Continuando...
Sentado no chão,abracei minhas pernas com força.Minha mente dando voltas com as palavras impressas no jornal e meu coração pesado com a imagem que pintavam dele.A porta se abriu e o barulho me trouxe de volta a sala simples e suja da minha casa.Asustado,apanhei o recorte e o dobrei,atirando para baixo do sofá,logo em seguida.
Minha mãe entrou e fechou a porta,se virando e me lançando um olhar desconfiado.Sem querer que ela começasse a fazer um de seus shows,tentei fazer cara de paisagem.
-Olha,vo comer lá na casa do Noel...E aí na cozinha deve ter um resto de cuscuz,se os rato não comeu...E se tiver comido,se vire que tu não é problema meu.-Ela disse por fim.
-Na casa do Noel?...E o papo de que o Piolho era especial?-Perguntei surpreso.
-Deixou de ser quando robou e trouxe a mercadoria pra dentro da minha casa.-Ela respondeu,enquanto ia em direção ao corredor.
Observei ela sumir e esperei até ouvir a porta do seu quarto bater,para tentar recuperar o recorte de jornal,mais percebi que para isso teria que arrastar o móvel,e o barulho poderia fazer com que ela voltasse.Frustrado,decidi ir até o mercado comprar algo para fazer um almoço decente,e aí na volta tentaria recuperar aquele pedaço de papel.
Com um grito,avisei que estava indo comprar comida e então sai,fechando a porta atrás de mim.Pelo bairro havia vários mercadinhos,mais decidi ir até o centro,pois o dinheiro que tinha era muito pouco e precisava encontrar produtos bem baratos.
Em passos rápidos,levei pouco mais de vinte minutos para chegar em frente ao Vierão,o maior mercado da minha cidade e que segundo o povo,seus produtos tinham preços que cabiam no bolso,só esperava que coubesse no meu.
Entrei,e senti todos os olhares sobre mim.Envergonhado,me perguntei se essas pessoas nunca viram alguém de bermudão e havaiana.Pelo modo como não tiravam os olhos de mim,percebi que não.
Tentando não dar atenção,apanhei uma cesta e passei entre uma prateleira e outra.Entusiasmado,peguei não só apenas o que tinha planejado,mais também outras coisas que me tentaram na hora.Com a cesta cheia,fui até o caixa e passei as coisas rapidamente.
-Sessenta e cinco reais e oitenta centavos.-A atendente disse séria.
-Eh...eu...eu só tenho vinte reais.-Disse baixinho,sentindo meu rosto queimar de vergonha.
-Olha garoto,eu não tenho tempo pra isso.Se você veio ao mercado com apenas vinte reais,deveria pegar apenas o que o seu dinheiro dá para pagar e não apanhar o que vê pela frente,fazendo com que a gente tenha que passar os produtos,para descobrir no final,que você veio sem o dinheiro exato...Agora por favor,retire os produtos que apenas vai levar e os passe novamente.-A moça disse em um tom de reprovação.
Todos me olharam com um sorriso aberto no rosto,e eu senti vontade de sumir dali.Com os olhos cheios d'água,decidi largar tudo e voltar para casa sem nada.
-Não precisa fazer o menino passar essa vergonha,deixe que eu pago o que faltar.-Uma voz disse atrás de mim.
Me virei rapidamente e dei de cara com um homem moreno,um pouco mais alto que eu e de cabelos castanhos escuros.Ele usava óculos e um jaleco branco,e também trazia em uma das mãos,algumas barrinhas de cereais,que depositou no caixa.
-Aliás moça,não necessitava desse pequeno show.Poderia ter falado em voz baixa com o garoto e resolvido isso facilmente.-Diego disse sério.
-Eu estou fazendo o meu trabalho,senhor!-Ela disse no mesmo tom que ele usou.
-Seu trabalho é receber os produtos e cobrar por eles,não servir de auto falante e anunciar para o mercado todo que seu cliente não tem dinheiro para pagar.-Diego disse após retirar a carteira.
A moça ficou em silêncio e passou as barrinhas de cereal.Coloquei os vinte reais sobre o balcão e ele colocou outra nota em cima,ao qual ela apanhou e lhe deu o troco.Apanhei minhas sacolas e depois de ele pegar a dele,saímos juntos do mercado.
-Por que tu fez isso?Pagou o resto das minhas coisas?-Perguntei intrigado.
-Apesar de saber para onde vou,gosto de fazer uma boa ação diária.-Ele respondeu.
-Valeu...Valeu mesmo!-Disse,abrindo um sorriso sincero a ele.
-Você tem o sorriso da sua mãe!-Diego disse surpreso,após um minuto me observando.
-Tu conhece a minha mãe?-Perguntei,também surpreso.
-Eh....bem...ah...Sim...sim,eu conheço...Eh,ela esteve no hospital, lembra?...Quando você teve doente na cadeia!-Ele respondeu aparentemente nervoso.
-Ah sim!...É claro!-Disse.
-Lúcio,meu marido voltou a te procurar?-Ele perguntou,mudando de assunto.
-Não!-respondi apreensivo.
-Bem,eu acabei de lhe ajudar e se não for pedir muito...Gostaria que mantivesse distância do meu marido!-Ele disse bastante sério.
-Você o ama muito,né?-Perguntei sem pensar direito.
-Amo intensamente,como nunca amei outra pessoa.-Ele respondeu enquanto me lançava um olhar profundo.
Observei ele se virar e ir em direção ao carro dele,onde entrou e foi embora.Me obrigando a caminhar,tentei não pensar mais no Eduardo e nem no Diego,que eles vivessem a vida deles lá e eu vivesse a minha aqui.
Ao chegar em casa,entrei e levei as coisas até a cozinha,colocando uma parte na geladeira e deixando a outra em cima da mesa.Enquanto eu tentava decidir o que faria para o almoço,uma batida soou forte na porta e fui abrir,dando de cara com Fred.
-Atrapalho?-Ele perguntou com um sorriso.
-Não!-Respondi.
-Vim te buscar pra gente ir almoçar.-Ele disse.
-Mais eu acabei de comprar umas coisas e queria fazer algo em casa.-Disse,um pouco frustrado.
-E eu queria a sua companhia...Comer sozinho,é tão ruim.-Ele disse com tristeza.
-Tá...eu vou!-Disse,enquanto dava passagem a ele.
Fred entrou e após apontar o sofá,para que se sentasse,fui até a cozinha e guardei no armário,o resto das coisas que havia comprado.Voltei a sala e fui em direção ao meu quarto,onde coloquei uma calça jeans e uma camisa de manga curta na cor branca.Passei um pouco de perfume e voltei a sala.Fred se levantou e saímos juntos em direção ao seu carro,onde entramos.
-Tenho que passar no meu apartamento para pegar umas plantas...Mais é bem rápido!-Fred disse,enquanto dava partida.
-Tudo bem!-Disse,observando a rua pela janela.
Não demorou muito até que chegassemos em frente ao seu prédio,onde ele estacionou.Com muita sede,decidi acompanha-lo e juntos passamos pelo portão e entramos no elevador.Logo estávamos em seu andar e depois de ele destrancar a porta,entramos em seu apartamento.
Enquanto ele entrou em seu quarto,fui até a cozinha e abri a geladeira.Retirei uma garrafa de suco e enchi um copo que levei a boca.O barulho de algo caindo me assustou,e eu acabei derramando metade do suco na minha camisa.Larguei o corpo em cima da mesa e tentei reverter o estrago com um pano de prato,mais não havia muito o que fazer.Minha camisa agora tinha uma enorme mancha laranja e úmida.
-Já peguei as plantas,vamos?-Fred perguntou,entrando na cozinha.
-Acho que não...Olha como estou.-Respondi,ficando de frente pra ele.
-É só uma mancha!-Ele disse sério.
-Tenho que trocar de camisa!-Disse,enquanto retirava aquela.
-As minhas ficariam enormes em você.-Ele disse com um sorriso.
-Não têm problema!-Disse,dando de ombros.
-Eu tenho outra sugestão,mais não sei se vai gostar.-Fred disse após um minuto em silêncio.
-Qual?-Perguntei curioso.
-Bem,ainda guardo algumas peças de roupas do seu pai...E elas são do seu tamanho.-Ele respondeu,visivelmente desconfortável.
O tempo estava passando e logo a hora de almoço dele se passaria,então decidi aceitar vestir algo do meu pai.Fred sorriu e pegando em minha mão,me levou até o quarto,onde puxou uma mala pequena vermelha e abriu em cima da cama.Remexendo seu conteúdo por alguns minutos,ele puxou uma camisa social preta de mangas dobradas,que recebi e coloquei.
Caminhei até o espelho e observei meu reflexo.Senti um arrepio frio subir pela minha espinha e tive a sensação de que eu estava roubando algo.Era muito estranho e desconfortável para mim,vestir algo que tinha sido do meu pai,que agora era um homem morto.
-Nossa,você é mais parecido com ele do que imaginei.-Fred disse,me lançando um olhar distânte e emocionado.
Continua...
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Olá,boa noite!
Martines o que adivinhou?kkk
CaahPoderosa1 Nada a ver,kkk Não diria que a faculdade de história é uma coragem,mais sim uma tentativa de fazer alguma coisa enquanto estou parado.Não é bom ficar sem estudar.Eu não gosto de rótulos,mais tenho um amigo íntimo no momento.
Chria desafio aceito,as respostas irão surgindo nos momentos certos.E quanto a Eduardo e Lúcio,vamos ver o que acontece com eles.
Guilmarajwinsk,VALTERSÓ,Morennaa,Ru/Ruanito e Geo Mateus obrigado pelos comentários e notas.
Espero que gostem desse capítulo...
Até a próxima!