- Fernando? - falei espantado.
- podemos conversar, Gabriel?
Olhei para o volante, e em seguida para o Fernando.
- não cara. Nós não temos nada pra conversar.
- mas eu preciso conversar com você. Desce do carro, por favor.
- Fernando...
- por favor Gabriel.
Fernando tinha o olhar sereno. Desliguei o motor, tirei o cinto e desci.
- obrigado. - disse ele.
Minhas mãos suavam.
- você ta precisando de grana?
- ta querendo me ofender novamente?
- não! Não é isso... O Victor comentou que você ta trabalhando muito, inclusive ta sendo guia turístico. Precisando de grana, fala comigo cara. Não tenho muito, mas posso ajudar.
- o Victor te falou é?
- sim!
- eu tentei te falar isso cara, e você não quis me ouvir.
- mas eu estava vendo outra coisa Gabriel. Vi você saindo com o cara, e quando chega vem com dinheiro. O que tu pensaria se estivesse no meu lugar?
- No mínimo te ouviria, e não importa o que você viu cara, deveria ter me dado uma chance para explicar tudo.
- eu sei, eu errei, mas agora to aqui pra ouvir de você.
- mentira! Se o Victor não fala, você jamais estaria aqui.
Fernando respirou fundo.
- você acreditaria em mim, se me visse em uma atitude suspeita?
- eu ao menos te ouviria Fernando. Sabe porque? Eu gosto de você cara... Gosto tanto que jamais deixaria algo estragar nosso lance.
- então me da uma chance Gabriel. Me da mais essa chance, e vamos viver nosso lance.
- que lance Fernando? Não existe lance nenhum cara, eu fui o único bobo da historia. Você só se aproveitou do fato de eu gostar de você.
- assim você me ofende moleque. Você não faz ideia do quanto eu gosto de você.
- balela. Você nunca gostou de mim.
- você não me conhece pra falar isso. Você não pode desconsiderar meus sentimentos.
- você é um cara bacana Fernando, têm bons sentimentos, mas é hétero cara. Você me comeria quantas vezes fossem necessárias só por necessidade. Segue teu caminho que eu vou seguir o meu.
- tu é muito filho de uma puta Gabriel. - Fernando esbravejou. - Entrou no meu caminho, bagunçou a minha vida, fez uma lavagem no meu cérebro, e agora que eu assumo meu amor, você quer pular fora?
- amor por quem? Você não me ama cara, nunca me amor.
- a troco do que eu estou aqui então?
- sei lá cara. Talvez quer me conquistar pra me ter nas mãos outra vez, e ter sexo quando for conveniente.
- se eu quisesse te ter apenas pra sexo, não me importaria de ver você com outros caras. - disse triste.
- e você não se importa, apenas quer ter total controle sobre mim.
- você não sabe o que quer Gabriel. Diz que gosta de mim, mas é tudo da boca pra fora. Quem não sabe amar aqui é você. Me usou, matou tua curiosidade e agora ta me jogando fora.
- claro que eu te amo cara, nunca deixei de te amar.
- então porque não me perdoa? Prova que me ama Gabriel, me perdoa cara, eu sou um ser humano como outro qualquer. - Fernando chorava.
- e aquela mulher?
- que mulher?
- que tava com você na pizzaria.
- aquela mulher é minha tia. - disse num risso contido. - Ela ta passando um tempo aqui na cidade.
- o Victor comentou comigo, mas...
- é o que? Eu não entendi... O Victor comentou?
- sim.
- e se o Victor não comentasse que é minha tia, você iria pensar o que de mim?
- eu não... Não sei cara, talvez um namoro...
- namoro antigo ou recente?
- aonde você quer chegar?
- antigo ou recente, Gabriel? - ele insistiu.
- antigo... talvez recente. Eu não sei.
- você acha que eu namoraria outra pessoa estando contigo?
Eu fiquei calado.
- responde Gabriel.
- sim... Eu acho que sim.
- eu te perdoo por pensar essa maldade de mim. Você me perdoa por eu ter pensado aquela maldade de você?
- O que!? Você ta querendo inverter as coisas.
- Dane-se a inversão, Gabriel. Você me perdoa?
Olhei no fundo dos olhos do Fernando.
- perdoo. - falei calmo.
Fernando sorriu.
- mas não quero mais continuar com isso. A gente para por aqui sem ressentimentos e sem mágoas, e eu fico com a melhor imagem que eu tenho de você: A do cara perfeito.
- eu não sou perfeito. - seus olhos estavam fundos.
- mas foi assim que eu sempre te vi, e assim que sempre vai ser.
- e a gente?
- a gente vai seguir cara, cada um pro seu lado.
- Eu tenho coisas boas pra te oferecer. Você vai jogar isso fora?
Fernando olhou para os lados, e em seguida segurou minha mão.
- eu sei que você gosta de mim Gabriel. Vamos recomeçar.
Com o coração partido, entrei no carro.
- adeus Fernando. - Tentei ser forte, mas por dentro eu estava me destruindo.
Fernando, parado, me viu partir.
Cheguei em casa, e devolvi o carro do Danilo. Não tinha clima para eu ir à fazenda da Kadu.
Entrei no chuveiro, e fiquei pensando no Fernando. Saí do banho e fiz um misto quente na cozinha.
- Vai sair filho? - Minha mãe entrou na cozinha colocando um par de brincos.
- não mãe. Tão indo pra onde?
- vamos jantar na casa de um cliente do teu pai.
- e o vô?
- a Valentina levou ele pra passar uns dias na fazenda?
- levou a dona Dolores junto?
- não. Por que?
- o coração do velho não foi suportar fica muito tempo longe da amada.
Minha mãe sorriu, e me deu um beijo no rosto.
- qualquer coisa me liga viu!? - disse ela.
- cuide de tudo Gabriel. - disse meu pai.
- pode deixar pai. - respondi da cozinha.
Terminei de comer meu misto e fui ver o que passava na tv. Enquanto mudava de canal, o interfone tocou, e fui ver do que se tratava.
***
- Sr Gabriel? - disse o porteiro.
- sim. - respondi.
- deixaram uma encomenda aqui, e pediram para entregar em suas mãos.
- encomenda? Que tamanho é? - Lembrei do maníaco do elevador, e me assustei.
- é grande.
- sabe quem deixou?
- foi um rapaz, mas não disse o nome.
- ta. To indo aí buscar.
****
Desliguei o interfone, e fui ate a portaria. O medo era maior que a ansiedade.
Antes de eu perguntar, o porteiro se antecipou e me entregou o embrulho.
- veio com essa carta aqui. - disse ele me entregando uma folha de caderno.
Não tem quando você toma um grande susto, e depois vem um alívio? Era assim que eu me sentia. Cheguei a pensar que pudesse ser uma bomba, ou algo do tipo, mas era o mesmo embrulho que Fernando trazia consigo semanas antes.
Agradeci ao homem, e retornei ao meu apartamento.
Sentei no sofá da sala, e comecei a desfazer o embrulho. Ri por dentro quando vi que era um urso.
Olhei bem a aparência daquela bicho, e sorri. De onde o Fernando tirou a ideia de me dar um urso, se nem de urso eu gosto?
Coloquei o presente em minha cama, e deitei ao seu lado. Imaginei como se fosse o Fernando ali. Sorri, dormi...
Cedo da manhã meu celular despertou. Ainda sonolento, fui ate a cozinha fazer meu café, e a família já estava toda aposta, com exceção ao meu avô, que estava na casa da tia Valentina.
- bom dia. - disse minha mãe.
- sua benção mãe.
- Deus te abençoe.
- bença pai.
- Deus te abençoe meu filho.
- tão arrumados porque? - perguntei sentando à mesa.
- vamos almoçar na sua tia. - disse minha mãe. - vamos? - chamou.
- tia Valentina? - perguntei passando geleia na torrada.
Minha mãe, de boca cheia, apenas confirmou com a cabeça.
- vai dar não mãe, o Victor já me chamou pra almoçar lá.
- ta traindo sua família? - brincou meu pai.
- só hoje pai. - sorri.
Meus pais terminaram de tomar café, abasteceram o carro, e foram para a fazenda. Tomei um banho, e fui no apartamento do Danilo.
- fala aí mano. - disse ele parado na entrada da porta.
- e aí. Ta aprontando?
- tô com carne nova aqui. - disse ele sorrindo.
- homem ou mulher? - questionei.
- mulher. - passou a mão no pau por cima do short.
- safado. Ia te chamar pra chegar lá no Victor, mas tu ta ocupado né!?
- muito bem ocupado por sinal. - sorriu
- pode me emprestar teu carro?
- claro.
Não queria simplesmente ir almoçar na casa do meu amigo. Queria mais que isso. Queria poder ver o Fernando. Quem eu tava querendo enganar ficando longe dele? Batalhei tanto pra chegar aonde cheguei, e agora iria simplesmente jogar tudo fora por causa de um orgulho? Queria ao menos ter uma despedida digna e partir pra outra com a mente tranquila.
Estacionei o carro em frente ao prédio do Victor, e meu corpo gelou. Não posso negar que fiquei um pouco envergonhado ao invadir um almoço familiar, mas já que ele tinha me convidado...
Coloquei o presente do Fernando no bolso da bermuda, e desci do carro. Peguei o elevador, e logo estava na porta sendo atendido pelos pais do Victor.
- quanto tempo Gabriel. - disse a mãe do meu amigo.
- pois é... O Victor me disse que ia ter almoço grátis aqui hoje.
- ainda bem que você veio. Esse povo é muito mole pra comer. - A mulher sorriu.
- acredito não tia, que fizeram desfeita com sua comida?
- pois pode acreditar.
- deixa comigo, que agora eu cheguei.
A mulher sorriu.
Fomos diretamente a mesa, e eu cumprimentei o coletivo. Além da família, estava também a namorada do Victor, e alguns amigos dos donos da casa.
Vitor levantou-se para me cumprimentar com um abraço.
- senta aqui. - disse ele puxando uma cadeira para seu lado.
- valeu mano.
Fernando estava na ponta oposta. É difícil disfarçar quando gostamos de alguém, mas eu evitei olha-lo.
Depois do almoço o povo foi distribuído pela casa. Após conversar com Victor encontrei Fernando no quarto.
- posso entrar? - falei na porta.
- pode sim Gabriel. - ele imediatamente levantou-se da cama.
- eu queria te agradecer pelo presente.
- gostou?
Ri discretamente.
- eu não sou muito chegado a ursos não. - sorri - Mas gostei da intenção.
- mandei mal então né!? - disse sorrindo - Eu não fazia ideia do que presentear a um homem.
- relaxa cara. Eu também te trouxe um presente, e não sei se você vai gostar - falei tirando o pequeno embrulho do bolso.
Fernando abriu o presente delicadamente, e sorriu.
- uma miniatura de um fuzileiro? - sorriu.
- é. - disse tímido.
- vai pra minha coleção. - ele abriu a porta do roupeiro e tinha outros objetos similares.
- nunca vi que você tinha uma coleção.
- tenho há um tempo já, mas essa aqui é especial. - Fernando fechou o roupeiro, e olhou pra mim.
- então é isso cara, eu também vim pra me despedir que eu já estou indo pra casa.
- já?
- carapanã encheu, voou.
Fernando sorriu.
- mas ta cedo ainda.
- amanhã começa a rotina novamente.
- você pensou na gente? - disse ele mudando de assunto.
- não tem mais a gente Fernando.
Ele aproximou-se de mim, e acariciou meu rosto.
- por que não?
- somos muito diferentes cara.
- que graça teria se fossemos iguais?
- a diferença é bom, e isso me faz gostar tanto de você, mas nossos pensamentos não batem. Você tem planos diferentes dos meus. E outra coisa, nosso lance nunca se tornaria namoro serio. Você nunca me assumiria.
- eu não posso te assumir Gabriel. Tem meu trabalho, amigos, família...
- eu não to pedindo pra você me assumir pro mundo. Só quero que você me assuma pra você, e acima de tudo confie em mim, mesmo que tudo mostre o contrário.
Fernando afastou-se e tirou uma camiseta do roupeiro.
- vem comigo. - disse ele assim que terminou de vestir a peça.
- aonde?
- só vem. Já passou da hora de eu te mostrar uma coisa.
Acompanhei Fernando sem saber o que me esperava.
Continua...
Massagistanovinho, podemos sim manter contato. deboa!
Plutão, não consigo mais escrever cara, mas se tiver interesse, posso fazer uma segunda temporada no word e mandar no teu email.
Hobbynho, esquenta não brother. Criticas construtivas como as suas são sempre bem vindas.
Abraços a todos.