Logo mais à noite, nós estávamos todos jantando no refeitório do colégio, e eu não conseguia parar de pensar no meu "encontro" com o Gabriel, dali a pouco.
- E aí migo, será que hoje você deixa de ser BV? - Ali disse, cochichando.
Eu a ingnorei e continuei absorto em meus pensamentos. Era verdade. Eu já estava com 15 anos, e nunca tinha beijado ninguém. Nas poucas ocasiões em que saía, às vezes uma ou outra garota se mostrava interessada em mim, mas eu sempre dava alguma desculpa e caía fora. Na escola, eu percebia alguns outros meninos que também eram gays, mas eu jamais tive coragem de me aproximar de algum, assim como grande maioria deles também não tinha. Estávamos todos no mesmo barco. A simples hipótese de ser "descoberto" por alguém me deixava com náuseas. Tinha um medo estonteante da reação dos meus amigos, do pessoal da igreja, e sobretudo da minha família, quando soubessem da minha orientação. Mas eu sabia que um dia eu teria de falar. Era inevitável. Pensava que o momento certo chegaria, e que eu saberia exatamente o que dizer e como dizer. Besteira. Anos mais tarde, me lembrando disso, percebi o quanto eu me martirizei à toa. Tudo bem que a minha saída do armário não saiu como eu esperava (na verdade ela foi catastrófica), mas também não chegou a ser o Apocalipse que eu imaginava que seria, quando era adolescente.
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Meus pais foram casados por 11 anos, e quando meu pai foi embora de casa, eu ainda era um bebê de nove meses. Fui criado pela minha mãe, e pelo meu irmão mais velho, o qual considero um segundo pai pra mim. Quando criança, eu ia passar os finais de semana na casa do meu pai, apesar de não gostar muito. Por determinação judicial, eu tinha que ir pelo menos em dois fins de semana por mês. Meu pai e a esposa não eram pessoas ruins, mas na casa deles eu me sentia deslocado, não me sentia parte da família. Eu não tinha trejeitos femininos ou coisa do tipo, mas eu percebia que meu comportamento incomodava meu pai. Ele vivia me rodeando, querendo saber porque eu não brincava com os outros garotos, e na minha adolescência, era um custo pra me esquivar das especulações dele sobre minhas "namoradinhas". Certa vez, ele veio me trazer em casa, e eu o ouvi conversar com minha mãe, enquanto ela o acompanhava até portão.
- Eu estive pensando, o que você acha de marcar uma consulta no psicólogo pro Lucas? - ele perguntou, já entrando no carro.
Eu cheguei mais perto da janela, e agucei os ouvidos.
- Pra quê César? - ela disse, um tanto impaciente - Lucas só é um menino centrado, estudioso, e por isso se diferencia da grande maioria...
- Não estou falando por causa disso Vânia! - ele a interrompeu.
- Então é o quê? - ela falou, aturdida.
- Sei lá, eu às vezes acho que ele se comporta de maneira um tanto diferente, e talvez se isso fosse tratado desde cedo, poderia... - ele media as palavras.
- Tratado? O que é que precisa ser tratado César? Não tô entendendo onde você quer chegar. Você está sabendo de algo? Lucas falou alguma coisa pra você? - essa disse, num tom de voz nervoso.
- Não, ele não disse nada. Eu só achei que seria bom pra ele conversar com um analista. Essa fase de adolescência é complicada, e talvez por isso eu esteja um tanto preocupado. Mas enfim, eu vou indo, depois tornamos a falar disso. Até mais Vânia!
Nessa época, eu tinha 13 anos. Fiquei apovarado com essa conversa do meu pai. Eles descobririam tudo. E o que seria de mim? Eu seria expulso de casa? Ia viver onde? Meus pensamentos rodaram na velocidade da luz, e pela primeira vez, eu chorei rancoroso, me odiando por ser gay, me odiando por ser eu mesmo.
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Eu fui até o meu colchão na sala, peguei um perfume na mochila, e borrifei bastante no pescoço. O cheiro exalou por todo o cômodo. Nenhum dos meninos estava lá. Ambos os times estavam em quadra, jogando. Saindo da sala, passei pelo colchão do Emanuel, e senti uma pontada de culpa. "Estou indo traí-lo", pensei. "Ora, mas que tolice, como eu poderia trair alguém que só me pertencia apenas nos meus sonhos?" Sacudi a cabeça, na tentativa de afastar esses pensamentos idiotas, e saí da sala.
O Gabriel estava todo casual, vestindo regata, bermuda e chinelo, enquanto eu parecia estar indo à uma festa. Vestia um jeans preto e uma camiseta pólo amarela, e me senti bem idiota, quando olhei pra ele. Nós nos sentamos do lado de fora da sorveteria, e conversamos um pouco. Descobri que ele estava no segundo ano, e tinha 17 anos. Tinha se assumido para a família dois anos antes, e nas próprias palavras dele, ninguém tentou liquidá-lo da face da terra. Ele era engraçado. Tinha um quê de sedução na voz, e isso mexia comigo. O interesse foi ficando cada vez maior.
- Ei, tem uma praça aqui perto, umas duas quadras pra baixo. Você quer caminhar até lá? - ele disse, convidativo.
Rapidamente, me subiu um indesejado desconforto. Ele queria passear comigo numa praça, às 11 da noite. Eu sabia qual era a intenção dele, e isso me deixou tenso. "E se eu não conseguir? Se ficar muito nervoso e passar vergonha?"
- Psiu! Sim? Ou não? - ele disse, sorrindo, e interrompendo meus devaneios.
Caramba! Eu definitivamente tinha que parar de pensar demais. Logo as pessoas iriam achar que eu era algum tipo de louco, psicótico. Acenei com a cabeça sinalizando um sim, e nós começamos a caminhar.
Chegamos à praça, e não havia sequer uma viva alma por lá. A partir daí, meus batimentos já não estavam mais tão calmos.
- Você prestou atenção no caminho? Olhe lá que a gente ainda se perde hein?! - falei, sorrindo timidamente.
- Não vamos. Eu conheço a cidade,tenho parentes aqui. - ele disse, sentando-se num banquinho, sinalizando pra que eu me sentasse também.
- Ah é? E porque não ficou na casa deles? Eu ficaria. Nunca que ia querer ficar naquela baderna de moleques, se tivesse um quarto na casa de um parente. - falei.
- Eu gosto de ficar com a galera, e além do mais, nunca se sabe o que podemos encontrar né? - Ele disse, sorrindo, me olhando nos olhos, enquanto acariciava minha mão.
Eu não sabia o que fazer. Estava nervoso, ao ponto de começar a suar. Ele me puxou pela mão, e nós fomos para debaixo de uma árvore, fugindo da luz. Ele primeiro me abraçou com firmeza, e bastou o calor do corpo dele pra eu me arrepiar. Ele comentou algo sobre o meu perfume, mais eu estava concentrado demais pra prestar atenção. Suas mãos deslizavam nervosas pelas minhas costas, meu abdômen e meus braços, enquanto sua língua passeava pelo meu pescoço, minhas orelhas, e por último, meus lábios. O beijo foi intenso e demorado, e vagarosamente eu fui me acalmando, até me entregar por completo àquele momento. A sensação ao tocá-lo era maravilhosa. Era a primeira vez que eu sentia tão de perto o calor de um homem. Ele continuava a explorar o meu corpo com desejo, e desceu com as duas mãos pra dentro da minha calça, apertando minha bunda, enquanto me beijava sem pressa. Me prensei contra o corpo dele, e senti a rigidez de seu membro. Apalpei com vontade, e o pau latejava. Minha vontade era cair de boca naquela pica enriste, e só parar quando ele gozasse fartamente. Nos esfregamos com vontade. O desejo de pussuir um ao outro exalava pelos nossos poros.
- Eita! - Ele disse, ao colocar a mão dentro da minha cueca - Que pau enorme! E ainda é grosso, nossa...
Eu não disse nada. Apenas o puxei pra perto novamente, e nós continuamos a pegação. Aquele primeiro "beijo", seria sem dúvidas inesquecível. Eu queria muito terminar o que havíamos começado, e ele com certeza também, mas ali na praça não teria como, e já estava tarde. Precisávamos voltar.
- Eu gostei muito! Muito mesmo. Queria ir mais além...- eu disse, abraçando-o carinhosamente.
- Mas nós iremos. Antes de você ir embora, nós iremos mais além! - Ele falou, me dando um último beijo.
Quando chegamos de volta ao colégio, já passava das duas da madrugada, e eu corri apressado pra sala, quando um dos professores me interceptou, e me deu uma baita bronca, dizendo que estava pra colocar a polícia atrás de mim. Me desculpei, virei as costas para ele, e segui rindo para a sala. Tinha muito para contar à meus cadernos...
Continua...