Juliano me fitou calado, apenas concordava com os olhos.
- O Julio dormiu. Qualquer coisa você me liga. - falei em despedida.
- Fica cara. Vai agora não, nós vamos precisar muito de tu aqui. Fica vai.
Juliano abaixou a cabeça, e desatou a chorar. Eu, idem.
Aproximei-me do sofá, e sentei ao lado daquele cara. Apoiei minha mão em sua escapula.
- eu não sei a proporção de uma doença como essa. Na verdade, não entendo nada de muitas doenças, mas a medicina ta bastante avançada.
- quando é pra morrer, não tem medicina que cure, Gabriel.
Os olhos verdes ou azuis - já não conseguia distinguir - estavam tão molhados que brilhavam.
- mas não é pra ele morrer.
- eu não posso perder o meu irmão Gabriel.
Meu rosto queimava, ardia, e ia sendo molhado pelas lágrimas que escorriam dos meus olhos.
- você não vai cara. Vamos ter fé.
Juliano me fitou. Seus olhos vararam os meus.
- eu não sei o que é isso.
Dei um sorriso sem jeito.
- vamos descobrir juntos. Ultimamente ta dando tanta coisa errada pra mim, que acho até que perdi minha fé.
Juliano me deu um sorriso.
- Eu tenho que ir nessa.
- precisa mesmo?
Confirmei com a cabeça.
- Essa semana tem prova. Preciso dar uma revisada na matéria.
Juliano consentiu.
- vou te deixar em casa. - disse ele se levantando, e apanhando a chave do carro, que estava sobre a mesinha de centro.
- não cara. Vou pegar um táxi. Tem que ter alguém ao lado do Júlio César pra quando ele acordar.
Juliano assentiu.
- me passa teu número. - disse ele mexendo no celular.
- anota aí. - falei.
Despedi-me do Juliano, peguei um táxi, e fui pra casa.
Sentia-me tão cansado. Era como se eu tivesse carregado cinquenta sacos de cimento.
Tomei um banho, jantei e tentei estudar, mas não consegui. Deitei, mas o sono não vinha. Pensava em mim, pensava no Fernando, pensava na doença do Júlio. Tava tudo tão carregado.
Impaciente, levantei da cama e fui ao quarto dos meus pais.
- tão acordado? - falei abrindo uma breja na porta.
- o que aconteceu Gabriel? - meu pai tinha a voz cansada. Será que ele estava brincando com minha mãe. Senti um pouco de vergonha ao ter chegado naquele momento.
- eu queria tirar uma dúvida pai. Posso entrar?
- entre. - disse meu pai.
Meus pais acenderam o abajur e sentaram de costas para a cabeceira da cama.
- o que ta acontecendo meu filho? - disse minha mãe.
- doença no coração é grave? - fui direto ao ponto.
- quem ta doente? - minha mãe assustou.
- é um amigo, mãe.
- o Victor?
- a senhora não conhece. Mas é uma doença perigosa?
- depende de muitos fatores Gabriel. - falou meu pai.
- como assim pai?
- não somos médicos pra falar com precisão meu filho. O certo seria ouvir o que um especialista tem a dizer sobre o assunto. - disse meu pai.
Minha mãe respirou fundo.
- na moiraria dos casos é grave sim, mas é como teu pai mesmo falou.
- O Alberto ainda ta trabalhando? - meu pai perguntou pra minha mãe.
- eu não sei, faz tempo que não vejo ninguém da família do Alberto. - respondeu minha mãe.
- pegue meu celular Gabriel.
- aonde ta? - perguntei.
- no bolso do meu paletó. - ele apontou com o dedo.
Fui ate a roupa do meu pai, e tirei o celular de dentro.
Meu pai fez uma ligação, e começou a falar com alguém que eu julguei ser esse tal de Alberto. Enquanto isso, deitei no colo da minha mãe, e fiquei recebendo um cafuné.
- pronto. - disse meu pai desligando o celular. - O Alberto vai ta atendendo no hospital do idoso amanha.
- quem é esse Alberto, pai?
- é um amigo nosso meu filho. Inclusive ele tem um filho que estuda na sua sala. - disse minha mãe.
- sério? Quem é?
- O André. - disse ela.
- Não falo muito com ele não, mas como vocês sabem que o André estuda na minha sala?
- Por que ele ele estava no dia da pescaria. - disse meu pai.
- na casa do pai do Kadu?
- isso.
- verdade. Lembro de ter visto ele lá. Mas não sei quem é o pai dele.
- se você quiser podemos ir até o hospital amanha e conversar com ele.
- mas como ele vai ajudar a gente?
- simplesmente, ele é o melhor cardiologista da cidade. - meu pai sorriu.
- se ele não entender do assunto é melhor rasgar o diploma. - completou minha mãe.
Sorri.
- eu quero ir sim pai. Que horas?
- horário do meu almoço. Amanhã vai ser corrido.
- pode ser. É bom que não perco aula, nem trabalho.
Meu pai concordou.
Voltei para o meu quarto e caí no sono. No dia seguinte, fui à faculdade, com ansiedade em poder falar com o tal médico.
Cheguei ao refeitório, e montei um café da manhã no capricho.
- tava amarrado? - disse Victor chegando de supetão.
- muita fome. Senta aí. - falei.
- vou pegar algo pra comer e já volto.
De boca cheia, eu apenas confirmei com a cabeça.
Victor montou seu café, e sentou a meu lado.
- a gente quase não se cruza mais. - disse ele comendo uma fatia do misto quente.
- esses dias ta passando ligeiro. To conseguindo nem dormir direito.
- por que?
- muita correria. Estamos na semana de prova, e eu prevejo que vou tomar bomba.
- ruim você tomar bomba, é muito inteligente pra isso.
- no ensino médio poderia ate ser mano, mas aqui a coisa é mais complicada.
- claro mano. Aqui é superior caralho. - Victor sorriu.
- to pensando em trancar cara.
- num é doido. Te dou uma pisa de pica de boi.
- é serio vei. Muita coisa pra pouco tempo.
- então desiste do trabalho pô, e do futebol, mas da faculdade jamais. Sabe quantas pessoas querem a tua vaga?
- quantas?
- sei lá.
Rimos.
- mas muitas, pode apostar. - Victor completou.
- Acho que tu tem razão.
- sempre tenho. - Victor riu. - Mudando de assunto, hoje eu vou levar a Amanda no médico.
- ela ta doente? - perguntei tomando um gole do meu café.
- não mano, vamos descobrir o sexo do bebe.
- eita porra. Tu deve não ta se aguentando hen!?
- morrendo de curiosidade mano.
- vai ser uma menina mano. Já to ate vendo tu andando com ela no shopping, e ela torrando todo teu dinheiro. - Sorri.
- vai ser um meninão. Vou levar ele pra assistir o jogo do mengão.
- é mano, quem tem dinheiro é outra coisa. - Sorri.
- até parece mano. Sua família é bem de vida.
- mas é deles mano. Quero o que é meu.
- então trabalha vagabundo.
- e o que eu to fazendo seu viado? Trabalho, estudo... E ainda faço bicos.
- é o que? Que parada é essa de bicos?
- um cliente de Sampa ta aqui na cidade. Ele ta me pagando uma graninha pra poder mostrar o que tem de bom por aqui.
- olha. Tu ta explorando o cara, safado.
- nada mano, se ele pode pagar, qual o problema?
Victor sorriu.
- mudando de assunto mais uma vez, tenho uma boa noticia pra ti.
- manda. Tô precisando de boas notícias.
- teu Deus chegou.
Eu fiquei sem graça. Sabia que ele se referia ao ao Fernando.
- ainda ta nessa mano?
- eu não, você. - disse Victor.
- já desencanei ha muito tempo.
- será?
- claro. - falei comendo uma maçã.
- não sei porque você tenta me enganar mano. Só quero o seu bem.
- tamo atrasados pro primeiro horário mano, bora nessa? - tentei evitar o rumo daquela prosa.
- vai indo. Vou comer mais um pouco.
- beleza. Quando confirmar que vai ser uma menina, me avisa.
- vai ser macho. - ele resmungou.
Despedi-me de Victor, e fui para sala. Assim que acabou a aula, me encontrei com Danilo no estacionamento.
- Vai comigo?
- to esperando o pai. Vamos ter que dar uma saída.
- então a gente se ver a noite.
- beleza.
- falou primo. - disse ele entrando no carro.
- falou brow.
Meu primo partiu, e fui ate o restaurante universitário, comer alguma coisa.
- tava de procurando. - disse o Beto pegando uma bandeja.
- o que você manda?
- você acha que rola de a gente treinar hoje a noite?
- pode ser cara.
- de rocha?
- na moral. Depois do trabalho, venho direto pra cá.
- aonde tu trabalha?
- quer ir la comprar alguma coisa? - tirei onda.
- vou te buscar quando tu sair. Não confio que tu venha.
- eu venho mano. Te dou minha palavra.
Montamos nossas bandejas, e sentamos um de frente para o outro.
- eu confio, mas ainda prefiro garantir.
- como você preferir mano. Bom apetite. - falei começando a comer.
- bom apetite. - disse ele colocando uma colher de comida na boca.
Assim que meu pai, e eu entramos na sala do médico, me deu logo um mal estar. Estava ansioso pra falar com ele, mas ao mesmo tempo, tinha medo de ouvir algo que não me agradasse.
- tudo bom Alberto? - disse meu pai.
- quanto tempo meu amigo. Como tens passado? - disse o médico.
- graças a Deus que não estamos precisando de um médico. - meu pai fez piada.
- e nem eu de advogado.
Rimos.
- lembra do meu filho?
- lembro sim. Ta um rapaizão hen!?
- maceta mesmo. Ele ta querendo tirar algumas dúvidas com você.
- pode tirar.
Olhei para o meu pai, e em seguida pra o doutor.
- ta com medo de perguntar? - o médico sorriu.
- eu não sei por onde começar.
- pergunte o que você me perguntou ontem. - disse o meu pai.
O médico me fitou, e eu fui falando aos poucos.
- é que eu tenho um amigo que descobriu um problema no coração...
O homem ouvia atentamente.
Saí daquela sala pior que entrei. O médico foi sincero ao extremo, porém disse que precisaria avaliar o Julio para saber qual era o problema que ele tinha.
Meu pai ficou conversando com o dr Alberto, e eu fui tirar água do joelho. Quando passava por um corredor que dava acesso ao hospital do câncer, eu vi uma pessoa familiar.
Puxei na memória, e consegui lembrar de onde conhecia aquela senhora. Era a mãe do Junior, tinha visto poucas vezes, e por isso não consegui recordar de imediato do seu rosto.
Uma moça toda de branco empurrava ela em uma cadeira de rodas.
O Junior não estava por perto, então resolvi me aproximar daquela senhora.
- oi. A senhora lembra de mim? - falei puxando assunto.
Ela me olhou e sorriu. Notei que ela estava sem dentes.
- oi. - sua voz saiu carregada.
- o que a senhora tem? - perguntei.
A mulher olhou para enfermeira, e sua feição mudou.
- ela tem câncer. - disse a enfermeira.
A senhora confirmou com a cabeça.
- nossa... Eu sinto muito.
- estou fazendo tratamento. - disse ela.
- eu posso ajudar em alguma coisa? - falei sincero.
- não meu filho. Só Deus pode me ajudar.
- posso orar pela senhora então.
A senhoria sorriu. A primeira vez que vi aquela mulher, a achei muito abatida, mas pensei que fosse apenas pela morte do marido.
Agora eu me sentia culpado duplamente.
A enfermeira entrou com a mãe do Junior em uma sala, e por um instante eu fiquei pensando qual valor tem uma vida.
Meu pai me deixou no trabalho, e aquela tarde foi longa. Eu não parava de pensar no Julio, e agora também na mãe do Junior.
Quando terminou meu expediente, o Beto me esperava.
- veio mesmo hen!? - falei subindo em sua triton.
- não acreditou que eu viesse? - disse ele dando a partida.
- pra falar a verdade não. É uma viagem longa né!?
- por isso mesmo. Tu poderia se perder pelo meio do caminho. - disse ele rindo.
- mas eu ia cara, só demoraria um pouco mais a chegar. - sorri.
- não gostou de eu ter vindo te pegar? Olha só o tamanho da viagem que eu te livrei.
- gostei sim pô, tô reclamando não. Se quiser vir todo dia, num fique acanhado não. - sorri.
Troquei de roupa, calcei a chuteira, e fui para o aquecimento.
Beto já passava algumas instruções aos outros jogadores.
- o que eu faço Beto? - perguntei.
Beto colocou a mão no queixo.
- da umas três voltas no campo, e depois vamos fazer um treino sem bolas.
- beleza.
Como os outros já haviam feito o aquecimento, eu acabei correndo sozinho.
- terminei Beto. Jogo agora? - perguntei.
- ainda não. Quero fazer um treinamento especifico contigo.
Consenti.
Beto usou metade do campo para treinarmos, e na outra metade, o professor instruía o restante do time.
- vou colocar uns cones intercalados, e quero que você ultrapasse eles. ok?
- beleza.
E assim foi feito.
- muito bom. Vou acrescentar mais cones, e quero que você repita o mesmo movimento. Dessa vez com bola.
- certo.
- isso aí Gabriel. - Beto me acompanhava, e me incentivava.
Fizemos vários exercícios antes do coletivo.
Quando terminou o treino, eu estava destruído.
- caralho mano, hoje você acabou comigo.
- isso é só o começo. - Beto piscou e entrou em uma das cabines do vestiário.
Após o banho, saímos do vestiário, apenas Beto e eu.
- mano, queria pedir um favor.
- fala. - disse Beto.
- tô com vergonha velho.
Beto riu.
- vergonha de mim?
- vergonha de pedir o favor.
- é algo tão constrangedor assim? - Beto me fitou.
- nem tanto cara, é que queria uma carona, e tenho medo de ta sendo muito escorão.
- só a carona?
- é. Tô sem carro hoje.
- tranquilo. Achei que fosse outra coisa.
- o que tu achou que fosse?
- não... Nada. Deixa pra lá. - Beto falou de forma estranha, como se esperasse que eu fosse pedir outra coisa.
O capitão do time me deixou na casa do Julio.
- podemos marcar outro treino pra essa semana? - disse ele parando o carro.
- podemos sim cara. O jogo é nesse final de semana né!?
- isso.
- pode marcar sim, vou sacanear com o time não.
- posso pegar pesado? - Beto riu.
- pode sim velho. Não sou de ''arregar'' não. - Dessa vez, eu que sorri.
- olha lá hen!? Vamos ver se você vai da conta pra o que eu tenho preparado pra você.
Fiquei meio sem graça. Não sei se Beto falava com duplo sentido, ou se era coisa da minha cabeça.
- rapaz mano, se o time todo aguentar, eu não vou cair fora. - Sorri, e tentei agir com naturalidade. - Deixa eu ir nessa, a gente vai se falando.
- beleza. - disse ele me cumprimentando.
Desci do carro, e toquei a campainha da casa do Julio. O carro do Beto ficou parado, com o vidro da janela abaixado.
Juan veio abrir o portão principal, e só então Beto deu partida no carro.
- boa noite Juan.
- ola Gabriel. - disse ele.
Juan usava uma cueca samba canção. Acho que o cara já estava se preparando para dormir.
- eu posso entrar?
- claro.
O cara fechou o portão, e caminhamos pelo pequeno trajeto de cimento.
Juliano estava deitado no sofá da sala. Aparentemente já dormia.
- o Julio Cesar já ta dormindo? - perguntei num tom de voz baixo.
- já sim, mas a gente acorda ele.
- não velho, precisa não.
- ele vai gostar de te ver. - disse Juliano levantando do sofá, e se espreguiçando.
- mas ele não vai ficar chateado se for acordado?
- nada, ele vai é curtir saber que você veio.
Juliano caminhou ate a escada, e eu o acompanhei.
- eu não avisei que viria, porque achei que estariam acordados. - falei enquanto subíamos as escadas.
- a gente não é de dormir cedo não, só que como não tem nada pra fazer a preguiça acaba imperando. - Juliano sorriu.
Reparei, que da mesma forma que Juan, Juliano também usava uma samba canção. Senti-me um pouco invasivo em chegar sem comunicar.
Juliano abriu a porta do quarto lentamente, e para nossa surpresa Julio Cesar já estava acordado. O cara ria de um programa que passava na tv.
- Gabriel? - disse ele com um controle remoto nas mãos.
- e aí Julio. Vim ver como tu ta. - sorri.
- levando. - disse ele.
Coloquei minha mochila do chão do quarto.
- ta cansado? - aproximei-me da cama.
- de não fazer nada. - sorriu - Fui na obra dar uma fiscalizada, mas a maior parte do dia eu passei em casa.
- então acho que tu não vai negar meu convite.
- já aceitei.
- uai. Cê não sabe nem que convite é.
- e se for pra ir pro inferno? - Juliano riu.
- né isso!? - sorri.
- confio no Gabriel, e sei que deve ser coisa boa. - Julio já foi levantando.
- ou não. - sorri. - Hoje tem rodizio de massas em uma pizzaria aqui da cidade, pensei que talvez vocês quisessem dar uma passada lá.
- massas rima com vinho. - disse Juliano.
- eu adoro massas. Vamos sim. - disse Julio Cesar.
- o convite é pra todos, ou exclusivo pra nosso doente? - Juliano passava as mãos no cabelo do queixo, e me olhava com desconfiança.
- pra todos. - sorri. - e é por minha conta.
- opa, 0800 é comigo mesmo. Vou só me arrumar.
- eu espero. - falei sorrindo.
Juliano foi o primeiro a sair do quarto.
- vou aguardar la na sala. - falei ao Julio Cesar.
- ta com medo de me ver pelado?
- hã!?
- relaxa! Eu vou trocar de roupa no banheiro, assiste aí. - Julio me passou o controle remoto.
Julio entrou no banheiro, e eu sentei em sua cama. O seu cheio estava estampado nos tecidos da cama, aquele cheiro lembrava o de Fernando.
- Fernando, Fernando, por que você não sai da minha cabeça? - escorei a cabeça na cabeceira da cama, e senti uma lágrima escorrer.
Eu queria que alguém me explicasse qual a diferença entre paixão, amor e loucura. Queria entender o que era aquilo que eu sentia pelo Fernando. Por que aquilo me fazia tão mal, e ardia tanto dentro do meu peito. Viver sem o Fernando era igual a não viver. Quanto mais eu pensava, mais saudade eu sentia, no entanto não pensar nele era tão impossível como esquecer de respirar.
Chegamos na pizzaria, e o local estava animado.
- acho que hoje eu vim mais a caráter. - Julio Cesar sorriu.
- e eu vim parecendo um mendigo. Passei o dia com essa roupa. - sorri.
- ta um mendigo engraçadinho. Eu te adotaria - disse Julio sentando ao meu lado.
- O que vai ser? - disse Juan.
- massa. - falei inocente.
Todos riram.
- o que falei de errado? - olhei para eles sem conseguir entender.
- nada não Gabriel. - Julio Cesar sorriu.
Fiquei desconfiado.
Os garçons começaram a passar com diferentes sabores de pizza. O Juliano batia colocado, já Julio era mais contido.
Uma dupla sertaneja começou a tocar umas músicas, animando ainda mais o ambiente.
Já passava das dez, quando eu vi a pior imagem da minha vida: Fernando entrou acompanhado de uma garota. O cara pousou os olhos em mim, e pareceu não se importar em ter sido visto.
Cortei uma fatia da pizza, mas não consegui leva-la a boca. A visão do Fernando ficou congelada em minha mente, e me travou completamente.
Eu queria sair dali, eu queria encontrar um lugar pra respirar.
Julio olhou para mim, e em seguida para a mesa do Fernando.
- não é só uma simples amizade né!? - perguntou ele.
- que!?
- você e o rapaz da outra mesa. São mais que amigos né!?
Olhei para Julio, depois para Fernando, e uma lágrima teimosa acabou caindo.
Continua...