Maria Lúcia:- Pode até ser meu filho, mas o importante é que ele te ama, ele deu carinho, amor, sempre foi um ótimo pai pra você e para a sua irmã.
Caio:- E se eu dissesse que sou gay, será que meu pai continuaria me amando?
Maria Lúcia:- Mas você não é gay meu filho, não tem nada que impeça você se entender com seu pai.
Caio:- Engano seu mãe, eu sou gay sim.
Maria Lúcia:- Caio isso não é hora pra brincadeiras meu filho, eu vim aqui pra ter uma conversa séria contigo...
Caio:- E quem disse que eu estou brincado mãe? Eu nunca falei tão sério na minha vida.
Maria Lúcia:- Você está me dizendo que você é...
Caio:- Sim mãe. Eu sou gay, sempre fui.
Maria Lúcia:- Caio pelo amor de Deus não me fale isso nem brincando, você esta dizendo isso pra proovocar seu pai mas isso não vai prestar meu filho... Não é provocando ele que você vai conseguir resolver essa situação.
Caio:- Mãe é verdade, eu sou gay...não estou falando pra provocar ninguém, eu sou gay. Pela primeira vez na vida eu assumi isso, e estou me sentindo como se tivesse tirado um peso das minhas costas.
Maria Lúcia:- Meu filho não pode ser, e todas aquelas garotas que você pegou... eu vi, ninguém me falou, várias vezes eu vi você com meninas, você sempre falava na mesa sobre as meninas que você pegava lembra? Várias vezes eu impliquei com isso meu filho...
Caio:- As meninas eu pegava pra que você e meu pai não desconfiassem do que eu realmente era, a maioria delas nunca ia além do beijo, aliás nem me lembro quando foi a última vez que eu transei com uma mulher, porque eu não sinto tesão por nenhuma delas...
Maria Lúcia:- (Chorando) Não pode ser meu filho, isso é mentira... Você sempre foi homem, nunca teve jeito de gay.
Caio:- Mãe existe jeito de gay? O fato de eu não ser afeminado como o Pedro não quer dizer nada, isso são rótulos que a sociedade criou.
Maria Lúcia:- Eu não posso acreditar, eu não consigo acreditar.
Caio:- (Pegou seu celular e abriu o aplicativo) Olha essas conversas mãe, são de um aplicativo de encontros que eu tenho.
Maria Lúcia leu duas ou três conversas e caiu no choro, um choro de culpa, de desespero. Não tinha como não admitir, seu único filho era de fato gay as evidências falavam por si só.
Caio:- Agora acredita em mim?
Maria Lúcia: Meu filho onde foi que nós erramos? Quando você decidiu ser gay?
Caio:- Mãe ninguém decide ser gay, a gente já nasce assim. Você acha que se eu ou a maioria dos gays pudessem escolher, nós não escolheríamos ter uma esposa, uma família de acordo com os padrões da sociedade? Mas infelizmente ninguém pode escolher, desde pequeno eu sempre senti atração por homens e cresci sufocando isso dentro de mim, quantas vezes eu chorei sozinho porque tinha que viver encenando um teatro pra vocês, para os meus amigos. Você se lembra da única vez que eu briguei na escola quando eu tinha 13 anos?
Maria Lúcia:- (Chorando) Me lembro sim, até fui assustada pra escola... mas o que isso tem haver com você ser gay?
Caio:- Eu me lembro como se fosse hoje, naquele dia eu tinha acabado de sair para o recreio e vi dois meninos zombando de um outro menino da minha classe. O menino era frágil e delicado, mesmo sendo tão novo, ele já demonstrava sua sexualidade com seu jeito afeminado. E os outros caras humilhavam ele por isso, apalpavam a bunda dele e o chamavam de viadinho, bichinha, mandava ele virar homem e outras coisas do tipo. Quando vi aqui eu sofri junto com aquele menino porque sentia atração por homens e me coloquei no lugar dele, e de repente tomei aquelas humilhações para mim e foi ai que eu explodi e reagi, eu não estava só defendendo aquele menino, eu também estava me defendendo, era inadmissível aceitar ofensas públicas. Eu levei uns dois socos, mas consegui colocar os garotos pra correrem e a partir daquele dia nunca mais zombaram do outro menino, este por sua vez se tornou meu amigo até o final do ensino médio, e as vezes ainda troco idéia com ele pelas redes sociais.
Maria Lúcia:- Então por isso você teve aquela reação com seu pai? Na verdade não era só o seu amigo que você estava defendendo, e sim a si próprio...
Caio:- Sim mãe, foi isso que reagi daquele jeito. Eu passei a vida toda sufocado, engasgado, tentando esconder isso pra não magoar... mas quando ele tratou o Pedro daquela forma eu vi que o problema não sou eu e sim ele, a família do Pedro gosta dele do jeito que ele é, e ele é feliz por isso, já eu apesar de amar todos vocês sou infeliz porque tenho que ser o que não sou e se um dia eu resolver ser eu de verdade possivelmente vocês sentirão vergonha de mim.
Maria Lúcia:- (Chorando) Meu filho jamais diga uma coisa dessas... eu jamais sentiria vergonha de você....Isso também pode ser só uma fase né?
Caio:- Não se iluda mãe, não é só uma fase. Eu nasci assim e vou morrer assim, me desculpa se eu te decepcionei.
Maria Lúcia:- Isso não vai mudar em nada o amor que eu sinto por você.
Caio:- Isso quer dizer...
Maria Lúcia:- Quer dizer que é difícil pra mim assimilar tudo isso, que não é algo que eu queria pra você, mas você é meu filho e eu te amo de qualquer jeito meu amor. Sendo gay, sendo hétero... eu sou mãe, e toda mãe no fundo quer a felicidade dos seus filhos.
Caio:- Isso é sério?
Maria Lúcia:- Você vai ter que ter paciência comigo meu filho, até eu me acostumar vai ser difícil, mas eu to do teu lado e sempre vou estar... Não to dizendo que vou mudar minhas idéias do dia pra noite, mas vou te apoiar por que e te amo Caio e só quero a sua felicidade meu filho.
Nesta hora Caio não pode conter as lágrimas e deu um forte abraço na mãe, estava feliz por finalmente poder ter alguém em quem ele possa confiar, o apoio da mãe tirava um peso enorme das suas costas.
Maria Lúcia:- Outra coisa, por enquanto isso é um segredo só nosso. Nada de falar com seu pai, eu vou tentar preparar e isso vai levar muito tempo. Até lá, se comporte e melhore o seu comportamento dentro de casa, confia em mim meu filho.
Caio:- Tudo bem mãe, mas eu não vou pedir desculpas pro meu pai, posso até baixar a guarda pra ele, mas desculpas eu não vou pedir.
Maria Lúcia:- Que te deve desculpas é o seu pai, só baixe a guarda meu filho, o resto você deixa comigo.
Caio:- Obrigado por me entender mãe.
Maria Lúcia:- Sou sua mãe e pode confiar sempre em mim meu filho.
Neste momento tem a sessão de abraços e beijos que sempre tem quando uma mãe e um filho se entendem, mas a partir dali o clima se tornou mais leve dentro daquela casa. Caio já desceu pra jantar normalmente, e aos poucos Valdomiro foi desapegando do seu orgulho e naquela semana ainda se desculpou com o filho, prometendo ser tolerante com suas amizades, inclusive com Pedro, disse ainda ao filho que ele poderia trazer pra casa quem ele quisesse que ele não implicaria mais, e a paz foi restabelecida naquela casa, pelo menos provisoriamente.
Já se passavam 15 dias desde que Caio tinha se assumido para mãe, e esta agora meio que observava mais o filho, não para recriminá-lo e sim para entender um pouco mais o seu caçula e apoia-lo no que fosse preciso. Era um sábado ensolarado, Edu estava com Letícia na piscina de casa e Caio estava trancado no quarto pois não se sentia bem vendo a irmã junto com seu grande amor. Alguém bateu na porta do quarto, ele por um momento imaginou que fosse Edu, mas se surpreendeu ao ver que era Bernardo.
Bernardo:- E aí... vim acordar a bela adormecida.
Caio:- Hahahaha vai tomar no seu cú, eu sou homem.
Bernardo:- Já são 9hs da manhã, tem um sol lindo lá fora e você está aqui trancado neste quarto?
Caio:- Até pensei em descer pra piscina, mas o Edu e a Lê estão por lá daí...
Bernardo:- Já notei que você não fica confortável vendo meu irmão e a sua irmã juntos, o que rola?
Caio:- (Riso sem graça) Hahaha Talvez seja ciúmes de irmão.
Bernardo:- Ou outro tipo de ciúmes né?
Caio:- Ah vai se fuder Bernardo, veio aqui pra me encher foi?
Bernardo:- Calma, não precisa ficar bravinho, a gente fala disso um outro dia. Eu tive uma idéia pra te fazer sentir mais confortável...
Caio:- Ihhh lá vem besteira por aí...
Bernardo:- Ooooww ta me tirando? Hahaahaha Liga para os teus amigos da facul, os mais chegados e chamam pra vir passar o dia aqui, vamos fazer um churrasco, eu banco a carne.
Caio:- Opa se é assim beleza, Mas vou chamar só o Pedro e a Maíra... Ah vou ligar pro Guido também, senão ele me mata depois.
Bernardo:- Beleza liga logo e vamos comigo comprar as coisas pro churrasco, a cerveja é por tua conta.
Caio ligou para os amigos, deu um pouco de trabalho convencer o Pedro, mas Maíra também ligou insistindo e ele acabou topando. Bernardo e Caio compraram as coisas e logo estava rolando um churrasco com música e muita descontração como não se via há muito tempo naquela casa.
Guido:- Caio como você não tinha me falado daquela gata ali antes?
Caio:- Quem a Maíra? Ela estuda comigo pow?
Guido:- Já pegou?
Caio:- Claro que não pow.
Guido:- Tô te estranhando, não pretende pegar?
Caio:- Também não, ela e minha parceira cara se eu ficar com ela vai acabar estragando a amizade.
Guido:- Me apresenta então pow.
Caio:- Vou te apresentar só que vê se não faz cagada pow, a guria é gente boa.
Ele chamou Maíra e apresentou Guido, logo os dois engrenaram um papo e Caio acabou indo dar atenção para Pedro enquanto Bernardo cuidava da churrasqueira.
Pedro:- Tem certeza que teu pai não vai implicar porque eu estou aqui?
Caio:- Relaxa, eu tive uma conversa com o velho e ta tudo certo.
Pedro:- Sei bem essas conversas de vocês héteros, é do tipo grito e pancadaria.
Caio:- Haahahaha não chegou a tanto.
Edu não agüentou e disfarçou indo buscar uma cerveja para conseguir se juntar a Caio e Pedro. Bernardo vendo a cunhada tomar sol sozinha, resolveu ir lá puxar assunto.
Bernardo:- Um milhão pelos seus pensamentos.
Letícia:- Hahahahaha nossa meus pensamentos estão tão valiosos assim?
Bernardo:- Aproveita enquanto estão em alta.
Letícia:- Tô observando o Edu e o Caio parecem duas crianças brincando na água.
Bernardo:- Eles são muito parecidos... fico com pena do outro garoto que está sofrendo nas mãos dos dois hahahaha.
Letícia:- O Pedro é bem gente boa. Já percebeu que os nossos irmãos se parecem mais entre eles do que com a gente.
Bernardo:- Hahaha verdade, tem uma química legal entre eles.
Letícia:- Eu gosto tanto de ver os dois conversando que as vezes nem me aproximo pra atrapalhar, daí me divirto vendo que eles estão bem.
Bernardo:- Se é assim, posso tocar pra você enquanto você vigia as crianças?
Letícia:- Claro que pode.
Bernardo ficou tocando e conversando a Letícia enquanto Edu se divertia com Caio e Pedro na piscina, foi um dia muito agradável, eles almoçaram e passaram o resto da tarde tomando banho de piscina e cantando em volta do violão de Bernardo. Depois de muito papo, Guido finalmente conseguiu roubar um beijo de Maíra já no final da tarde, Caio e Edu não se desgrudavam e de sua janela Maria Lúcia observava tudo.
No final Guido foi deixar Pedro e Maíra em casa, queria ter uma chance de ficar sozinho com a garota pra ver se conseguia algo além de beijos, mas o tiro saiu pela culatra.
Bernardo:- Se não fosse a Letícia eu teria ficado no vácuo hoje não é Caio?
Caio:- Hã?! Como assim?
Bernardo:- Você se juntou com meu irmão e com o Pedro e me deixou de lado?
Caio:- Hahahaha tadinha dela, sentiu falta do seu homem meu amor? Vamos ali no meu quarto que eu te dou uma atenção melhor.
Bernardo:- Vai tomar no seu cú... vai ta dando em cima do cara errado.
Caio:- Então para de reclamar hahahaha.
Eduardo:- Estão afim de comer uma pizza?
Caio:-Eu topo, vamos maninha?
Letícia:- Porque a gente não pede aqui? Daí assistimos um filme juntos.
Bernardo:- Ótima idéia.
Eduardo:- E aí Caio topa?
Caio:- Não tem saída né?
Eles pediram a pizza e foram assistir o filme, ambos deitaram no tapete da sala, Bernardo, Caio, Eduardo e na outra ponta Letícia. No meio do filme Letícia apagou, dormiu profundamente do lado de Eduardo, Bernardo começou a cochilar e como que num efeito imã as mãos de Caio e Edu foram se encontrando, e logo ambos estavam de mãos dadas,ora apertavam as mãos, ora se acariciavam mutuamente mãos e braços de modo muito terno.
O filme acabou e naquela noite Bernardo pediu para que Edu dormisse na casa dos pais para almoçarem juntos em família e ele topou, então se despediram de Caio e Letícia e então os dois irmãos seguiram o seu destino.
Depois de tomarem banho eles foram até a cozinha tomar um copo de leite para então dormirem, e sem pensar muito Bernardo abordou o irmão.
Bernardo:- O que está rolando entre você e o Caio?
Eduardo:- Tá louco? Que papo é esse?
Bernardo:- Eu estava reparando o quanto vocês se dão bem, vi o quanto você se sente feliz do lado dele.
Eduardo:- Não fala merda... O Caio é meu amigo e meu cunhado, ta viajando muito Bernardo.
Bernardo:- Ah é, se não rola nada entre vocês então porque vocês estavam assistindo ao filme de mãos dadas? Pode me explicar isso Edu?
Tai galerinha mais um capítulo e eu só posso dizer que nem tudo é o que parece, vem mais coisas por aí.
Ahhh devo admitir que o fato da briga aos 13 anos de idade na escola, aconteceu comigo Rafael, joguei no conto porque achei que tinha haver com o Caio... um outro dia conto se tiver oportunidade.
Agradeço os comentários de todos: Geomateus, Bee20, Marcos Costa, Gordo1979, Aline33, Ru/Ruanito, VALTERSÓ, Keki,hyan, Suara,Dhiren, Regi1069, Gui Gonçalves, Alien1234, Smile.Smile,jejr,Wyth e todos os que estão lendo e acompanhando a história, os comentários de vocês são fundamentais.
Agradeço os e-mails: Guilherme Gonçalves, Guilherme Sousa, Aline Barbieri, Lorran Cavalcante, Jeová Junior, Alberto Henrique,Bruna Santos, Brenno Rodrigues, Carol Silveira, Victor Hugo, Samuel Oliveira, Elaine Cristina, Vinicius Andrade, Gabriel Marques e todos que tem mandado e-mail, é muito bom manter contato com vocês.
Qualquer duvida, criticas, sugestões ou caso queiram trocar ideia é só mandarem e-mail faelvelaskes@gmail.com.
Abraço a todos!!!
Rafa Velaskes
