_Tá mais calmo? - Perguntou Diego ao retornar após levar o Daniel pra fora da pizzaria.
_Não sei o que aconteceu, foi mal. Estava fora de mim.
_ Assustou todo mundo viado, parecia até um serial killer, o novo Jack Estripador - Disse Diego, na tentativa de descontrair a situação.
Confesso que até eu me assustei. Quando ouvi aquelas palavras se referindo a minha mãe, senti um ódio insano. Como senti ódio por alguém que não conheci?
Sim. Eu sou adotado. Meus pais me adotaram ainda bebê é o que dizem. Sempre me apoiaram, foram muito presentes na minha infância. Infância essa que só me recordo a partir dos 9 anos de idade. Quando vejo algum filme ou novela em que algum personagem foi adotado e vai em busca dos pais verdadeiros, eu acho uma falta de amor aos adotivos. Por isso não fui atrás dos meus antes.
_Quem era aquele cara Lucas? - Perguntou Bruno.
_Eu lá vou saber? Outro dia ele me parou na rua e cismou que meu nome é Luan. Deve ter confundido comigo.
_Luan?! Sei. Pelo visto o cara gostou do sexo que vocês fizeram. Deixou o cara apaixonado hahahaha. Disse Diego tentando fazer piada.
_ Só se transei no sonho dele - Disse eu tentando por um fim naquele assunto.
_ Bora, você precisa ir pra casa, já passou por estresse demais hoje - Bruno disse.
_Não, eu preciso achar o Daniel e pedir desculpas a ele, e se ele quiser ir à polícia? - Eu disse já preocupado.
_NÃO. Você não vai. Quero dizer, acho melhor você descansar um pouco, eu te acompanho. - Bruno disse. Notei um certo tom de preocupação quase exagerada dele mas não insisti.
_Tem razão. Vou para casa - Dei por vencido.
Da pizzaria até meu apartamento não era longe e fomos a pé mesmo. Estava relativamente fresco e fomos pelo largo da praia. O silêncio instalado na primeira parte do percurso não foi suficiente pra eu analisar o que estava acontecendo, porém Bruno quebrou o silêncio.
_O que você sente por esse Daniel? -
_Que pergunta é essa Bruno? Eu não conheço esse cara, nunca o vi. Então não sinto nada, a não ser confusão
Estava mentindo. No fundo eu sentia alguma coisa sim, não sabia o que era. Se era remorso, raiva, preocupação ou tudo isso junto.
_ Acha que é possível eu ter algum irmão por aí Bruno? Não conheci minha mãe e o pouco que eu lembro da minha infância eu já era adotado.
_Talvez. O Rio de Janeiro fica lindo nessa época né?! . - Bruno disse tentando se desviar do assunto.
_Tá fugindo da pergunta por quê? - Perguntei sem rodeios
_Não estou fugindo. Só comentei. Não acho que deva se preocupar com isso, já disse.
_Bruno eu te conheço desde que me entendo por gente, conheço mais você, do que você mesmo, se tiver algo pra falar, fale.
_Eu não tô escondendo nada, só acho que realmente você não deve se preocupar.
Chegando no meu apartamento, corri direto para o chuveiro, enquanto o Bruno foi para o computador. Me despi, abri o chuveiro e deixei a água fria cair o mais forte possível. Um sentimento de culpa me atingiu. Comecei a chorar sem entender o que estava acontecendo. Imerso naquela tristeza profunda, a água caía com raiva, como se me chicoteasse. E se eu realmente tivesse um irmão? E se a minha família biológica precisasse de mim? Decidi pôr um fim naquilo. - Vou procurar por minha família.
Saí do chuveiro, me enrolei na toalha e parei em frente ao espelho que tinha ali no banheiro. Examinei cada detalhe do meu rosto tentando lembrar de alguma coisa, mas não vinha na mente. Passei a mão sobre o meu peito arranhado e de repente veio um flash de imaginação. Imaginei o Daniel me chupando loucamente. Depois ele nu em cima de mim, cavalgando. Nossos corpos arrepiados e ele me arranhando, o tesão era palpável. Senti meus corpo se eriçar todo. Meu pau deu sinal de vida e eu já estava começando a me masturbar. Imediatamente acordei daquela imaginação. Que droga é essa? Não posso estar sentindo atração por um homem. Pensei, ainda me examinando.
_Quem é você? - Disse ao meu próprio reflexo no espelho.
Fui para o quarto e Bruno ainda estava lá. Coloquei uma bermuda qualquer e deitei na cama já amadurecendo a idéia.
_Bruno.
_Fala - Ele virou pra mim - Porra tu tá gosto... Quero dizer, tá com o corpo legal - Ele já estava corado - Tem alguma coisa pra comer?
_Acabou de comer pizza e já tá com fome?
_ Por acaso você é nutricionista agora? Tem ou não?
_ Tem bolo lá na cozinha, aproveita e pega pra mim.
_Hipócrita - Disse ele já rindo.
Enquanto ele foi até a cozinha, eu peguei uma pasta com todos meus documentos. Retirei minha certidão de nascimento e da adoção e comecei a examinar.
Bruno voltou ao quarto com o bolo e duas xícaras de café.
_ O que é isso aí? - Perguntou ele já dando uma bocada no pedaço de bolo em sua mão.
_ São só alguns documentos. Vou ter que viajar.
_Pra onde você vai?
_ Para Curitiba. Mas antes vou passar na casa dos meus pais.
_ Mas e a faculdade? Tem que manter seu CR alto. - Falou ele.
_Eu tenho um conceito alto com todos os professores, só vou ficar três dias lá.
_ Vai fazer o que lá cara? Disse ele comendo mais um grande pedaço do bolo
_Eu vou atrás da minha família biológica Bruno. Eu vou atrás da minha história.
Bruno deu uma engasgada como se aquela noticia o deixasse aflito.
_Não acho prudente você fazer isso Lucas. Seus pais adotivos são seus verdadeiros pais.
_Eu sei Bruno, mas não dá mais pra ficar nesse limbo mental. Não lembro da minha infância, até onde eu sei eu fui adotado ainda bebê. Tem agora essa confusão com esse Daniel me confundindo com um tal de Luan. Talvez eu realmente tenha um irmão gêmeo por aí. E se ele estiver precisando de mim? É sangue do meu sangue Bruno. Eu preciso saber minha identidade.
Bruno me olhava preocupado. Como se quisesse me contar alguma coisa.
_Bruno tá tudo bem? Por que está com essa cara? - Perguntei já ficando preocupado com ele.
_Está tudo bem - Disse ele tentando se recompor
_Sua mãe conhece meus pais desde antes de eu ser adotado não é?! Ela deve saber de alguma coisa.
_Lucas acho melhor você não ir atrás dos seus pais biológicos.
_Como assim cara? Se você tá sabendo de alguma coisa me fala agora.
_ Não é nada tá?! Só acho que você não deve fazer isso pra não magoar seus pais. Pais são aqueles que criam, não os que te traz ao mundo.
_Ah. Pra você é fácil falar isso né? Não passou parte da vida em um orfanato e tem recordações da sua infância. Tem a vida que pediu ao céus. Nem ao menos sabe como é o sentimento de ser abandonado- Eu disse já alterado.
_VOCÊ NÃO FOI ABANDONADO. - Ele gritou e percebeu o que havia feito - Acho melhor eu ir embora. Sua vida pessoal, você cuida. Quando estiver mais calmo me liga. - Disse ele, pegando a mochila e saindo apressadamente, não dando nem tempo de uma explicação.
Novamente peguei a certidão de adoção. Lá constava o nome do fórum e o nome do orfanato. Fiquei meditando nas palavras que eu ouvira. O Bruno com certeza sabia de alguma coisa e se ele não fosse me ajudar eu iria descobrir por conta própria.
Deitei em minha cama e aquele sentimento de angústia veio novamente. Toda vez que relembrava as palavras do Bruno, mais me frustrava por não saber minha origem de fato. Acabei pegando no sono e tive um sonho estranhíssimo. Sonhei que estava em um quarto semiescuro com uma criança sentada, não conseguia ver seu rosto completamente mas senti que ela estava me encarando. Ao fundo ouvia vozes gritando. Não consegui ouvir claramente o que era. Senti algo me molhando e parecia ser uma enorme poça de água pelo quarto. De repente alguém abriu a porta e pegou a criança agressivamente pelo braço. E numa visão assustadora pude perceber, que o que estava nos molhando não era poça de água e sim sangue. O sangue misteriosamente jorrava das mãos daquela criança. Então vi o seu rosto. E eu conhecia muito bem aquele rosto. Pois o rosto era o meu.
***
Fala galera, esse é o terceiro capítulo do conto. Para quem ainda tá achando confuso,saiba que o objetivo do conto é esse mesmo. Confusão.Em breve as coisas ficam bem mais claras. Obrigado por acompanharem e comentarem. Até a próxima.