Eu deveria estar triste, com raiva, ou até mesmo assustado. Mas não estava. Não conseguia.
Meus pais haviam acabado de me deixar no Colégio Interativo. Sim, me deixaram - LITERALMENTE - na porta da escola e partiram sem olhar pra trás. Pode parecer frio pra voces mas eu já estava acostumado. Era a forma deles de dizer 'Te amamos'.
Peguei minhas coisas e com certa dificuldade, caminhei até o prédio mais próximo.
O Colégio Interativo era um dos melhores internatos do país, um dos mais caros também.
A idéia de me "internar" foi da minha mãe. Eles eram diplomatas e viajavam bastante. Não queriam me deixar sozinho, daí essa idéia surgiu.
Pensei um pouco sobre isso, mas no final acabei aceitando.
Entrei no que parecia ser o predio principal e me dirigi a uma senhora sentada atrás de uma mesa.
- Olá - sorri da melhor forma possível - Sou novato ...
- Vitor?! Vitor Ramos - disse ela me surpreendendo - Seja bem vindo.
Ela se levantou, talvez um pouco alegre demais e me comprimentou.
- Meu nome é Luci. - ela olhou em volta - Cadê seus pais ...?
Sorri pra ela.
- Diplomatas ...
Ela assentiu.
- -
Luci era mais divertida do que eu imaginava. Me mostrava a escola, enquanto me contava algumas curiosidades - fofocas -.
O Interativo era muito moderno. Tetos solares, paredes de vidro e tecnologia por toda parte.
- Vou leva-lo até seu quarto - disse ela andando rapidamente pelos corredores. Agradeci mentalmente, porque minhas malas já estavam pesadas.
Entramos na parte que parecia ser só de dormitórios. Esqueci de mencionar que era um colégio de meninos. Ainda não saberia dizer se isso era bom ou ruim.
- Aqui - disse ela - Quarto número 63.
Ela abriu a porta e entramos.
O quarto era amplo. Havia uma janela enorme que dava para o Campo /quadra. Haviam escrivaninhas, guarda roupa e duas camas. Duas?
Olhei para a Luci.
- Pedro diga olá para o seu colega de quarto - disse ela para o menino na extremidade do quarto.
Não havia o visto.
- Olá - disse ele me encarando.
- Oi - sorri surpreso ao descobrir que dividiria o quarto com alguém.
- Bom, vou deixa-los sozinhos - disse Luci saindo.
Tive um mini ataque de panico ao perceber que havia sido deixado Ali sozinho pelos meus pais.
- Qual seu nome? - perguntou Pedro, meu colega de quarto.
- Vitor - Falei andando pelo quarto.
Havia um pequeno banheiro a esquerda.
- Tem quantos anos?
- 17 e voce?
- Também.
Ele se levantou e foi até a janela.
Enquanto eu colocava minhas coisas em cima da cama, Pedro continuava debruçado sobre a janela.
Fui até ele e também me debruçei.
A vista era linda com uma enorme visão do Campo.
Haviam alguns garotos correndo de um lado para o outro, suados e parecendo exaustos.
- O professor Barros não tem pena dos alunos - Pedro me olhou.
Percebi que ele tinha grandes olhos negros. Ele era muito branco, igual a mim.
- Detesto educação fisica - Falei observando os garotos no Campo.
- Eu também - disse ele - Geralmente digo que estou passando mal - ele riu.
Também sorri.
- Vou dizer a mesma coisa.
Pedro voltou a observar os garotos.
Percebi que seus olhos não saíam de um garoto. Não sabia dizer qual deles.
- Qual deles? - perguntei curioso.
Pedro me olhou, sorriu e mordeu os lábios.
- Nenhum - disse ele - Só observo.
- Sei ... - Sorri.
- Muitos deles não são tão legais quanto parecem - ele saiu da janela.
- Sério? - perguntei.
Bom, tive aquela resposta minutos depois.
*****
Pedro andava comigo pelo campus da escola, me mostrando lugares possivelmente perigosos a noite, e lugares para onde eu deveria ir se quisesse ficar sozinho.
Estávamos próximos ao prédio da biblioteca quando um grupo de garotos passou por nós.
- Pedro! - um deles gritou.
Pedro se virou lentamente e cruzou os braços.
Percebi que eram os garotos que estavam no campo mais cedo.
- Quanto tempo moça, está sumida! - ele falava com uma certa ironia.
Ele era negro e alto, como os outros. Até que bonito, porém babaca.
- Digo o mesmo - disse ele.
- Tá com uma amiga nova? - perguntou olhando pra mim.
Seus amigos deram uma risadinha.
- É sério isso? - perguntei olhando pro Pedro e depois olhando pra eles.
- Eu disse que eles não eram tão legais quanto parecia ...
- É claro que somos, moças. - ele se aproximou - Vocês nem imaginam...
- Nem quero - Falei - Geralmente não lido com criança.
Sim, Falei meio sem pensar e sim, tive medo de apanhar.
Ele pareceu surpreso com o que eu havia dito e sorriu.
- Olha, corajosa - Se aproximou - Deveria ter medo...
- De vocês? - sorri - Jamais - menti
Olhei para o grupinho atrás dele que tinha umas 7 pessoas.
- Se liga aqui muleque - ele se aproximou tanto que pude sentir seu cheiro de suor - Toma cuidado.
- Fica calmo Dog - um de seus amigos o puxou, afastando-o de mim.
Esse amigo me observava, surpreso ao ver minha coragem ao falar com seu amigo "Dog".
- Porque simplesmente vocês não vão tomar um banho? - perguntou Pedro me puxando para longe deles - O cheiro não está nada agradável ...
***
O dia amanheceu e eu teria aula de filosofia em alguns minutos. Pra minha tristeza, Pedro não estava na minha turma.
- Ve se não se mete em confusao - disse ele ao sair se referindo ao que havia dito na noite passada antes de dormirmos. "Não sabia que você gostava de afrontar as pessoas" disse ele.
***
Não foi - tão - difícil achar minha turma de literatura.
A sala não estava cheia. Deviam ter uns 10 alunos, além de mim.
Os garotos estavam espalhados pela sala, e muitos conversavam.
Quando entrei, todos olharam para mim. Meu rosto deve ter ficado vermelho, porque queimava.
Escolhi um lugar perto da janela, na segunda fileira. Todos os olhos se desviaram de mim e voltaram para as suas conversas.
Finalmente o professor chegou e deu uma rápida olhada pra mim. Mexeu em alguns de seus pertences.
- Vitor, não é?! - perguntou ele.
Assenti.
- Seja bem vindo - disse ele - Sou Otávio, prazer. Espero que a turma receba-o bem.
Sorri, agradecendo-o
Eu estava calmo, apesar de nao conhecer ninguém. Literatura era uma matéria que eu amava, por isso a havia escolhido, já que não era obrigatória.
- Vamos falar sobre Romeu & Julieta - disse ele dando início a aula.
***
Tudo correu tranquilamente, e finalmente a aula acabou. Peguei todas as minhas coisas e as coloquei na mochila. Saí da sala meio perdido, e decidi ir pelo caminho oposto a fim de conhecer melhor a escola.
A aula do Pedro acabaria em alguns minutos, então teria algum tempo até encontra-lo.
Achei em um corredor, uma máquina de refrigerante.
Procurei dentro da mochila uma moeda, coloquei-a dentro da máquina e esperei meu refrigerante descer.
Fiquei alguns segundos olhando pra maquina de refrigerante quando percebi que ele nao ia descer.
- Droga - Falei procurando outra moeda.
- Bom, ela vai acabar com suas moedas - disse uma voz surgindo ao meu lado.
Com as mãos na mochila e a boca aberta o observando, devo ter parecido um idiota.
- Tenho uma dica pra voce - disse ele batendo na lateral da maquina de cafe, e depois dando leves soquinhos. Em 5 segundos a Lata de refrigerante caiu.
- Ah, obrigado - Falei pegando a Lata da sua mão.
Ele sorriu e me olhou por alguns segundos. Ele era bonito. Muito bonito, na verdade.
Um pouco mais alto que eu (a maioria era mais alta que eu) e moreno. Ele tinha covinhas.
- Vitor, não é?! - assenti - Eu estou na turma de filosofia - disse - Se lembra de mim?
Olhei pra ele. Era difícil esquecer aquele rosto.
- Não - Falei sendo sincero.
Ele riu.
- Tá certo, acontece - pausa - Lucas - estendeu a mão - Prazer.
O comprimentei. Lucas tinha a mão fria, porém firme e grande.
- Você é novo, não é?
Percebi que ele gostava de falar.
- Sou - Falei - Cheguei ontem.
- E está gostando?
Começamos a andar pelo corredor repleto de rapazes.
Olhei pra ele e sorri. Eu não sabia mentir.
- Está odiando, não é?! - ele riu. Era uma risada sincera e gostosa.
- Não, não é isso - falei - É que ... É diferente.
- Você vai se acostumar - disse ele.
- E aí Lucas! - disse um garoto enorme o comprimentando.
Lucas deu três tapinhas em suas costas.
- Opa Lucas, tudo certo cara? - outro garoto o comprimentou.
- Certo, Felipe e aí?
- Tudo bem cara - disse saindo.
Olhei pra ele.
- Não sabia que estava conversando com uma celebridade - Falei.
Ele sorriu.
- Não sou tão famoso assim - disse passando as mãos pelos cabelos - Bom, só um pouco ... - riu - Brincadeira. É o que o esporte faz.
- Futebol?
Ele assentiu.
Me lembrei dos garotos de ontem. Me lembrei do "Dog". Será que ele era amigo daquele idiota?
- Você joga?
Quase ri na cara dele.
- Não - sorri.
- Nada?
- Nada - afirmei.
- Posso te ensinar, se quiser.
- Acho melhor não ...
Ele parou, na minha frente.
- Você não deve ser tão ruim assim ... É pequeno, deve correr bastante ...
- Bom, era o que basicamente eu iria fazer ...
Ele gargalhou.
- Você é engraçado - Falou.
- Ei, Lucasgaroto se aproximou dele e olhou pra mim.
Eu o reconheci. Era um dos amigo do Dog. O que havia puxado Dog antes de eu possivelmente levar um soco.
Ele me olhava sério, enquanto Lucas nos observava.
- Fala Vini - Lucas bateu em seu ombro.
- É ... - olhou para o Lucas - Sobre o jogo.
- Pode falar - disse ele olhando pra mim, depois pro Vinicius.
- Na verdade é uma reunião. Os caras estão na frente do Campo te esperando.
- Vamos? - perguntou Lucas olhando pra mim.
- Oi?! Eu? - sorri - Acho melhor não.
Vinicius ficou visivelmente mais tranquilo.
- Faço questão - disse ele - Te apresento o resto do time.
- Vitor? Tá tudo bem? - Pedro, meu colega de quarto, surgiu ao meu lado.
- Oi Pedro - Lucas o comprimentou.
- Oi Lucas.
Vinicius continuava ali me encarando. Ele tinha uma barba rala e uma feição séria.
- Vitor? - Pedro me olhava preocupado.
- É ... - balbuciei
- Estava chamando ele pra uma reunião do time - Lucas parecia animado ao falar - Vocês deviam ir, não é Vini?
Vinicius arregalou os olhos.
Pedro riu.
- Eu acho melhor não, não é Pedro? - Falei tentando me esquivar.
- O que? - Pedro me ancarou - Eu acho ótimo.
Lucas sorriu e eu quase enfartei.
Vinicius continuou com aquela cara de sempre.
- Entao vamos - Lucas foi na frente com Vinicius, enquanto Pedro e eu iamos atrás.
E sim, eu estava nervoso.
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Olá galera. Então, sou novo aqui e espero que gostem. Primeiro capítulo é sempre chato mas acho que vao gostar de história. Comentem por favor, pra eu saber o que acham. Bjs.
