Bom dia pessoal, após ficar quase um mês de férias nas minhas cidades natais (Concórdia e Chapecó) para quem não conhece, foi hora de voltar para minha querida terra postiça (Minas Gerais) e atualizar o conto que está chegando ao fim. Peço desculpas pela demora, mas acabei viajando muito pelo meu nas férias e dei uma atenção especial família e ao meu ogro dengoso.
Vale ressaltar que esse capítulo é dedicado ao Marcos e ao Luiz, com esse capítulo mudo de vez a opinião que vocês têm do Marcos e com ele me encaminho ao início do fim do conto. Espero que vocês perdoem qualquer erro que encontrarem, apesar de ter sido revisado alguma coisa sempre passa. Leiam com atenção o capítulo pode estar um pouco confuso, assim como Marcos.
Resposta aos comentários.
Talles de Lima: Aí Talles, você sempre me deixando sem graça cara. Devo confessar que adoro sua escrita culta, boa sorte nos estudos e na prova da OAB, não se preocupe, sei que não vai abandonar a leitura do meu conto. Sucesso, se esforce que não será em vão.
Alex curte peludo: Feliz ano novo para você Alex, eu e Robson agradecemos o carinho. Obrigado pelo elogio ao último capítulo, são leitores como você que estimulam que eu continue o conto. Agora uma perguntinha para você: Por que não se apaixonar e viver a paixão de maneira intensa? Nunca é tarde rsrsrs, se meu conto puder lhe ajudar com esses sentimentos realmente fico feliz, mas por que não real, se eu não fosse comprometido, adoraria conhece-lo, mas por favor não leve como uma cantada.
magus: Tudo bem cara? Que bom que você gostou do capítulo, não tenha pena do Marcos, ele terá muita pena dele mesmo rsrsrs. O casal Lipe e Nando são os opostos, gosto de brincar com eles, Lipe é o esquentadinho enquanto Nando é o sensato. Aliás, demorei menos para voltar dessa vez.
Rose Vital: Bom dia Rose, obrigado pelos votos de solidariedade e de feliz ano novo. Te desejo atrasado, mas de coração. Chapecó é onde nasci, mas me criei em uma cidade próxima, então minha ligação com a cidade é só pelo fato de que tem o aeroporto e a família do meu pai ser daí. Em relação ao conto o casal Nando e Lipe está consolidado, eles têm muito amor pra dar, além de companheirismo e respeito mútuo, claro e um sexo bem gostoso no celeiro ou como diz na minha terra, no “paiol”. O próximo capítulo vai ser a conversa entre Nando e Marcos, muita coisa vai acontecer e uma última surpresa também os aguarda, pegará a família em cheio.
cellinho: Como vai meu amigo? Você como sempre o maior admirador do Marcos né? Então, no início do conto era para rolar algo entre eles sim, inclusive teria o estupro do Nando pelo Marcos, mas decidi mudar pois não queria um conto pesado. Se acalme que seu ursão ogro vai ter um fim interessante.
Plutão: Bom dia Plutão, como vai você? Então, realmente era preciso um abrir o coração para o outro, como nesse capítulo que postei Marcos terá que ser sincero com ele mesmo. Marcos está mudando, percebesse isso, até mesmo em suas atitudes, esse ursão tem o coração bom, mas tem magoa dentro de si. Nesse capítulo acho que atendo as suas expectativas. Abraços.
Aline33: Tudo bem? Primeiro de tudo obrigado por comentar, é tão bom quando recebo um comentário de um novo leitor. Em segundo que bom que entendeu sobre a demora, nem sempre as coisas saem como planejamos. Boa leitura.
VALTERSÓ : Bom dia Valter, como tem passado? Sempre aguardo seu comentário, não que eu desmereça os outros leitores, mas desde o início você está acompanhando. A falta de conversa e entendimento foi o que fez Marcos e Fernando terem aquela fatídica noite. Em relação ao casal Lipe e Nando eles fecham um ciclo, esse casal está consolidado, ainda vou descrever como foi o sexo no celeiro, vai ser interessante. Quanto a escrita estou tomando mais cuidado na hora de revisar, mas as vezes confesso que deixo passar um ou outro erro. Boa leitura.
Vitor Gabriel ☑: E aí cara, tudo bem? Respondendo a sua pergunta, eu moro em Belo Horizonte, mas sou de Chapecó, nasci lá e morei em uma cidade próxima e depois voltei e morei dos 13 aos 15 anos antes de ganhar o mundo rsrsrs. Obrigado pelo carinho e solidariedade, realmente está sendo difícil para alguns familiares da região que perderam entes queridos no vôo, mas no fim tudo se supera, é a vida..., mas enfim não se preocupe, Felipe não vai morrer, ele é o par do Fernando. No início seria Fernando e Marcos o casal, mas depois pensei bem cara, por mais que eu viva um incesto na vida real (fiz 4 anos de namoro com meu primo de 1° grau) não estava pronto para passar no papel. Tanto que eu fiz um bom trabalho com Felipe justamente para ficar no lugar de Marcos, convenhamos, ele é um caipirinha tesudinho rsrsrs. Continue acompanhando e obrigado mais uma vez.
Morennaa: Obrigado, nem sempre sai como a gente quer, mas que bom que gostou. Continue acompanhando. Boa leitura.
nayarah: Obrigado, que bom que você curtiu a cena do sexo, confesso que é difícil de descreve-las. Boa leitura.
Ação e Reação – Marcos!Gostoso, peludo e confuso... – 2° temporada.
Nos 4 meses que moro em Uberlândia e trabalho no escritório no centro, não lembro de o trajeto estar sendo tão longo e chato e o trânsito tão bagunçado como hoje. Parece que tudo estava dando errado, eu estava impaciente, o trânsito não ajudava, batia com os dedos no volante e passava as mãos no rosto e no cabelo tentando em vão me acalmar. Bastava eu parar em um sinal vermelho e me distrair que a imagem dos dois aos beijos e amassos contra o carro me vinha a cabeça.
- Droga! Esquece isso porra – reprendi a mim mesmo arrancando risos da motorista do carro do meu lado direito, que me observava do seu carro – qual é a graça? Cuida da tua vida - subi o vidro de cara fechada, esmurrei o volante para extravasar a raiva que estava sentindo fazendo com que a buzina soasse alto, assustando um menino que passava na faixa de pedestre.
Tentava me acalmar a medida do possível. Estava tenso, minhas mãos seguravam firme no volante, muita coisa estava passando pela minha cabeça e pior, eu não conseguia lidar com isso.
Não foi fácil lidar com a notícia quando descobri que o Fernando era gay, lembro do que fiz com ele, por muito tempo isso me assombrou aliás, ainda assombra, tento ser indiferente, mas confesso que esses meses por aqui me fizeram repensar em muito meus atos e ações com ele ou qualquer outro homossexual. O que eu não gostei nem um pouco de ver foi ele agarrado a outro macho e pior, sendo esse macho o Filipe. Quando vi os dois juntos eu fiquei com raiva, tive que frear o carro e ver a cena direito pra comprovar que não se passava de um devaneio, foi me subindo um calor, uma vontade enorme de estourar, me senti esquisito, é como se estivesse perdendo uma parte da razão, uma parte de mim, por alguns instantes senti inveja, sim inveja, a vontade que eu tinha era de ir lá e quebrar a cara dos dois, mas principalmente a do Felipe por tocar com aquelas mãos sujas e aquele olhar de predador o Fernando e pegar o Fernando e levar ele pra casa e...para Marcos!
Sempre tive um pé atrás com esse moleque, avisava meu pai que ele era má influência para o Fernando ainda mais quando ele passou a frequentar nossa casa, Felipe mesmo antes de virar amigo do meu primo bateu nele, machucou ele, mas meu pai e nem o meu primo me deram ouvidos dizendo que era ciúme de primo, que eu estava criando caso. Hoje percebi que estava com a razão, mas eles também, era isso! Ver os dois juntos me deixou com ciúmes, com inveja, pois Felipe tomou meu lugar, quem devia estar ali ganhando atenção e carinho era eu, voltei 5 anos, ele fez pelo Fernando o que eu não consegui fazer...apoia-lo, ama-lo e aceita-lo do jeito que é. Por mais que doesse essa era a verdade, os meses aqui fizeram com que aquela barreira que eu levantei contra ele fosse quebrada. Eu não odiava mais o Fernando, na verdade acho que nunca odiei, eu tentei, mas nesses 5 anos eu não consegui admitir, era difícil aceitar, mas eu sentia falta do Fernando. Quando Claudio ofendeu ele eu percebi o quão maldoso, prepotente e arrogante eu fui, mas só percebi isso quando foi outra pessoa que fez o que eu fazia com o Fernando. Por um lado, tenho que agradecer meu pai e até o maldito do Claudio, pois eles me fizeram entender.
Fui tirado dos meus pensamentos quando o veículo atrás do meu buzinou me avisando que o sinal estava verde, com raiva sai cantando pneu e procurei um atalho para chegar rapidamente ao escritório, pois pelos menos trabalhando eu ia ocupar a cabeça e esquecer a cena que vi. Uma coisa é certa, meu pai tem que saber disso logo! Posso até estar me metendo em um assunto que não é meu, mas Fernando é minha família e família protege.
Entro na garagem subterrânea do edifício, vejo que ainda estou no horário apesar de ter perdido um tempo significante no transito, odeio atrasos. Hoje vou receber uma cliente para reunião e não gostaria de deixa-la esperando. Rapidamente pego o elevador até o andar onde se encontra o escritório. Saio do elevador e olho meu relógio me confirmando que faltam alguns minutos para começar. Quando vou entrar na recepção dou de cara com Claudio saindo do elevador em frente ao meu. Ele me olha assustado e tenso, mas logo volta a sua postura altiva e arrogante que adotou comigo depois da briga.
- Bom dia – diz seco.
- Bom dia – arqueio uma sobrancelha e respondo frio indo em direção a minha sala, esse cara definitivamente não me desse.
Depois do murro que dei nele por ter ofendido o Fernando na frente do time todo e a frustrada tentativa de trégua que Luiz fez, não nos falamos mais a não ser assuntos estritamente profissionais, mas ainda assim evito ao máximo falar com ele e quando tenho que fazer o trato de maneira fria e seca. Quando falei sobre o ocorrido com meu pai, pois ele soube por Luiz aquele intrometido, tive que mentir sobre a causa, ele me assegurou que tentaria conversar com Claudio, mas que não demitiria um profissional como ele por causa de uma briga de jogo, pois não envolvia o escritório e nem assuntos profissionais. Por mais que eu quisesse não falei que o motivo da briga tinha sido o Fernando, que Claudio tinha ofendido ele na frente de todos, senão com certeza Claudio iria ouvir besteira do meu pai ou ser demitido, não queria isso. No tempo que estou aqui foi com ele que tive mais problemas. Claudio apesar de ser um puto de um profissional competente não sabe ser “ O Profissional ” exemplar.
Claudio não deixa de ser uma pessoa falsa e pouco confiável, ele julga as pessoas superficialmente, percebesse a maneira que ele trata os clientes mais abonados, os levando no colo, puxando saco mesmo e os menos abonados que muitas vezes são tratados de maneira fria e indiferente da parte dele. Odeio isso, ele sempre diz que pessoas com dinheiro para o escritório são mais importantes, mas meu pai e o Antônio nunca pensaram assim. Esses dias mesmo peguei ele destratando e humilhando uma das faxineiras daqui do escritório. Chamei a atenção dele na frente da funcionária e tentei acalma-la, em seguida comuniquei meu pai para tomar providências. Ele chamou Claudio em sua sala e deu um esporro nele. Bem feito, sorri, mas logo fechei a cara, eu já fui assim, arrogante e prepotente que se achava o dono do mundo, eu mesmo já destratei pessoas pela sua profissão ou poder aquisitivo, não era melhor que ele, mas estava me esforçando para melhorar, para ser uma pessoa mais calma, tolerante, muitas vezes ainda minha cabeça ficava confusa, de que era errado, mas isso ia passar.
Cumprimentei Joyce a recepcionista que nos olhava aflita com medo que algo grave acontecesse entre nós e segui em direção a minha sala, mas antes passei pela sala do Luiz para cumprimenta-lo. Assim que ele me viu abriu um sorriso, sorriso bonito tenho que reconhecer.
- Bom dia cara – disse a ele.
- Bom dia Marcos, está tudo bem? – Perguntou preocupado.
- Está, só encontrei o Claudio no hall dos elevadores agora pouco, isso já estragou meu dia – Luiz riu, ele e Claudio se davam bem, não como eu e ele, mas se davam bem ao ponto de Claudio frequentar a casa do Luiz em churrascos e jogar futebol com a gente, eu não gostava muito dessa amizade, na verdade odiava.
- Deixa de ser infantil Marcos, nós somos profissionais, adultos, sabemos lidar com essas situações não sabemos? – Ele arqueou uma sobrancelha esperando uma resposta, odeio quando faz isso.
- Desculpe, mas é que não confio nada nele – fechei a cara me sentando no poltrona em frente à mesa dele.
- Marcos, nós dois sabemos o motivo de você não gostar dele de você ter agredido ele, por que você não conversa com o Fernando, você não é esse monstro aí...quer dizer, não mais... – fiquei sem graça, Luiz me conhecia bem, bem até demais.
- Para Luiz, não é hora de falar nisso – retruquei ele.
- Não faz isso Marcos, você está parecendo um bebêzão fazendo birra – minha vontade era socar a cara dele, Luiz me fitava com deboche.
- Não é hora de falar disso! Respeite meu momento – Exclamei irritado.
- Bom, brincadeiras à parte, a senhora Almeida já chegou? – Ele me perguntou tomando uma postura profissional.
- Bem provável que não, senão a Joyce teria me avisado na hora em que cheguei – franzi a testa imaginando como seria a minha reunião com ela.
- Será que você consegue um acordo entre ela e o ex-marido? Tomara que você tenha mais sorte que o último advogado dela, pelo que sei essa mulher é fogo viu – comentou ele.
- Talvez – disse vagamente - sabia que esse é o segundo caso de divórcio que eu pego desde que me formei, gosto de casos assim, mas não tive chance de pega-los no escritório em São Paulo, direito trabalhista é legal, mas estou me interessando cada vez mais por direito civil – ele sorriu.
- Bom, assim eu não tenho um concorrente à altura, já que alguns dos maiores casos de empresas da região estão comigo – debochou ele.
- Idiota – revirei os olhos, ele apenas esticou os braços atrás da cabeça – almoçamos juntos? – Perguntei, ele desviou o olhar do notebook dele.
- Sim, vamos almoçar no shopping, tenho que comprar algo para o seu pai, é sábado o aniversário dele, não é? – Perguntou ele.
- Sim, é sábado, já comprei uma bomba de chimarrão personalizada para ele, quando ver vai cair de costas – meu pai gostava de bombas personalizadas de chimarrão – falando nisso, você que tem contato com o Fernando não tem? Sabe se ele vai? – Perguntei como que não quer nada.
- Olha, faz uma semana ou mais que falei com ele, mas não me comentou se ia ou não, mas acredito que ele vai sim até porque Marcos, se o Fernando não for não terá festa – ele me olhou sério, Fernando que não aparecesse nessa festa para ver o que ia acontecer, buscaria ele pelos cabelos em casa, não queria meu pai triste no dia dele.
- Tomara – disse sério – se não for por bem, vai pôr mal – Luiz me repreendeu com o olhar.
- Chegando lá você me ajuda a escolher um presente legal – assenti, nos despedimos e segui para minha sala. Me preparei para receber a senhora Almeida que 15 minutos depois chegou. Não foi fácil, a Ana como se chamava era uma pessoa ambiciosa, perspicaz, fria e arrogante, entendi por que do último advogado se demitir, mas depois de 3 horas de reunião chegamos em um acordo, consegui fazer em uma manhã o que o antigo advogado não conseguiu em meses.
Após passar as informações que chegamos a um acordo com o advogado do marido, ela me agradeceu e ainda flertou comigo me inventando que tínhamos que comemorar me chamando para jantar com ela o acordo fechado. Recusei seu convite por motivos óbvios, eu sou muito profissional, não era de me envolver com clientes, achava isso deslize profissional ainda mais de uma pessoa que estava brigando na justiça com o ex-marido por causa de uma traição que ela cometeu e segundo por que era comprometido, nunca trai Giovanna, não era agora que começaria a trair.
- Que pena doutor Marcos, adoraria conhece-lo melhor – disse Ana me analisando de cima a baixo e mordendo os lábios.
- Outra hora, já que sou seu advogado teremos tempo de nos conhecer melhor – tentei desconversar.
- Que tal uma bebida na hora do almoço para comemorarmos o acordo, você merece é um grande advogado – ela disse grande olhando para minha virilha. Fiquei constrangido e enojado
- Me desculpe senhora Ana, mas antes de tudo sou profissional não bebo em serviço e além do mais eu sou comprometido – ela riu em deboche.
- Seu bobinho, eu não sou ciumenta e ela não precisa saber, qual é gatão? – Ela arqueou uma sobrancelha - te dei uma bolada de grana em honorários com esse acordo, o que os olhos não vêm o coração não sente, ela não precisa saber – Ana passou a mão pelo meu peito, me deu uma repulsa, ela não passava de uma mulher vulgar, tirei sua mão do meu peito, a mulher não passava de uma vadia.
- Se dê ao respeito por favor, eu sou seu advogado, não seu amante, um miché de rua... – ele fechou a cara - nos vemos daqui uma semana senhora Ana, passar bem – apontei para a porta da minha sala, ela me olhou uma última vez e pegou sua bolsa saindo da sala sem se despedir.
- Mal-educada – disse rindo vendo ela seguir rumo a recepção com raiva. Peguei meu celular e tentei sem sucesso ligar pra Giovanna.
Não tinha visto meu pai ainda hoje, soube por Joyce que ele estava em reunião com os representantes de um transportadora da região e que tão cedo ele não retornaria ao escritório. Após ligar para ele e ficar uns 5 minutos explicando como consegui fechar esse caso desliguei e segui para minha sala. No caminho passei na copa e fiquei pensando na cena de hoje de manhã. Eu teria que falar com Fernando o mais rápido possível, só não sei como faria isso. Voltei para minha sala, peguei chaves, celular, carteira e sai animado pelo corredor. Era meu terceiro caso que conseguia fechar sem muita dificuldade. Era importante para mim pois fora o fato de não me desgastar ainda conseguia evitar o desgaste dos envolvidos, já que esses casos geralmente acabam se arrastando por muito tempo e as pessoas trocam ofensas entre si. Meu trabalho estava feito.
- Luiz – entrei com tudo na sala dele fazendo com que ele pulasse da cadeira com o susto já que estava concentrado lendo algo em seu notebook.
- Marcos! – Ele me olhou puto -que porra que aconteceu para você entrar aqui assim? Que susto cara, está querendo me matar? – Se fez de vítima.
- Não – também me fiz de vítima – agora deixa de drama e vamos almoçar – ri e sentei em sua poltrona de frente para ele.
- Por que essa felicidade toda? Isso tudo é para almoçar comigo? – Debochou.
- Otário – fingi estar com raiva, mas meu sorriso me entregou – vamos comemorar, eu consegui chegar a um acordo entre a minha cliente e o ex-marido dela – Luiz levantou vindo me parabenizar.
- Parabéns, ouvi dizer que essa mulher é carne de pescoço hein, achei que você ia rodar, já que os últimos 3 advogados não ficaram nem um mês com o caso dela – ele franziu a testa.
- Acho que nenhum dos 3 tinha uma beleza como a minha, olha esses olhos castanhos escuro, esse abdômen peludo e grande, meu porte de ursão ou a cara fechada de carcamano da máfia – Luiz revirou os olhos – que foi? Vai me dizer que eu não sou bonitão? Eu dou um sopão Luiz – Ele gargalhou.
- Você está mais para convencido isso sim – fechei a cara, ele me encarou e seu riso diminuiu – vamos ursão italiano, vamos almoçar... – peguei um pedaço de papel, fiz uma bolinha para atirar nele que desviou para não o acerta-lo.
- Vamos – concordei.
Seguimos a pé para o shopping que ficava aqui mesmo na área central da cidade próximo ao escritório. Foram um pouco mais de 10 minutos de caminhada que passaram rápido graças ao papo animado e ao clima ameno de um dia nublado. Quando notamos estávamos na entrada do shopping.
Optamos pelo restaurante de sempre que ficava logo na entrada da praça de alimentação. O shopping estava lotado então seria impossível almoçar rapidamente ou conversar em outro lugar a não ser aonde optamos, era época de feriado prolongado, então o movimento estava alto principalmente de crianças. Na hora de fazer o pedido decidimos por um risoto de frango e suco natural de limão, deixaríamos para comemorar mais tarde depois do expediente. Após o garçom sair com nossos pedidos Luiz me analisou de cima em baixo, fiquei meio constrangido. O garçom voltou com as bebidas e disse que em minutos nossos pedidos estariam prontos, agradecemos e ele saiu.
- O que te preocupa Marcos? – Perguntou sério.
- Nossa! – Exclamei, Luiz me conhecia bem, não era de se admirar ele saber quando eu estava bem ou não – está tão na cara assim? – Ele arqueou uma sobrancelha.
- Te conheço melhor que você cara, seu semblante está pesado – fiquei sem graça – desembucha, o que está te preocupando? – Ele voltou sua atenção para mim.
- Preciso falar contigo – disse assim que entramos no shopping, ele me fitou e sorriu.
- Eu imaginei – balançou a cabeça.
-Você sabe que eu e Giovanna não estamos nada bem, a cada dia que passa estamos mais distantes um do outro, acho...quer dizer, tenho certeza que nossa história acabou – baixei a cabeça envergonhado.
- Olha para mim Marcos – Luiz pediu com calma.
- Não consigo – resmunguei.
- Olha para mim Marcos – acabei encarando ele nos olhos, Luiz mantinha uma postura séria e sóbria, um sorriso de conforto em seu rosto, ele se levantou puxando a cadeira do meu lado e se sentou– quer me contar melhor essa história, sou seu melhor amigo, estou aqui para o que der e vier, temos o tempo que você precisar para conversar – ele me encorajou, me senti uma criança de 5 anos que tinha que conversar com o pai. Decidi me abrir com ele, sei que por nenhum motivo do mundo Luiz ia me julgar.
- Cara, nosso relacionamento fracassou, acabou e o pior é que está um inferno conviver com isso – massageei meu queixo, queria evitar contato visual com ele, estava envergonhado de deixar a situação chegar a esse ponto. Respirei fundo e prossegui – mal conversamos, ontem mesmo, nem duas horas ficamos junto e já estávamos brigando e discutindo, ela estava indiferente, eu impaciente, ela mal me olhou nos olhos – Luiz não piscava, sua atenção estava toda focada em mim.
- Às vezes é só uma fase – disse ele depois de uns minutos de silêncio na mesa tentando me animar.
- Não é, eu deixei chegar a esse ponto pois não fui homem de caráter para acabar, já fazem meses que isso vem acontecendo, ela está distante, não me liga, não se preocupa, sou sempre eu que corre atrás, confesso que eu estou caindo fora, cansei de sustentar esse relacionamento sozinho, leva-lo nas costas, eu não fui homem para manter meu relacionamento, não quero mais – Luiz sorriu, diria que o sorriso foi de orgulho.
- Sabe Marcos, um relacionamento fracassado não te fara mais ou menos homem, não se se flagele, pare de pensar que o relacionamento depende do homem e pare de associar a figura masculina com competência em relacionamento, assim como um relacionamento onde só um se importa e carrega nos braços não vai para a frente – eu ri sem graça, ele tinha razão – eu passei por isso, lembra? Eu sobrevivi, sofri muito pois meu caso foi traição de alguém que julguei amar, você também vai sobreviver, procure ela, tenha uma conversa definitiva assim cada um segue sua a vida e deixa o outro viver – esse era o meu medo, acabar sozinho. Ao mesmo tempo que queria terminar, eu não queria ficar sozinho, eu era medroso? Egoísta? Sim!
- Eu tenho medo Luiz – ele franziu a testa surpreso.
- Medo? Mas medo do que Marcos? – Perguntou confuso.
- Medo de ficar sozinho, de não encontrar alguém que me ame ou goste de mim cara – ele gargalhou alto chamando atenção para nossa mesa - não ri – disse baixo, envergonhado.
- Marcos, deixa de piada cara, não viaja – ele alisou minhas costas – olha seu porte, você é bonito, inteligente, divertido, tem grana e é um advogado competente – ele me deixou muito sem graça – que mulher não adoraria ter um namorado, um partidão assim como você cara – só Luiz nessas horas mesmo.
- Só você vê isso meu amigo, pois nem eu vejo, não mereço esses adjetivos, eu mereço ficar sozinho, as vezes acho que isso é castigo, que estou pagando tudo de ruim que fiz para os outros, principalmente para o Fernando... – Luiz me interrompeu dando um tapa ne mesa, os clientes tomaram um susto nos repreendendo pelo olhar.
- Não repita isso, você não está sozinho e o Fernando por agora é irrelevante, você sabe que pode mudar a situação com ele, já devia ter mudado, mas antes nós temos um problema maior, você e Giovanna – foi aí que algo muito estranho aconteceu, para mostrar que se importava Luiz entrelaçou seus dedos ao meu, foi muito estranho pois na hora que seus dedos tocaram os meus senti um choque e um arrepio subir pela espinha e percorrer todo meu corpo. Não era ruim, era uma sensação boa, logo percebi que não foi só comigo, ele também sentiu, nenhum de nós dois ousou soltar as mãos. Ficamos com os dedos entrelaçados, até que nossos pedidos chegaram e nos separamos para comer pois nos pegou naquela situação e nos olhou esquisito. Era estranho, Luiz mal me encarou e eu também não conseguia encara-lo, o que está acontecendo?
- Você não é o primeiro a sofrer por amor, e nem será o último, ser fraco não nos torna vulnerável, nos torna humanos, racionais e sentimentais – disse quando conseguiu me encarar. Sorri de volta assentindo.
- Desculpa desandar assim Luiz, acabei com o clima do almoço, estou parecendo aquelas velhas italianas choronas que ficam se lamuriando na beira do tanque, ainda mais eu que sou sensato... – Fui interrompido.
- Relaxa Marcos, você precisa extravasar mais, ser sério a todo tempo é muito ruim, se permita a chorar, vocês italianos são sempre tão emotivos, faça a fama... – ele riu me deixando envergonhado.
- A cara..., obrigado – dei de ombros e tentei sorrir.
- Por nada – ele sorriu.
- Sério, quando precisar de mim, pode contar comigo – sorrimos, mas não demos as mãos.
- Obrigado – Luiz deu um gole em seu suco e voltou a atenção ao seu prato.
No resto do almoço conversamos sobre assuntos diversos, sobre a manhã de serviço e o assédio de senhora Ana para cima de mim, assunto esse que foi motivo de riso me fazendo esquecer um pouco o clima tenso e a preocupação de antes. Luiz me contou que estava gostando dessa nossa nova fase como amigos, que eu parecia estar mudando. Fiquei muito feliz e motivado, eu estava tentando a todo custo mudar, a cada dia tentava me livrar de velhos preconceitos, nesse meio acabamos tocando no nome do Fernando novamente e Luiz me contou que tinha visto Fernando na academia, que ele malha a tarde lá e que inclusive conversaram por alguns minutos.
- É, eu sei, meu pai me falou que ele está malhando lá – mentira, eu vi ele saindo de lá em um dos dias da semana.
Luiz me fitou como se quisesse me perguntar algo, mas logo desistiu e voltou sua atenção ao almoço, devo parabenizar o chef, esse risoto de frango está muito bom, era a primeira vez que Luiz comia e parecia estar gostando muito também.
- Muito bom mesmo – ele concordou.
- Sim, mas o meu é melhor – ele me olhou surpreso – é eu sei fazer, faço para você um dia desses que tal? – Luiz pareceu pensar um pouco.
- Vou cobrar hein, promessa é dívida – ele riu e limpou a boca com o guardanapo.
Após o almoço saímos a procura do presente ideal para o Luiz presentear meu pai. Segundo ele tinha que ser algo útil e bonito, foi então que dei a ideia de irmos em uma loja que vende acessórios executivos, como gravatas e meias, meu pai gostava de gravatas, tinha uma coleção. Ao entrarmos na loja um atendente muito educado veio até nós, nos mostrou algumas opções de gravatas, cintos e meias, as quais achei extremamente cafonas e de mal gosto. Podia ser coisa da minha cabeça, mas ao entrar em uma das lojas para olhar uma gravata italiana um dos atendentes não fez nenhum esforço para tentar disfarçar que estava encarando Luiz, na verdade estava comendo Luiz com os olhos, estava dando em cima dele, onde está o respeito. Isso me incomodou de tal forma que encarei o rapaz de volta que quando percebeu meu olhar disfarçou e foi para os fundos da loja envergonhado.
Enquanto o outro vendedor que nos atendia procurava a gravata de cor preta no estoque da loja, chamei Luiz em um canto para avisa-lo do funcionário atrevido.
- Luiz, você não viu um dos atendentes te comendo com os olhos? – Perguntei incomodado assim que o rapaz foi buscar a gravata de cor preta.
- Qual? – Perguntou ele olhando ao redor.
- Aquele – apontei para o garoto que estava conversando distraidamente com uma das vendedoras – aquele metido a mamãe sou forte, olha a camisa dele, que vergonha, que falta de respeito – olhei com reprovação, mas de uma maneira que só Luiz notasse.
- A é – afirmou ele – eu percebi, mas não me importo – ele deu de ombros. Nessa hora me subiu uma raiva.
- Como não se importa Luiz! – Exclamei surpreso e irritado.
- Não me importo Marcos, na verdade até me deixa feliz, é sinal que sou bonito e que pelo menos ainda chamo atenção, mesmo vestido de terno e gravata– ele riu. Não acredito que estava ouvindo isso dele.
- FELIZ! Você está ficando louco..., gosta de ser cantado por homem Luiz? – Não falei alto, eu gritei, mas só percebi quando Luiz me olhou assustado, eu segurava ele firme pelo braço e a loja inteira nos olhava com recriminação. Estava sendo ridículo.
- Não grita comigo porra – Luiz me repreendeu na frente de todo mundo, estava envergonhado, mas era direito dele já que eu fiz ele passar vergonha antes – não sou nega, sou seu amigo, me respeita e me solta! – Exclamou bravo largando a camisa que ele olhava e saindo da loja apressadamente sem olhar para trás.
- Me desculpem, opiniões diferentes de gosto para a roupa – foi a desculpa mais idiota que eu já inventei, mas que era a única que me veio naquele momento. Vejo o atendente voltar com a gravata – separa ela para mim, já volto busca-la e também quero aquele cinto de couro andino – ele assentiu e eu sai atrás de Luiz.
Vi Luiz mais a frente andando a passos largos. Não me fiz de rogado, comecei a gritar o nome dele fazendo com que parasse, olhasse para o lado e voltasse sua atenção em mim que estava parado no meio do corredor e segurava meu blazer em uma das mãos e o dele em outra. Ele se aproximou me encarando com raiva, seu rosto quase colado ao meu.
- Por favor, não vai, fica aqui, eu não quero ficar sozinho, desculpa ter gritado com você, eu não me reconheço mais Luiz – estou confuso, alguns sentimentos que eu achei que não tinha estão voltando com tudo.
- Tudo bem Marcos, mas não grite comigo de novo, estou tentando te ajudar, não quero seu mal, muito pelo contrário, quero seu bem e na próxima vez te dou um murro na cara entendeu – ele me fitou, mas logo me deu um soquinho no ombro.
- Tudo bem, me desculpe, acho que estou desequilibrado mesmo, agora dei para sair gritado dentro do shopping lotado – ele sorriu balançando negativamente a cabeça.
- É sinal que você está voltando a ser aquele Marcos de antes – era verdade, eu estava voltando a ser aquele Marcos legal, brincalhão.
Voltamos a loja para buscar a gravata. Nesse meio tempo em que Luiz pagou a gravata e escolheu mais alguma coisa para ele tentei ligar pra Giovanna, mas novamente não obtive sucesso tomando uma decisão drástica. Saindo do shopping passaria na casa dela e acabaria nosso relacionamento.
Após passar em outras duas lojas a pedido de Maria que ligou pra Luiz decidimos parar e tomar um café e fazer hora já que se passavam das 15:00h e o dia tinha sido perdido. Entre os muitos assuntos abordados insistimos em um, Fernando!
- Marcos, não sei se você percebeu, mas já tem uma semana ou mais – ele me fitou - mais precisamente depois daquele domingo que vocês passaram o dia no sítio dos Passos que quando você se refere ao Fernando usa uma expressão e uma feição mais leve. Aconteceu algo entre vocês que eu não sei – Luiz pediu com muito interesse.
- Sim, aconteceu – ele me olhou surpreso.
- Sou todo ouvidos, ajoelho vai ter que reza – ele riu.
- No dia que dei um muro na cara do Claudio – Luiz se aproximou mais – eu te contei que foi por que ele zombou do Fernando, não contei? – Ele assentiu.
- Sim, eu estava lá, mas tem mais coisa por trás disso não tem? – Perguntou sério.
- Tem – olhei para os lados.
- Eu estou aqui, pode falar – Luiz me tranquilizou.
- Eu pude entender naquele dia como era ruim e constrangedor ser ofendido por causa da minha opção sexual, resumindo Luiz, eu me vi em Claudio, por muito tempo eu fiz aquilo, por muito tempo fui eu no lugar dele ofendendo, humilhando o Fernando ou qualquer outro homossexual, sendo que eu era o que tinha que protege-lo de tudo isso – Luiz me olhou surpreso, mas havia entendimento em sua feição, um brilho estranho surgiu em seus olhos – foi nesse impulso que dei um murro na cara dele, o meu laço familiar com o Fernando e o amor que eu tenho por ele superou o meu preconceito, por isso que eu fiz o que fiz, claro que o meu pai naquele sábado de manhã também me fez abrir os olhos, mas enfim... – Luiz sorriu.
- O velho Marcos está voltando? Não acredito – ele deu um tapa nas minhas costas.
- No domingo em que eu estive no rancho dos Passos eu encontrei o Fernando lá e pedi que voltasse para casa – Luiz pôs a mão na boca.
- Sério? – Ele estava abismado.
- Sim, eu fui sincero com ele, mas acontece que o Fernando não aceitou, ainda me deu uma lição de moral, jogou na minha cara tudo o que eu fiz contra ele desde que cheguei aqui, pude ver mágoa em seu rosto, decepção de ver alguém que só trouxe coisas negativas. Me senti a pior pessoa do mundo, eu estava confuso e fui para cima dele, ao mesmo tempo que eu queria abraça-lo eu queria bater nele, eu estou confuso Luiz, eu tenho medo de enfrentar os meus demônios e não conseguir vencê-los – Luiz fechou a cara.
- Marcos, o que você fez com ele não tem justificativa, eu vi as fotos dele todo machucado e te garanto, você só não matou ele por que o seu pai interviu, você errou feio com o Fernando, confesso que eu fiquei por muito tempo com raiva de você, esperava bem mais de você – pronto, agora eu me sentia a pior pessoa do mundo – mas te garanto que você vai conseguir, de tempo ao tempo, uma ferida dessas não cicatriza rápido, mas ainda vou ver você e Fernando sorrindo abraçados – imaginei essa cena e sorri.
- Posso te pedir algo Luiz? – Ele assentiu com a cabeça – eu preciso ir a asa da Giovanna, mas não queria ir sozinho, quer dizer, não queria ir sozinho no meu carro, será que você pode ir comigo? – Ele me analisou, analisou e assentiu.
- Está com medo Marcos? – Perguntou de braços cruzados.
- Na verdade, dependendo do que rolar na conversa não queria voltar dirigindo sozinho, você pode fazer esse favor para mim? – Ele assentiu e terminamos nosso café voltando para o escritório logo depois.
Cheguei a casa de Giovanna após 20 minutos no trânsito, ela morava próximo ao condomínio onde moro, era chegada a hora. Cheguei em sua casa acompanhado de Luiz que decidiu me esperar no carro, já que fui buscar ele no prédio e depois levaria Luiz para casa. Tentei novamente ligar para ela no caminho, mas ela não me atendeu.
Ao chegarmos estava visivelmente nervoso. Luiz me fez olhar para ele.
- Marcos, seja forte, vai lá e bote um ponto final nisso, independente do que acontecer eu vou estar aqui para te apoiar, tudo bem? – Eu prestava atenção em suas palavras, elas me passavam segurança.
- Tudo bem, obrigado mesmo – sorri e sai.
Segui para o portão, abri sem problemas, estava aberto e tinha um carro estranho na sua garagem. Apertei a campainha e logo ouvi passos e risadas abafadas. Quando Giovanna me viu sua feição mudou, ela murchou.
- Marcos! – Exclamou assustada a hora que deu de cara comigo em sua porta, ela estava nervosa e pálida. Algo estava acontecendo.
- Giovanna... – sou interrompido por uma voz feminina.
- Amor, quem é que está na porta e o q...- eu vejo uma mulher vindo do quarto de Giovanna, uma mulher bonita por sinal magra, cabelos pretos, aparentava estar na casa dos 30 anos, ela ficou muda e pálida a hora que me viu parado na porta. Percebo que ambas estão de roupão e que o cheiro de sexo é notável. Olho pasmo para Giovanna que está aflita, seu desespero é evidente.
- Eu posso explicar é... - Interrompo com raiva.
- Você está me traindo com uma mulher? Você é lésbica Giovanna – não alterei minha voz, perguntei calmo. Ela pôs as mãos no rosto e começou a chorar, não precisava de mais nada para entender que eu tinha sido trocado por uma mulher – eu não acredito nisso Giovanna, você me traindo com uma mulher... – quando dei por mim uma mão me empurrou me fazendo cair no chão e rasgar minha a social, olho para cima e vejo que a sua amante a consola.
- Some daqui playboy - Disse a sapata me encarando com um olhar mortal.
- Vai toma no cu sapatão dos infernos, você e a sua puta loura barata vão para o inferno, que idiota que eu fui – disse com raiva, minha frustração é que eu nunca trai a Giovanna, a sensação de ser traído era ruim, doía. Me levantei, estava me sentindo humilhado, envergonhado – que fim de carreira hein Giovanna, me largar para ficar com a Maria pochete – balancei a cabeça negativamente.
- Marcos! Marcela! Chega – Giovanna estava parada na porta nos olhando com raiva, os vizinhos se amontoavam no portão a essa hora Luiz já tinha saído do carro e tentava conter os curiosos dizendo que estava tudo bem.
- Entra Marcos, precisamos conversar – ela me olhou com compaixão, não havia raiva, nem deboche. Olhou para a Marcela e ficou séria - e você Marcela vá embora, meu assunto é com o Marcos agora, depois eu te ligo... – Giovanna é interrompida.
- Eu não acredito! – Exclamou ela - você vai ficar sozinha com esse mané, olha para ele, olha a cara dele de raiva, ele vai te matar aí sozinha... – Giovanna a interrompe.
- Marcela, respeite o Marcos – disse ríspida - ele foi meu namorado por quase 4 anos, eu tenho que no mínimo me explicar para ele, por favor não dificulte as coisas mais do que já estão e não se preocupe, ele não vai me machucar, não é mesmo Marcos? – Nessa hora todos me encaram esperando uma resposta.
- Não, eu não seria covarde a esse ponto... – Marcela riu com deboche me interrompendo, sua risada me fazia querer esgana-la.
- Claro – ela bateu na testa - ele vai ser legal e paciente como foi como o primo dele, é Fernando o nome dele, não é? Eu vi o que você fez, eu fui a médica que atendeu ele... – confessou de maneira fria me deixando nervoso e envergonhado. Giovanna antes que eu pensasse em fazer algo que pudesse me arrepender tomou minha frente junto de Luiz que me segurou. Eu quis partir para cima dela que ficou de braços cruzado me olhando como se tivesse vencido a batalha.
- Lava essa boca suja antes de falar do meu primo, não ouse falar do Fernando, vagabunda, rampeira, ponha se no seu lugar – ela cuspiu em mim, no calor do momento Giovanna deu um bofetão na cara dela fazendo com que Marcela olhasse pasma e com decepção pra Giovanna.
- É isso então? Você vai defender ele, quer dizer que eu só sirvo para sexo? – Se fazendo de vítima e sem uma resposta, ela saiu portão a fora, pegou sua moto e sumiu. Giovanna ainda acompanhou ela desaparecer de vista até que me olhou.
- Vai ver é só para isso mesmo... – gritou alguém do lado de fora.
- Pode deixar Luiz, agora eu assumo daqui – ele disse segurando meu braço – vem comigo Marcos, vamos conversar lá dentro por que aqui fora estamos parecendo aquele pessoal que dá barraco em programa de auditório – acabei rindo da comparação.
- Vai cara, eu espero por você aqui fora, fica sossegado – ele se virou em direção aos vizinhos – já deu pessoal, o showzinho já acabou, voltem para as suas casas, está tudo tranquilo agora – balancei a cabeça e ri, no fim não estava chateado, só estava magoado.
Acompanhei Giovanna que me fez esperar na sala enquanto preparava um café. Enquanto esperava ela voltar me vinha a cabeça o que aquela maldita falou sobre o Fernando, me doía saber que eu era um monstro e que machuquei quem mais confiou em mim, provavelmente quem me amava incondicionalmente também. Lágrimas escorriam do meu rosto sem eu me dar conta, eu limpava elas, mais lágrimas desciam, era o meu castigo, julgava e humilhava tanto os gays principalmente meu primo, que não notei que a minha namorada acabou virando lésbica, fui trocado por uma mulher, mas o que mais me doía era o remorso, 5 anos de remorso guardado, muita coisa estava acontecendo, que segunda – feira maluca. Giovana voltou me entregando uma xícara de café.
- Toma esse café Marcos, vai te ajudar a se acalmar – ela me deu e sentou de frente para mim – primeiro de tudo quero me desculpar, não era para você ter descoberto assim e nem passar por uma cena que nem aquela agora a pouco. Se existe algum culpado nessa história toda, esse culpado sou eu, devia ter contado assim que me envolvi com ela – ela disse com o semblante triste e envergonhado. Foi ai que eu não sabia por que estava com raiva, eu tinha vindo conversar com Giovanna pra justamente terminarmos.
- Giovanna, não ponha a responsabilidade toda em cima de você e nem carregue a culpa em suas costas, eu ajudei para que as coisas chegassem a esse ponto – ela segurou minha mão apertando forte e me olhando com aqueles olhos azuis, Nessa hora dei conta de que ela não causava a mesma sensação que Luiz me causou no restaurante, meu Deus...será que... – desde quando você me trai Giovanna? – Ele ficou sem graça, se levantou e voltou a me encarar.
- Faz uns dois meses e meio – disse envergonhada.
- Eu não percebi – sorri triste – eu sou muito idiota mesmo – ele me olhou e desandou a falar.
- Quando levei minha mãe no hospital, lembra? – Ela me fez lembrar do dia em que sua mãe teve um princípio de enfarte, foi uma semana antes do Fernando sair de casa – Marcela foi a médica que nos atendeu, ela também foi a médica que atendeu o Fernando aquela vez....bem, você sabe – nem era bom lembrar, se eu pudesse voltar no tempo, mas não posso – começou com um simples café, na curiosidade de ficar com outra mulher aceitei as cantadas que ela me dava e quando vi estávamos transando e eu envolvida nessa louca paixão – as palavras não me machucavam.
- Eu fui um péssimo namorado, eu mereci... – ele me interrompeu.
- Não foi, muito pelo contrário, foi um ótimo namorado – ele disse sem graça.
- Eu mereci esse par de chifre – disse pensativo.
- Não mereceu não, eu fui uma sacana, uma puta loura como você disse agora pouco – ele sorriu triste para mim, o ambiente estava pesado.
- Desculpa, foi no calor do momento – ele assentiu com a cabeça.
- Você sempre foi um bom namorado, atencioso, mas eu já não aguentava mais Marcos, nossa relação se desgastou muito, mas eu tinha medo de te machucar, acredite, eu gosto muito de você, eu vejo você sem essa barreira que você criou, vejo o bom homem que tem aí dentro, esse bom coração – disse ela tocando em meu peito – mas o amor acabou, na verdade acabou há muito tempo – ele confirmou me fazendo ficar aliviado.
- Sabe Giovanna, há tempos que eu já não sentia mais um sentimento forte por você, gostava de te ter por perto, acho que me acostumei a ter meu porto seguro em você – ela sorriu, entendia o que eu estava falando – acho que eu tinha tanto medo de ficar sozinho que quando o amor acabou eu nem notei, mas a rotina se encarregou de fazer isso, ela foi nos afastando muito antes de nos afastarmos propriamente dito. Não te culpo de me trair, você merece alguém bom, estou chateado? Estou, mas hoje eu perco uma namorada mas ganho uma amiga, que por mais que fez o que fez quero manter próximo a mim, claro se ela quiser – Giovanna me olhou e pulou no meu pescoço.
- Claro que quero seu bobo, você pode e deve sempre contar comigo, voltamos à estaca zero, amigos antes de namorados...lembra? – Ela me pediu e lembrei, era uma época tranquila, ela era minha colega de faculdade em São Paulo e me ajudou muito na minha adaptação lá, entendi que nosso namoro nunca devia ter acontecido, era mais uma amizade colorida que se tornou séria demais.
- Giovanna, eu realmente espero que essa doida te faça feliz, senão ela vai se ver comigo, está me entendendo – fitei sério ela que me deu um soquinho no ombro.
- Claro – ela ficou sem jeito – Marcos, ainda tenho meu emprego no escritório, quer dizer, tem algum problema eu continuar lá? – Perguntou receosa, Giovanna estava sem graça visto que ela passou a mecha de seu cabelo para detrás da orelha.
- Claro que não Giovanna, o emprego é seu, não tem necessidade de você sair de lá – ele sorriu, eu dei um soquinho no ombro dela – até por que p escritório perderia uma excelente advogada imobiliária e por que você precisa do emprego, não teria coragem de ter fazer ser demitida – ele sorriu e me abraçou de novo.
- Obrigado Marcos, do fundo do meu coração eu espero que você encontre alguém especial, que te ame e te faça muito feliz, mais uma vez me desculpa, eu sei que nada do que eu te falei ou falar vai justificar, mas eu espero que um dia você me perdoe – ela estava se emocionando, não podia deixar ela assim nesse estado.
- Vem cá – puxei ela para o meu peito que não mostrou resistência nenhuma, o engraçado foi que eu não senti nada quando ele se aconchegou em mim - já passou e se serve de consolo nosso namoro estava mal das pernas mesmo, eu vim aqui para terminar, quer dizer oficializar o término pois já estávamos distantes a muito tempo – ele me encarou.
- Nos distanciamos estando um perto do outro, mas vamos mudar esse jogo, eu agora agradeço por você ter aparecido aqui, nada acontece por acaso Marcos – ele me disse com a feição séria – nada! – Exclamou.
- Verdade! – Afirmei.
Fiquei aproximadamente 4 horas com Giovanna. Esse tempo foi o necessário para conversarmos com tudo o que tinha que conversar e esclarecer certos pontos e terminarmos a nossa relação de maneira amistosa e respeitosa. No fim como ela mesmo tinha dito, nosso namoro já tinha acabado a muito tempo, só nós que não tínhamos dado conta disso. Quando sai da sua casa e entrei no carro acordando Luiz que estava cochilando, percebi o quanto foi libertador esse término que só serviu para nos mostrar que o único sentimento que tínhamos um pelo outro era amizade.
- E aí, como foi? – Perguntou Luiz coçando os olhos, sua cara estava amassada.
- Normal – dei de ombros – nossa relação já tinha acabado a tempos, no fim foi libertador, tirei um peso tão grande das costas cara – Luiz me abraçou de lado.
- Que tal a gente ir jantar? – Sugeriu ele, peguei meu celular no painel do carro e vi que haviam 3 ligações do meu pai, além de mensagens no Whats App e de sms também, decidi recusar o convite de Luiz.
- Eu vou para casa, se bem conheço o seu Geovane ele deve estar preocupado e além do mais depois que ele souber que eu e Giovanna terminamos ele vai querer mostra seu lado “paizão”, vou dar uma colher de chá para ele e deixar ele me paparicar dessa vez – ambos rimos imaginando a cena.
- Tudo bem – Luiz me olhou e passou sua mão em meu ombro – estou orgulhoso de você Marcos, algo me diz que mais surpresas vem por aí, não é? – Luiz me analisava, assenti com a cabeça e liguei o carro arrancando logo em seguida.
Após deixar o Luiz em casa segui direto para minha. Ao entrar vejo um Geovane preocupado e de braço cruzado me olhando da bancada da cozinha.
- Filho! – Exclamou ele.
- Oi pai – respondi calmo.
- Está tudo bem contigo? A Joyce me disse que você ligou desmarcando seus compromissos da tarde e que não apareceu no escritório – gesticulou com os braços se aproximando, meu pai notou que algo estava diferente – o que foi Marcos? Você está estranho, aconteceu alguma coisa? – Perguntou de novo.
- Resumindo, eu consegui o acordo com o ex-marido da Ana Almeida, almocei com o Luiz, gritei com ele no shopping, terminei com a Giovanna, voltamos a ser somente amigos – franzi a testa – e cá estou, falando com você e precisando de um banho – meu pai me olhou sem expressão, odeio quando ele faz isso.
- Quer conversar comigo sobre tudo isso – pensei muito sobre isso, desci novamente as escadas, sem me tocar meu pai me abraçou, enfie minha cara em seu pescoço e chorei, sim chorei, o dia foi pesado, minha cabeça estava confusa, mas eu tina que lidar com meus demônios.
- Eu sou um monstro pai – senti sua mão alisar meus cabelos e então me dei conta que fazia muito tempo que não recebia carinho do meu próprio pai, não que ele não me desse, mas eu não permitia.
- Shhh, vai passar – ele sabia do que se tratava – vai passar, o pai está aqui contigo, você não está sozinho, vem vamos para o sofá, me conta melhor sobre hoje – segui ele, na sala ele me fez sentar do seu lado e eu contei tudo para ele enquanto estava conchegado em seu peito e ele alisava meus cabelos me ouvindo atentamente.
- Eu estou muito feliz, na verdade estou orgulhoso de você também – reconheceu ele na hora que estava saindo da sala para ir para o banho.
- Está? – Perguntei sem jeito, parecia uma criança de 5 anos feliz por ouvir isso do meu pai.
- Você hoje provou que não só cresceu e ganhou pelos, aliás, muitos pelos – ambos rimos do comentário – você provou que é homem e não mais um moleque, parabéns meu filho, o pai está muito feliz – ele ficou me encarando com um brilho no olhar.
- Pai, eu vou procurar o Fernando – ele me analisou e sorriu de lado.
- Sim, eu imagino que vocês tenham muito o que conversar – disse ele.
- Sim, essa conversa eu deveria ter tido com ele a mais tempo, na verdade há 5 anos... – não ia ser uma conversa fácil, feiradas iam ser abertas e além do mais eu teria que saber se Fernando vai querer falar comigo ou não...bom... não custa tentar, dessa vez vou fazer o que devia ter feito a mais tempo – pai, vou tentar ser o que eu não fui lá atrás, vou ser o seu primo mais velho – meu pai sorriu e foi atender o celular que tocava. Eu só espero que Fernando queira falar comigo....
Continua...