar até quatro meses sem experimentá-lo. De uns tempos para cá, no entanto, os intervalos diminuíram. Daniel atribuiu-os a requisição constante de sua fenda. Embora a predileção tanto do Pedro quanto do Fernando fosse pelo seu cuzinho, que eles alegavam ser menos elástico e, portanto, mais apertado e deliciosamente prazeroso. As necessidades deles muitas vezes levavam Daniel a ser penetrado simultaneamente pela frente e por trás. Daniel culpou as dores em forma de cólica ao avantajado tamanho dos cacetes deles. Afinal, Pedro tinha um colosso insaciável de vinte e quatro centímetros pendurado no meio daquelas coxas peludas e Fernando um de vinte e três centímetros, agraciado com um calibre animalesco que, depois de deixar seus orifícios esfolados parecendo um túnel de tão arregaçados, ainda continuava a exigir suas carícias.
Um final de março muito chuvoso obrigou-os a mudar a rotina de trabalho, visto que trabalhar a terra tinha se tornado impossível. Dedicaram-se a outras tarefas, entre elas a conclusão da casa onde moravam. Estavam faltando detalhes, coisas que o capricho de Daniel planejara, e que foram concluídos enquanto a chuva torrencial, lá fora, não dava trégua.
- Ficou perfeito! – elogiou Pedro, apertando Daniel contra o corpo com um desejo latente.
- Lindo! Não podia ser mais aconchegante! – observou Fernando, juntando-se aos dois, e aproveitando a chance para encoxar Daniel naquele short que deixava as dobras entre suas nádegas e as coxas sensualmente expostas.
A coisa geralmente começava assim. Um deles se achegava a Daniel cheio de tesão e um apetite voraz, dando início às preliminares. O outro se excitava e se juntava a eles. Cada centímetro do corpo de Daniel era disputado por aquelas mãos ásperas e por aquelas bocas ávidas. Ele se entregava e, com o tesão aflorado por sentir a gana de seus dois machos, começava a satisfazer as necessidades deles. O tilintar constante da chuva caindo do telhado serviu de cenário para o que começava a acontecer. Alguns beijos tórridos prenunciavam mais uma daquelas transas demoradas e regadas à luxúria. Pedro sentia o corpo de Daniel sendo prensado contra o dele cada fez que Fernando o encoxava. Não demorou a trocar o sabor dos lábios de Daniel nos seus por uma mamada em sua rola. Ao se inclinar para chupar a pica do Pedro, que continuava a crescer em sua garganta, Daniel projetava as nádegas num encaixe libidinoso na virilha do Fernando. A jeba, já assanhada e babando, precisou ser liberada das calças e teve destino certo, o rego lisinho que ficou vulnerável com o afastamento daquele short libertino. Daniel ganiu quando ela foi enfiada em seu cu. Não estivesse ele sugando cada gota do pré-gozo da rola do Pedro teria dado um gritinho, pois aquela jeba grossa sempre entrava fazendo um estardalhaço doloroso. Bastou esse ganido, pungente e tentador, para que Pedro, numa sanha desesperada, metesse o caralhão no racho molhado. Embora as estocadas no cu e no racho fossem doloridas como sempre, desta vez Daniel sentia uma tensão estranha em seu baixo ventre. Uma necessidade calorosa de dar abrigo à rola do Pedro, aliada aos beijos cheios do sabor viril de sua saliva estavam deixando Daniel não apenas hiper-excitado como também mais sensível e submisso. Por uns instantes, ele estava tão enlevado por esse sentimento que até se esqueceu de que seu cu estava sendo bombado sem dó nem piedade. Pedro se perdeu naquele olhar doce e gozou feito um touro. Os jatos de porra chegaram a vazar e escorrer pelas coxas do Daniel. Ele sentiu o espasmo do clímax atormentando suas entranhas e, enquanto o caralhão do Pedro ia amolecendo entre suas pernas, ele aguardava Fernando terminar de se satisfazer em seu cuzinho. Daniel não sabia explicar, mas sentia algo diferente dentro dele depois que o Pedro gozou nele. Alguns dias depois, veio àquela cólica tão abrupta e dolorosa que o fez acordar a noite e ficar caminhando pela casa até o amanhecer, pois analgésico algum estava dando conta de suprimi-la desta vez. A fenda sangrou por dois dias.
- Está na hora de você procurar um médico! – exclamou Pedro, diante da prostração que se abatera sobre Daniel.
- É verdade. Faz tempo que comentamos sobre isso e você fica adiando essa avaliação. – interveio Fernando.
- Não me sinto bem com estranhos examinando minha intimidade. É tudo tão esquisito que quando vejo alguém olhando para o que tenho entre as pernas fico apavorado. – confessou Daniel, que tinha em relação aos seus genitais um travamento psicológico mortificante.
- Bem, não importa. É mais importante você saber a causa dessas cólicas, desses sangramentos tão bizarros, enfim, do que acontece com você. – disse Pedro.
- Eu sou uma aberração. É isso que acontece comigo. – resignou-se Daniel.
- Deixe de bobagem! É certo que você é diferente, mas você é lindo, é dócil, é o que temos de mais precioso. – elogiou Fernando, tomando-o nos braços.
A avaliação médica aconteceu em Uberlândia, semanas depois. A conclusão foi a mesma que lhe tinham dado na infância. Era preciso fazer uma série de exames e uma avaliação genética. Os pais do Pedro e do Fernando também intervieram na história e, pela complexidade do que havia a avaliar, aliada à sugestão do médico, os exames foram conduzidos num centro de excelência em São Paulo. O diagnóstico definitivo não deixou dúvidas. O clitóris grande que se parece com um pequeno pênis, a abertura uretral, por onde saía urina, a tal fenda que Daniel tinha ao longo e abaixo da superfície do clitóris; as bordas dessa fenda eram na verdade os lábios vulvares que se pareciam com um escroto, o que fez Daniel ser tratado como sendo do sexo masculino com testículos que não desceram, uma vez que entre os lábios uma protuberância de tecido, tornava-os semelhantes a um escroto com testículos. Daniel, na verdade, tinha o cariótipo com dois xis. Era uma fêmea, contrariando o desejo obstinado do pai que o forçara a viver como um macho.
- Vamos fazer uma genitoplastia feminilizante, o que vai te dar mais segurança e uma compreensão melhor sobre si mesma. – disse o médico. – Ela deveria ter sido conduzida na sua infância, o que teria evitado muitos sofrimentos. – emendou, solidário.
- Viu? De agora em diante nada mais vai ser tabu, nada mais vai ser confuso. – disse Pedro, que segurava a mão do Daniel de um lado enquanto Fernando fazia o mesmo com a outra.
- Você ainda vai enfrentar alguns procedimentos, mas depois tudo vai ser melhor. – disse Fernando.
- Há mais um item que eu quero esclarecer. Independente dos procedimentos que vamos iniciar é bom que você saiba que está grávida, o que vai requerer que nos apressemos. Seus hormônios femininos sofrem uma oscilação muito grande e será necessário estabilizá-los para levar adiante essa gravidez, e fazer suas mamas se desenvolverem como devem. – sentenciou o médico.
Pedro e Fernando se entreolharam e, pela primeira vez, desde que tinham entrado naquele consultório, estavam sem chão. Quando Daniel olhou para os dois, sentiu o quanto estavam precisando dele naquele instante, e beijou cada um deles com a mais suave ternura de sua alma. Os pais do Pedro e do Fernando estavam do lado de fora, tão ansiosos e preocupados com o diagnóstico, que mal se continham. No entanto, quase caíram na risada quando os três saíram pela porta do consultório. Daniel tinha um semblante tranquilo e uma alegria nunca vista naquele rosto angelical, enquanto Fernando e Pedro pareciam dois zumbis.
- Que caras são essas? Parece que são vocês que têm uma doença grave. – disse o pai do Pedro.
- Você está bem? Está com cara de quem está em estado de choque. – disse a mãe do Fernando.
- É que um desses dois bobalhões mais queridos do meu coração vai ser papai! – exclamou orgulhoso Daniel. Os velhos quase caíram nas cadeiras que estavam atrás deles.
- Quer dizer que você ... – balbuciou o pai do Fernando.
- Você não é– falou incrédula a mãe do Pedro.
- É isso mesmo! Daniel, agora nem sei como chama-lo, temos que pensar nisso também, é mulher. Sem por nem tirar. – gaguejou Fernando, conseguindo vencer o bloqueio que tinha tomado conta dele.
- Ele, digo ... é mesmo confusa essa coisa ... ela vai precisar fazer uma cirurgia, mas é isso mesmo, é uma mulher. E está grávida! – sentenciou Pedro, comovido ao ponto de ter os olhos embargados pelas lágrimas.
Daniel, após a desgastante recuperação dos procedimentos pelos quais tinha passado, estava agora prestes a ter seus registros modificados, passando a ser Daniela.
Pedro e Fernando tentavam esconder ao máximo dela a preocupação com a paternidade biológica. Queriam poupá-la da incerteza que os afligia, embora cogitassem fazer um teste de paternidade pré-natal. Rondavam-na com o assunto sem explicitar suas intenções, não queriam de forma alguma magoá-la. Daniela era tão ligada aos seus machos que logo sacou o que se passava. Ela deu um sorriso condescendente quando pegou o rosto hirsuto de cada um deles em suas mãos beijando-lhes delicadamente o queixo. Havia nela uma certeza que carregava em silêncio, guardada com o maior zelo em suas entranhas desde que aquela porra do Pedro a fizera transbordar com o tesão dele. Só eles não sabiam que ela já sentia revolver-se em seu ventre um serzinho tão impulsivo e matreiro quanto o Pedro. Desde aquele dia ela estudava um meio de dizer isso ao Fernando sem perdê-lo. Como as coisas tinham se engendrado, não dava mais para conceber a vida sem um deles.
- Os mais de 99,9% de probabilidade da paternidade dessa criança que você está esperando são compatíveis com o material cedido pelo Pedro. – disse o médico, ao revelar o resultado do exame de paternidade pré-natal não invasivo a que Daniela se submeteu para acalmar os ânimos dos dois.
Pedro agarrou-a, tirando-a da poltrona onde estava sentada em frente à mesa do médico, apertando-a em seus braços e soluçando feito uma criança. Não cabia em si de felicidade. Daniela tentou, em vão, conter a efusividade do amado, pois estava constrangida diante do médico e preocupada com Fernando. Antes de deixarem o consultório, enquanto Pedro ainda enchia o médico de perguntas com suas dúvidas, a um canto da sala, Daniela abraçou Fernando cheio de ternura.
- O próximo vai ser seu. Eu garanto! Com a mesma paixão e amor enorme que sinto por você. – segredou no ouvido dele.
- Jura? – perguntou, com a mesma carinha desamparada com a qual uma criança recebe a notícia de que seu presente cobiçado vai chegar no Natal.
- Juro! – sussurrou Daniela, encarando o sorriso confiante que se formava no semblante dele.
A festa de aniversário pelos dois aninhos do Eduzinho precisou ser interrompida às pressas. Daniela, depois de uma pontada violenta no baixo ventre, sentiu o líquido amniótico escorrendo por suas pernas após o rompimento da bolsa amniótica, deixando Fernando desesperado e trotando, todo atrapalhado, de um lado para o outro, sob o olhar gozador do Pedro.
- É papai, agora você vai ver o que é bom para a tosse! Tirou uma com a minha cara há dois anos, agora é a sua vez. Quero ver se vai ser um paizão como eu. – vangloriou-se.
- Aposto que vou me sair bem melhor do que você! – exclamou, amparando Daniela a caminho da maternidade.
- Pelo amor de Deus, seus malucos! Não aguento mais essa história de apostas entre vocês. – protestou, enquanto todos caíam numa risada que refletia toda a felicidade que aquele trio, tão incomum, estava dando às famílias.