ACRÔNICO. Parte 4.

Um conto erótico de Ralph.
Categoria: Homossexual
Contém 2289 palavras
Data: 29/03/2017 23:27:13

Mais tarde naquele mesmo dia Bernardo acordou primeiro e disse ter feito de tudo para se livrar dos meus braços sem que eu despertasse, mesmo assim eu acordei com seus movimentos. Continuamos deitados por algum tempo e entre risadas abafadas e olhares demorados, ele me lembrou de tirar o pôster da parede, porque não pretendia fazer cena e aceitaria o presente.

Foi engraçado vê-lo atravessar o corredor tomando todo o cuidado do mundo para não chamar a atenção dos meus pais que estavam entretidos dentro de casa com qualquer coisa desconhecida por mim naquele momento. Paramos na calçada quando eu fechei o portão e ele ficou parado me olhando por algum tempo, em completo silêncio. Tanta coisa era dita naquele momento.

– Eu deveria dizer alguma coisa? – Interrompi. – Sinto que deveria.

– Não precisa, não. Só estou te olhando. – Ele afastou minha curiosidade com o sussurrar apaixonante.

– Há algo de errado com minha cara?

– Dá um tempo, garoto. Não há nada de errado com sua cara. Só estou te olhando. – Bernardo repetiu com uma notável impaciência.

– Deve existir um motivo para isso. Eu não posso saber? Por consolação posso então te abraçar?

– Tente não pedir da próxima vez, pode ser? – Perguntou se aproximando de mim sorridente, mas retraído.

– Pode ser – eu concordei abraçando o corpo pequeno e magrelo em meus braços finos. – Eu gosto de você.

– Devo-me me preocupar com o seu gostar?

– O gostar é sempre bom. Preocupante pode ser o que vem depois dele, mas o gostar é sadio. Eu posso gostar de você?

– Nada é saudável quando se trata de mim – ele me respondeu antes de se afastar.

– Misterioso. O que isso quer dizer? – Eu não estava pronto para soltá-lo, mas o deixei livre.

– Eu sou um completo erro e não vou demorar em mostrar isso.

– Eu só disse que gosto de você, não quero achar motivos para consertá-lo. Só quero gostar disso que eu vejo.

Ele sorriu e outra vez meio sem jeito, colocou atrás da orelha a mecha teimosa que insistia em cair sobre seus olhos e prendeu seu olhar no chão.

– Eu verei você novamente. – Havia decisão em minha voz.

– Se for o caso, deixe que eu apareço.

– Não demore! – Eu aconselhei Bernardo que saiu rindo e virou na minha direção depois de alguns passos para erguer o pôster no ar e agradecer o presente outra vez.

Nenhum beijo de despedida. Eu lamentaria por isso.

*

Eu me desprendi do que a nova versão do Bernardo falava para prestar atenção nas pessoas que chegavam no restaurante. Era um pequeno grupo que ao sentar tomava o lugar com suas vozes mais exaltadas, mas que logo cessariam. Eu não vi quando ele esticou seu braço, mas senti quando seus dedos tocaram meus pulsos. Estavam quentes, diferente do clima daquela noite, e ainda eram tão macios quanto eu lembrava que fossem.

– Eu ainda estou com falando com você.

– Desculpa. É que essa gente que não sabe reconhecer o clima dos lugares me deixa incomodado. – Me defendi.

– Está tudo bem. Esqueça-os. E voltando ao assunto que você parecia não dar a atenção necessária, eu dizia que também quero saber como você está.

– Ah! – Eu me ajeitei na cadeira em um sentar mais relaxado. – Estou tranquilo.

– Está mesmo – ele disse insinuativo.

– O que você quer dizer? – Eu perguntei enquanto sinalava algo ao garçom com o dedo indicador levantado. Era um sinal para ele executar o que tínhamos combinado.

– Eu andei acompanhando o lançamento dos seus livros. Parece que você alcançou o que chamamos de sucesso. Sabe que eu não duvidava disso, né?

– Sucesso. – Eu murmurei. – Parece mesmo que as pessoas me transformaram em um sucesso.

– Está tudo bem ser um – ele reconheceu minha falta de jeito e outra vez me ofereceu sua mão. Eu continuei olhando os dedos por um tempo antes de tocá-los com os meus. – Parabéns. Você sempre mereceu conquistar tudo isso.

– Ainda não aprendi a lidar com elogios ou críticas, mas obrigado. – Sorri um tanto deslocado.

– Ao menos aprendeu a lidar com o dinheiro que isso faz brotar?

– Está brincando, não é? Eu não escrevi Harry Potter, foram só alguns romances sombrios.

Os dedos que ainda seguram os meus saíram dali num movimento rápido, pois todo o corpo dele se contorceu em uma gargalhada gostosa que o fazia tombar a cabeça para trás.

– Acredite em mim, escrever não deixa ninguém rico. – Conclui no meio da risada dele, adorando assistir ao espetáculo que era vê-lo sorrir.

*

Eu terminava de organizar as muitas fitas que eu tinha dentro de uma caixa velha e rasgada na lateral. O fim delas era anunciado, mas comigo elas estavam seguras. E as protegeria do mal e da modernidade.

As batidas na porta me fizeram perder o foco.

– Ralph? Tem gente lá fora! – Gritou minha mãe, despreocupada.

Como de costume eu evitei atravessar todos os cômodos e pulei a janela, chegando assim mais rápido ao portão. Já na calçada encontrei Bernardo montado sobre uma Caloi que tinha virado febre naquela época. Ele guiava a bicicleta pela rua em frente à minha casa e contornava um “oito” imaginário. Há dias ele não tinha aparecido, como prometera. Tinham se passado apenas alguns dias, mas eles foram suficientes para me fazer sentir saudades do garoto de olhos tristes e cabelos dourados que fizera aquela sexta-feira valer a pena. Ele vestia um short que acabava no meio de suas coxas e de tão folgado eu conseguia ver através da fenda que fazia entre a pele e o tecido, na região alvinha. Vestia também uma regata que igualmente ficava folgada por causa do seu corpo magro. Não ventava naquele final de tarde, mas os fios se moviam com os movimentos que ele fazia com a cabeça, mantendo seu olhar no meu enquanto pedalava.

– Terei que te alcançar? – Eu gritei.

– Tenta! – Ele me desafiou.

Destemido e motivado, corri na direção dele, que fugiu de mim pedalando em desespero para manter-se distante. A fuga fez Bernardo rir e eu ouvi sua gargalhada. Foi a primeira vez que eu o fiz rir daquele jeito, tão leve e natural. Mesmo que eu forçasse minhas pernas ao máximo que pudesse, jamais acompanharia o garoto. Talvez tomado de culpa ele deu uma volta quando viu que já estava muito longe de mim.

Me reencontrou com um sorriso brincalhão e olhos tão brilhantes que me fizeram perceber o quanto eu já estava gostando dele. Abri minhas pernas, deixei o pneu da frente passar por entre elas e segurei o guidão, me esforçando para manter Bernardo estável sobre a bicicleta. Ele sorria brincando de não colocar os pés no chão. Queria ver até quando eu conseguiria segurá-lo.

– Me Beije! – Eu o ordenei.

– Aqui não.

– Me beije agora! – Eu insisti.

Com cuidado eu vi ele inclinar o tronco para frente e fazer um bico viajar até o encontro do meu. Eu queria um beijo de verdade, daquele que eu recebi na praia, com língua e tudo que ele poderia me dar, mas me contentei com aquele selinho rápido e contido.

– Quer dar uma volta? – Ele me seduziu com seu olhar tão azul feito o próprio final de tarde.

– Só se for para algum lugar onde possamos nos beijar decentemente.

– Que insistência. – Ele riu saindo da bicicleta. – Você me leva!

Prontamente eu tomei posse dela e ele sentou sobre o aro, segurando firme no guidão enquanto eu descia a ladeira suave que era minha rua. Meu cabelo sempre foi cortado muito baixinho, em estilo militar, então eu não tinha como me divertir com o vento que fazia nossas roupas sacolejarem, mas Bernardo tinha. E tinha muito. O cabelo dele dançava ao vento e eu brincava com eles. Por vezes enfiei meu rosto neles ainda prestando atenção ao caminho e senti o cheiro suave do creme que ele usava. Eu senti Bernardo literalmente agarrar meu braço em completo silêncio e aquele abraço durou muito tempo. Algo me dizia que ele estava chorando, mas eu não quis perguntá-lo ou me esforçar para ver seu rosto. Deixei que ele curtisse aquele instante, que poderia ser tudo que ele tinha. E no fundo eu sabia que era.

Nós dois não tínhamos combinado para onde íamos e deixamos nosso corpo nos levar. Por instinto e talvez por ela ser a única diversão naquela cidade para dois garotos de 17 e 20 anos, chegamos na praia. Porém a parte mais isolada dela. O lado dela que escolhemos possuía extensas faixas de areias sem banhistas ou caminhantes e ainda havia um capim alto, onde quase sempre servia de esconderijo para os garotos que queria fumar um baseado sem ser incomodados.

Eu continuei de pé quando Bernardo sentou-se e brincou quase escondido entre a vegetação mais alta. Os últimos raios solares daquele dia atravessavam a fina camada verde e chegavam ao rosto dele, colorindo sua pele com um dourado tão ou mais intenso que seu próprio cabelo. Eu soube, naquele instante, que jamais poderia deixar aquele garoto escapar entre meus dedos. Aquela era visão mais bonita que eu teria o prazer de assistir em toda minha vida. Eu me tornei devoto daquela beleza naquele segundo iluminado. Todas as coisas que vêem com o gostar seriam para mim as melhores consequências da vida, eu pensei sozinho.

O olhar dele me dizia que eu estava permitido em avançar os níveis e assim eu fiz: me aproximei com gentileza, abrindo caminho entre a vegetação e alcancei primeiro os joelhos erguidos dele. Ele abriu as pernas para mim, ainda permissivo. Eu me abaixei e beijei a dobra tão quente e macia daquele joelho, deixei também alguns beijos no começo da coxa e fui logo deitando sobre seu ele, que recebeu meu corpo e eu adorei finalmente desfrutar de maior intimidade. Ainda carinhoso, eu fiz com que minhas mãos fossem parar na cintura magra e desenhada de Bernardo. Eu já conseguia ouvir a respiração pesada dele que por pouco não viravam gemidos. Ele sorriu um pouco sem jeito quando eu fiquei olhando fixamente para os seus olhos, mas desfiz o constrangimento com um beijo calmo. O momento não pedia pressa e entendíamos isso.

Eu continuei ali sobre o corpo que tão bem me recebia. Eu toquei, explorei, senti e amei cada centímetro de pele que ele me entregou. Quando eu levantei o cós do short e enfiei minha mão na quentura daquela região, ele finalmente gemeu para mim e eu quis gravar aquele som numa das minhas fitas, como fazia com minhas músicas preferidas. As músicas sagradas. Desajeitado, mas ainda assim excitante, ele fez o mesmo e tocou o tecido já esticado da minha cueca. Eu precisei erguer um pouco o quadril para que pudesses continuar nos tocando. Eu invadi a cueca dele e segurei seu membro pequeno, mas totalmente endurecido, e ele fez o mesmo com o meu. Foi minha vez de gemer e pelo visto ele adorou, pois o beijo tomou outro ritmo. Eu fiz leves movimentos como se penetrasse algo, mas na verdade só arrastava meu membro pelos dedos dele. Ele me arrancou outros gemidos quando diminuiu a espessura daquela fenda que criara para o meu masturbar e eu continuei massageando Bernardo com maior intensidade. Eu sabia que ele não me deixaria fazer nada além daquilo e por isso eu permiti que aquela masturbação nos levasse ao gozo e quando ele finalmente aconteceu, tomou o posto de melhor gozada da minha vida. Eu não tive tempo de colocar para fora e explodi dentro do meu short mesmo, melando minha cueca e os dedos fininhos de Bernardo. Ele gozou da mesma forma, melando sua cueca e minha mão. Após o gozo e os gemidos que saíram mais altos e descontrolados, eu caí sobre ele que ainda me oferecia um último suspiro pesado. Talvez aquela fosse a primeira vez dele. Seu corpo e a forma como ele continuou me examinando disseram isso. Eu sorri quando ele brincou com a sensibilidade da minha glande exposta.

– Não faz isso, cacete!

– Desculpa. Eu... Eu...

– Não é bronca, Bê.

– Bê? – Ele riu, guardando nossos membros.

– É, Bê. Não é bonitinho?

–É um apelido muito bonitinho para alguém triste demais. – Ele foi sincero.

– É exatamente por isso que combina com você. A dualidade lembra? Agora temos que tentar limpar pelo menos um pouco dessa meleca toda que fizemos.

– Eu gostei – ele confessou, risonho.

– Só gozando que você irá rir desse jeito?

E em vez de ameaçar me bater, como eu imaginei, ele gargalhou e me puxou outra vez para o seu corpo, me acomodando entre as coxas magras, mas macias.

*

Eu vi o garçom se aproximar com duas garrafinhas de coca-cola e deixá-las sobre a mesa. De imediato Bernardo não ligou para aquilo e agradeceu ao garçom, mas logo ele viu do que se tratava e seu sorriso foi tão largo que cabia o mundo inteiro ali.

A garrafa de silhueta curvilínea não era igual a que bebíamos quando meninos, mas muito lembrava. Ele tomou um gole, divertindo-se com aquilo, e depois ficou pensativo enquanto passava o dedo pela silhueta, fazendo escorrer uma gotinha que ficou presa entre o fundo da garrafa e a madeira.

– Você não esqueceu de nada, né?

– Esquecer algum detalhe sobre você, é esquecer qualquer coisa sobre mim mesmo, Bê. Não sei se você percebeu, mas se eu ainda moro em mim, você também mora.

.

.

Oi você! E aí, como está a leitura? Ainda está tudo claro? Ninguém se perdeu não, né? Ainda bem. Segue o tio! haha

VALTERSÓ, acompanhei seus comentários e sim, esse é bem romântico. Na verdade isso aqui é um romance adolescente e adulto ao mesmo tempo, até porque acontecem em duas épocas, né? Espero que esteja gostando mesmo. ;)

Jonh, amou? Já estou feliz. Pois acompanhe mesmo. O clima pode pesar um pouquinho logo mais. Fique aí!

Todos os abraços do mundo pros leitores escondidinhos. Gosto de vocês também. :)

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Comentários

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Plutão, que ótimo vê-lo sacar a minha ideia ao escolher esse título. Obrigado por tratar meu conto com tanto cuidado.

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Adoro estes contos com flashback. Estou gostando. Só comentei agora em virtude de teu comentário num texto anterior. Creio na paarte 4 já seja apropriado comentar. Um abraço carinhoso,

Plutão

P.S.: A propósito, o título está bem adaptado ao conto, pois parece que ele será "sem tempo" determinado.

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Uau . Me senti com eles em todas situaçoes ,muito bem escrito

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REALMENTE, CHEGA A SER ATÉ PUERIL. MAS É ENCANTADOR. ADORO A FORMA COM ESTÁ SENDO ESCRITO. BEM DIFERENTE DOS HABITUAIS CONTOS AQUI DA CDC.

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