“Pra começar, cada coisa em seu lugar e nada como um dia após o outro. Pra que apressar? ”
*****
Peguei o resto de forças que tinha para juntar os cacos do meu coração e saí daquela casa, fiz o máximo de silêncio que pude para não ser percebido...
Vaguei pela mesma rua deserta onde acabara de voltar todo esperançoso para os braços do homem da minha vida, e vomitei ali mesmo lembrando da cena de Eduardo e minha irmã se pegando no meu quarto... Minha cabeça doía lembrando tudo o que ela havia dito...Eu precisava pensar... pensar no que deveria fazer!
Olhei ao meu redor, me senti sozinho... desprotegido, assustado, mas acima de tudo enojado e com muita raiva... Um grito ecoou no escuro...
-AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH- Gritei com toda a forca que me restava... Um grito libertador, que serviu para me mostrar que eu estava vivo, e que o melhor a fazer agora era descansar e pensar no que fazer...
Me deitei no meio fio, naquela rua escura. Nada mais me importava... Se eu sobrevivi a tudo o que passei, a noite fria e a morte era o que menos me importava. Adormeci...
***
Na manhã seguinte, acordei escutando o murmurinho de algumas pessoas... umas questionavam se era um mendigo, se estava morto ou vivo... Todos curiosos observando-me.
Ali estava eu, na sarjeta da vida... Logo eu, Romulo Vinnicius Pereira de Vasconcellos, herdeiro de mais da metade das empresas da pequena cidade... exposto, fraco e abandonado.
- Alguém chama uma ambulância por favor- pedi.
- O senhor está bem, o que houve?- perguntou uma moça...
- Fui sequestrado, fugi do cativeiro. Era pra estar morto agora, por favor, me ajudem...
Todos olhavam-me espantados...
- Como se chama moço?
- Romulo , Romulo de Vasconcellos...- disse...
Todos ficaram pasmos no mesmo instante em que disse aquele sobrenome... Muito ouvia-se falar de mim naquela cidade, mas poucos me conheciam... Desde que meus pais morreram e eu comecei a namorar com o Eduardo, eu pouco saia de casa.
Logo uma ambulância chegou e prestou os primeiros socorros... Fui levado a um hospital particular e no mesmo instante em que havia sido atendido, um policial estava a espera para colher meu depoimento... Minha irmã e o Eduardo adentraram a porta do quarto correndo e afoitos...
- Romulo, graças a Deus você está vivo- Disse Mariane...
- Meu amor... como eu sofri nesses dias- disse Eduardo correndo e me abraçando com aqueles braços fortes que um dia tanto amei estar envolvido por eles...
Eu não tive nenhuma reação sequer...
- Seu policial, ele não vai dar depoimento algum agora... Volte mais tarde. Respeite o momento da família por favor- Disse Mariane expulsando o policial do quarto.
- Desculpe senhorita, mas é meu trab...
- Quem o senhor pensa que é hein? O senhor sabe quem nós somos? Qual o nome do seu superior... Vou ligar pra ele agora mesmo...- - disse Mariane sendo grossa- Saia, agora mesmo... Vamos... depois o senhor colhe seu depoimento. Por hora meu irmão precisa descansar.
Mariane bateu a porta do quarto, deixando o policial pra fora...
- Me conte Romulo, o que aconteceu com você... Me conte tudo o que você se lembra- disse ela...
A fitei por um momento... Analisando sua expressão de desespero... Ela tinha medo de que eu lembrasse de alguma coisa que pudesse levar até eles...
- Eu... eu... não lembro de nada.- disse seco.
- Como assim meu amor?- disse Eduardo...- Você não lembra de nada que te aconteceu nos últimos dias?
- Minha cabeça dói, quero dormir... Me deixem sozinho por favor...- Pedi.
- Não meu amor, eu não vou te abandonar nem um minuto sequer..- Disse ele beijando minha testa...
Fechei os olhos e fingi dormir ... Eu não conseguia encará-los... Precisava arquitetar um plano urgente... Agir com eles como se nada tivesse acontecido, ou denunciá-los ali mesmo para aquele policial? Não haviam provas para encriminá-los... O melhor era fingir que havia esquecido de tudo...
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- Trauma- dizia a psicóloga ao meu médico...- Ele não se lembra porque está traumatizado com o que aconteceu. Talvez se lembre futuramente, ou talvez nunca lembre... Algumas pessoas quando passam por um trauma desses pode criar uma barreira que isole o acontecimento das lembranças, afim de não causar mais dores...
- Entendo- disse o médico- Então posso dar alta pra ele, pois minha única preocupação era essa perda de memória...
- Sim, o melhor a fazer agora é ele retornar ao seu lar, pra perto das pessoas que o amam, sua rotina normal... Seguir a vida... Está ouvindo senhor Romulo?
- Sim doutora. Estou pronto pra encarar a realidade.- disse...
A verdade é que eu não havia me esquecido de nada que aconteceu comigo, mas precisava mentir pra que conseguisse retornar a minha vida normal e desmascarar minha irmã e meu namorado...
É hora do show...
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Eduardo e Mariane mostravam-se cada vez mais atentos comigo, sempre me bajulando, “cuidando” de mim... Ela até mudou de quarto para ficar do lado do meu pro caso de eu “precisar” durante a noite...
O Eduardo me abraçava a todo momento, me chamava de amor, e tentava me beijar... Eu me esquivava dele a todo instante fingindo não estar no clima pra romance...
- Voce precisa descansar meu amor... Chegou do hospital agora e nem se deitou... Vamos pro nosso quarto- disse Eduardo segurando minhas mãos...
- Algumas coisas vão ser diferentes a partir de agora Eduardo...-disse...
- Diferentes como? – perguntou Mariane...
- Bem, peço por favor que respeitem um pouco meu espaço... Estou tentando me recuperar de algo que não foi fácil pra mim... Preciso ficar um pouco sozinho...
- De jeito nenhum... Eu te amo e não vou sair do seu lado por nada meu amor.- disse Eduardo.
- Você vai dormir em outro quarto da casa Eduardo... Não estou com clima pra romance por esses dias... espero que me entenda e me de esse tempo pra me recuperar... Preciso apenas de um tempo praa ficar bem... Não quero machucar você e nem te perder, então peço que me de esse espaço Edu- fingi ...
- Mas...- tentou dizer algo.
- É isso mesmo Eduardo, deixa o meu irmão descansar, se recuperar... dá um tempo pra ele... vai ficar tudo bem- disse a sínica...
- vou descansar um pouco, com licença.- disse e me retirei pro meu quarto...
Assim que entrei, tranquei a porta... entrei no meu banheiro, enchi a banheira e deitei, precisava relaxar...
Deitei em minha cama e tirei um cochilo...
- Romulo?- alguém chamou atrás da porta...
Era Mariane, forçou a fechadura...
- Está trancado? Você nunca foi de manter portas trancadas... Tá tudo bem?
Levantei, abri a porta e dei de costas...
- Está sim... estava apenas descansando....
- Olhe Romulo, você chateou o Edu com a história de quartos separados....
- Mariane, não questione minhas escolhas ok? Do meu relacionamento com o Edu cuido eu... Se não tem mais nada a dizer me deixe sozinho por favor.
- Voce está impossível Romulo.- disse ela saindo e batendo a porta.
- V-A-D-I-A...- EXCLAMEI...
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Na manhã seguinte sentei-me a mesa do café as 7h da manha... Logo juntaram-se a mim os trambiqueiros assassinos...
- Bom dia amor- disse Eduardo me dando um selinho.
- Bom dia!
- Bom dia irmão... Mais calmo hoje? Porque ontem você....
- Mariane, me poupe de suas ironias logo cedo...
( A verdade é que minha relação com Mariane nunca foi perfeita... Ela sempre tentou me fazer ficar mal perante meus pais... Ela era filha de outro casamento da minha mae, e meu pai também não gostava muito dela, por ser fútil e mal educada... Quando meus pais morreram e a herança ficou só pra mim por ser o único filho do meu pai, ela surtou e fez um escândalo por precisar de mim pra se manter dali em diante... Foi logo que meus pais morreram que o Eduardo apareceu... Coitado, sem ter pra onde ir... abandonado pelos pais por ter dito ser gay... Acabei acolhendo-o na minha casa porque Mariane era sua amiga... E eu não desconfiei de nada... Que tudo era uma armação... Sempre tão amável e carinhoso, Eduardo foi tomando espaço, até se tornar senhor e dono da minha vida e dos negócios da empresa... Como eu fui BURRO! )
- Tenho um comunicado a fazer...- disse...
- Diga irmão...- sorriu a falsa.
- Estou indo pra um spa... Vou passar uma temporada lá... Cuidando do meu corpo e da minha mente... Vai me fazer bem...
- Eu posso ir com você se quiser amor- disse o cretino...
- Não Edu... preciso ir sozinho... Não é uma férias... é um spa pra cuidar de mim... Acho que mereço isso não acham??
-Sim, claro.- os dois disseram.
- Podemos ao menos saber onde é esse spa Romulo?- perguntou Mariane
- Não, não quero ser incomodado em hipótese alguma... Irei hoje mesmo.
O assunto se encerrou
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Naquele mesmo dia segui para um Spa hotel, onde cuidaria de mim...
Assim que entrei pedi um telefone, liguei pra prestadora de serviços do cartão de credito e pro meu gerente do banco...
- Gostaria de trocar o acesso às contas do Grupo Vaconcellos... A partir de hoje apenas eu, Romulo Vinicius Pereira de Vasconcellos posso movimentar ... Ah, e gostaria que o limite de cartão de crédito do Senhor Eduardo Henrique Sales e da Senhora Mariane Pereira seja reduzido a R$500,Mas senhor Romulo, o cartão de cada um deles não possui limite, e foi o senhor mesmo que estabeleceu isso... O senhor tem certeza que devemos reduzir ?
- Faça o que estou mandando... E cancele qualquer cartão da empresa que esteja em nome dosSe formos questionados por eles o que devemos dizer?
- Diga que foi o senhor Romulo que estabeleceu assim, e que se reclamarem cancelarei os cartões. Obrigado...
Desliguei o telefone e fui para o meu quarto no spa...
- Quero um serviço de massagem por favor no 201- disse à atendente...
Recebi uma massagem maravilhosa, relaxante com pedras e ervas ... estava renovado... As coisas começariam a ser do meu jeito...
Peguei o telefone, disquei...
- Alo, gostaria por favor do melhor garoto de programa que vocês tiverem... Anote o endereço por favor... Isso, no Spa Belaville, deixarei avisado na recepção... Qual o nome do rapaz? Andre? Tudo bem... Diga pra procurar o senhor Vinicius...Obrigado
Avisei a recepção que receberia visita, e fui me preparar... Afinal eu merecia uma boa foda... Nunca havia saído com um garoto de programa, mas eu me daria ao luxo de experimentar daquilo...rs...
Logo o telefone do quarto toca...
- Senhor Vinicius? Tem um rapaz aqui chamado André, posso mandar ao quarto?
- Pode sim, obrigado.
Um segundo depois a campainha do meu quarto toca... Abro a porta e me deparo com André, um moreno, enorme, musculoso, rosto másculo...
- Foi aqui que pediram o melhor garoto de programa?- falou com uma voz grossa...
- Aqui mesmo- sorri...
- Então você que será a minha puta hoje?- perguntou sorrindo de lado...
- Puxei-o pra dentro do quarto, fechei a porta e.....
***CONTINUA****