Continuando...
Aos poucos a conversa foi morrendo e logo só havia o silêncio entre nós três,que era cortado apenas pelo barulho de nossas respirações em conjunto.As horas se arrastaram lentamente e perto do amanhecer,ficamos sabendo que o André havia resistido a primeira cirurgia,o que me encheu de esperança.Quando os primeiros raios do sol anunciaram a chegada da manhã,Noel avisou que ia pedir a um amigo que viesse nós pegar,mais relutei um pouco,pois queria estar ao lado dos meus amigos.
-Lúcio,vocês passaram a noite em claro e agora precisam descansar.-Dona Socorro disse com paciência.
-Não vou conseguir descansar com os meus amigos nesse estado!-Disse enquanto pegava as mãos dela e segurava.
-Meu filho não gostaria de saber que tu ficou doente por causa dele...Vá pra casa e descanse,qualquer coisa eu do um jeito de avisar.-Ela disse,após balançar a cabeça de forma negativa.
-Tudo bem,mais qualquer coisa a senhora me avisa mesmo,por favor!-Pedi.
-Aviso sim Lúcio,mais leva Maia também contigo.-Ela disse séria.
-Não mamãe...não vou deixar a senhora sozinha!-Ela disse,se pondo de pé em um pulo.
-E de nada vai me adiantar,você aqui desse jeito...Vai pra casa sim,senhora...Tomar um banho,comer alguma coisa e dormir.-Dona Socorro,disse em tôm de quem aplica uma bronca.
Enquanto as duas teimavam,fui em direção ao lado de fora,onde encontrei o Noel ao telefone,falando em voz baixa.Dei sinal da minha presença e ele sorriu e com uma despedida,desligou.Não demorou muito e Maia se juntou a nós,de braços cruzados e a cara de poucos amigos.A reação dela era compreensível,afinal não era fácil ir pra casa deixando ali o irmão no estado em que estava.
Um carro azul estacionou em frente e Noel desceu as escadarias e abriu a porta de trás para que eu e Maia entrasse e então se acomodou no banco da frente e iniciamos nossa viagem.No meio do caminho acabei cochilando e acordei com Maia me sacudindo.
-Lúcio vou deixar sua amiga em casa e passar na minha,mais venho logo.Feche a porta e tenha cuidado para quem abre.-Noel disse bastante sério,depois que desci do carro e fechei a porta.
Concordei e práticamente me arrastei até a porta de casa que abri e entrei,dando de cara com minha mãe que estava encostada a parede e o TH no sofá.
-Cadê o Noel?-Ela perguntou.
-Foi em casa!-respondi,após fechar a porta.
-Esse miserável tá te esperando desde cedo...Vou ver uns amigos e quando eu voltar,não quero mais esse inútil aqui...entendeu verme?-Minha mãe,perguntou em tôm ácido,indo em direção a porta e saindo logo em seguida.
-Sim!-respondi,enquanto me sentava ao lado dele no sofá.
-A vagaba me disse que tu tava no hospital...O que aconteceu?-Ele perguntou,parecendo preocupado.
-Comigo nada...Foi uns amigos que levou umas facadas.-Respondi.
-E eles tão bem?-TH perguntou.
-Os médicos dizem que o estado deles é grave...Mais e tu,o que anda fazendo?-Perguntei,tentando mudar de assunto,pois não desejava pensar nos meus amigos agora.
-Meu último serviço aqui na cidade...Tô caçando dois bandidos que fugiram de uma clínica de doido.-Ele respondeu,após alguns minutos em silêncio.
-Pra que?-Perguntei confuso.
-Eles tão atrás do filho de um cara que eles têm reixa e como o cara já morreu,eles agora querem pegar o muleque...Aí me contrataram pra capturar os dois.-TH respondeu automaticamente.
-E vão entregar eles a justiça?-Perguntei.
-Tu não conhece o meu cliente,Lúcio...O Cara é metido numas obras beneficentes,sabe?...Ajuda criancinha e mulher,mais ele é tão cruel quanto é generoso com essas pessoas.-TH respondeu,parecendo distânte.
-E o que ele vai fazer se tu pegar esses dois caras?-Perguntei.
-De verdade?...Não quero nem imaginar,prefiro apenas cumprir o serviço e receber o meu dinheiro.-TH respondeu sem emoção.
-Tu não se importa com que o que vai acontecer a esses homens?-Perguntei chocado pelo modo como ele falava.
-Não,são apenas bandidos,não vai fazer falta a ninguém!-TH disse com frieza.
-Mais são pessoas,TH...Gente como eu e tu...-Tentei dizer.
-Lúcio,vamos mudar de assunto...Nessa conversa a gente não vai chegar a lugar nenhum!-TH interrompeu.
-Tá...eu vou tirar o tênis e já volto!-Disse,enquanto ficava de pé.
Sem olhar para ele fui em direção ao meu quarto aonde tirei o tênis e a calça e os joguei a um canto,o que me causou bastante alívio.Quando fui apanhar a bermuda,notei um livro vermelho e o apanhei,então lembrei do pedaço de fotografia.Vesti a bermuda apressado e quase correndo,voltei a sala e me sentei ao lado dele.
-TH,ontem achei isso...O que tu tem a dizer?-Perguntei após abrir o livro e conseguir puxar o pedaço da foto.
-Onde encontrou?-Ele perguntou,ficando pálido ao receber e ver do que se tratava.
-Dentro desse livro...Tu e o meu pai eram policiais militares?-Perguntei,tentando fazer ele falar.
-Sim,fomos por bastante tempo.-Ele respondeu distante.
-Me conta mais sobre o meu pai,por favor!-Pedi.
-Tá...Olha,seu pai foi criado pelos avós,porque a mãe matou o pai dele,mais isso não impediu ele de ir em busca do que sonhava...E eu e seu pai fomos os policiais mais jovens a entrarem para o nosso batalhão.Enquanto isso,ele também estudava e chegou a se formar em direito.-TH contou um pouco relutante.
-Minha avó matou o meu avô?-Perguntei chocado.
-Foi,e ela foi presa e condenada...Seu pai não gostava de falar nessa história,porque ele viu o assasinato do pai e foi ele que entregou a mãe pra justiça.-TH respondeu,girando a foto entre os dedos.
-Eu descobri que ele foi casado.-Disse,observando sua reação.
-Tu não deveria tá fuçando no passado do teu pai,muleque.-TH disse irritado.
-Eu só quero saber um pouco mais sobre o homem que me fez...Eh...Essa mulher com quem ele era casado,como ela era?-Perguntei nervoso.
-Ela se chamava Melina e era uma mulher inteligente,educada e de gênio forte,mais tinha um grande coração.-TH respondeu,após me observar em silêncio,por alguns minutos.
-E ela e o meu pai?...Viviam bem?-Perguntei com cuidado.
-A medida que os anos foram passando,o seu pai foi mudando bastante...Aquela sede de justiça que ele tinha,se transformou em ódio pelos marginais e seu pai não se contentava mais só em prender e botar na cela,ele também passou a torturar e espancar...Melina não reconhecia mais o homem com quem tinha se casado e eles brigavam bastante.-TH respondeu.
-Eles se separaram?-Perguntei,cada vez mais curioso.
-Uma vez,porque o seu pai descobriu que o irmão dela era gay e namorava um ladrãozinho pé de chinelo...Seu pai deu uma surra no muleque e pra ela foi a gota d'água.-TH respondeu,enquanto entrelaçava as mãos,parecendo perdido em seus pensamentos.
-Meu pai bateu em alguém porque era viado?...Aí anos depois se junta com um homem,qual é a lógica disso?-Perguntei,sentindo meu cérebro a ponto de dar um nó.
-Passei os últimos anos tentando entender isso,mais a única conclusão que cheguei foi de que teu velho tinha mais faces que a lua.-Ele respondeu com um sorriso.
-E o que aconteceu a mulher dele?-Perguntei.
-Ela foi assasinada,Lúcio.-Ele respondeu tenso.
-E como o meu pai era como policial?-Perguntei,tentando manter ele falando.
-Primeiro policial não é um profissão que os outros dá muito valor nesse país...O governo te paga um salário miserável,te dá um colete e uma arma,aí te coloca na linha de tiro,se morrer,eles só substituem por outro.-TH disse com rancor.
-E?-Pressionei.
-Naquela época,nosso maior problema era o tráfico de drogas que mandava e desmandava na nossa cidade.Os polícia que não era corrupto,ficavam calados por medo do que eles podiam fazer com eles e a família,mais seu pai era diferente ou burro demais,não sei...Só sei que Lúcio Barroso não abaixava a cabeça para ninguém e lutava contra o tráfico,mais era uma luta perdida pois enquanto tinha gente financiando essa merda,eles sempre iam ter o controle...Enquanto nos tinha que se virar com uma arma,eles tinham um arsenal inteiro.-TH continuou.
-Esse loiro aqui...a minha mãe disse que se chamava Carlos...O que aconteceu com ele?-Perguntei após perceber que o melhor era continuar perguntando e não deixar ele se calar.
-Violentaram e mataram a esposa dele e depois o levaram de dentro de casa e foi o teu pai que causou essa tragédia,sem querer.-TH respondeu após olhar o homem para o qual eu apontava.
-Como?-Perguntei surpreso.
-No plantão dele e do Carlos,Barroso pegou uns Zé droguinha e torturou os muleques...Um era filho de um traficante que tava preso e ele não gostou nadinha do que fizeram com o filho dele e deu a ordem para invadir a casa do Carlos e fazer aquilo com a esposa dele e depois levar ele...E ainda deixaram um recado pra o teu pai,se ele não parasse de se meter aonde não era chamado,o negócio ia ficar feio pra o lado dele.-TH explicou rapidamente.
-Esse Carlos...ele é parente do Eduardo?-Perguntei,chutando essa alternativa só por ele ser loiro.
-Tu fala daquele que é casado com aquele médico e filho de um velho militar?-TH perguntou após ficar de pé.
-É!-Respondi,surpreso pela forma como ele falou.
-O Carlos era o irmão mais velho do Eduardo.Filho do pai dele com outra mulher...Mais era seu filho preferido e quando ele sumiu,o velho enlouqueceu e usou tudo que tinha para encontrar pelo menos o corpo,mais nunca teve sucesso...E ele sempre culpou Lúcio pelo que tinha acontecido ao filho.Mais seu pai também nunca se perdôu pelo que tinha acontecido a Carlos e também ajudou a procurar mais nunca encontraram um sinal de vida dele.-TH respondeu.
-E...-Tentei falar.
-E mais nada...Já te contei até demais!-Ele interrompeu sério.
-Um dia vou saber toda a história do meu pai.-Disse irritado.
-E nesse dia talvez,passe a odiar o seu pai com mais intensidade do que o ama.-TH sussurrou.
-O que disse?-Perguntei,também ficando de pé.
-Que tenho que ir...Só passei para ver como tu esta e agora tenho que voltar ao serviço,antes que meu cliente decida que vai querer o meu pescoço.-TH respondeu com um sorriso.
-Tu vai me ver outra vez?-Perguntei ao retribuir o seu sorriso.
-Claro meu pequeno...Agora tenha muito cuidado e não saia de casa muito tarde da noite e olha pra quem abre as portas.-Ele respondeu com carinho.
Concordei e observei ele caminhar até a porta,que se abriu e deixou Noel entrar.Os dois se encararam por alguns minutos,até que TH abriu um sorrisinho irônico.
-Trabalha de babá agora?-Ele perguntou.
-Pelo menos não tenho o sangue de inocentes nas minhas mãos.-Noel rebateu.
TH fechou a cara e passou por ele,batendo a porta atrás de si com força.Noel se aproximou e depois de se tranquilizar se eu estava bem,disse que ia dormir um pouco e saiu pelo corredor.Me sentei novamente no sofá repassando todas as palavras ditas por TH e fiquei inquieto com a sensação de que havia deixado passar algo e então me levantei e fui em direção ao quarto da minha mãe,que abri com cuidado e percebi que Noel já tinha adormecido.
Dando meia volta,decidi sair um pouco para tomar um ar e refletir sobre tudo que havia escutado.Abri a porta com delicadeza e sai para a rua,sentindo meu peito se encher com a sensação de liberdade,era como se eu tivesse acabado de sair de uma gaiola e isso me fez bem,muito bem.
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Olá,Boa noite...
Estamos na reta final do conto...e já estou pensando no próximo que posso lançar,mais talvez de um tempo,não sei.
Atheno os personagens tem visão diferenciada sobre as coisas como qualquer pessoa normal,enquanto alguns enxergam o Eduardo como monstro,Noel e outros vêem nos detalhes o que acham ser um pouco de bondade,mais ele é um conjunto completo de defeitos e qualidades e digo mais,essa história vai ter um final bem real.
Martines queria desistir da minha história?Então tava tão ruim quanto eu achava kkkk mais me da um desconto,é a minha primeira vez e tô aprendendo.Bem quanto a sua dúvida,em capítulos anteriores deixei bem claro que são mulheres diferentes,a noiva do Eduardo é uma e a esposa morta de Lúcio,que também é a mulher do quadro,é outra completamente diferente.Quando Noel faz a comparação entre a noiva morta e Lúcio,é mais pelo fato de eles terem algo com o Eduardo,e lembre se de um detalhe;Lúcio pai morreu em uma casa sua,mais Lúcio filho não fala em nenhuma momento que herdou algo do pai e nem o Fred e nem a Sônia falam que retiraram os objetos dessa casa.
VALTERSÓ,Ru/Ruanito,impact,Regi1069 e Marco Costa obrigado pelos comentários e notas.
Espero que gostem!