Gente, antes de tudo quero me desculpar com os leitores que seguem a história. Início de ano sempre é corrido, então alguns capítulos podem entrar com um pequeno atraso. Para compensar estou tentando deixar os episódios maiores.
***
Janeiro em Londres. Guilherme e Felipe aproveitam o tempo fazendo aquilo que eles mais gostam de fazer quando estão juntos.
— Qual é. Você está trapaceando! — exclamou Guilherme, deixando o controle de lado e abraçando Felipe.
— Jamais, eu ganhei honestamente. — afirmou o intercambista, abraçando o namorando e sorrindo. Quem pulou em cima dos dois foi Tchubirubas, que adorava uma bagunça.
— Eu não vou! — gritou um irritado Leopold. Ele atrapalhou o momento de descanso do casal apaixonado.
Guilherme não esperava a chegada do pai. Na verdade, a família estava no Caribe, aproveitando os últimos momentos das férias. Com o susto, Felipe ficou em pé e tentou disfarçar. A atitude do jovem fez Guilherme sorrir, pois achou fofo a atitude do namorado.
— Eu já disse, não vou, não adianta! — Leopold finalizou a chamada.
— Pai. — Guilherme acenou para o pai, que ainda não tinha percebido a presença dos dois.
— Olá. — o empresário cumprimentou o filho, então percebeu a presença de Felipe. — Garotos? E como foi o ano novo?
— Bem...
— Guilherme, você enviou o apoio para aquele casal de idoso que ajudou vocês? — quis saber Leopold, cancelando uma chamada e parecendo muito irritado.
— Sim, pai. — respondeu o rapaz.
— E o pai da Paris? Conseguiu aquela ajuda para eles? Posso falar com uns amigos que moram na Escócia e...
— Eles conseguiram sim. A mãe da Paris foi até o vilarejo.
— Ótimo. Vou para o meu quarto, sua mãe está quase chegando também, provavelmente com os seus irmão, então, juízo. — pediu o homem, subindo as escadas e cancelando mais uma chamada.
— Pode deixar. — acenando para o pai e olhando para o namorado. — Ainda fica nervoso com a presença do meu pai, né?
— Claro. — Felipe sentou ao lado do namorado. — Ele não sabia da gente e...
— Saber, ele sabe, né? Só falta aceitar. Ele é uma obra em processo.
— Verdade. E ele é uma ótima pessoa, né? Se disponibilizou a ajudar na hora a família do Senhor Elliot.
Não demorou muito e o restante da família de Guilherme chegou. Anastácia era uma mulher glamourosa. Com ajuda de Alfred, ela trouxe todas as malas do carro. Porém, a sala se transformou em uma festa quando os gêmeos encontraram Tchubirubas.
Eles tiveram uma tarde agradável, mas Felipe ainda ficava sem jeito ao lado dos pais de Guilherme. Uma luta interna para ser aceito, afinal, Felipe não se achava bom o suficiente para ser o namorado do herdeiro dos Thompsons.
Durante a tarde, Anastácia preparou um lanche especial para os filhos e o genro. Ela nunca se imaginou recebendo um dos namorados de Guilherme na sua própria casa. De maneira robótica, Felipe sentou à mesa e tentou puxar assuntos com a sogra.
— Pare de formalidades, Felipe. Você é quase da família. É melhor que os outros namorados do Guilherme. Pena que não pude conhecer sua mãe, mas ela recebeu todos os presentes.
— Pois é. O John levou a mala e....
— Não só a mala. Eu comprei outras coisinhas. Nada muito sofisticado.
— Ah, obrigado.
— Valeu, mãe. — Guilherme também agradeceu Anastácia. Ele sabia que a mãe estava tentando ao máximo agradá-lo. — O papai chegou aqui estranho. Ele estava no telefone.
— Esse final de semana é aniversário da tua avó. — contou Anastácia, servindo chá para si.
— Isso explica muita coisa.
Havia uma rusga na família Thompson. O motivo? Guilherme. Mesmo não compreendendo a sexualidade do filho, Leopold não deixou ninguém humilhá-lo ou difamá-lo. No fundo, Guilherme sentia orgulho do pai, pois poderia muito bem ser deserdado e apagado da história dos Thompsons.
John encontrou Nick na estação do trem. Eles decidiram comer em um restaurante afastado de Londres. O ex-namorado de Guilherme mostrou e explicou toda a história de Felipe para Nick.
— Sério? Caramba. — soltou Nick, olhando os documentos e sorrindo. — Então a gente tem a faca e o queijo nas mãos.
— Ainda não. — pediu John. — Quero quebrar qualquer confiança que existir entre eles.
— Eu tenho uma ideia, mas isso pode trazer problemas para nós...
— Me conta e a gente pode dar um jeito. — sugeriu John, percebendo um clima entre os dois.
— Podemos discutir isso no dormitório.
— Ótimo. Podemos sim.
Mal chegaram no dormitório de Nick, os dois começaram a se beijar. Nick adorava receber chupões no pescoço, e John sentia prazer naquilo. Eles não falavam nada, apenas se beijavam. Depois do sexo, Nick explicou todo o plano para John que adorou cada ideia.
— Você é genial. — disse John, colocando o casaco e jogando algumas notas em cima da mesa. — Eu também tenho algo em mente, mas preciso confirmar tudo antes. A gente vai conseguir derrubar aqueles dois. Eu fico com o Guilherme, e você com grana. Saímos felizes.
Dylan precisou consertar parte do motorhome quando voltou para Londres. Ele contou com a ajuda de Felipe e Wong. Os três estavam bastante entrosados e conversavam sobre tudo.
— Acho que vai ser essa semana. — soltou Dylan, chamando a atenção de Wong e Felipe.
— O quê?
— Que eu e a Kaity vamos, vocês sabem...
— Já passei dessa fase com o Guilherme. — revelou Felipe. Dylan e Wong deram uma risadinha.
— Mas conta Dylan. Vai fazer algo especial? — perguntou Wong, guardando algumas ferramentas em uma bolsa.
— Não sei ainda. Não sou muito romântico. A primeira vez que eu transei foi dentro de uma estufa com a amiga da minha irmã. Não tem nada de romântico. — revelou Dylan, lembrando para os amigos que no Texas as coisas eram diferentes.
— A minha primeira vez foi com uma colega de escola. Foi demais. Dentro do banheiro. — contou Wong.
— Você poderia fazer uma surpresa e conquistar a Kaity. Ninguém vai resistir a esses olhos azuis. — brincou Felipe, piscando de maneira apaixonada para Dylan, que ficou vermelho.
O Centro de Londres é vivo. Prédios antigos e modernos se mesclam criando uma visão única. Naquela tarde, Guilherme, Nariko e Kaity faziam compras em um shopping center. Eles esperavam por Paris que havia marcado uma consulta no dermatologista.
Já no Centro da cidade. Guilherme, Nariko e Kaity faziam compras no shopping. Eles esperavam por Paris que havia marcado uma consulta no dermatologista.
— Gente. — Kaity chamou a atenção dos amigos. — Cada vez que eu tento avançar, o Dylan recua. Será que sou tão feia?
— Amiga, o Dylan é louco por você. — garantiu Nariko. Ela relembrou quão romântico foi o pedido de namoro deles.
— Meninas, o que vocês acham se a gente der uma passada no sexshop? — sugeriu Guilherme, querendo ajudar a amiga, mas também pensando em uma noite de sexo com Felipe.
— E a Paris? — quis saber Kaity.
— Já está no sexshop. Enviei uma mensagem para ela. — explicou Guilherme, sorrindo e balançando o celular.
Anastácia encontrou o esposo pegando um ar na ampla sacada de seu apartamento. O homem ainda sentia raiva da mãe por não aceitar a preferência sexual do seu filho. Leopold lembrou de alguns momentos de sua infância onde a rigidez da mãe chegou a ser extrema.
— Ela nunca vai mudar. Nunca. — externalizou Leopold, ainda reflexivo com toda a situação.
— Você fez a decisão certa, amor. O Guilherme é nosso bem mais precioso.
— Eu tenho medo....
— De que, meu amor? — perguntou Anastácia, pegando no ombro do marido.
— Do Guilherme não saber o quanto eu o amo. Acho que eu nunca disse isso em voz alta. — lamentou o empresário.
— Sr. Thompson?! — John entrou no escritório e não encontrou o patrão. Ele percebeu uma movimentação na sacada e ficou de olho na conversa.
— Ele sabe, Poldin. — disse Anastácia, abraçando o esposo e o beijando. — A gente se distanciou dele, ainda mais naquela época, mas eu sinto que as coisas estão voltando aos eixos. Acho que deveríamos aceitar o convite da sua mãe. Irmos juntos como uma família.
— Aquele mulher é venenosa. Acho melhor não. Ainda mais quando ela descobrir que o Guilherme está namorando aquele rapaz, o Felipe.
— Você sabia disso?
— Sou um homem ocupado, mas não sou burro. — afirmou Leopold, virando para a esposa e a beijando. — Tudo bem. Nós vamos, amor.
— Interessante. — pensou John, sorrindo e saindo do escritório.
Ardiloso. John esperou a ligação do chefe. Sua missão era entrar em contato com Malody Thompson, a irmã mais velha de Leopold. O braço direito do pai de Guilherme decidiu ir pessoalmente na casa de Malody. Como sempre, John se mostrou prestativo e colocou o seu plano em ação.
John recebeu uma ligação de seu chefe para que ele entrasse em contato com sua irmã para que confirmasse a presença de sua família no aniversário de sua mãe. John decidiu ir pessoalmente na casa de Melody, tia de Guilherme. O rapaz se mostrou prestativo e começou a colocar seu plano em ação.
— Fico feliz que o Leopold quis essa aproximação. — comentou Malody, que era uma mulher bonita e não aparentava a idade que tinha.
— Eu também, Malody. — concordou John, usando todo o seu charme para conquistar a mulher. — Sem querer parecer intrometido, mas... vocês... vocês já contrataram um serviço de buffet para o aniversário?
— Sim. Porque a curiosidade?
— É que tem dois amigos meus que estão precisando de ajuda. E são super responsáveis, então pensei que você poderia facilitar a entrada dos dois como garçons? — perguntou John.
— Claro! — exclamou Malody, entregando um cartão para John. — Ligue para Pierre. Ele é o responsável pelo buffet, e avise que eu solicitei mais dois garçons. — olhando para o celular. — John, querido, agora eu preciso ir. Tenho uma reunião. E mais uma vez obrigada.
— O prazer é meu. Adoro ajudar. — John se despediu da mulher e saiu sorridente do escritório.
Guilherme era um garoto calmo, tão calmo que muitas vezes era tachado de arrogante, mas só quem o conhecia de verdade podia saber disso. A mãe o chamou para conversar e explicou que eles participaram da festa de aniversário de sua avó.
— Eu não vou. Aquela mulher me odeia. — disse o rapaz, antes de sentar à mesa.
— Amor. Ela gosta, mas...
— Tá vendo. Nem a senhora sabe o que dizer nessa situação.
— Isso é importante para o seu pai. Ele não pode passar o resto da vida dele sem falar com a mãe. — revelou Anastácia, servindo uma xícara de chá para si.
— Tudo bem. Acho que posso sobreviver a um evento. — brincou Guilherme, mordendo um pedaço de croissant.
Na Escola de Intercâmbio, os funcionários estavam voltando à rotina das aulas e compromissos semestrais. Felipe, por exemplo, passou o dia cumprindo uma lista das solicitações de alguns alunos que não ficaram nos dormitórios durante as férias.
No fim do dia, Felipe estava exausto e aproveitou uma folga para comer alguns doces que ganhou de Kaity. Não demorou muito e Nick apareceu.
— Não vai se engasgar, cara. — brincou Nick ao ver o colega devorando os doces.
— Estão uma delícia. Você não quer?
— Não, obrigado. Preciso manter o shape para as gatinhas. — respondeu o rapaz, colocando o plano de John em ação. — Ei, ainda tá procurando trabalho temporário?
— Sim.
— Consegui duas vagas para garçom em uma festa que vai acontecer no sábado. Vão pagar bem.
— Sério? É apenas uma noite?
— Vão pagar 500 euros.
— Caramba! — exclamou Felipe, quase engasgado, mas conseguindo engolir os doces. — Por uma noite de trabalho?
— Sim. Eu já dei meu nome para o organizador. Você quer participar?
— Claro que eu quero.
— Beleza. — Nick pegou o celular e escreveu uma mensagem. — O tapado topou. PS: quando vou meter no em você de novo?
— Tá falando com o organizador? — quis saber Felipe.
— Sim. Eles vão dar um uniforme também. — explicou Nick, levantando e pegando seus pertences. — Preciso ir, parceiro.
— Ei, Nick, obrigado. — agradeceu Felipe.
— Tudo bem. Somos parceiros, ne? Até mais, Felipe. — saindo da sala dos funcionários. — Vai esperando. Otário.
Guilherme explicou para Felipe toda história de sua família e o rapaz entendeu o ponto de vista do namorado. Já Felipe contou para Guilherme sobre o trabalho em um casamento. Tchubirubas, mais uma vez, ficaria na casa de Lucy, claro que ele adorava, pois brincava com os amigos.
Dylan preparou toda uma noite romântica para ficar com Kaity. A russa também havia se preparado, se depilou, usou uma roupa íntima sexy e fez até o cabelo. O nervosismo era aparente, mas eles queriam muito transar.
— Kaity, você está linda hoje. — comentou Dylan, tocando no rosto da namorada. — Te desejei desde o primeiro momento que eu te vi.
— Eu também. — Kaity beijou o rosto de Dylan. — Amor. Estou preparada.
— Tem certeza?
— Sim. — respondeu Kaity, tirando o vestido e quase fazendo Dylan desmaiar.
Sim. Alguém havia se dado bem naquela noite. Enquanto isso, Felipe encontrava Nick na frente da Escola de Intercâmbio. Eles seguiram para uma cidade perto de Londres, onde aconteceria o tal casamento.
Meio contra vontade, Guilherme também seguiu para o mesmo lugar. Ele nem imaginava que Felipe também se dirigia para a casa de sua avó. A mansão da mãe de Leopold era gigantesca, o jardim daquele lugar conseguiria comportar um campo de futebol fácil. Para Guilherme, nada daquilo lhe chamava a atenção, ele até lembrou de uns bons momentos que passou naquela casa, mas eram poucos.
A família desceu do carro e um valet pegou o veículo. Eles ficaram alguns segundos olhando para a porta da frente. Ninguém tinha coragem de dar o primeiro passo. Porém, era inevitável ficar mais tempo ali, afinal, outros convidados chegariam.
— Nossa tinha esquecido como esse lugar é enorme. — pensou Guilherme, mas os seus irmãos o tiraram do devaneio. Kiara pegou na mão do irmão, enquanto caminhavam para a entrada.
— Faz tempo que não vemos a vovó. — disse Kiran, que usava um terno azul turquesa.
— Crianças, por favor, se comportem. — pediu Anastácia, arrumando o cabelo de Kiran. — A avó de vocês está velhinha, então sem comentários impertinentes, por favor.
— Verdade. — falou Guilherme, mudando o tom de voz. — Se não, ela vai engolir vocês.
— Guilherme. — Leopold repreendeu Guilherme. Nunca em sua vida tinha ficado tão nervoso. Ele não ligava mais para o julgamento alheio, mas temia que alguém machucasse o filho.
— Leopold, Anastácia. — uma voz familiar cumprimentou o casal. Era Malody, a irmã de Leopold. Por um momento, Guilherme congelou. Era a primeira vez em muitos anos que via a tia. — Vejo que vocês trouxeram o Guilherme. — a mulher se aproximou e fitou o sobrinho dos pés à cabeça.
Uma situação embaraçosa. A família Thompson estava frente a frente com Melody, a irmã mais nova de Leopold. Ela fez questão de recepcionar os parentes na entrada. Com um sorriso largo no rosto, Melody deu um forte abraço no irmão e afirmou que estava com saudades da família.
De repente, um fotógrafo apareceu e tirou uma foto deles. Enquanto caminhavam para o jardim da mansão, onde estava acontecendo a festa, Melody pediu perdão para a família e garantiu que eles passariam uma borracha em qualquer tipo de confusão.
A residência onde Leopold cresceu era datada da década de 20. Aqueles corredores frios e nada convidativos pareciam mais pequenos. Melody recordou muitas aventuras que viveu ali ao lado do irmão, mas Leopold só lembrava das cobranças, gritos e tapas.
Sabe também quem não sentia falta daquele lugar? Guilherme. Principalmente devido ao ambiente tóxico criado pela família Thompson. Guilherme nunca foi a favor da posição da avó, que era esnobe e não fazia questão de esconder tal fato.
Ao chegarem no ambiente da festa, ninguém ficou impressionado, afinal, eles já estiveram em outras milhares de festas daquele tipo. De longe, Guilherme avistou alguns primos e foi encorajado pela tia a socializar.
Mesmo contra vontade, o jovem seguiu para a mesa dos primos. Um parecia a cópia do outro. Realmente, os genes dos Thompson eram fortes e conseguiram criar cópias perfeitas de todos os filhos de Dorothy Thompson.
— Olha como você cresceu. — comentou Harriet, uma prima de Guilherme. A garota de 16 anos, usava um vestido verde e flores no cabelo.
— Todos nós. — Guilherme sentou à mesa e tentou não ficar com uma feição de tédio.
— Vocês ficaram sabendo? O primo Clous foi pegado com drogas. — contou Harriet, uma outra prima de Guilherme. — O titio precisou subornar Deus e o mundo. — disse a moça, chamando a atenção dos outros primos, incluindo a de Guilherme.
— Cara, ele é maluco. Aposto que foi pego com uma carreira. — supôs Alex, o filho de Melody, um dos poucos que sentiam simpatia por Guilherme.
— Olha só. — uma voz rouca chamou a atenção dos jovens e todos se assustaram. — Os vivos sempre aparecem. — todos ficam em pé.
— Vovó? — questionou Harriet, arrumando os cabelos e o vestido.
— Olá, vovó. — Alex a saudou.
Dorothy Thompson, era uma mulher astuta e estratégica, com uma presença imponente. Aos 93 anos, ela ainda mantinha uma aparência impecável. Para o seu aniversário, a magnata usava um vestido que refletia sua personalidade dominante. Todos à sua volta a temiam, pois ela não escondia seu ego grandioso e suas convicções inabaláveis sobre a superioridade das pessoas ricas, exigindo que toda a sua família se comportasse de acordo com esses padrões elevados.
Suas joias eram numerosas e exuberantes, adicionando ainda mais glamour ao seu visual. Dorothy carregava consigo uma aura de autoridade e sofisticação, que impunha respeito e, ao mesmo tempo, intimidava a todos.
— Ajeitem essa postura. — ordenou a idosa, olhando para o grupo com desdém. — Nem eu, aos meus 93 anos, fico com uma coluna tão inclinada. — a mulher se aproximou de Guilherme e tocou em seu rosto. — Você é a cara do seu pai. Onde ele está?
— Com a tia Melody. — contou Guilherme. Ele não conseguia evitar o tremor nas pernas.
— Ótimo. — saindo com a ajuda de uma empregada. — Até depois.
Em Londres, Nariko ajudava Wong a se preparar para uma competição de natação. Ele havia entrado para o time da universidade e havia uma seletiva naquele fim de semana. Eles foram para a piscina pública de Londres.
— Não preciso entrar na água, né? — questionou Nariko, que não queria molhar os cabelos
— Não. Só preciso que você verifique o tempo para mim. — pediu Wong, tirando a blusa e fazendo Nariko tremer nas bases. — Vou tomar uma ducha e já volto.
— Posso ir com você? — Nariko tocou no peitoral de Wong e sorriu.
— Nariko. — soltou Wong, sorrindo e beijando a namorada. — Isso a gente faz em casa.
Na frente dos pais, Paris era uma outra pessoa. Ela era centrada e discreta. Naquela noite, Phyllis e Maximilian decidiram jantar em um dos melhores restaurantes de Londres. Ambicioso, Maximilian queria celebrar mais uma conquista de suas empresas.
— Fico feliz com a sua vitória, papai. — disse Paris, tomando uma taça de champanhe e revirando os olhos.
— Seu pai é um especialista, meu amor. — garantiu Phyllis, que estava feliz com o sucesso do esposo.
— Faço isso para os amores da minha vida. — afirmou Maximilian, pegando na mão da esposa e da filha. De repente, o celular de Paris começou a tocar.
— Ah, com licença. — pediu Paris, saindo da mesa e atendendo o telefone. — Oi, amor. Estou com meus pais.
— Puxa. — lamentou Steve, que estava em viagem de negócios. — Queria ouvir sua voz.
— E como está a África? — quis saber Paris.
— Ótimo. Ontem fiz o parto de uma mulher no meio da selva.
— Amor, não vai se arriscar muito. — pediu uma aflita Paris, que queria estar ao lado do amado.
— Estou tendo cuidado, amor. Te amo. E quando voltar quero te ver.
— Beijo, te amo. Até mais. — desligando o celular e sorrindo.
Após algumas horas de estrada, Felipe e Nick chegaram à mansão dos Thompsons. Eles entraram pelos fundos da residência e foram alojados junto a um grupo de pessoas. Depois de um tempo, Melody Thompson apareceu e explicou sobre o trabalho que seria feito naquela noite.
Felipe também recebeu o universo que usaria para o trabalho: uma camiseta social branca, um colete preto, calça social e luvas brancas. Com o universo em mãos, ele foi até o banheiro para se trocar.
Após se vestir com cuidado, ele se dirigiu à janela e ficou por um momento admirando a vista. Apesar de já estar na Europa há algum tempo, Felipe ainda se impressionava com os cenários pitorescos, com suas paisagens encantadoras e arquitetura deslumbrante. As visões da Europa sempre o faziam sonhar com um futuro melhor e o inspiravam a continuar buscando oportunidades para melhorar sua vida.
— Ei, idiota! — Nick chamou a atenção de Felipe. O mau caráter acendeu um cigarro e tragou. — Temos 10 minutos.
— Estou nervoso. — afirmou Felipe, pegando o celular e enviando uma mensagem para Guilherme, que visualizou, mas não respondeu.
Após vestirem os uniformes, Felipe e Nick foram abordados por uma das produtoras do evento. A mulher deu diretrizes claras para os dois. Ela explicou que Felipe seria responsável por servir as bebidas, enquanto Nick ficaria encarregado de entregar os quitutes. Com instruções detalhadas, a mulher orientou os jovens e indicou o caminho que deveriam seguir para encontrarem os outros garçons e começarem suas tarefas.
Conforme Felipe e Nick caminhavam pela grandiosa mansão, admirando a grandeza ao seu redor, foram subitamente abordados por dois adolescentes. Os jovens, aparentando ser filhos de convidados ricos, olhavam para Felipe e Nick com uma mistura de curiosidade e superioridade.
— Empregados não devem andar pelo corredor principal. — soltou um dos jovens, que se chamava Geoffrey.
— Desculpa. Nós não sabíamos. — disse Felipe, tentando evitar confusão.
— Não é novidade. — o tom de voz de Geoffrey saiu debochado. — Por favor. Apenas não se misturem conosco. Não se preocupem, não avisaremos a tia Melody.
— Podem ir. — o outro rapaz ordenou. Ele se chamava Samuel Thompson, um dos primos de Guilherme. O rapaz se segurou para não rir.
Humilhados. Eles seguiram pelo caminho indicado por Sam. Na verdade, Nick queria voltar para dar um susto no garoto, mas um assustado Felipe o impediu. Não demorou muito e os dois foram para a mesa dos primos. Eles contaram a história para os outros, que não aprovaram a atitude, mas para os dois esnobes a atitude foi certa.
— Meninos, vocês não aprendem mesmo, né! — exclamou Louise, que depois da bronca da avó mantinha uma posição impecável. — Nem sei porque falam com os empregados.
— Porque é divertido, oras. — soltou Sam, pegando um copo de champanhe e tomando. — Igual ano passado quando enviamos aquela caixa com ratos para a Angeline.
— Angeline não era a empregada cadeirante que o teu pai contratou? — questionou Alex, curioso para a resposta do primo.
— Sim. — respondeu Sam.
— Que babacas. — pensou Guilherme, olhando em volta. — Quero sair daqui.
A noite chegou e todos se preparavam para começar a festa. Nick recebeu uma ligação de John que havia mandado umas fotos de Guilherme e Felipe. A ideia era entregar as imagens para Dorothy. Para o aniversário da magnata, o jardim se transformou em um enorme salão de festas e havia até um palco.
Felipe e os outros garçons receberam a última orientação de Melody, irmã de Leopold. Guilherme tentou ligar para o namorado, mas não conseguiu. O sinal de celular na região era péssimo. Ele queria falar com o namorado, pois teria que fingir uma alegria que não existia, não para aquele evento.
Aos poucos, os convidados foram chegando e a festa começou de fato. A maioria estava na mansão principal, outros chegaram em carros extravagantes. Em poucos minutos, o espaço ficou repleto de pessoas fúteis e que queriam ostentar. Aquilo deixava Leopold impaciente, porque trazia traumas e gatilhos do passado.
— Bando de vermes. — soltou o pai de Guilherme, que assustou a esposa.
— Amor. Controle-se. — pediu Anastácia, olhando em volta e sorrindo.
— Mãe. — Kiran e Kiara se aproximaram dos pais. — Não queremos ficar na mesa das crianças.
— Eles são metidos. — disse Kiara. — Não gostamos. Eles ficam falando em viagens, Disney e essas coisas idiotas.
— Vai se preparando. — Guilherme pegou no ombro da irmã. — Espera para vocês chegarem nas mesas dos adolescentes. Vai piorar.
— Queridos. — Anastácia tentou aconselhar os filhos sem chamar atenção. — É só por hoje, ok? Vamos apoiar o pai de vocês e ter uma noite maravilhosa. — arrumando o vestido. — Agora coloquem um sorriso nesse rosto que lá vem o fotógrafo.
Felipe ficaria responsável de levar as bebidas. Ele respirou fundo e lembrou que a grana no final da noite valeria a pena. "Não vai cair", pensou ele. A primeira rodada foi um sucesso. Guilherme sentou à mesa com seus primos. Harriet disse que havia passado um garçom gatinho, mas foi reprimida pela irmã.
— Tenha modos. — Louise a repreendeu novamente. — Se você ficar com um garçom, o papai te deserda.
— Foi só um comentário. — Harriet tentou se defender. — Acorda.
— Vocês são muito patéticas. — disse Sam, deixando o celular de lado e trazendo uma nova fofoca. — Ei, é verdade que o titio Walfran perdeu 25 milhões?
— Perdeu, mas recuperou. — explicou Louise, que trabalhava com o tio. — Semana passada a agência deu um retorno de 34 milhões.
— Ainda fica 40 milhões abaixo do papai. — Geoffrey tentou se gabar dos estúdios fotográficos do pai. — Os lucros da empresa só aumentam. E o seu pai Guilherme?
— Oi... — distraído, Guilherme olhou para a direita e viu o namorado entregando champanhe para os convidados. — Puta que pariu! — ficando em pé, assustado.
— Guilherme?! — uma assustada Louise chamou a atenção do primo. De repente, Sam reforça a pergunta dos lucros de Geoffrey.
— Oi? — olhando para Geofrey com uma expressão de tédio.
— Quanto o tio Leopold faturou ano passado?
— Eu... eu...
— Os negócios foram tão ruins assim? — questionou Geofrey com um sorriso no rosto.
— Faturamos 1,5 bilhão de Euros. Isso só a empresa de enlatados, com licença pessoal. — saindo de perto dos primos, que ficaram impressionados com as habilidades de Leopold.
O coração de Guilherme bateu forte. Ele entrou na grande cozinha e viu dezenas de pessoas trabalhando e correndo de um lado para o outro. Do nada, ele esbarrou em Nick. O rapaz falou sobre a oportunidade que conseguiu para ele e Felipe. Porém, mentiu sobre não saber que a festa era da avó de Guilherme.
— Essa não. — pensou Guilherme, que não queria expor o namorado para a família. — Tudo bem. Vou atrás de Felipe.
Preso no pensamento de fazer um trabalho direito, Felipe pegou a bandeja e entregou os últimos copos de champanhe. Guilherme o seguiu e conseguiu empurrá-lo para dentro de um quarto. Ele ficou surpreso e perguntou o que o namorado estava fazendo ali. Guilherme explicou toda a história, e não resistiu, deu um beijo em Felipe.
— E o que vamos fazer? — perguntou Felipe com medo da reação dos pais de Guilherme.
— Eu não sei. Acho que vou agir normalmente. Só evita chegar perto dos meus pais. — sugeriu Guilherme, que deu um último beijo em Felipe.
As homenagens para Dorothy Thompson continuaram durante a noite toda. Alguns dos netos foram chamados e filhos também. Guilherme e Leopold não precisaram discursar, e nem estavam preparados para tal. O clima de falsidade era quase que palpável.
Em um certo momento, Dorothy com a ajuda de uma empregada foi de mesa em mesa para tirar uma foto. Sim, um sorriso falso e um belo clique. Enquanto isso, Nick colocou seu plano em ação. Ele sorrateiramente colocou a foto de Guilherme e Felipe na mesa dos primos de Guilherme. Quem viu a foto foi Geoffrey, que cutucou o irmão e mostrou.
— Do que adianta o titio ter bilhões no banco se o filho dele é gay. — Geoffrey riu, pois sempre brincava com a sexualidade de Guilherme.
— Eu tive uma ideia. — Sam olhou para o sistema de audiovisual. — Vem. — levantando.
Em Londres, Kaity e Dylan continuavam a transar, era a quarta vez só naquele dia. Já Nariko torcia pelo namorado que competia em um torneio de natação. Paris iniciou uma conversa por vídeo com Steve que se encontrava na África fazendo trabalhos voluntários.
— O pessoal está se divertindo mais do que eu. — pensou Guilherme, olhando o feed das redes sociais dos amigos.
Dorothy estava até gostando da noite. Até que Felipe passou em seu caminho. O jovem viu Guilherme e ficou nervoso. Ele acabou derrubando uma bandeja de bebidas perto da matriarca. O barulho foi tão grande que chamou a atenção dos convidados. No mesmo momento, Sam e Geoffrey, conseguiram conectar o celular no projetor e lançaram a foto de Felipe e Guilherme juntos.
— O que significa isso? — perguntou a idosa, levantando com dificuldade. — Leopold?! — procurando o filho entre os convidados. — O que o seu filho depravado está fazendo no telão?
— Caralho! — exclamou Guilherme, levantando e olhando para a mesa dos pais.
— Oh, céus. — lamentou Anastácia, colocando as mãos no rosto.
— Espera! — gritou Dorothy, olhando para Felipe e para a tela. — É você nas fotos?
— Bem... eu... eu... er....
— Responda seu insolente?!
— Somos namorados! — Guilherme quebrou o silêncio e andou em direção a Felipe. — Somos namorados, vovó. — pegando na mão de Felipe.
— E você tem coragem de dizer isso em voz alta? — questiona a idosa insatisfeita com o neto. — Está vendo a criação que você deu para esse menino, Leopold?
—Mamãe, chega. — Melody tentou levar a mão para outro ambiente. — A senhora está nervosa. Vamos para o quarto.
— Cale a boca! — gritou Dorothy. — A culpa é toda sua. Eu disse que não queria esse depravado aqui. Ele mancha o nome da família Thompson. Nunca, nunca houve um homossexual na nossa família. Nosso sangue era para ser puro.
— Vamos sair daqui, meninos. — Leopold pegou no ombro de Felipe e Guilherme. — Não vale a pena.
— É assim, você foge? — questionou Dorothy, deixando Guilherme irritado.
— Quer saber, vovó. O papai está indo embora agora, mas não é porque ele está fugindo. É porque ele sabe que é perda de tempo conversar com uma pessoa tão preconceituosa como a senhora. — Felipe despejou contra a idosa.
— E você, garçom? — Dorothy percebeu que não abalaria Guilherme e olhou para Felipe. — Não vai juntar os copos do chão. Estou lhe pagando e você fica. — Felipe respirou fundo e começou a catar os copos quebrados.
— Pode ir. — Felipe pediu para Guilherme. — Eu fico.
— Vamos, Felipe.
— Junte tudo, agora. Rápido. — ordenou Dorothy, sentindo prazer em humilhar Felipe.
Ninguém pode te dizer
Que só há uma canção que vale a pena ser cantada
Eles podem tentar te convencer
Pois eles ficam perturbados ao ver alguém como você
***
Para a surpresa de todos, Leopold baixou e começou a ajudar Felipe. Dorothy ficou vermelha de raiva, então Guilherme também ajudou os dois. Anastácia chegou um tempo depois, pegou uma bandeja e recolheu alguns copos.
— Aqui, mãe. — Kiran pegou um copo e entregou para Anastácia. — Tem outros.
— Que bagunça, Felipe. Deveria ter mais cuidado. — orientou Kiara, entregando um copo para o cunhado. — Eu também quero ajudar.
— Ei, filho. — Leopold chamou a atenção de Guilherme. — Faz tempo que não fazemos nada em família, né?
— Sim, eu estava com saudades disso. — comentou Guilherme, sorrindo e juntando os últimos cacos.
***
Mas você tem que fazer seu próprio tipo de música
Cante sua própria canção especial
Faça seu próprio tipo de música
Mesmo que ninguém mais cante junto
Você vai conhecer
O tipo mais solitário de solidão
Poderá ser difícil
Apenas fazer o que tem que fazer é a coisa mais difícil
***
Dylan acordou e ficou admirando a beleza de Kaity. Ele a beijou e voltou a dormir. Nariko e Wong celebraram a derrota dele, que ficou em quarto lugar, eles foram para a London Eye e tiraram várias selfies. Paris passou bons momentos conversando com o namorado, apesar da distância eles achavam formas bacanas para se divertirem.
***
Mas você tem que fazer seu próprio tipo de música
Cante sua própria canção especial
Faça seu próprio tipo de música
Mesmo que ninguém mais cante junto
Então se você não puder pegar minha mão
E se você tem que ir
Eu vou entender
***
Leopold levantou e pediu para Felipe pegar suas coisas, ele mesmo pagaria sua diária. O namorado de Guilherme entrou na casa para pegar seus pertences. Guilherme terminou de colocar os últimos copos na bandeja.
— Sabe, mamãe. — Leopold resolveu enfrentar a mãe e dizer algumas verdades. — Eu deveria ter raiva da senhora. Em todas as etapas da minha vida, você nunca acreditou em mim. Mas eu agradeço tudo o que a senhora fez. Por sua causa, eu não sou um deles. — apontando para os convidados. — E quanto ao Guilherme, a senhora tem razão. Eu não tenho um bom filho. — as palavras fizeram a coluna de Guilherme tremer. — Eu tenho o filho perfeito. Ele, o Kiran e a Kiara. Eles me completam de uma forma que eu pensei que não poderia ser. — olhando para os filhos. — Papai ama vocês. Mesmo que eu diga isso poucas vezes. — voltando a sua atenção para a mãe. — Se eu sou quem sou... é graças a Senhora. Sou uma pessoa melhor por sua causa e isso não posso evitar.
Nenhuma palavra. Dorothy ficou olhando para o filho de maneira fria. Enquanto os Thompsons esperavam por Felipe, que demorou para pegar os seus pertences.
— É isso?! Acabou?
— Esperava que o namorado do Guilherme fosse mais rápido. — soltou Leopold, que torcia para Felipe voltar o mais rápido possível. — Melody, desculpe, você é a única nessa bagunça toda que faz algum sentido. Desculpa mesmo.
— Pronto! — exclamou um ofegante Felipe. — A casa é muito grande.
— É isso. — disse Leopold, olhando com carinho para os filhos e esposa. — Thompsons Ovelhas Negras. — Vamos nessa? — Leopold pegou Kiara no colo e andou em direção a saída.
— Pai. — disse Kiara. — Podemos parar em um McDonald 's? Eu estou faminta. Essa comida estava horrível.
— Eu também. — afirmou Kiran, que pediu colo de Guilherme. — Quero um McChicken.
— Claro. Para vocês tudo.
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Você tem que fazer seu próprio tipo de música
Cante sua própria canção especial
Faça seu próprio tipo de música
Mesmo que ninguém mais cante junto
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— Não acredito que vou fazer isso. — Guilherme deixou o irmão no chão e puxou Felipe para perto de si. — Ei, vó. — beijando Felipe.
— Seus depravados. Saiam daqui. — espraguejou Dorothy, que ódio o aniversário.
— Vamos. — pegando na mão de Felipe e correndo para alcançar a família. — Ei, pai. Acho que fomos excluídos do testamento da vovó.
— Eu tenho certeza. — respondeu Leopold. — Mas vamos comer, estou faminto.
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Você tem que fazer seu próprio tipo de música
Cante sua própria canção especial
Faça seu próprio tipo de música
Mesmo que ninguém mais cante junto