- hey Kadu. - gritei.
Kadu olhou para mim.
- fala.
Respirei fundo, e pensei mais uma vez.
- Nada não. Segue com o plano.
Kadu olhou pra mim e deu um sorriso diabólico.
- o que eu to fazendo meu Deus? - pensei comigo mesmo.
Minha cabeça deu umas voltas, e eu comecei a vomitar ali mesmo.
Victor e Danilo chegaram com as cervejas e tentaram me ajudar.
- sabia que você não tava bem primo. - disse Danilo dando leves tapas em minhas costas, enquanto eu me acabava em vômito.
- ele comeu alguma coisa que fez mal? - Victor perguntou ao Danilo.
- não sei cara, não to morando mais lá. - respondeu meu primo.
- quero água primo. - falei passando as mãos na boca.
- eu busco pra você. Cuida dele aqui Victor. - disse Danilo retornando ao bar.
- pode deixar irmão. - respondeu Victor.
Mesmo parando de vomitar, eu continuava sentindo minha cabeça girando.
- você quer ir pra casa? - disse Victor me apoiando pelo braço.
- não mano. Ta tranquilo. - respondi.
- de boa então.
- e tua namorada não vem? - perguntei mudando de assunto.
- ela teve que ir pra Diamantino.
- o outro cara mora lá? - falei sorrindo.
- tomar no cu mano. - Victor me acertou o ombro com um soco.
- ai caralho.
Danilo retornou com duas garrafas de água mineral. Meu primo abriu uma garrafa para eu tomar da água, e usou a outra para lavar minha cabeça e rosto.
- melhorou? - disse me encarando.
- bem melhor. Agora me sinto, literalmente, de cabeça fria.
- seu otário. - disse Victor sorrindo.
Retornamos á festa e nos juntamos a outros colegas da faculdade.
- Larissa perguntou por ti. - disse Lucas tomando um copo de vodka.
- por que tu não trouxe ela? - perguntei sentado a seu lado.
- até chamei, mas ela disse que tinha que fazer um trabalho.
- essa Larissa é a da enfermagem? - Victor entrou na conversa.
- essa mesmo. - disse Lucas.
- conheço. Mó gatinha. - meu amigo fez cara de tarado.
Nós rimos.
- eu esqueci de comentar contigo mano. Conheci ela na praia, muito gente fina.
- to sabendo. - disse Victor tomando um gole de sua cerveja.
Não sei como Victor estava sabendo tanta coisa a meu respeito.
Ficamos curtindo com a galera, até o momento em que Eduardo apareceu e deu um abraço em mim, e outro no Danilo.
- pensei que não fosse vir falar com a gente. - disse Danilo.
- tive que dar um perdido no Gustavo. O cara não quer que a Marcela e eu chegue nem perto da sombra de vocês dois.
- eu já desconfiava. - falei.
- o que ta acontecendo com a gente galera? Nós somos família. Não faz sentido esse cabo de guerra. - disse Eduardo.
- O Gustavo não te falou o que ta acontecendo? - perguntei.
- até agora eu só sei da versão dele. A Marcela ta mó irada com vocês dois. - disse Edu.
- uai. Por qual motivo? - disse Danilo.
- depois do que vocês dois fizeram, ou melhor, do que ela acha que vocês dois fizeram.
- e o que ela acha que nós fizemos? - questionei.
- Gustavo disse que vocês tão pegando no pé dele lá pela faculdade. Disse que estão espalhando conversinhas, e colocando a geral contra ele.
- ele disse isso? - falei.
- e tem mais. A Marcela que tem a mente fraca já puxou a briga pra ela.
- cara. Isso não é verdade. Não fizemos nada contra esse filho de uma puta. Cadê aquele baitola dos infernos? - disse Danilo ficando nervoso.
- isso é mentira Edu. A troco de que a gente faria isso com o Gustavo? Você conhece a gente desde moleque cara, e acha que teríamos coragem de fazer isso?
Edu olhou para mim, e depois olhou para o Danilo.
- eu não sei em quem acreditar. - disse Edu.
- beleza cara. Você tem todo o direito, e eu não vou ficar com raiva de você por isso. Só te peço pra não pegar muito ar do Gustavo que você pode acabar explodindo.
- hoje eu vou partir a cara desse viado. Cadê ele Edu? - Danilo estava transtornado.
- calma primo. Adianta ficar de cabeça quente não. Vamos beber que é o melhor a fazer.
- eu não quero que fique clima chato entre a gente. - disse Edu.
- e não vai ficar primo. Só que, porra... Pegou muito mal você vir falar com a gente, escondido do Gustavo.
- eu sei, mas é que não quero causar uma confusão maior.
- ta certo brother. Esquenta com isso não. Agora, volta lá antes que ele venha atrás de tu.
- ele não vai vir não. Ta muito ocupado conversando com o tio Adenor e a tia Eliana.
- por telefone você quer dizer? - perguntei curioso.
- nada de telefone. Eles estão aqui em carne e osso.
- ta de putaria? Os pais dele estão aqui?
- estão lá pra trás conversando com ele.
- tu tem alguma coisa a ver com isso Gabriel? - Danilo me olhou com desconfiança.
- juro que não mano. Nem sabia que eles estavam na cidade,
Não sei se Danilo ficou convencido. Afinal, ele sabia que existia um plano de vingança contra o Gustavo.
- eu vou ter que ir ali.
- aonde primo? - disse Danilo.
- vou procurar uma pessoa. - respondi.
- vou com você.
- não primo. Eu vou sozinho, me espera aqui.
Danilo não concordou, mas não insistiu. Saí, e deixei ele na companhia do Edu.
Procurei o Kadu pela festa, e depois de muito tempo o encontrei.
- hey Kadu. O que ta pegando cara? Por que os pais do Gustavo estão aqui?
- eles já chegaram? - Kadu estava acompanhado de alguns amigos.
- não os vi, mas fiquei sabendo que sim.
- então é agora. Ver onde eles estão e tenta distraí-los o máximo que você poder. - Kadu e eu nos distanciamos dos outros.
- isso não é difícil, mas primeiro me explica o que acontecendo. Eu mereço saber brother.
- ta legal. Você viu que tem uma tela la perto do bar? - disse ele apontando na direção.
- reparei.
- enquanto você distrai os pais do Gustavo, o Beto, o Lucas, e eu vamos atraí-lo até o estábulo, e fazer ele confessar que espalhou a fofoca sobre você. Nós colocamos uma câmera no estábulo, e tudo o que acontecer lá dentro vai ser projetado naquela tela. - Mais uma vez ele apontou.
- O Lucas e o Beto também tão nessa? - perguntei espantado.
- sim. Mas eles entraram por vontade própria.
- entendo. E é só isso cara? Você tem certeza que não vai rolar nenhuma maldade contra o Gustavo?
- claro que é só isso. Por esse motivo que eu chamei a faculdade quase toda, e dei um jeito de os pais dele estarem presentes.
- e os fogos de artifício?
- é pra outra ocasião.
- você disse que era para o final.
- não Gabriel, eu tava só brincando com você.
- fico mais aliviado cara. Então eu vou lá distrair meus tios, e você faz o resto.
- pode deixar... Ah, já ia esquecendo. Os pais do Gustavo têm que estarem próximo a tela. Beleza? Eles tem que acompanharem tudo o que o filho deles vai falar.
- eu vou fazer com que eles estejam no local certo, e na hora certa. - falei.
- então é agora Gabriel, cada um faz a sua parte.
Kadu, e eu fomos para lados opostos. Procurei pelos meus tios no meio daquela multidão, e os encontrei um pouco mais afastados com o Gustavo.
- bença tia. - falei estendendo a mãos e lhe dando um abraço.
- Deus te abençoe meu amor. - disse ela retribuindo o abraço.
A mesma coisa fiz com o meu tio Adenor.
- como estão as coisas la pela sua casa? - disse a tia Eliana.
- tudo certo tia. - respondi.
Conversava com minha tia, mas não tirava os olhos do Gustavo que recebeu uma ligação, falou alguma coisa no ouvido da Marcela e saiu de fininho. Não demorou muito, e alguém também levou minha prima para longe. Aquele plano ainda não estava totalmente claro em minha mente.
- e o papai e a mamãe estão bem? - disse minha tia.
- o que? - perguntei meio desnorteado.
- seus pais... Eles estão bem?
- todos ótimos. Papai ta rabugento daquele jeito que vocês conhecem, mas com a saúde em dia.
Meus tios riram.
- isso é o mais importante né!? Com saúde já é meio caminho andado, o restante a gente corre atrás.
Minha tia tinha a voz suave.
Ela era uma senhora com seus cinquenta e tantos anos. Seus cabelos eram negros e sempre bem aparados. Sua pele era branca e lisinha, ela ainda não possuía uma ruga sequer.
Já meu tio era um cara muito bruto. Voz grave, barriga grande devido aos anos de cerveja com os outros tios. Mas era um cara muito bacana.
Eu não conseguia imaginar o tamanho da decepção que eles sentiriam ao ouvir o que o filho havia feito comigo. Mas aquilo era necessário, e eu não voltaria atrás.
- cade o Gustavo? - disse minha tia após notar a ausência do filho.
- eu acho que ele foi ao bar comprar alguma coisa, tia.
- eu vou procura-lo pra poder ir pra casa. Mande lembranças para os seus pais Gabriel. - disse minha tia.
- a senhora já vai tia? Ta cedo.
- eu não gosto dessas festas meu filho. O que me informaram é que seria uma festa familiar.
- acho que mentiram pra senhora tia. - falei sorrindo - Mas já que está aqui, por que não aproveita a festa?
- se tua tia dirigisse eu poderia ao menos tomar uns gorós. - disse meu tio entrando na conversa.
- nem pensar Adenor. Esse teu tio ta virando um pudim de pinga meu filho. Vê se pode?
Eu apenas sorria.
Naquele momento a música foi interrompida, e alguém no microfone nos convidou a assistir uma apresentação de rodeio em um telão próximo ao bar.
Se eu estivesse com a bosta pronta, provavelmente teria cagado naquele instante. Imaginar que meu nome agora iria ficar na boca da geral, era um tanto constrangedor.
- o sr gosta de rodeios né tio? - perguntei.
- já montei em muito touro brabo lá em barretos. - disse ele sorrindo.
- até parece. - minha tia completou.
Caímos na risada.
- então bora assistir. - falei.
- não da meu filho. Temos mesmo que ir. - disse minha tia.
- vamos lá tia, é rapidinho. - insisti.
Minha tia pensou.
- tudo bem, aproveito e ligo para o Guga nos encontrar lá nesse bar.
- não precisa ligar. Eu vou falar com ele aqui pelo whats.
- ótimo. Então peça pra ele vir nos encontrar, por favor.
Fingi teclar alguma coisa no celular, e minha tia engoliu a conversa.
Caminhamos e ficamos em uma posição privilegiada.
O telão havia sido ligado, e aparecia a imagem de um estábulo, mas não tinham pessoas ali. Apenas alguns animais.
Os convidados começaram a vaiar.
Danilo, Victor e Edu nos acompanharam.
- vai ser rodeio mesmo que vai passar aí? - Danilo disse próximo a meu ouvido.
- não mano. - falei próximo ao ouvido dele.
- então é...
- é o que tu ta pensando. - falei por fim.
Repentinamente um cara entrou no estábulo. Eu já tinha visto ele outras vezes. Se não estivesse enganado era um dos peões da fazenda. O cara tirou sua camiseta e jogou-se em cima de umas palhas.
As universitárias começaram a gritar polvorosas.
Eu não estava entendendo nada, foi quando então entrou Gustavo, Kadu, Beto e Lucas. Eles falavam coisas que não dava para discernir.
Kadu acendeu um cigarro, e entregou para Gustavo, que deu uma tragada.
Minha tia ficou perplexa. Provavelmente não sabia que Gustavo fumava, muito menos o que ele fazia aparecendo naquele telão.
- onde é isso? - ela perguntou com os olhos vidrados no telão.
- não sei tia. Parece um local onde os cavalos dormem. - falei dando uma de inocente na historia.
Subidamente, Lucas começou a tocar no assunto chave.
- e o teu primo? - ele perguntou olhando para Gustavo.
Por mais que tivesse muito barulho, algumas passagens dava para escutar.
- que primo? - perguntou Gustavo.
- Gabriel. - disse Lucas.
- deve ta por aí. - disse Gustavo sem dar muita importância ao assunto.
- deveria você armar um esquema pra nós né!? - disse Kadu.
- pra nós quem? - perguntou Gustavo.
- a gente com o teu primo. - disse Beto tomando uma cerveja, e passando para o Gustavo que tomou o restante e jogou a latinha fora.
- vou pensar. - disse Gustavo.
Meus tios estavam ao meu lado inquietos.
- pensar nada Gustavo. Agiliza pra essa semana pô. - reforçou Lucas.
- meu primo é todo cuzão. Ele não sabe aproveitar nada da vida, só quer saber do Danilo.
Puta merda. Agora eu seria zuado pro resto da minha vida acadêmica.
- Danilo? Qual Danilo? - perguntou Kadu.
- o de engenharia.
Os caras deram outra lata de cerveja para Gustavo.
- ah sim. Sei quem é. Primo de vocês né!? - disse Beto.
- mais dele do que meu. - disse Gustavo rindo.
- mas o Danilo sabe que o Gabriel se prostitui la na faculdade? - perguntou Lucas.
Todo mundo que assistia começou a gritar.
- acho que não. - disse Gustavo.
- então temos que alertar o cara né!? Maior sacanagem o Gabriel ficar fazendo isso pelas costas do namorado. - disse Beto.
- depois eu falo com ele. - disse Gustavo.
- eu falo com você. Bora lá falar com ele agora. - disse Beto.
- agora? - Gustavo assustou-se.
- é. Vamos aproveitar que ele ta por aqui.
- deixa pra depois Beto. Hoje é dia de festa. - disse Gustavo.
- então eu vou falar com ele sozinho. - Beto fez menção a sair do estábulo, mas Gustavo bloqueou sua passagem.
- Não precisa Beto. Depois eu falo com ele calmamente.
- eu vou lá é agora. - disse Beto dando um leve empurrão no Gustavo.
- NÃO! - o cara falou quase gritando. - deixa isso pra lá Beto. - Gustavo praticamente suplicava.
- por que não? - perguntou Lucas.
Os caras fingiam estar mais bêbados do que realmente estavam.
- ah, esse é um assunto tão chato. - disse Gustavo.
- temos que falar com ele sim. Ele tem que saber que o namoradinho dele ta ganhando grana de forma barata. - disse Kadu.
- é isso aí. Vamos mostrar pro Danilo quem realmente é o Gabriel - disse Lucas.
- não gente. Não precisa. - disse Gustavo.
- de que tu tem medo Gustavo? Conta aqui pra nós! Por que não podemos falar com o Danilo sobre isso?
Gustavo ficou mudo.
- Do que eles estão falando Gabriel? - perguntou minha tia quase em lágrimas.
- a senhora vai já saber tia. - falei passando a mão em seu ombro.
- fala Gustavo. Qual problema de a gente falar sobre isso pro Danilo?
- tudo bem, mas vocês não podem comentar que foi eu quem falei isso pra vocês. - disse Gustavo.
- isso vai ser difícil. - disse Kadu.
- por que? - disse Gustavo aflito.
- ele vai querer saber a fonte dessa historia.
- vocês inventam algum nome.
- mentira não é comigo. - disse Beto.
- nem comigo. - reiterou Lucas.
- não me olhe assim cara. Vamos ter que falar a verdade. Se isso tudo é verdade não há o que temer. - completou Kadu vendo que Gustavo lhe olhava com uma cara de angústia.
- acabei de ter uma ideia. - disse Beto olhando para os companheiros.
- eu gosto de ideia. - Kadu riu.
Gustavo olhava para eles sem nada entender.
- que tal a gente levar o Gustavo lá, e ele mesmo explica essa historia pro Danilo?
- boa. Aproveita e chama os pais do Gustavo e desmascara logo o Gabriel na frente da família.
Gustavo deu uma passada pra trás.
- Bora lá Gustavo? - disse Kadu.
- eu não vou pra lugar nenhum. - disse Gustavo.
- ah, você vai sim. - falou Lucas.
Beto e Kadu seguraram pelos braços do Gustavo.
- me solta seus merdas, me solta.
- calma aí gatinho. Pra que esse escândalo? A gente vai lá, fala a verdade pro Danilo e depois vamos curtir a festa.
- vocês me chamaram aqui pra falar sobre isso? - disse Gustavo.
- não exatamente. Te chamamos aqui porque o Damião ta doido pra brincar, olha la a carinha dele. - disse Kadu.
Gustavo olhou para o peão que acenou.
- você da conta do Damião? Teu primo não topou, ele disse que não é garoto de programa não. - disse Lucas.
- ele falou isso Luquinhas? - perguntou Beto.
- to te falando mano. Ficou ate com raiva porque eu fiz essa proposta pra ele.
- mais um motivo pra gente passar essa historia a limpo. - disse Kadu.
- já chega. - Gustavo falou desanimado.
Eu estava de dedos cruzados pra ele assumir logo e acabar com aquilo. Meus tios nem ninguém merecia passar por isso.
- não existe garoto de programa nenhum. - disse meu primo.
- como não existe? Você falou cara. Ele num falou Kadu? - disse Lucas.
- eu também ouvi. Você disse que o Gabriel era garoto de programa e atendia dentro do banheiro da faculdade.
- eu tava brincando gente. Vocês não sabem diferenciar uma brincadeira de algo serio? - Gustavo achou que poderia resolver as coisas inventando outra mentira.
- e quem ia saber que era brincadeira? - disse Kadu.
- agora é tarde cara. Todo mundo ta pensando que teu primo é garoto de programa. - disse Beto.
- deixa assim. Uma hora as pessoas esquecem.
- mas o que você fez é grave Gustavo. E agora como fica teu primo? - falou Kadu.
- vai superar. Nós viemos aqui pra falar sobre isso ou viemos trepar? - perguntou meu primo na maior cara de pau.
Todos gritaram. Galera tava se amarrando. Infelizmente, meus tios não mereciam passar por tanto constrangimento.
- Damião, chega aí. - disse Kadu.
Damião levantou-se e eu pude observar seu rosto. Era ele sim, um dos peões da fazenda do pai do kadu.
- o que tu me diz desse material aqui? - disse Kadu apontando para Gustavo.
- é bom. - pela primeira vez ouvi a voz do Damião.
- e aí Gustavo, você acha que da pra dar uma com o Damião? - disse Lucas.
- e vocês? - perguntou Gustavo.
- a gente vai ficar aqui na entrada pra não deixar ninguém passar. - disse Beto.
- e tu Kadu? Não vai participar? - perguntou meu primo.
- todos nós vamos. Um de cada vez. - respondeu Kadu.
- então eu posso começar por ti. - disse Gustavo.
- libera logo o Damião que ele tem que acordar cedo. Aí depois a gente vai revezando. - disse Lucas.
- vocês vão ficar aí mesmo? - disse Gustavo.
- vamos ficar todo tempo aqui fora. - falou Beto.
- mas meus pais tão aí, e eu não posso me demorar.
- da um perdido neles. - disse Kadu.
Gustavo não pareceu concordar.
- você quem sabe. Bora Damião, aqui não vai rolar nada não. - disse Kadu.
Damião começou a vestir sua camiseta.
- espera! - exclamou Gustavo. - beleza, eu começo pelo Damião, e depois eu vou com vocês.
- vai de vagarzinho hen Damião!? Não quero comer esse trem todo arregaçado não. - disse Beto.
Todos riram, inclusive o próprio Gustavo. Kadu, Lucas e Beto saíram do estabulo, e Gustavo começou a tirar sua roupa.
- meu Deus amado. Isso não ta acontecendo. Que lugar é esse Gabriel? - disse minha tia.
- vamos embora. - disse meu tio.
- eu preciso tirar meu filho daqui, me ajuda Gabriel. - minha tia tentava encontrar ar.
- vai atrás do Gustavo, que eu vou ajudar a levar minha tia pro carro.
Danilo, Edu e Victor saíram em disparada a procura do estábulo.
Ajudei meu tio a carregar minha tia até o carro. Deitamos tia Eliana, e abrimos seus braços.
- cade meu filho? cade meu filho? - minha tia parecia inconsciente.
- Gabriel, eu fico com ela. Agora vá e traga o Gustavo até aqui, por favor. - disse meu tio.
- pode deixar tio.
Deixei meus tios, e acelerei a passada.
Quando passei em frente ao telão, vi uma cena deplorável: Gustavo estava de quatro e Damião socava nele sem dor. A galera gritava tanto que não dava para ouvir os gemidos.
Liguei para o Kadu, mas a ligação caiu na caixa postal. Liguei então para o Danilo.
***
- não encontramos nada. - disse Danilo atendendo a ligação.- Meu primo parecia cansado de correr.
- O Kadu disse que eles iam estar no estábulo. - falei.
- mas eu não sei onde fica. Já procuramos em tudo por aqui.
- já atravessaram o açude?
- ainda não.
- tem uma canoa lá. Pode ser que esse estábulo fique do outro lado.
- to indo lá dar uma averiguada.
- me espera na beira do açude. Vou com vocês.
- beleza.
***
Desliguei o telefone, e atendi uma outra ligação.
***
- fala Gabriel, e aí foi bom o show? - era Kadu.
- aonde vocês tão Brother?
- aqui no estábulo. - disse ele.
- mas aonde fica? Minha tia ta passando mal cara. Temos que parar com isso.
***
Kadu me ensinou o caminho do estábulo, e após eu encontrar com o Danilo, Edu e Victor corremos pra lá.
- cadê ele? - perguntei com a voz embargada de tanto correr.
- ta la dentro se divertindo. - disse Kadu.
- temos que parar com isso mano.
- calma Gabi. Deixa os caras se curtirem. - disse Lucas.
- minha tia ta passando mal mano. Ela precisa ver o Gustavo.
- ela não vai morrer, eu tenho certeza. - disse Kadu.
- Concordo com o Kadu. O Gustavo vacilou muito e ta merecendo. - disse Danilo.
- mas a tia não tem culpa. - falei.
- o pior ela já viu. Nada vai diminuir a vergonha que ela passou. - disse Danilo.
- é isso Gabriel. Esse cara vacilou contigo, e agora ta pagando pelo que fez. - disse Victor.
Olhei para Victor e em seguida para o Danilo.
- eu não sei cara. Não tenho pena do Gustavo. Eu penso é na minha tia. - falei.
- também penso nela, mas agora deixa rolar. - disse Danilo.
Kadu saiu da entrada do estábulo, e me deu passagem livre.
Fiquei parado, de longe, olhando Gustavo rebolando na rola do Damião parecendo uma cadela.
- acho que você tem razão primo. Minha tia vai superar. - falei cuspindo no chão.
Kadu sorriu pra mim.
- obrigado cara. Você limpou minha imagem. - falei tocando em suas mãos.
- estamos aqui pra isso mano. - disse Kadu.
Saímos dali, e deixamos o Gustavo se lambuzando na própria merda.
- vocês querem continuar a festa em outro lugar? - disse Danilo.
- eu não tenho horas pra chegar em casa. - respondi.
- to dentro. - disse Victor.
- então bora comprar uma caixinha e tomar lá no meu ''ap''.
- isso aí primo. Vamos inaugurar aquela porra, mas antes eu preciso ir la na tia ver como ela esta.
O carro dos meus tios não estava mais estacionado. Foi melhor assim. Eu não saberia o que falar, e não estava querendo inventar mais uma mentira para eles.
Pegamos o carro, e fomos direto para o apartamento do Danilo, que por coincidência ficava no mesmo prédio que o meu.
♫♫♫
Decide ai, enquanto eu vou dar uma volta na cidade
Mas pense bem pra depois não se arrepender
No supermercado não vai me encontrar
Na farmácia não vende remédio pra saudade.
♫♫♫
É incrível o poder que a música tem de te fazer lembrar alguém.
Enquanto Danilo tocava aquela música, eu viaja lembrando do Fernando.
Lembrava de todos os momentos com ele, desde a primeira vez que o vi indo na escola buscar o Victor. Na época, eu então sendo um adolescente.
Se aquele amor já tinha completado ano, por que então eu não tinha conseguido superar? Tava passando da hora de eu dar um rumo pra minha vida. Talvez me abrir pra outras pessoas fosse uma solução.
Aquela noite eu pensei muito antes de dormir. Pensei no Fernando, no que havia acontecido com o Gustavo, pensei no Alexandre, pensei na falta que Danilo me faria se ele fosse embora para um lugar distante. Pensei também na quantidade de amigos que eu fizera nos últimos tempos.
- Eu não preciso sofrer por amor. - pensei tanto que acabei pegando no sono.
Acordei já eram umas dez horas. Engoli um café rapidão e depois fui tomar um banho pra esperar pelo Fernando pra gente poder ir na tal pescaria.
Estava limpando meus ouvidos na frente do espelho, quando meu pai entrou no quarto.
- Gabriel. - disse ele com seu jeito nada convencional.
- aqui no banheiro pai. - gritei.
Imaginei que ele já soubesse o que havia acontecido com o Gustavo, e iria me fazer várias perguntas.
- vai sair filho? - disse ele parado na porta do banheiro do meu quarto.
- vou pescar.
- ultimamente você tem saído muito. - meu pai falava calmo.
- o senhor tem razão pai. Mas a gente tem que aproveitar né!? Ninguém sabe o que vai acontecer no dia de amanhã. - falei sem ser grosso.
- não discordo de você Gabriel. Mas precisa saber dosar as coisas.
- mas eu faço isso pai. To dividindo meu tempo com faculdade e trabalho. O que eu menos faço é sair pra divertimento.
- eu me orgulho de você. - ele disse com a voz falhando.
Tive que me virar para olhar nos olhos do meu pai.
- eu também pai. Nós somos diferentes em uma pá de coisas, mas ao mesmo tempo somos tão iguais.
- da aqui um abraço. - disse ele já de braços abertos.
Uma lágrima caiu dos meus olhos.
- eu amo muito o senhor pai. - minha voz saía fraca e embaçada.
- pode ter certeza que eu também te amo. Se eu pego no seu pé, é pelo seu bem. Quero te fazer um homem forte. - dizia ele em meus ouvidos.
Não me contive, e as lágrimas caíram com força. Meu pai também chorava muito.
- como ta o trabalho? - ele parecia interessado.
- ainda é cedo pra falar pai, mas por enquanto eu tô achando bom.
- aproveite essa oportunidade, mas se você ver que a faculdade e o trabalho estão sendo um fardo muito grande, divida-os com seu velho aqui.
- obrigado pai. - falei soluçando.
- eu jamais vou deixar você desamparado. - disse ele fazendo cafuné em meus cabelos molhados.
- pode deixar pai. Se o senhor precisar, lembra que eu ainda to por aqui.
Meu pai saiu do quarto, e me deixou reflexivo. Acho que ultimamente eu andava muito emotivo.
Após colocar uma roupa, e ajeitar alguns pertences em uma mochila, minha mãe entrou no meu quarto.
- senhora mãe. - falei fechando a mochila com o celular dentro.
- tem um rapaz aqui te chamando.
- é o irmão do Victor?
- é o vizinho aqui da frente. - disse ela.
Fui até a sala com minha mãe e vi o Alexandre sentado no sofá conversando com meu pai.
- e aí Alexandre. - falei o cumprimentando.
- tudo bom Gabriel?
- tranquilo. Esse aqui é o meu cliente vip, pai. - falei apresentando o Alexandre ao meu pai.
- coincidência filho. O Alexandre também é meu cliente.
- sério? - perguntei olhando para o meu pai, e em seguida para o Alexandre.
- teu pai é meu advogado Gabriel. Estou com um processo judicial, e ele esta me assessorando.
- então ta todo mundo familiarizado já. - falei sorrindo.
Ficamos um tempo conversando e em seguida eu fui até o apê do Alexandre para conhecer o bar que ele tanto falava.
Enquanto Alexandre tentava abrir a porta da sua casa, fomos surpreendidos pelo Fernando.
- Gabriel? To te ligando a um tempão e você não atende o telefone.
Passei as mãos no bolso.
- esqueci lá dentro de casa.
- e esqueceu da nossa pescaria também? - Parece que Fernando não havia notado a presença do Alexandre.
- claro que não cara. Já tô até arrumado. Só falta pegar minha mochila.
- então vai lá que eu quero chegar na fazenda antes da chuva cair. - disse ele.
- vai ficar pra uma próxima então Gabriel? - disse Alexandre me olhando.
- pode ser quando eu chegar?
- claro que pode. - disse Alexandre.
- desculpa cara, é que essa pescaria já estava combinada.
- sem problemas Gabriel. Vai lá e quando tu tiver um tempinho passa aqui.
- beleza.
- Da uma acelerada Gabriel. Vou ficar te esperando no carro.
- ta certo.
Fernando desceu no elevador sem ao menos falar com o Alexandre.
- quem é o rapaz? - disse Alexandre
- é um amigo.
- ele ta meio apressado né!?
- é. Fernando é meio ocupado.
- eu percebi. - disse Alexandre sorrindo. - Então vai nessa antes que ele volte aqui e te pegue no corredor novamente.
- ta. - sorri. Até mais tarde Alexandre.
- Até.
Peguei minha mochila, me despedi dos meus pais e encontrei Fernando no carro.
- quem é aquele cara? - foi a primeira coisa que ele perguntou.
- um amigo que eu conheci na loja.
- e ele mora em frente ao teu apartamento? - disse ele dando partida no carro.
- pura coincidência. - falei.
- é... Coincidências existem né!? - não sei se Fernando foi irônico.
- o que tu quer dizer?
- já conversamos sobre isso Gabriel. Não gosto de algumas amizades que você tem.
- qual o problema nas minhas amizades?
- eu não gosto Gabriel, e ponto. Custa você evitar, sabendo que eu não gosto?
- claro que custa cara. A gente nem tem nada a sério pra eu ter que abrir mão das minhas amizades.
Fernando acelerou o carro.
- então você não me leva a sério? - Fernando tinha um olho na estrada e o outro em mim.
- é o inverso cara. Você que não me leva a sério.
- ah, eu não ti levo a sério? Então o que eu to fazendo aqui em pleno domingo com você?
- teu corpo ta aqui comigo Fernando, e o resto?
- e o que você quer mais que isso?
- eu te quero por completo Fernando. Eu não quero só o teu corpo cara.
Fernando parou o carro no encostamento.
- eu to aqui não to? Isso não é o suficiente?
- se eu ficar com você, e outros caras vai ser suficiente pra ti?
Fernando me olhou, mas não respondeu.
- eu sinto a mesma coisa. Eu toco em você, eu abraço você, mas eu quero mais que isso.
- o que tu quer mais que isso Gabriel? Me fala que se tiver ao meu alcance eu faço.
- eu quero poder sentir teus lábios cara. Eu sonho todos os dias com tua boca.
- mas eu sou homem Gabriel. Eu não posso te beijar.
- tudo bem Fernando. Eu já esperava por isso. - falei abrindo a porta do carro.
- aonde você vai?
- eu to voltando pra casa.
- e a nossa pescaria?
- nós somos homens mano. Não pega bem dois homens pescando sozinhos.
- não fala assim Gabriel. Você tem que se coloca no meu lugar.
- então se coloca no meu poxa. Eu te amo cara. Pra mim não da mais. Esse lance de a gente sair juntos só estar me fazendo sofrer.
- você ta me cobrando algo que eu não posso fazer.
- sem problemas cara. Eu não vou mais cobrar.
Fernando me segurou antes de eu sair do carro.
- só me da um tempo.
- o tempo que você precisar cara. Mas se eu esquecer que te amo, eu que não vou querer mais você.
- você não pode me esquecer. Você me ama, e não pode me esquecer Gabriel.
Fernando segurava meu rosto com as duas mãos.
- eu nunca beijei um homem.
Fernando me olhava fixamente.
- me ensina Gabriel, me ensina a entrar nesse teu mundo cara. Cuida de mim, e eu prometo cuidar de tu.
Continua...
Favo, você escreve tão bem cara. Admiro quem tem esse domínio da língua. Parabéns de verdade!!
Sem enrolações galera. Na próxima já é o ultimo.
Abraços.