- Bendito táxi? – Kath repetiu alto no meio das risadas.
- Espera, do quê você está rindo? Eu achei isso muito bonitinho.
- Mas eu também achei – ela praticamente se desculpou do outro lado da linha. – Mas ficou só nisso? Beijos, amassos e nada mais?
- Isso já é muito coisa, Kath. Depois daquele momento contemplativo e de vê-lo me farejar como um cão, ele me deixou em casa entre alguns beijos roubados e outros entregues de mão desarmada.
- Você tem razão, isso já é coisa demais. Mas não ouse perder outra oportunidade de “fechar acordo” com esse homem.
- Você está se escutando? – Eu ironizei a forma como ela falava.
- Faça o que eu estou mandando.
Nos despedimos sem pressa e eu continuei na cama entre lençóis, travesseiros e a preguiça crônica. Aproveitei que o celular estava em minha mão e conferi novamente a mensagem que eu tinha recebido de David logo depois de um dos nossos encontros.
“EU QUERIA VOCÊ AGORA. EU QUERIA MUITO!”
Eu conseguia escutar ele dizendo aquilo tão suavemente com sua voz grossa e madura. Não só conseguia escutar, como me excitava com aquilo. Eu não mais conseguia controlar meu corpo quando o assunto era David.
Era um começo de tarde de domingo. Estava levemente mais fresco e isso me permitia continuar na cama. A casa estava arrumada e eu não precisava fazer nada além de existir. A falta de ocupação fez meu pensamento procurar por David. O que ele estaria fazendo naquele dia? Deveria estar em casa com a família, onde era seu lugar. Talvez curtindo a preguiça após o almoço e o tédio que aquele dia traz. Inevitavelmente eu quis ser quem estava ao seu lado. Eu quis poder tocá-lo sem pressa e dar-lhe longos beijos no intervalo do filme que estaríamos assistindo. Mas este querer estava munido de um pesar que eu não precisava carregar. Afastar aquelas idéias malucas era o melhor a ser feito. Tomar um banho também.
Saí do banheiro enrolado numa toalha muito fina e sequer pensei em vestir alguma roupa. Meu corpo exalava o perfume cítrico do sabonete e eu adorava me sentir tão limpo. Estar bem com sua própria companhia é tão bom quanto se sentir bem com outra pessoa. Eu terminei de arrumar meu cabelo quando ouvi batidas suaves na porta. Elas pareciam hesitantes, pois logo cessaram. Me apressei mesmo estando praticamente nu. O homem que me esperava se transformou em um vulto quando eu atendi seu chamado. Imediatamente ele estava dentro do meu apartamento fazendo-me fechar a porta para tão logo me empurrar contra ela. Foi o único momento em que percebi que ele não mediu a força que possuía.
- Desculpe não avisar – David disse emoldurando meu rosto com suas mãos, buscando um beijo feroz e sedento.
- O que é isso? – Eu brinquei entre o beijo, rindo.
- Vontade!
Claro que era. Assim como eu, ele não conseguia mais negar que precisávamos fazer aquilo. Nosso corpo pedia toda vez que estávamos juntos e estava ficando cada vez mais difícil negar aquele pedido. Na rua eu o via excitado quando eu ameaçava me aproximar um pouquinho mais e o brincalhão não escondia o que estava acontecendo ali embaixo. Aposto que muitos puderam ver algumas dessas animações, como numa daquelas tardes em que ele me levou para almoçar e no banheiro praticamente me jogou contra a pia. Eu sentia aquela animação volumosa me cutucar e fomos pegos por alguém que entrou sem fazer muito alarde. Não tinha como esconder tamanha excitação e ele a deixou lá para que o homem visse. Por sorte ele não se manifestou e muito menos se mostrou interessado em nossa indecência. Não cabia mais um ali. Não cabia mais nada, a não ser a explosão desconcertante de nossos desejos. Aposto que num evento voltado para a área jurídica em que David me carregou, também notaram que algo acontecia entre nós dois. Frequentemente ele me fazia rir, quando no meio de conversas com pessoas importantíssimas, ele escorregava os dedos pelo meu antebraço e os roçava nos meus em um carinho insinuativo para a ocasião. Incontáveis vezes eu não consegui segurar o riso e a conversa foi interrompida. Descaradamente ele me olhava como se nada estivesse acontecendo.
A confissão que me fizera rir porque a vontade era mesmo algo que regia nossos encontros. Quando enfim notou que a única coisa que guardava meu corpo era uma toalha muito fina, ele brincou com a pele da minha cintura e não assustei quando o vi escorregar sua mão para a minha bunda. Ele acariciava uma de minhas nádegas por cima do tecido úmido.
- Estava me esperando?
- Nossos encontros são prometidos, esqueceu? Eu estou sempre esperando você – fui sincero.
Ele arranhava carinhosamente meu pescoço com aquele queixo barbado ao mesmo tempo que falava.
- Como você faz isso?
- Isso o quê? – Provocador, eu estava com minhas mãos no cós da calça dele, muito próximo do volume apressado.
- Você é gostoso demais. Eu não consigo te ignorar. Andei tentando, mas eu não consigo. E isso não é nada legal da sua parte.
- Eu também não sei como faço isso, acho que a sedução é algo inerente à mim – eu brinquei, dando um beijo molhado no canto dos lábios dele. Eu estava tão impressionado quanto ele poderia estar e continuei sem pressa: – há algo que eu suponho ser ainda menos ignorável.
- Eu posso jurar que sei do que você está falando, mas prefiro que me mostre. Eu estou pronto para não ignorar isso.
Mantendo meu olhar fixo no dele, o fiz andar de costas até cair sentado sobre minha cama. Ainda de pé e entre suas pernas, eu fiz ele encostar o rosto em minha barriga. Os pelos fininhos da região abaixo do meu umbigo se misturaram aos pelos grossos da barba de David e ele continuou ali sentindo o movimento do meu corpo ao meu respirar. Eu era como um objeto de estudo e ele o curioso. Aquela região foi inteira beijada por lábios quentes e nada apressados, mas eu via que ele queria mais. Fiz minha toalha escorregar por minhas coxas e assim meu membro acordando saltou em liberdade. Eu tinha uma visão perfeita ali de cima. Sem pressa, como ele queria, eu enfiei meus dedos nos fios grossos e curtos do cabelo dele e distribuí uma série de carinhos e chamegos que se estendiam até a nuca. Com uma mão livre eu me mostrei tocável, diferente das obras de arte. Como num ritual só nosso, ele encostou o nariz na base do meu pau e cheirou minha pele mais sensível. Seus lábios e sua barba encostavam em mim também e isso provocava os mais selvagens dos arrepios. Os arredios, os puros e também insanos. Eu me sentia o homem mais forte do mundo ao conseguir me segurar diante de uma cena tão bonita. Ele escorregou seu nariz por toda a extensão daquilo que amparava, sentindo o meu frescor. Quando chegou na ponta, ele aproveitou e levou aquele nariz à minha virilha. O cheiro dali era mais úmido e mais forte, talvez o que ele mais gostava, pois ali permaneceu por mais tempo. Na minha coxa, além de suaves chupões; beijos apaixonados.
- O cheiro mais doce do mundo – ele reafirmou.
- Meu presente para você – eu me ofereci.
Minha frase servia perfeitamente para o movimento que ele fazia com a mão, chegando assim no interior fervente de minhas nádegas. Eu não poderia ignorar o olhar pidão que ele me lançava.
- Posso tomá-lo? – Eu sabia do que ele estava falando. É claro que eu sabia.
- Desde que seja por inteiro – eu respondi já em um sussurro fraco.
De costas para o homem ainda sentado, eu senti novamente aquela barba áspera em minha pele, mas desta vez ela desbravava a quentura da minha abertura. Eu gemi. Não podia mais prender aquilo que gritava por liberdade. Eu gemi e ele adorou ouvir aquela primeira expressão do tesão, pois logo intensificava os beijos deixados ali, transformando-os em leve chupões que provavelmente me marcariam.
Outra vez de frente para David, eu caminhei de costas e deixei alguns centímetros de distância existirem entre nós. Eu queria poder me afastar ainda mas, porém o apartamento apertado não me deixava brincar. Que droga! Eu olhei o corpo do homem sentado em minha cama como se ela também o pertencesse e conseguia imaginar um cenário utópico onde meus lençóis carregavam as notas finais do perfume dele e guardavam restos do nosso sexo quase diário e cheio da vontade que nutríamos. Na realidade eu via as mãos pousadas sobre o colchão e o peito aberto, inflando em cada inspiração pesada que ele tomava. Os lábios vermelhos e molhados muito diziam sobre o sabor que ele tinha arrancado de minha pele. O que também usava meios nãos verbais para explicitar o que acontecia ali era o grande volume formado no meio das pernas abertas. Eu sorri para aquela região no meio das minhas palavras:
- De pé!
E num segundo ele me obedeceu.
De pé, aquele volume crescia ainda mais, forçava o tecido e deixava exposto o zíper sofrendo para segurar tudo aquilo. Apenas por um segundo eu consegui fazê-lo ignorar a urgência de nossos corpos.
- Se iguale à mim – eu pedi entre o carinho e a ordem, numa dosagem perfeita para o meu próprio espanto. Eu estava me saindo muito bem.
Como eu imaginava, eu entendeu o que eu queria e tão lentamente tirou a camisa que escondia seu peitoral maduro e consideravelmente peludo. Eu evitei me tocar e continuei imóvel tomando meu posto de observador. Naquele instante ele era minha obra de arte. O objeto de desejo.
Não esperando outra ordem ele desceu o zíper da calça logo após desabotoá-la e deixou sua cueca de cor clara exposta aos meus pensamentos indecentes. Ele sorriu quando penetrou os dedos naquela região, atiçando-me, provocando-me como podia. Ele apertava seu próprio membro e me oferecia ainda coberto pelo tecido esticado. Eu mantinha meu olhar preso naquela região e me preparava para soltar outra ordem quando o barulho inconveniente do celular dele nos acordou daquele transe em que estávamos metidos. Com pressa e tão desajeitado quanto eu mesmo, o vi tomar o aparelho entre as mãos e desligar abruptamente, ainda tomado pelo susto.
- Desculpa - sussurrou ainda de olhos fechados, claramente tentando manter o pensamento ali, no interior do meu quarto.
- Tudo bem – eu sussurrei de volta.
- Podemos... – Ele iniciou logo depois de jogar o aparelho sobre a cama.
- Devemos! – E sorri tentando mantê-lo comigo.
O vi colocar outra vez as mãos onde eu queria estar com meu rosto enfiado e ele começou a descer a calça numa lentidão que eu estava adorando. O membro por sorte ainda acordado se mostrava e um pedacinho da coxa alva começava a surgir quando inevitavelmente fomos acordados por outro toque insistente. Com uma das mãos ele tentava levantar a calça e com a outra alcançou o celular sobre a cama. Antes de iniciar uma caminhada desajeitada até a janela, ele me soltou outro pedido de desculpas ainda mais sentido que o primeiro.
Eu não estava interessado no que ele falava ao telefone e somente virei de frente para a parede, pressionando minha testa contra ela. Constrangimento, vergonha, receio, ressentimento. Meu corpo tomou uma onda de sentimentos que eu não conseguia evitar e a única coisa que consegui fazer foi correr para a cama e me envolver em meus lençóis, cobrindo meu corpo dos julgamentos que todos aqueles móveis faziam de mim.
- É... Você sabe...
- Eu sei quem era – evitei que ele se perdesse no meio de tantas informações depois que desligou a ligação e se voltou para mim, igualmente constrangido.
No meio daquele silêncio instaurado, nós dois desviamos o olhar algumas vezes com um sorriso sem graça.
- Está tudo bem, não é?
- Não muito – ele confessou procurando pela peça que cobriria seu peito exposto.
- O que foi?
- Meu filho. Uma febre muita alta e repentina. Pode ser algo sério, pode não ser... – A pausa dele serviu para vestir a camiseta e fazer outro pedido de desculpas ainda mais sussurrado.
- Não peça desculpas, isso é algo inevitável e urgente. Mais urgente que... Enfim, você precisa ir que eu sei.
Ele sorriu e se inclinou sobre mim para um ou outro selinho. Os lábios permaneceram colados no canto dos meus por algum tempo. Mais lamentávamos do que tentávamos amenizar os sentimentos acordados naquela situação.
- Vá rápido – eu sussurrei deixando um carinho guardado atrás da orelha dele.
Eu vi o corpo dele se mover vacilante até a porta enquanto terminava de arrumar a roupa. Um último olhar em minha direção não dizia com clareza o que aconteceria depois dali. Eu nunca tinha experimentado tal situação e provavelmente ele também. Nenhum de nós sabia lidar muito bem com tudo isso e continuar sentado, enrolado nos lençóis enquanto ele fechava a porta atrás de si muito dizia sobre aquela relação que começara errada. Eu não poderia impedir que ele fosse embora. Eu não poderia pedi-lo pra ficar, por mais que esse fosse o desejo do meu corpo. Todos os meus sentimentos naquele instante se revezavam entre o “deixe ir” e “permita voltar.” Eu me descobria ainda mais humano ao experimentar sentimentos que eu tanto evitava.
Aquele domingo pareceu não ter fim. Eu continuei o dia inteiro entre os lençóis que lamentavam não terem sido usados por nós. O cheiro dele, de alguma forma permaneceu no ambiente mesmo horas após a partida. Fiz minhas refeições sozinho imaginando o meu corpo e o David dançar pelo meio do quarto em um sexo muito além de sensorial. Eu era um expectador na projeção dos nossos possíveis atos. Tão gostosos e impróprios atos. A descarga exagerada de sensações daquele dia me fez bocejar muito cedo. Não conseguia precisar as horas, sabia que não era tão tarde.
Aquele não era o momento certo para deixar os pensamentos tomarem conta. Depois daquele despertar para a vida real e tudo que a envolve, naquele instante não camuflados pelos nossos desejos, talvez David também assumisse que seria melhor não mais insistirmos em um encontro prometido. Assumindo o papel que cabia somente à mim, adiei qualquer conclusão para outro momento de maior racionalidade e mergulhei em um sono necessário e bastante bem-vindo.
.
.
Ei Vocês. Às vezes quando estou revisando os capítulos, eu sinto que a forma como escrevo os acontecimentos pode deixar algumas pessoas confusas. Pode ser que isso seja coisa da minha cabeça. Então se algo está confuso ou não suficientemente claro, por favor, me avisem. Podem falar, eu sou sensível mas sei lidar com as críticas. haha E eu também sei que tem gente lendo. Estes não comentam mas eu os adoro também. Os números de leitores quase sempre são os mesmos, então eu sei que tenho alguns acompanhantes fieis. :D
As respostinhas marotas:
Chria, te respondi aí em cima. :)
J. K., a comparação que você usou para descrever o meu casal me deixou orgulhoso, mas você irá concordar que eu estou gastando muito essa fórmula do homem maduro x garoto fofinho. Me veio isso agora e vou ficar de olho nos meus próximos escritos. Daqui a pouco eu fico cansativo. :O O engraçado é que você e seu novinho se encaixam na fórmula que eu usei. Isso é o máximo! Sobre o seu enferrujamento: pode ir parando. Essa sua última sequência foi bastante divertida e curiosa. Eu adorei de um tanto... Agora você poderia fazer outras sequências dessas usando outro tema. Eu ainda adoro suas palavras. Todas elas. E o Don, bom, ele me dá muito problema, viu. Toda vez que tento recomeçá-lo perco o sentido e paro. Eu vou buscar referências, criar um plano linear e em algum momento ele volta. Promessa dele, não minha. HAHAHAHA Obrigado sempre pelos risos arrancados. Abraços!