Eu não gostava de ir à igreja. Muitas vezes mamãe incentivava-me a realizar um descarrego a fim de pedir perdão por todos os pecados cometidos. Vezes ou outras, estávamos ocupando o banco da igreja nos domingos de manhã.
Naquela tarde papai, mamãe e eu estivemos perante o altar por outro motivo. Celebrávamos o casamento de Renan, irmão mais velho de Cauã.
A noiva, Maria Eduarda, chegara com trinta minutos de atraso, o que se pode considerar um uma demora básica em um casamento. Eles estavam muito bem juntos, com os braços entrelaçados, esbanjando felicidade pelo rosto.
Na primeira fileira, Sérgio, o orgulhoso pai, contemplando seu precioso filho casar-se com a bela formosa nora de seus sonhos. Eliane, num vestido deslumbrante exibindo sua classe, segurava o ombro do marido. Cauã estava logo ao lado, usando uma camisa social cinza que caia como uma luva em seu corpo. Tão bem apessoado que me doía observá-lo.
Nos bancos do fundo, à minha esquerda do lado oposto, uma presença inusitada, mas de maneira nenhuma poderia se dizer inesperada. Diana assistia a cerimônia conosco. Desde que a notei, até o momento em que os noivos deixaram o altar, por incontáveis vezes seus olhos miravam Cauã. Mas em momento algum foram correspondidos, ele olhava apenas para o que acontecia a sua frente.
A festa após a cerimônia acontecia em um buffet grã-fino elegantemente decorado. Dividindo conosco uma grande mesa redonda, estava a vovó Isaura, considerada a rainha da família por todos os seus anos de vida e por ser a progenitora de sete filhos, dois falecidos, mamãe, Eliane, Helena, Heloísa e Miguel. Heloisa era responsável pelos cuidados de Isaura, moravam em um sítio na cidade de Lagoinha, interior de São Paulo, junto com o Tio Miguel, que administrava as atividades rurais do local. Eram o tipo de gente que levava uma vida tranquila, e por serem do campo traziam consigo uma simplicidade deliciosa, desprovidos da vaidade habitual das pessoas que os cercavam.
No lado oposto da mesa, Helena e Leandro ainda se perguntavam por que tinham sido convidados, levando em conta a consideração que os organizadores do casamento tinham por eles. Não tive coragem de encarar Leandro, portanto conseguia olhar para qualquer direção, menos a qual ele se encontrava.
Entre as pessoas dispersas no buffet Cauã caminhava de um lado para o outro cumprimentando gente que eu nunca havia visto na vida, supus que a maioria faria parte de seus familiares cariocas, reconhecíveis pelo sotaque. Aproximou-se de nossa mesa e se abaixou a nível de cumprimentar Isaura, que lhe pegou pelo pescoço e meteu-lhe um enorme beijo na bochecha.
- A benção, vó!
-Meu neto querido... Deus lhe abençoe meu filho! Você tá bom? Arrasta uma cadeira e senta com a gente.
Cauã puxou uma cadeira e se pôs conosco à mesa. Não pude resistir em observar a reação de Leandro, que virava os olhos em desprezo a Cauã.
- Mas menino, como você emagreceu! Ta comendo direito, não? Mas olha só como ta crescido! – Ela dizia essas palavras tocando o rosto de Cauã, que em retribuição ficava vermelho feito pimenta.
Ela o paparicou com toda meiguice de vó, da mesma maneira que fazia quando via a mim, menos Leandro, por ele não ser um tipo de pessoa afetuosa.
- Já um homem feito! E me conte uma coisa... Cadê as namoradinhas?
A vermelhidão no rosto de Cauã se fez mais perceptível.
- Por ai vó! – Ele falou tentando abafar a voz a fim de não me atingir.
- Cadê? Pois mostre! Quero ver ela... – Ela disse, observando ao redor.
-Acho que se sentou com a mãe dela pra comer, daqui a pouco ela aparece. – Respondeu Cauã, nervoso e sem graça, ajeitando a gola da camisa.
- Hoje é seu irmão, mas amanhã quem se casa é você. Ah eu lembro muito bem quando seu avô e eu nos casamos, eu era a moça mais feliz do mundo quando subi no altar da igreja Nossa Senhora da Conceição. Foi a cerimônia mais linda da cidade... Esse é um sacramento santo!
Mamãe e papai, ao meu lado, riram das memórias de vovó, Miguel e Heloísa, acostumados com as antigas histórias de Isaura, apenas sorriram. Na outra ponta, Leandro se contorceu, como se estivesse sendo torturado. Deu uma bufada, levantou e saiu andando pelo salão. Todos repararam na sua demonstração de impaciência, mas isso logo fora esquecido devido ao aparecimento de mais um integrante à mesa.
- Onde você estava? Eu te procurei muito! – Disse Diana, pousando as mãos nos ombros de Cauã.
Vovó demorou um pouco para analisar a situação, mas logo concluiu que tratava-se da namorada de Cauã.
-Mas que mocinha bonita. Venha a cá! – Respondeu, fazendo um gesto para que Diana se aproximasse.
A garota abriu um sorriso largo indo até Isaura com os braços abertos para um abraço. Enquanto as duas se tocavam, ela exclama com um timbre afetado “Ah, que linda sua vovó, Cauã! A coisa mais fofa do mundo!” Sua voz soava mais irritante do que o habitual quando tentava a afinar. Em seguida, cumprimentou todos da mesa, incluindo meus pais, e a mim, com um beijo na bochecha. Que nojo.
Vovó Isaura começou a conversar com Diana (a qual agora estava de mãos dadas com Cauã). Deu conselhos, contou anedotas, histórias de seu passado, estabeleceu um contraste entre a juventude atual e a de seu tempo. A garota tentava responder tudo com simpatia, mas eu poderia deduzir que ela estava achando um saco, porém Diana tinha lábia para lidar com qualquer pessoa que pretendesse conquistar e jamais poderia demonstrar qualquer traço de antipatia.
Com o tempo aquilo foi se transformando em uma barra difícil de suportar. Eu não estava nem um pouco bem, meu coração pulava em desespero. Não era fácil lidar com Cauã apresentando a namorada para a família. Ele sequer a AMAVA, de certa forma, era para eu estar ao seu lado, de mãos dadas, chamando-o de meu amor. Mas isso seria impossível, ninguém veria nós dois juntos com bons olhos. Infelizmente o amor entre dois homens chocaria a todos, principalmente vovó.
Levantei da cadeira e me retirei da mesa sob a desculpa de que iria fazer uma ligação para Mariana. Cauã seguiu meus movimentos com os olhos, atentamente, parecia querer dizer algo...
Andei até sair do salão. Precisava tomar ar e liberar a euforia reprimida. Busquei um lugar para me sentar e encontrei uma área mais reservada onde tinha pequenos degraus frente a uma porta trancada, quase próxima ao estacionamento, longe de alguns convidados que conversavam do lado de fora. Pensei em de fato ligar para Mariana, mas algo me interrompeu. O estacionamento não estava sozinho, alguém saiu de um dos carros.
-Ué, também enjoou do leite azedo? – Zombou Leandro.
Fechou a porta do carro com força, no seu jeito másculo, malandro.
- Eu só quero entender por que você veio! Se não está contente, pegue a estrada! – Respondi rispidamente.
-Se eu pudesse, já estaria longe daqui, mas ainda tem a velha.... Ou você acha que foi eu quem decidiu vir para essa merda? – Ele devolveu, referindo-se a mãe. – Que se dane o Renan e essa família de bosta!
Leandro tinha seus motivos para odiar a família de Cauã. Sempre fora tratado com indiferença por eles. Poderia apostar que Eliane estava achando um absurdo ele ter comparecido junto a mãe.
Leandro saiu do estacionamento e veio em minha direção. Estava bem arrumado. Para ele bastava uma jaqueta preta e um jeans escuro, tudo caia muito bem.
-Me desculpe pelo outro dia. Eu fiquei um pouco nervoso com você. Eu estava muito afim de transar e acabei explodindo.
-Ta bem. – Respondi, mesmo não tendo o perdoado internamente.
Ele sentou-se ao meu lado e um silêncio longo caiu sobre nós.
- Que tédio! Que horas isso vai acabar?
- Parece que tarde, o jantar está sendo servido agora.
- O que você acha de uma volta no meu carro?
- Não, obrigado, eu prefiro ficar aqui.
- O que está havendo com você? Você acabou de me perdoar, não é? Agora só porque você ta apaixonado por um viadinho por ai, vai ficar arredio comigo?
Revirei os olhos.
-Cala a boca!
-Desculpe. Mas não precisa ficar estressado. Eu não quero transar com você, só dar uma volta, vai ser bem melhor do que ficar aqui coçando o saco.
Analisando bem a proposta, não parecia tão ruim topar dar um “rolê” com ele. Pelo menos a hora passaria rápido e eu não precisaria voltar para o salão e ter de aturar Cauã e Diana se exibindo como casal feliz para toda família.
- Que seja rápido, eu preciso estar de volta antes do fim da festa.
-Tranquilo!
Entramos no gol preto e pegamos a estrada. Imaginei que estávamos indo a algum barzinho, onde ele compraria bebidas e depois as daria para mim, como costumávamos fazer algumas vezes. O som do carro tocava um rock lento, ao mesmo tempo marcado por uma voz energética, Black da banda Pearl Jam. Era comum vê-lo escutar esse tipo de música, e quase sempre tentei imaginar em quem ele pensava nesses momentos.... Ou se simplesmente não pensava em alguém, apenas as escutava pela beleza estética e não por se identificar com os sentimentos transmitidos pela voz apaixonada.
Dirigiu por quinze minutos do centro de Campinas até um bairro chamado Jardim Itatinga. Eu havia estranhado o percurso imaginando que iríamos para algum bar diferente dos quais estávamos habituados, mas ao tomar aquela rota, percebi que me enganara. Aquele lugar era conhecido como um dos maiores prostíbulos a céu aberto do mundo, e devido a isso instalaram-se vários motéis na região, inclusive alguns de luxo, como o Euro, por exemplo.
-Não pode ser! Você ta brincando? Eu não quero ir pra um motel.
-Relaxa, é rapidinho, e eu mantenho minha palavra. Não quero transar com você, só tomar um banho de hidromassagem e ficar de boa.
Ele poderia estar sendo verdadeiro, afinal se estivesse afim de tentar algo comigo, me levaria para sua casa e não gastaria dinheiro em um motel. Portanto concordei.
Menores de idade não tinham a entrada permitida, porém eu já havia entrado algumas vezes, burlando a inspeção. Um pouco antes de chegar à portaria, passei para a parte traseira do carro e fui ao chão, abaixando-me. Leandro deu procedência e se apresentou como cliente desacompanhado. Em pouco tempo encontrávamo-nos dentro do quarto, sem nenhum problema.
Liguei a TV, que fora deixada em canal pornográfico pelo último usuário, selecionei uma rádio de música qualquer e deitei na cama desabotoando os primeiros botões da camisa. Não era ali que eu gostaria de estar... poderia ter permanecido na festa para observar Cauã. Mas não suportaria, me cortava o coração vê-lo com outro alguém. Portanto tinha que ficar com Leandro, o que não estava sendo tão ruim, havia algo diferente nele aquela noite. Só alguns minutos e pediria para darmos o fora dali.
Fechei os olhos por uns instantes, mas ao ver que cairia no sono se permanecesse, levantei e fui ao banheiro. Lá estava Leandro, na banheira hidromassagem, tomando uma cerveja.
-Entra aí, tá uma delícia.
-Não, obrigado. – Recusei.
Leandro arremessou uma onda de água na minha direção.
-Pare com isso, seu estúpido! – Respondi, observando alguns pingos que chegaram a atingir-me.
- Ou entra nessa banheira, ou se molha sem precisar entrar... A escolha é sua. – E lançou outra onda.
Droga.
Tirei toda a roupa. Não me envergonhei por estar ali pelado diante dele, pois isso não era novidade para ambos, conhecíamos o corpo um do outro como a palma da própria mão. Ele ofereceu-me cerveja. Tomei um gole.
A rádio na TV tocava uma música romântica.
Leandro, do lado oposto ao meu, observava-me.
-Que pena! Teve que tirar a roupinha, estava tão bonitinho nela! – Respondeu, em tom de brincadeira. –Quase tão idiota quanto os outros daquela festa de trouxas.
Ignorei a brincadeira tomando outro gole da cerveja e devolvendo a latinha para ele.
-Por que está tão longe? Está com medo de mim?
Não respondi.
Percebendo a minha falta de resposta para suas perguntas, ele lançou uma onda de água no meu rosto.
Eu o xinguei e devolvi a onda, então começamos uma guerra dentro da banheira. Parecíamos dois animais se debatendo, um empurrando o outro, jogando água nos narizes, olhos, boca ou qualquer outra entrada possível. Leandro brincou de enfiar minha cabeça dentro da água, impedindo-me de respirar, e por um momento achei que ele fosse me afogar. Seus braços eram fortes e eles dominavam meu corpo de maneira que eu me tornava apenas um adolescente indefeso em suas mãos.
Quando minha cabeça retornou a superfície, eu, ofegante, parti para cima dele para revidar.
- Agora eu que vou te afogar, seu infeliz!
Leandro soltou uma risada alta e desviou de mim, desajeitado pelo medo de eu conseguir agarra-lo. Colocou seus pés em um dos degraus para escapar dali e levou um escorregão, batendo a cara na alça de segurança da banheira.
-LEANDRO, VOCÊ ESTÁ BEM? – Gritei.
Ele ficou imóvel. Meu coração foi parar na boca.
- ME RESPONDE LEANDRO, POR FAVOR! – Berrei, batendo nas suas costas e o chacoalhando.
-PUTA QUE PARIU, QUE DOR DESGRAÇADA! – Ele xingou, erguendo a cabeça.
Sua testa estava vermelha com um pouco de sangue vazando de um ferimento. Respirei um pouco aliviado. Pelo menos não estava morto.
Ele sentou-se e contraiu todo o corpo. Imaginei a dor lancinante na região que formava um pequeno galo.
Peguei uma das toalhas do banheiro, em seguida as molhei moderadamente na água quente, e, cuidadosamente, coloquei-me ao seu lado começando a limpar o sangue. Ele afastou as mãos da cabeça e deixou que eu cuidasse do ferimento, em silêncio. Aquele momento estava ficando um tanto intenso demais, a rádio tocava três musicais românticas seguidas e isso gerou um clima de filme de romance entre nós.
Quando o sangue parou de escorrer, joguei as toalhas para o lado e fiquei observando-o. Leandro abriu os olhos vagarosamente.
-Obrigado por cuidar de mim. – Um agradecimento. Isso era um pouco incomum de sua parte.
-De nada. – Sorri.
Ele abriu um sorriso, como se não estivesse sentindo nada, apesar do galo ficar cada vez mais assustador.
- Mas a água quente só piora a situação, mané! – Disse, referindo-se à minha tentativa de retirar a dor umedecendo a toalha com água.
-Vá se foder! Só queria te ajudar. – Respondi, levantando-me para retornar ao lado oposto da banheira.
Com seus braços fortes, Leandro me puxou para si, imobilizando-me.
-Agora fica aqui.
Não tive escolha. Até gostei do jeito como ele me prendeu, estava sendo “meigo” à sua maneira. Seu corpo parecia mais quente que a própria água. Quietos, ouvimos as músicas seguintes sem fazer exclamações, ele de olhos fechados, e eu tentando decidir se estava gostando ou com medo de gostar daquele momento...
-Parece que tem alguma coisa criando vida dentro da banheira. – Ele disse, ao fim de longos minutos.
-Ah não! – Protestei, mais uma vez tentando sair do seu lado, sem sucesso.
-Ah vai! O que custa? Ele está tão solitário...
Por algum motivo, meu pau também começou a endurecer. Ficar preso a aquele corpo sem a oportunidade de me deslocar acabou me excitando.
Afundei a mão na água e agarrei o pinto de Leandro. Movimentei-o lentamente enquanto via sua expressão de prazer se formar, parecia muito feliz por eu ter cedido ao seu pedido. Contorcia-se de prazer, e me apertava cada vez mais. Não poderia ser hipócrita e deixar de admitir que aquilo era algo que gostava de fazer. Dar tesão a alguém, segurar aquele mastro grande, completamente duro embaixo da água.... Desejei estar livre para acariciar meu pau. Naquele instante me entreguei a Leandro.
Percebendo meu total envolvimento, me soltou e ergue-se. Surgiu sobre a água um púbis charmosamente peludo, seguido de um pênis grande com várias veias ao redor.
-Todo seu. – Disse, com seu sorriso malandro.
Abocanhei, assim como fazia das outras vezes, agora com um desejo diferente. De certa maneira aquilo estava valendo a pena.... Talvez fosse o momento, o lugar, a música, a pegada.
Eu masturbava meu pênis com a boca ligada ao pinto de Leandro, que aquele instante gemia propositalmente e exibidamente para mim. Algumas vezes eu poderia jurar que ele fazia poses extremamente másculas e mantinha comportamento marrento para me provocar. E conseguia, com sucesso. Não sempre, mas de vez em quando aquilo dava-me muito tesão.
Segurou o pinto, interrompeu o meu boquete para realizar os movimentos finais. Sacudiu o pau algumas vezes e esporrou com vontade no meu rosto, um dos seus costumes favoritos, sentir-se o dominador, e eu, seu submisso.
...
A festa deveria estar no final, então nos apressamos em deixar o Motel. No meio do caminho, sugeri que parássemos em uma farmácia para comprar um band-aid para cobrir o ferimento na testa de Leandro. A princípio ele recusou a ideia, alegando que não necessitava desses cuidados, mas terminou por ceder à minha insistência. Desci em uma farmácia e comprei uma caixa (ele se negou a descer do carro), ao retornar, tirei um band-aid da caixa e apliquei sobre o corte. Leandro me olhava atentamente. Seus olhos brilhavam, de uma forma jamais vista. Veio até mim com os lábios e tocou meu rosto, de um lado, do outro e por cima de meus lábios. Um beijo curto, mas com sentimentos. Logo depois um sorriso, e deu a partida.
...
Quando retornamos ao buffet havia muitas pessoas do lado de fora, de certo a comemoração havia acabado. Torci para que ninguém tivesse notado minha ausência. Pelo menos não constava chamadas não atendidas no celular, o que eu poderia considerar um sinal positivo. Meus pais deveriam estar no salão e foi seguindo em direção a entrada principal que cruzei com Diana. Aquela expressão exagerada de felicidade estava apagada de seu rosto, e andava com a cara no chão, talvez desapontada com a festa. Passou por mim sem notar minha presença ou ignorando-a. Fiz o mesmo, é claro.
Busquei papai e mamãe no interior do salão e identifique-os sentados no mesmo lugar, porém vovó Isaura estava sendo retirada com a ajuda de meus tios. Eu caminhava em direção a eles quando alguém segurou meu braço. Imaginei que fosse algum parente chato querendo fazer algum comentário desnecessário, mas encarei Cauã com os olhos verdes e certeiros sobre mim. Meu coração esfriou.
- Preciso falar com você. Vem comigo.
Segui seus passos, em silêncio. Ele me conduziu até uma sala no fim do salão, onde acumularam todos os presentes recebidos na festa. Trancou a porta e voltou-se a mim.
Algo se passava. Poderia perceber isso depois de observar sua expressão séria. Esperei que ele dissesse algo, o que demorou um pouco.
-Eu terminei com a Diana. Eu não conseguia suportar. – Ele desviou o olhar. – Era confortável estar ao lado dela, mas estranhamente assustador. Eu não podia ter o sentimento em toda sua totalidade. Sempre faltou um algo a mais, um fogo. Você me entende? Uma paixão. Eu me sentia oco por dentro. Cheguei à conclusão de que não tinha mais como continuar. Ela está muito arrasada, mas talvez eu tenha feito o certo. Depois de a iludir. Eu sou horrível. – E cobriu o rosto, como se fosse começar a chorar. – Eu sou uma péssima pessoa. – A voz embargada.
Repousei minha mão em seu ombro como apoio e o massageei dizendo:
- O problema não é você Cauã. O problema são os outros, e tem sido desde sempre. Somos obrigados a viver em moldes, a ter uma vida idealizada por outras pessoas. Nós abrimos mão da nossa própria vontade para satisfazer a sociedade. Esse é um preço muito alto porque faz de nós sujeitos vazios, reprimidos, medrosos. – Aproximei minha boca de seu rosto vermelho. – Eu não te culpo pelo seu relacionamento com Diana. Você tentou agir da “maneira correta”, mas por ingenuidade não sabia que o correto era seguir os seus sentimentos e ignorar todo o mundo.
Retirou a mão do rosto, uma lágrima caiu.
- Hoje, quando tive que apresentar Diana pra todos, as pessoas ficaram contentes em conhecer a minha namorada. Eu me perguntei... Deus, será que isso aconteceria se fosse um homem? E refleti mais um pouco e entendi que jamais poderia ter a aprovação da família, ou mais especificamente, do meu pai. A minha família paterna é composta por pessoas bem-sucedidas e todos eles parecem tão perfeitos. É uma pressão enorme ter que fazer jus a isso, casar com uma bela mulher e me gabar por ter ela ao meu lado, mostrar o quão feliz e heterossexual sou. Mesmo que no fundo eu fosse apenas um cara gay....
-Você não precisa viver nesse mundo, Cauã.
- Eu só me pergunto o porquê disso! – Choramingou. – Por que Deus me fez gay? Porque eu tenho que conviver com isso?
- Não trate isso como uma anomalia. As pessoas fizeram disso algo errado, mas elas estão erradas. Elas são limitadas, vivem presas a modos, costumes e leis fúteis, sem sentido. Faça da sua sexualidade uma benção, use-a como uma oportunidade de enxergar o outro lado da moeda. De perceber o quanto esse mundo é mesquinho, de como o ser humano pode ser hipócrita. Use-a como uma forma de se tornar alguém melhor, desprovido de preconceitos banais.
Cauã desatou a chorar ouvindo minhas palavras. Apenas fiquei ali, do seu lado, rezando para que enxergasse a verdade.
Segurei sua mão.
-Seu pai não pode te obrigar a sofrer. Você não nasceu para cumprir com as expectativas dele. A vida é UNICAMENTE sua.
- Eu só queria ter sorte de escolher a quem amar. E se isso me fosse concedido, eu escolheria você.
Aquela frase me incendiou por inteiro.
Cauã me deu um abraço.
- Então me escolha. Não pense nas consequências, confie no que sente. Eu juro que se você me escolher eu farei tudo ao meu alcance para te deixar feliz. Vou te levar até à sua paz.
Nosso abraço tornou-se mais apertado.
-Johnny Santiago, eu sempre soube resistir aos garotos. Mas você foi a pior crise que tive. Eu nunca consegui resistir a você. Simplesmente porque eu não posso. Você mexe comigo.
Aquilo era muito surreal.
-Então fica comigo.
Ele respirou fundo e concordou.
...
Agradeço aos leitores que vierem a dedicar um tempo para realizar a leitura, e gosto de receber críticas de toda natureza (me refiro as construtivas), então, não deixe de comentar o texto, isso é muito importante para mim.
Também disponibilizei o texto no Wattpad, que proporciona uma leitura mais confortável, não deixarei o link pois o site Casa dos Contos Eróticos pode o censurar. Busquem por "Os Primos (Romance Gay)".
Obrigado a todos!
Obs: As postagens de novos capítulos ocorrem todos os domingos durante a noite.