Memorial de Dona Maroca, a filha da luxúria - Os famigerados anos 80: Muitas alegrias e tristezas demais.

Um conto erótico de Astrogildo Kabeça
Categoria: Heterossexual
Contém 2110 palavras
Data: 09/02/2017 23:20:32
Última revisão: 26/04/2018 10:33:43

“Os anos 80 começaram com ar de redemocratização. Sentia que os anos passavam, mas eu não esmorecia. Continuava gostosona. Mas tive um hiato de 4 anos sem nenhuma aventura. Mas eu estava muito experiente. Achava que a Maroca de sempre não ia se aquietar. Não mesmo! Era só questão de tempo.

E foi. Em 1982 foi o ano de ouro dos meus filhos. Lugue foi jogar no Fluminense do Rio. E Magno também foi morar no Rio, convidado por um colega a estrelar uma temporada numa peça que fez muito sucesso no Sul do país. E foi o ano do casamento de João Pedro com Adriana, essa sim uma garota simpática e atenciosa. Há males que vem pra bem...

Foi nesse ano que retornei ao Rio para ver meus filhos. Lugue estava se recuperando de uma contusão e ficou uns meses parado. Magno estava namorando um rapaz da companhia e estava muito feliz. Ele estava bem afeminado. Mas encontrou, afinal, sua turma.

Foi lá que conheci Vilton. O conheci num coquetel após o lançamento de um livro, já que Magno conhecia todo o metier artístico. Vilton era empresário do setor hoteleiro, mas era também um mecenas, ou seja, ele financiava espetáculos e editoras, afinal era um grande amante da literatura. A atração foi mutua. Magno deu a maior força para que o romance engatasse e já naquele fim de semana fui passear com ele pelo interior do Rio. Ele tinha um sitio em Petrópolis. Era divorciado. Trepavamos no meio da Mata Atlântica e passeava muito pela região serrana do Rio. Em um fim de semana, trepamos eu, ele, e uma empregada dele, que ele comia desde os tempos de casado. O detalhe: o marido, que era o jardineiro do local, sabia de tudo! Mas como o salário era gordo, ele aceitava. Transavamos no meio das arvores e quase nunca na cama. Uma vez estávamos na casa dançando ao som das Frenéticas e estávamos todos nus. Não sei o que me deu, senti uma vontade de sair andando pelada e sai correndo nua pelo meio da estrada. Eles pediam pra eu voltar, mas eu continuava correndo. Até que me vi perdida no meio do mato, uma escuridão só. De repente, vi um carro se aproximar com faróis altos. Fiquei em pânico! Corria pro mato, mas o carro se aproximava cada vez mais. Fiquei aliviada quando vi que era o jardineiro que tinha ido me buscar. Comecei a rir quando vi ele e sai correndo mais uma vez. Ele foi a meu encalço e me agarrou. Eu falei “quer me comer aqui, gostosão? Sua mulher deve tá fodendo meu amante agora e você aqui atrás de mim!” Ele me deu um tapa e tirou a roupa. Me comeu ali mesmo, os dois deitados no chão com a luz do farol parecendo um holofote a iluminar aqueles dois loucos.

Voltava a Salvador sempre. Nessa época eu tinha quase certeza que Ernesto tinha uma amante também, pois não brigávamos pelas minhas idas ao Rio. Nessa época, não estávamos tão unidos assim como casal. Estávamos em um bom momento separados, mas não estávamos em um momento bom como casal. Achei que o casamento iria para o beleleu. Se fosse, eu só sentiria quando aquilo tudo acabasse... Ele parou de implicar comigo.

No Rio, eu Magno e Vilton passeávamos. Lugue as vezes aparecia com alguma maria-chuteira, mas eu nem ligava, ele tinha mais é que se divertir mesmo. Íamos muito ao Circo Voador e vi muitas bandas que fizeram muito sucesso tocarem lá. Vi Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Blitz....Era 1983, e apesar dos meus 49 anos, estava sempre envolta de muita gente de todas as idades, e não me sentia deslocada em razão da diferença de faixa etária, afinal Vilton era quarentão também. Naquele tempo existia uma unidade muito grande e o exemplo foi que uma vez sai da casa de Vilton e avistamos uma grande movimentação nas ruas. Uma faixa enorme trazia a frase “Democracia já!”. E aquela manifestação ficou marcada por ser uma das primeiras pela campanha das “Diretas Já!” que tomou conta do país no ano seguinte. E eu lá no meio do povo também. Foi um período de muita felicidade. Eu não queria mais sair do Rio. Ninguém se preocupava com a vida do outro, ao contrário de Salvador que sempre foi uma cidade bem provinciana.

Mas tudo que é bom se acaba. Em novembro daquele ano Vilton morreu em um acidente aéreo quando o jatinho em que estava voando para o Paraná, caiu. Chorei muito. Ele era um ser humano formidável. Todos no Rio sentiram. Ele era bem quisto, um incentivador da arte. Fui a seu enterro. Sua filha chorava de dar dó. Mas era eu quem parecia mais sentida. Ficava olhando para o caixão com aqueles “olhos de ressaca”. Parecia que eu era Capitu a olhar com tristeza o corpo de seu amante Escobar ali inerte. Se tudo era triste, pelo menos isso serviu pra me colocar na linha novamente. Tinha que voltar pra casa, eu tinha uma família e todo aquele clima de desbunde uma hora não iria servir pra mim. E assim é a vida...

As coisas voltaram a ficar boas em 1984. Eu e Ernesto nos reaproximamos durante a comemoração dos meus 50 anos. Para melhorar tudo, João Pedro anunciou o melhor presente que eu ganharia pelo meio século de vida: eu seria avó! Adriana estava grávida e alguns meses depois nascia Larissa, minha primeira neta.

Mas havia mais surpresas naqueles 50 anos. Lugue levou um colega seu de clube, um conhecido jogador do futebol brasileiro de então cujo nome terei que preservar.Nessa época eles jogavam pelo Fluminense. Trocava olhares com ele discretamente durante a festa. Em um churrasco num sitio que reservamos numa praia, o samba comia solto e eu olhando aquele jogador que fazia sucesso entre a mulherada. Mas quando chegou a noite falei com ele sem ninguém perceber “quando for dormir, espere meu sinal”. Por volta das onze da noite, todos meio bêbados foram se recolher. Eram meia noite eu já estava deitada quando percebi que Ernesto já dormia pesado. Me levantei e a casa estava escura. Na porta da casa, já quase na rua, ele estava lá fumando um cigarro. Fui a seu encontro e nos beijamos muito. Levei ele pra área da garagem e lá mesmo rolou a foda. Me ajoelhei, coloquei aquele pauzão pra fora e comecei a mamar muito, como eu fazia muito bem. Chupava, lambia, deixava ele louco. Logo estava em cima do capu de Fiat 147 e ele metendo forte. Cavalguei aquele tarugo com vontade, estava alucinada de fuder na cara de todo mundo! Que risco! Mas aquela altura tava nem ai. No chão úmido, me deitei para levantar a perna direita e ficar de ladinho levando porrete. Ele tirou o pau e gozou no chão. Uma pena, pois não dava pra fazer barulho e eu queria que ele gozasse em meu rosto. No outro dia ele e Lugue foram embora e lá foi mais um amante passageiro na minha conta. Pena que naquele ano, Lugue foi emprestado ao Náutico de Recife . Pena porque o Fluminense foi campeão brasileiro. Seria o grande título de sua vida. Paciência!

Esse ano também foi o ano que me interessei por algo que eu jamais havia feito: contratar garotos de programa ou michês. Contratei primeiro um homem. Altamente profissional, me tratou como uma deusa e me fodeu com muito gosto. Depois contratei uma prostituta e juntamente com ele, fizemos ménages. Junto a um amigo deles, eu aluguei um iate e rodei a Baia de Todos os Santos em um sábado e víamos as luzes de Salvador do mar. Estávamos nus na embarcação e eu e a prostituta trepamos com os rapazes no meio do mar. Extasiante!

1985 foi o ano que meu marido se tornou major e eu voltei a trepar com dois homens: um atendente de estacionamento e um que foi uma loucura! Foi durante o carnaval. Nunca fui de participar da folia em Salvador, mas aquele ano foi especial. Ganhei uma mortalha (naquele tempo não tinha abadá ainda) de um bloco e fui pular pra ver como era, apesar de meus 51 anos e só ver jovens por ali. Fui com o Magno – que poderia me acobertar de qualquer coisa que viesse aprontar. A coroa aqui foi bem paparicada. Quando estava na Avenida Sete vejo um deus de ébano vestido com uma fantasia do Filhos de Gandhi. Pra variar dei o maior mole. Ele, muito esperto, foi seguindo a corda e na Praça Castro Alves – lotada – fui agarrada pra dar aquele beijo molhado de suor e tesão do carnaval. Passei a ficar aos beijos com aquele negro em um canto escuro, já era a noite. Nesse local se concentravam muitos gays e Magno também se deu bem com um rapaz. Não aguentei o tesão e fomos para um motel nas proximidades da Rua Carlos Gomes. Pedi que Magno me esperasse no Campo Grande e lá fui eu. Logo eu estava toda arreganhada na cama recebendo aquele negro forte e musculoso. Depois de receber muita porra na cara, fui me encontrar com Magno, que pediu pra ficar mais um pouco pois se aproximava o trio de um tal Luiz Caldas. Presenciei ali o início do que viria a se chamar nacionalmente de Axé Music. O povo fazia umas dancinhas que ficaram bem famosas depois. Mas só assistia, pois eu estava cansada ouvindo “Nega do Cabelo Duro”. Mas a festa termina aí. Ainda naquele ano, começava meu drama durante aquela década. Comecei a sentir fortes dores no abdômen e quando fui fazer exame foi constatada uma diverticulite. Tive que fazer cirurgia. Tremi de medo, jamais havia pensado em deitar em uma mesa de cirurgia. E foi um procedimento delicado. Fiquei meses em recuperação. Naquele ano não fiz mais nada a não ser ter cuidado com a saúde

Em 1986, Lugue estava insatisfeito com a carreira que parecia estar em declínio. Estava jogando em um time pequeno no interior de São Paulo e resolveu jogar no Japão. Foi uma jogada arriscada, literalmente, pois ele foi para um país longínquo sem a mínima tradição futebolística. Dei um longo abraço nele na partida, pois senti que ficaria um bom tempo sem vê-lo. Mais um ano sem acontecimentos sexuais.Porém, como eu disse, há males que vem pra bem. Foi no Japão que ele conheceu sua mãe e você veio ao mundo, querida!

Em 1987, meu mundo caiu. Magno, que estava morando no Rio, voltou doente e tossindo muito. Tinha febres e calafrios constantes. Fazia exames, mas ninguém detectava nada. O quadro só piorava. Foi então que levantaram a suspeita que ele estava com o tal “câncer gay” que havia acometido o ator Lauro Corona e o cantor Cazuza. No fim daquele ano foi constatado que ele estava infectado com o vírus HIV (naquele tempo ainda chamavam essas pessoas de “aidéticos”). Nunca senti tamanha tristeza. Era praticamente um atestado de óbito. Passei a comer desregulamente. Ansiosa com o estado de saúde dele e também por estar longe das minhas aventuras sexuais. Engordei 14 quilos. Para quem estava cuidando da saúde, fiquei irreconhecível. Até que em 1988, ele foi se tratar em São Paulo. Deu uma melhorada, mas eu estava muito apreensiva com essa doença que começava a mostrar suas garras naquele momento. Cheguei até a transar com um maqueiro do hospital, mas eu fazia tudo mecanicamente e não senti o mínimo prazer em transar com ele. Nem deixei ele gozar. Parei a transa aos berros e sai dali, gorda feito uma baleia. Minha mãe estava com depressão por todo esse problema familiar e numa crise de hipertensão teve uma parada cardíaca fulminante. No dia 25 de maio de 1989, Magno nos deixava aos 29 anos e pesando 38 quilos, em cima de uma cama de hospital. Nem fui ao enterro. Estava absolutamente fora de mim. Naquele ano, morria também o maior gênio da música deste país: Raul Seixas. Desde pequeno, quando o vi cantar na TV Itapoan, senti que aquele menino ia longe. Com João Pedro, lembro de ter visto no Teatro Roma “Raulzito e seus Panteras”. Ele estourou no país e sempre ouvi suas músicas, verdadeiros clássicos contra a hipocrisia deste país. Magno adorava ele, era um dos seus artistas prediletos. Para encerrar aquele ano trágico – o pior de minha vida, com certeza – o povo brasileiro elegeu um playboy mimado para presidente. João Pedro e Ernesto comemoraram a eleição daquele engomadinho bossal, como dois almofadinhas que eram. E eu com não sei quantos quilos sentada no trono de minha casa, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar...” (continua)

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Comentários

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Maravilhosa essa passagem pelos anos 80, um resumo perfeito do que foi a década: política, auge do futebol, música (rock) aids... adorei essa fase da D. Maroca.

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MUTO BOM OTIMO ENREDO CHEIO DE VARIAÇOES ESTOU GOSTANDO MUITO

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