David continuou parado onde estava. Até o encontro dele eu teria que dar alguns bons passos e nem sabia se realmente queria ir até lá. Eu não sabia de absolutamente nada naquele momento.
O vi esboçar um sorriso totalmente forçado e virar de costas seguro de que não precisava estar ali. Eu estava vendo o homem que acordava o meu corpo me dar as costas depois de uma situação esquisita e tudo que consegui fazer foi correr ao encontro dele.
- David! – eu bradei antes de chegar de fato onde ele estava. Para trás eu deixava Kath, Alan e Luiz sentados na borda da piscina nos olhando com estranheza.
A parada brusca de David quase ocasionou o encontro de nossos corpos, mas o olhar ansioso e a forma desconcertante como ele iniciava sua fala ao virar me fez tomar alguns passos para trás.
- Não vamos protagonizar isso, Ezra.
- Protagonizar o quê?
- Você não vai inventar uma desculpa, eu não vou despejar sobre você sentimentos possessivos que não deveriam existir. Isso não pode e não vai acontecer.
- Sentimentos possessivos? Isso não combina com alguém que desaparece com frequência e surge num passe de mágica. Ou acaso, né? – Eu falei quase sem querer.
- Parece até que você iria gostar desses sentimentos. – Ele parecia refletir, mas logo esfregou as mãos no rosto e continuou mais sério do que eu queria que fosse. – Mas não vamos continuar com essa conversa. Eu disse que não iríamos protagonizar nada.
- Protagonizar o quê, David? Não tem nada acontecendo aqui.
- Um beijo... – ele sussurrou evitando me olhar. – Mas eu disse que não vamos fazer isso – ele repetiu. Com uma passada para trás girou seu corpo na intenção de sair dali mas embargou o movimento quando eu segurei sua atenção.
- Ao menos saberei como você me descobriu aqui?
- Seu celular.
- Andou me rastreando? Sei que você pode fazer isso – e inevitavelmente eu sorri de forma muito sonora. Talvez pelos ombros contraídos ele tenha feito o mesmo.
- Eu liguei agora há pouco. Kath disse onde você estavam e falou que você adoraria me ver.
A voz de David parecia ainda mais baixa, quase novamente sussurrada. Não era legal vê-lo achar que tinha algo significativo acontecendo entre eu e o garoto que tinha metade de sua idade e que ele estava talvez sendo feito de bobo.
- Merda – eu resmunguei somente para mim.
- Eu não deveria mesmo ter vindo.
- Não. Digo, deveria. Aquilo não foi nada. Ele é um amigo que vive brincando e às vezes passa dos limites... – Eu menti.
- Está vendo? – David me interrompeu, nervoso.
- O quê?
- Você está me dando explicações. Você está fazendo algo que não deveria. Está tudo errado. Começou errado e vai continuar errado – ele falou muito rápido aumentando o tom de voz.
- Meu Deus do céu, isso aqui está ficando bem confuso.
- Está tudo errado – ele repetiu em um sussurro com sua voz grossa, porém embargada.
Eu estendi minha mão na direção do braço dele com a intenção de tentar tornar as coisas menos confusas com meu carinho e tentar explicar que ele não estava me forçando a criar explicações, mas antes de poder tocá-lo, de fato, bruscamente ele tirou seu braço do caminho. O movimento muito aberto me assustou e instintivamente eu dei um passo para trás. Como alguém que não tem controle sobre o corpo, minha pisada em falso quase me fez cair se eu não tivesse travado uma batalha para recompor meu equilíbrio.
Eu vi o olhar apreensivo de David viajar sobre meu ombro e quando virei meu corpo Alan se aproximava carregando uma postura dominante e ameaçadora. Como se algo munido de uma natureza protetora gritasse por dentro, ele se colocou entre eu e David como se tivéssemos no meio de um embate violento e o empurrou para longe de mim. Desta vez foi a vez de David lutar com seu equilíbrio para não cair.
- Some! – Alan sussurrava, mas seu olhar explicitava a violência que ele guardava nos punhos.
- Cai fora, Alan – eu soltei, nervoso. David estava de costas para nós com as mãos possivelmente tampando o rosto. A forma como ele balançava a cabeça me dizia que não havia medo ali, mas lamentação.
- Esse imbecil...
- Você analisou a situação de pior forma possível, Alan – eu falei sério notando a presença de Kath e Luiz. – Está tudo bem. Não é isso que vocês estão pensando. – Eu direcionei minha fala para os três e vi Luiz cercar David com um olhar furioso.
Na piscina alguns rostos nos olhavam, mas educados, encenavam não se preocupar muito com o que estava acontecendo ali. Eu dei dois tapas suaves nas costas de Alan que sussurrou um “estou literalmente do seu lado” ainda de forma ameaçadora.
- E as coisas se complicaram – eu ouvi David sussurrar constatando seu estado de lamentação.
Parado entre David que iniciou em silêncio uma caminhada na direção da saída daquela área e os meus amigos que retornavam para a piscina, eu não pensei antes de correr, passar entre os meninos e juntar as minhas poucas coisas do chão.
- Você não vai..
- Agora não, Kathlyn. Por todas as forças do universo, agora não – eu a interrompi quando me direcionava para a saída. – E não venham. – Completei enquanto eles ainda podiam me ouvir.
Eu precisei correr quando vi que David já atravessava o portão do estacionamento. Os passos rápidos e pesados e a subsequente corrida me fizerem perder o fôlego e algo audível só saiu da minha boca quando o carro arrancava entre os outros automóveis estacionados.
Imediatamente minhas mãos foram parar nos meus joelhos, meus olhos já molhados miravam o chão e os pensamentos, confusos, caóticos, perdidos, se embaralhavam fazendo surgir imediatamente uma dor desagradável. De uma conversa confusa, para uma situação que poderia rumar ao descontrole e como resultado uma fuga dramática da “cena do crime”. De fato a vida não estava me acarinhando naqueles últimos dias.
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Confissão nossa de cada dia: eu meio que me arrependi de dividir o capítulo. Ô menino besta. haha Mas enfim, está aí a segunda parte dele e me desculpem pelo tamanho. As próximas duas ou três partes serão as últimas. É, já está mesmo no fim. Espero que não tenha ficado um porre. :O
Ru/Ruanito, acredito cegamente no seu "Legal". haha Um abraço!
J.K, hoje você está muito 'pra frente', hein? Vinho Cabernet, trufas e tristal. haha Eu te adoooooooro e amo que você esmiúça minhas coisinhas e isso me deixa mergulhado em animação. Eu realmente acho que Gabriel, o contrário de anjo, poderia surgir com algo interessante para Ezra, não é? E eu não vou falar é mais nada. Rá! Ah, eu li a volta do seu casalzinho gostoso. Que delícia, Jota. Que delícia! Me dá eles de presente? :D Aquele abração do tamanho do mundo.