Encontro Prometido. #12 - Penúltima Parte

Um conto erótico de Ezra.
Categoria: Homossexual
Contém 1790 palavras
Data: 28/02/2017 00:30:10

Acordar na segunda-feira me fazia lembrar de tudo que tinha acontecido no dia anterior. Não tinha sido uma grande cena ou confusão descontrolada, mas tudo que tinha rolado era, de qualquer forma, algo ruim. Enquanto preparava o café eu lembrava a forma como David usava o olhar para se lamentar e como eu tive vergonha em pedir um táxi com minhas coisas nas mãos, como alguém que literalmente fugia de algo. Naquele caso eu estava fugindo de tudo. Muito mais doloroso que isso era lembrar do quão errado tinha foi sair do clube sem falar direito com os meninos e explicar a situação, além de mostrar para Kath os problemas de ser sempre a pessoa mais atirada do grupo. Eu teria meu momento com ela, mas não seria tão logo. Eu não estava disposto a encontrar nenhum deles. Nem David.

Terminei de me arrumar e tomar café em cima da hora e corri para o trabalho forçadamente. Dr. Isaías imediatamente notou que algo tinha acontecido e me moldado:

- Alguém está menos sorridente. Não pode ser o clima, hoje o dia está tão gostoso – ele disse depois de colar uns panfletos em um mural no interior da clínica.

- Você não precisa estar de olho sempre nos meus dentes – eu disse em um riso quase sem graça.

- Você sabe do que eu estou falando. Olha essa sua cara de quem comeu e não gostou.

- Eu não sei de nada – conclui, mentindo.

- Você sabe que pode conversar com a gente, com as outras dentistas, com todo mundo, não é? Sei que este não é o melhor trabalho do mundo, mas...

- Não há nada de errado com o meu trabalho, e nem com a forma como o senhor me recebe aqui – eu fui sincero. – Eu andei passando por umas situações esquisitas e quase engraçadas.

- Tem certeza que você não está falando do atual cenário político? – Ele perguntou no meio de uma risada que me fez rir também. – Escute – ele continuou – não preciso dizer que estamos aqui para desabafos também, né? Tem as outras dentistas e você conhece a liberdade entre nós. Não guarde coisas desnecessárias. Nunca! – Completou dando dois tapinhas em meu ombro.

Eu agradeci em um sorriso melhor e mais sincero. Mesmo em um ambiente que era bom estar não tinha muita graça ficar sentado o dia inteiro mexendo com fichas e agendamentos. O final daquele dia e de muitos outros não tiveram muita graça, aliás.

Vez ou outra eu saí sozinho para jantar e não posso precisar quantas vezes disquei o número de Kath ou do Alan para logo em seguida travar o celular e desistir da ligação. Em compensação as ligações para os meus pais bateram o recorde. Eu sentia saudade deles, mas nem todo dia eu poderia me mandar para o interior em busca da paz e das histórias que a antiga cidade guardava. Em todas ligações era sempre a mesma coisa: primeiro a chuva de broncas, depois as confissões sentimentais e por último um pacote recheado de conselhos.

A sexta-feira chegou com preguiça e naquele dia eu decidira ligar para o Alan ao menos para bater algum papo e explicar o que de fato tinha acontecido. No lugar de uma conversa por telefone ele optou por um encontro mais humano, como ele mesmo dissera. Eu quase ri. Voltávamos do almoço quando ele me fez parar na sorveteria de sempre.

- Então você entendeu mesmo? – Eu repeti a mesma pergunta algumas vezes.

- Sim. Vocês não estavam discutindo, ele ia embora, você quis segurá-lo mas por ser um poço de desastre quase caiu. Eu achei que ele estava sendo um babaca e quis te defender.

- Muito bem – eu já fui enfiando a colher no meu sorvete de passas que ele me entregava.

- Mas e agora?

- E agora o quê?

- O que foi feito do que vocês estavam tendo?

- Sei lá – eu disse rindo. – É sempre a mesma coisa, Alan. Ele vem, me deixa bobo, porque eu realmente gosto dele, mas então some e eu fico segurando a mão da espera. Vou adiantar logo: ela não é a melhor coisa do mundo.

- Ela quem? – Ele me lançou um olhar curioso enquanto lambia o sorvete de morango.

- A espera, seu lesado.

Ele riu e me forçou a gargalhar também.

- E quando ele voltar?

- Dessa vez ele não volta – eu disse confiante. – E sinceramente não quero que ele volte. Acho que já deu, não é? Se eu fosse uma pessoa diferente do que sou e pedisse que ele deixasse a família, sei que ficaria na mão, porque tenho certeza que isso é algo que ele não fará, mas por outro lado ele também não consegue não voltar para mim. Está vendo o rolo? Já perdi a conta das cartelas de remédio pra dor de cabeça.

- Hmm – ele permaneceu pensativo por alguns segundos. – Mas eu te conheço e sei que você não resiste. Até porque aquele David é mesmo um senhor coroa, viu.

- Odeio quando você duvida de mim e ele não é coroa – e me calei para outra colherada.

- Paizão! – Ele se corrigiu em uma gargalhada e eu fiz o mesmo.

- Paizão – eu repeti rindo sozinho.

No estacionamento interno do prédio onde eu trabalhava eu ajudei Alan a procurar pelo próprio carro. Depois de alguns bons minutos perdidos entre os vários automóveis ele finalmente encontrou aquele que o pertencia e ficou me olhando em um silêncio que beirava o desagrado.

- O que foi? – Ele disse me servindo do sorvete derretido no finalzinho do pequeno pote.

- Desculpe a grosseria. Eu precisava te proteger, né?

- É o que amigos fazem – eu concordei em um sorriso singelo. – Mas eu também preciso me desculpar por não ter atendido suas ligações. Eu exalei infantilidade, né? E eu já sei a resposta, então não concorde comigo. Pode ficar caladinho mesmo.

Ele riu e quando me aproximei para um abraço curto ele se adiantou e cortou o espaço entre nossos corpos. Além do abraço os lábios do grandalhão colaram nos meus. O que aconteceu não foi de fato um beijo, mas apenas o início de um. Eu empurrei o corpo exagerado de Alan e me afastei, totalmente assustado.

- Eco, Alan! – Eu bradei e minha voz se propagou pelo estacionamento.

- Ai, não! – Ele mantinha a mesma expressão que a minha no rosto e imediatamente limpou os lábios com as costas das mãos.

- O que foi isso? – Eu perguntei, confuso. Eu já estava começando a achar que eu tinha procurado o beijo.

- Eu achei que... Sei lá, eu achei que fosse me beijar e...

- Eco! – Eu bradei novamente mas desta vez no meio de um quase riso. – Não, cara. Eu não ia te beijar.

- Mas que merda – ele gargalhou. – Estava com medo de você ter criado um clima e eu não ia te desapontar, né?

- Porra, você me beijou achando que eu queria te beijar? O que você tem nessa sua cabeça?

- Você me olhou com aquele olhar, porra. – ele concordou no meio de uma gargalhada.

- Que olhar? Este? – Eu franzi as sobrancelhas, incrédulo.

- Esse não, seu idiota. O outro. Aquele que você faz quando sorri de lado e ficava pensando no David quando conversava com a Kath.

- Ai meu Deus, você é quase um poste, sabia? Mas preste atenção – eu continuei, sério. – Não há clima entre a gente. Nem terá. Pelo amor de Deus, não!

Ele riu e me puxou para um abraço, dessa vez sem beijo. Ele fez um carinho suave nos cabelos de minha nuca como sempre fazia. Eu retribui o abraço deixando minhas mãos suavemente sobre as costelas largas dele.

- Ufa! – Suspirou.

- Gostou do meu beijo, neném? – Eu brinquei.

- É suave, mas ainda assim é de homem – ele pareceu ser sincero, mesmo aos risos.

- Pode ir parando que isso não foi nem um beijo.

Ele não parou de rir nem para entrar no carro e fechar a porta. Ao abaixar o vidro ele soltou um beijinho no ar e eu não contive meu riso. As risadas duraram até chegar no elevador. Mesmo tão voltado para a confusão como eu poderia ser, Alan tinha me rendido o momento mais leve em muitos dias. Meu afastamento não melhoraria em nada e só me manteria em uma onda sentimental que me arrastaria para baixo. “Sem mais ceninhas infantis” eu me repreendi.

A proximidade com o aniversário de Kath me tirava o peso de ter que ligar e pedir desculpas. Ela já tinha dito para Alan que me queria na festa de qualquer jeito e ele me passou o endereço onde seria a comemoração. De maneira nenhuma, nem por todos os erros e situações confusas do mundo eu deixaria de ir no aniversário da minha melhor amiga. Pelo que conhecia de nós mesmos e o que éramos juntos, eu não precisava mais de um pedido de desculpas e ela muito menos de uma lição. O que tinha acontecido no passado, à ele pertencia. Eu sentia que as costas de David me deram adeus naquela tarde e que não mais iria vê-lo se aproximar com aquele sorriso e as marcas faciais que me fazia viajar para outro mundo. Não pensei diferente das outras vezes: definitivamente era melhor assim.

Aproveitei toda a empatia do Dr. Isaías e quase me senti culpado quando pedi o sábado de folga, quando a real intenção era ir à festa marcada. Após o expediente tirei alguns minutos para comprar novas maquiagens como presente para Kath. Cores vibrantes e festivas. Cores que sempre combinavam com ela.

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O que eu tô fazendo aqui em pleno feriado? Pois é, não sou mesmo dos bloquinhos e folias. Me apossei de uma poltrona e aqui vou ficar um tempão. Animação pra dá e vender.

Outra coisa: amanhã mesmo libero o último capítulo. Tenho uma viagem marcada para a quinta e sei lá quando eu volto. Minha última demora fala por mim, não é mesmo? haha Aliás, me desejem sorte. Vai que eu volto com histórias novas, hein...

Outra coisa: uns abrações pra vocês todos. :)

Ru/Ruanito, eu ganhei novas palavras? Estou comemorando a adição do "tenso" e o "abraço". haha Obrigado.

J. K., há mesmo esses sentimentos não tão gostosos e esse encontro deles era mais pesado, mas meus contos são leves e não tinha que pesar o clima nesse finalzinho, né? Eu particularmente gosto dessa levada. Quer dizer, eu acho que minha condução é suave. haha Mas que eu vou do êxtase pra lágriminha, eu vou. Que pessoa doida, gente! Sobre a sua proposta: sim, eu aceito o Braz. Você fez meu dia com esse presente. :D Outra coisa: quando eu terminar esta série irei ler as suas do começo. Quando cheguei na CDC você já tinha dado início e eu fiquei exitante, mas agora irei ler tudinho como agradecimento ao seu apoio que sempre me deixa lá em cima. Todos os abraços, como sempre! :)

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Comentários

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Hahaha para eu escrever bastante só se o conto ou algum personagem me irritar.

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