Força do universo que água criou.
Use seu poder, cure-me essa ferida que a floresta causou.
Ajude teu servo que seu sangue doou.
James sussurrava essas palavras em voz quase inaudível, enquanto tomava banho no riacho e olhava pelas águas transparentes sua perna ferida, que a pouco havia ferido numa rocha pontiaguda.
James se aventurava todos os dias pela imensa floresta, do qual nunca havia saído, e nunca havia visto o fim. Era inexplicável tamanho sua imensidão.
Observava aos poucos sua ferida se fechando de modo lento por dentre as águas límpidas, era lindo como os tecidos de sua pele se juntavam em uma dança perfeitamente sincronizada. Quando a ferida desapareceu por completo, James saiu da água para se vestir-se em sua roupa de pele.
James era alto, magro, com musculação definida visível, que o aparentava ser mais magro ainda, com braços longos e pernas cumpridas. Enquanto ia saindo da água, ia revelando-se um espetáculo criado pela natureza, um espetáculo de incrível perfeição. Cabelos castanhos claros quase que amarelos, nariz, fino e boca avermelhada carnuda, barba tão clara quanto o cabelo. Seu membro solto respingando os últimos vestígios de água, eram de uma beleza tão linda quanto o conjunto todo que formava a obra prima da natureza chamada James. Ele envolveu sua cintura em sua canga de pele fina, deu um nó seguro capaz de suportar movimentos bruscos pela floresta no qual nasceu e até então não chegara a conhecer por completo, de tão vasta.
Iniciou-se mais uma vez sua exploração, antes de sua volta pra casa.
James morava com sua mãe Annie e sua tia Nice, ambas eram tão parecidas que o fazia ama-las com o mesmo amor. Tinham uma estrutura de porte médios, com corpo leve e de movimentos graciosos, com um cabelo longo de um castanho claro como o mel. Ambas vestiam-se com pele fina, com uma simples vestimenta que cobriam-nas desde os seios até as coxas, com um nó na lateral. Eram ágeis e rápidas quando o assunto era movimentar-se pela floresta. Foi com elas que Jamais havia aprendido desde a movimentação em sua perigosa casa natural, até à magia, magia que ele usava para quase tudo. Não havia histórias sobre seu pai. James nem sabia que se poderia sentir falta de alguma presença masculina em uma família, pois conhecia apenas sua mãe e sua tia além dos animais.
Annie e Nice não exigiam nada de James. Pediam apenas pra que ele estivesse antes do sol se pôr na cabana. A Floresta não apresentava perigo Além dos perigos naturais. Elas conheciam que além da floresta existia o grande mar, e além dos 3, só a mãe natureza ali reinava. Tudo dava-lhes; orientação, poder, alimentos, força, juventude, beleza. Annie e Nice sabia que para chegar até a civilização mais próxima, seriam dias de viagem. E ninguém se atreveria. A floresta era bem famosa por selar o destino de aventureiros apenas em vinda, nunca voltavam.
Sempre que James voltava com o sol se pondo, as duas mulheres já estavam começando a ascender a fogueira no quintal, onde celebravam religiosamente todos os dias o ritual de agradecimento à mãe Natureza. James começou a ajudar nos últimos detalhes.
- machucou a perna hoje querido? -Disse Annie, olhando pra James.
- Há algo que se esconda de seus olhos mãe?- James disse sorrindo.
- Não há nada querido. Estamos todos ligados.
Nice ouvia tudo sem entrar no assunto, apenas continuava seu afazer sussurrando uma baixa melodia. Seus cabelos graciosos moviam-se conforme seus movimentos.
Os três deram as mãos, abaixaram as cabeças em respeito, e quanto levantaram seus olhos o fogo ardia na fogueira antes intacta. As chamas refletiam suas peles claras e seus olhos ardiam como que com chamas. Começaram às orações e mantras de agradecimento. A Natureza respondia com barulhos e batuques vindos de lugar nenhum. Dançavam ao som trazido pela Natureza profetizando palavras e mantras. Acabaram o ritual mais uma vez curvando-se suas cabeças em respeito. Ao soltarem as mãos se abraçaram e sentaram-se para conversar, comer e beber.
Seus alimentos eram peixes, frutas e raízes. Nunca provavam de carne com sangue vermelho vivo que não fosse de água doce. Criaturas que voavam e viviam sobre a terra eles não comiam por respeito à mãe Natureza que já os enchia de uma variedade inexplicável de alimentos.