Ação e reação – Laços de Sangue – parte final – 2° temporada
Prezados, segue a última parte do capítulo. Peço que fiquem atento a leitura, pois esse capítulo conta os motivos que levaram Marcos e agredir Fernando e consequentemente é um capítulo mais pesados com temas como podolatria, e espiritismo, quem não curtir por favor não perca o tempo lendo, mas ao que curtem ou me acompanham por favor, leiam, pois, esse foi o capítulo mais difícil de escrever. A toda boa leitura e obrigado pelos votos e comentários.
Obs: Esse é o antepenúltimo capítulo, pois ainda há mais revelações e serem feitas.
Resposta aos comentários:
Rose Vital: Rose, relaxa nem sempre temos tempo sobrando. Em relação ao sonho do Fernando eu quis usar um pouco dos meus mais de 15 anos como espirita kardecista, quis usar meu ponto de vista sobre a doutrina, até por que como médium já tive algumas passagens assim. Nesse capítulo os personagens principais tem seus desfechos, mas ele está grande e cheio de emoção e surpresas. E quanto ao carnaval trabalhei todos os dias rsrsrs. Boa leitura e obrigado por votar e comentar.
Alex curte peludo: Cara é sempre bom receber um comentário seu, vejo que conquistei um seleto grupo de leitores, fico feliz com isso. Em relação a Marcos ele vai se redimir cara, tudo tem um motivo até a mãe dele está ajudando esses primos a se entenderem. Fico feliz que tenha se emocionado, mas espero não ter te feito chorar muito, não foi minha intenção e digo mais você entendeu a mensagem, nem sempre o amor mais forte envolve sexo, nem sempre uma história de amor é carnal. Meu amigo tenha uma boa leitura e obrigado por votar e comentar.
Magus: Marcos explica nesse capítulo por que fez o que fez, no fim os fins justificam os meios. Meu querido me desculpe a demora, realmente foi foda esse mês para mim.
VALTERSÓ: Valter primeiramente obrigado por votar e comentar. Marcos mudou e muito, nesse capítulo você vai ter a real dimensão do por que ele fez o que fez com Fernando. Aliás, as vezes eu também tenho vontade de bater no Fernando, ele é desaforado, mas é a maneira dele se defender perante o primo. O tio Geovane é super protetor sim, inclusive ele é brabo, no penúltimo capítulo você viu isso e no próximo capítulo você vai entender o porquê. E finalizando eles não são uma droga de família, é só uma família torta...Boa leitura.
Henrinovembro: primeiramente obrigado, foi um capítulo meio difícil de escrever. Cara não se preocupe, nunca foi minha intenção fazer Fernando e Marcos um casal. Marcos vai ficar com o Luiz e Fernando com o esquentadinho do Felipe. Boa leitura.
Catita: Aqui está a continuação...obrigado por votar e comentar. Boa leitura.
Morennaa: Prontinho, capítulo novo e postado. Obrigado por votar e comentar. Boa leitura.
Aline33: Demorei só um pouquinho, mas aqui está mais um capítulo postado. Obrigado por votar e comentar. Boa leitura.
Plutão: Bom dia caro amigo, me desculpe pela demora e por quase te matar do coração rsrsrs. Você estava certo, Marcos e Fernando se amam, mas o amor deles é fraternal, a ignorância as vezes é a pior arma que se tem. Esse capítulo fecha a maior parte do conto, mas ainda tem mais duas revelações a serem feitas, com isso já adianto que esse é o antepenúltimo capítulo. Abraços e boa leitura.
Chria: Bom, se você achou isso dos últimos capítulos leia esse. Obrigado por votar e comentar. Boa leitura.
Lari12: Não o conto é fictício. Boa leitura
Nayarah: Obrigado, acredito que você vai gostar desse capítulo também. Desculpe a demora, mas tive uns contratempos. Boa leitura.
Continuação...
- Eu lembro do dia que você chegou aqui Fernando – ele me olhou e sorriu, veio para o sofá, mas não se sentou, pegou seus óculos de grau e pôs no rosto – você estava tão assustado, chorava, não queria sair do colo do meu pai... – interrompi ele, não queria saber disso, eu me lembrava e lembrar doía.
- Isso não vem ao caso... – ele levantou o braço me fazendo calar.
- Não Fernando, é muito importante para mim botar para fora tudo que está guardado há anos aqui dentro – disse ele apertando o peito – eu preciso fazer isso, por favor? – Havia sofrimento de mais em sua súplica.
- Tudo bem... – Assenti e voltei a relaxar.
- Você não sabe o que é ver sua mãe definhando dia após dia por causa de uma doença maldita como o câncer Fernando, ver os médicos tirarem todas as esperanças dela e mesmo assim ela sorrir até o último dia para não demonstrar fraqueza – a primeira lágrima escorreu pelo seu rosto e consequentemente do meu também.
- Você ainda tinha o seu pai, eu perdi os dois de uma vez... – tentei argumentar expondo a minha realidade. Marcos me olhou com pena.
- Eu não sabia o que fazer, eu só tinha 14 anos, eu tentei, mas eu falhei.... – Então as lágrimas vieram com força, era a primeira vez que via meu primo chorar com vontade, nos 15 anos que convivi com ele eu nunca tinha visto isso, nem mesmo quando a tia Leticia nos deixou - eu tinha falhado com a minha mãe Fernando – ele baixou a cabeça e então fiz uma coisa que nem eu acreditei, eu peguei em sua mão, ele sentou do meu lado e desabou – eu não consegui salva-la e nem cumpri com a promessa que fiz a ela... – havia arrependimento em sua voz.
- Acredito que não... – tentei consola-lo - não carregue essa culpa, você só tinha 14 anos Marcos, fez o que estava ao seu alcance, ela deve estar feliz... – ele me olhou e sorriu passando a mão em meu rosto fazendo eu me calar de novo e ficar tenso.
- Teve um dia que ela foi fazer quimioterapia no hospital, foi uma sessão longa aquela, ficamos eu e você em casa, era de tarde, me lembro como se fosse ontem – Marcos viajou me levando com ele, imediatamente voltei ao passado, foi em 2003, uma tarde quente de janeiro, eu estava animado, pois naquele ano eu iria para o prézinho, não tem como não lembrar, foi uma das lembranças que me assombraram logo após eu ser espancado por Marcos, uma das mais fortes – lembro que nós estávamos no jardim e de repente você não quis mais brincar comigo, foi pro quarto eu fui atrás e então te peguei chorando com aquele porta-retratos pedindo pro seu pai vim te buscar, eu não sabia o que fazer, mas eu precisava fazer algo, quando me sentei e passei a mão na sua cabeça você me olhou, me abraçou e se aconchegando em mim logo adormeceu no meu colo, eu entendi que eu tinha uma segunda chance de cuidar de alguém...e que esse alguém era você... – Marcos me olhou, eu fiquei sem ação.
- Marcos... – ele me interrompeu.
- Fernando, eu falhei com a minha mãe, mas contigo eu não iria falhar... – ele sorriu e acariciou meu cabelo.
- Mas você falhou – disse seco, Marcos engoliu em seco como se tivesse tomado um tapa na cara e continuou.
- Você me salvou Fernando, acredite, de várias maneiras – ele sorriu.
- Não diga bobagens, quem sou eu para salvar alguém... – reprendi ele m levantando.
- Sabia que quando eu estava na escola para mim eram os piores e melhores momentos do dia Fernando? – ele me olhou, seus olhos já estavam vermelhos e seu rosto inchado. Marcos estava com a barba por fazer e do seu queixo pingavam pesadas lágrimas.
- Não sabia, por quê Marcos? – Perguntei.
- Por que antes de você chegar nas nossas vidas era onde eu conseguia me distrair, sair daquele ambiente de doença e tristeza, principalmente nos últimos meses antes dela morrer – ele disse isso com pesar - eu torcia para o sofrimento dela acabar Fernando, mas eu era egoísta e em silêncio pedia, rezava, barganhava para minha mãe não ser tirada de mim, ser curada, eu precisava tanto dela Fernando, muita egoísta da minha parte... – Ele limpou o nariz com o braço, coisa porca de se fazer.
- Não acho que foi egoísmo seu Marcos – apertei sua mão, nessa hora já tinha esquecido o que tínhamos passado – ninguém merece perder os pais cedo, se sentir sozinho nesse mundo é a pior coisa que tem, você não tinha que passar por isso, ninguém devia passar por isso, não mesmo – ele no impulso me abraçou e por instantes tudo voltou, nossa ligação que a tempos achei que tinha sido perdida estava ali – eu agradeço por ter o tio Geovane na minha vida, se não fosse por ele... – Marcos pôs o dedo nos meus lábios me calando, sério!
- Lembro do dia que a mãe foi embora Fernando – Marcos respirava fundo - ela me pediu para ajudar o pai a cuidar de você, teríamos que ser forte por você, quando olhei na porta eu te peguei espiando a gente com aqueles olhinhos triste, você não tinha mais que perder ninguém, eu não ia deixar você passar por isso de novo, no impulso de tirar dali eu levei você para brincar no playground do condomínio – ele me olhou nos olhos, seu semblante pesado.
- Eu lembro desse dia – franzi a testa pensativo – eu caí do balanço, fingi que me machuquei e você veio correndo ver se eu estava bem... – eu sorri com essa lembrança, de repente é como se todos os momentos legais com Marcos tivessem voltado – lembra que choveu e nós brincamos na chuva, rimos um monte e no fim da tarde... – quando voltamos do playground encontramos meu tio sentado na porta de casa, um carro da funerária parado em frente...lembro dos olhos de Marcos em mim, eu tinha consciência do que estava acontecendo.
- Quebrei a promessa que fiz a ela... – ele me olhou com tanta tristeza no olhar - fui covarde e machuquei uma das pessoas que eu mais amava justamente por egoísmo, com medo de te perder assim como a perdi – ele baixou a cabeça de vergonha, nessa hora uma raiva cresceu dentro de mim, as primeiras lágrimas vieram.
- Você não tinha o direito de me machucar Marcos – ele olhou arrependido, suas lágrimas caiam com vontade – você colheu o que plantou – bufei de raiva.
- Ela me pediu para ajudar o pai a cuidar de você, eu tinha que cuidar de você Fernando, eu achava que isso iria me fazer ser perdoado pelo erro que cometi com ela... – ele me olhou e sorriu – logo nós criamos uma ligação muito forte cara...nem eu sabia como explicar, eu tinha que cuidar de você – eu lembrava de quando eu e Marcos éramos unidos, ele era tão super protetor como o tio Geovane, sempre estávamos juntos quando ele estava em casa, nos abraçávamos e nos beijávamos, carícias muito comuns entre nós três, principalmente depois que a tia se foi.
Logo depois veio o Luiz com quem passei a ter mais contato, lembro que Marcos no início não gostou muito dessa aproximação. Quando cresci um pouco mais eles me levavam para passear, principalmente no aeroporto daqui, aonde nós víamos por horas os jatos decolando e pousando sempre deitados em cima na carroceria da picape do Marcos na época.
- Eu lembro Marcos – me permiti e sorrir das lembranças, estava um turbilhão de emoções dentro de mim, ao mesmo tempo que sorria lágrimas pesadas caiam do meu rosto, Marcos fazia o mesmo – era tão bom, mas infelizmente acabou... – fechei a cara para ele que negou com a cabeça.
- Eu sabia que tinha algo de diferente em você, principalmente quando você começou a brincar de uma maneira mais séria com meus pés, lembra? – Quase morri, ele lembrou sim...por que Marcos não esqueceu?
- Não Marcos... – ele me interrompeu rindo.
- Eu me lembro muito bem Fernando – minha cara devia estar vermelha de vergonha, a verdade é que a minha tara por pés começou com o meu primo, eu era podólatra graças a ele – na verdade eu adorava quando você acariciava meus pés e até cheirava entre os dedos, era gostoso demais ver você fazer isso, você tinha o que? Uns 12, 13 anos? Quando eu chegava do escritório e deitava no sofá, eu sabia que você estaria ali me esperando, eu cochilava com você acariciando eles pra mim, o pior foi saber que eu tinha começado tudo isso – Marcos então olhou pra baixo mexendo os pés, olhei também e fiquei sem graça - tenho que confessar eu adorava essa dedicação que você tinha comigo, eu me sentia “o cara”, inclusive passei a deixar meus pés mais suados pra ver se você parava com isso, eu me sentia culpado, era uma alternativa, mas não, você não parou, foi ai que eu comecei a me excitar – botei a mão na boca, me senti sujo, saber que meu primo se aproveitava foi no mínimo revoltante, eu não sabia o que significava meu fetiche naquela época. Eu era um pré-adolescente. Me levantei pasmo, eu precisava sair dali.
- Como assim porra? – Ele me segurou pelo braço, me esquivei – você se excitava me vendo cheirar e massagear seus pés Marcos, eu fazia isso por que você pedia e gostava, achava que era um tipo de carinho – apontei o dedo na cara dele o culpando, Marcos negou com a cabeça.
- Calma, eu não estou aqui para jogar na sua cara coisas do passado e nem para te julgar Fernando – ele falou me acalmando – vem, senta aqui – ele me fez sentar no sofá pela segunda vez.
- Não – me esquivei e fui sentar no outro sofá.
- Eu sabia que havia pessoas que tinham fetiche por pés, mas o que eu não sabia é que era um dos fetiches mais comuns do público gay – ele me olhou me deixando envergonhado – foi ai que comecei a desconfiar que você talvez fosse gay, aliás, se não fosse por isso e por você ter me contado eu nunca desconfiaria, você não tem jeito de gay – justificou ele e deixando incomodado e ofendido.
- Sabe Marcos, ninguém pede para nascer gay – ele baixou a cabeça envergonhado – você acha que eu pedi para nascer gay? Acha que foi fácil para mim saber e entender que eu me sentia atraído por meninos e não por meninas, tendo que ouvir por todo canto que isso era errado? – Ele me olhou consternado.
- Não foi, eu tenho certeza que não... – ele disse com pesar.
- Marcos, nem todo gay é afeminado e corre atrás de pau, nem todo gay entende de moda ou adora essas cantoras histéricas e bregas que passam nos canais de clipe, assim como nem todo gay é promiscuo e vulgar ao ponto de pagar mico em lugares públicos, mas acima de tudo independente do perfil de cada um, todos merecemos respeito, portanto me respeite Marcos – ele me olhou boquiaberto.
- Foi difícil para você né? – Perguntou sem jeito.
- Eu só tinha 11 anos quando comecei a descobrir o que eu era e por muito tempo aguentei a barra sozinho – foi para Felipe e Cibele pra quem eu me assumi e ambos me deram força, a realidade é que eu tinha medo da reação do tio Geovane, mas nunca imaginei que Marcos é quem fosse me magoar e me machucar, na verdade antes disso minha ligação com meu tio não era tão forte - você acha que foi fácil ouvir dos professores daquela merda de escola católica que eu estudava que ser gay era ruim, que era pecado, que esse tipo de gente promíscua e vulgar quando morresse ia queimar no inferno, que eram transmissores de AIDS...– peguei pesado, queria ir direto na veia, Marcos limpava o rosto, eu pude ter certeza que ele estava impactado com tudo que estava jogando na cara dele, me dei conta que ele não sabia nem da metade – por muito tempo me senti um imundo, não foi fácil Marcos, não mesmo... – afirmei com a cabeça baixa.
- Eu não queria... – interrompi ele aos gritos.
Então cheguei ao meu limite. Até ali tinha aguentado tudo mais ou menos contido, agora iria estourar.
- Queria sim... – encarei ele.
- Não... – ele negava com a cabeça o que me deixou com raiva, muita raiva.
- VOCÊ NÃO ME PROTEGEU! – Ele teve um baque – EU CONFIAVA EM VOCÊ, MARCOS – eu me alterei, ele precisava ouvir.
- Me desculpa – ele chorava com vontade com as mãos no rosto.
- Desculpa Marcos! Só isso você tem a me dizer... – Debochei dele.
- Eu não sabia.... – Interrompi ele
- Olha aqui – levantei a camisa e mostrei a cicatriz onde as costelas três tinham sido fraturadas, virei de costas e mostrei as cicatrizes da fivela do cinto com o qual ele tinha me batido vária e várias vezes seguidas – e isso aqui, lembra? Você pediu quem tinha feito, pois bem, que fez isso foi você – mostrei meu cílio pra ele – você me machucou demais Marcos, mas o que mais me doeu não foram os cortes, as fraturas -pela primeira vez falaria isso pra alguém - foi saber que eu estava apanhando de alguém que minutos antes era a pessoa que eu mais confiava e que amava como um irmão, alguém que era motivo de orgulho e admiração pra mim, um espelho que eu queria seguir e que se um dia eu fosse 1% do que ele era eu seria muito feliz – Marcos se deu conta de algo que ele talvez nunca fosse saber, eu nunca o odiei e com essas frases ele entendia que eu era de longe a pessoa que mais me importava com ele. Então seu choro veio forte e ele tentou me segurar nos ombros se ajoelhando na minha frente.
- Meu Deus, eu sou um monstro... – o choro pesado, suas mãos em seu rosto e eu parado a sua frente era algo que não imaginava.
- Você foi por muitos anos o meu monstro no armário – olhei com pena para ele – então Marcos, não venha me dizer que não foi por eu ser gay... – ele então me encarou e se levantou e me segurou pelos pulsos.
- NÃO FOI POR VOCÊ SER GAY, FOI POR QUE EU NÃO SOUBE LIDAR COM O FATO DE QUE COM 22 ANOS EU MORRIA DE TESÃO E QUERIA TRANSAR COM MEU PRIMO DE 13 ANOS! – Ele gritou aos 4 ventos ficando ofegante.
- O que? – Perguntei sem acreditar no que ele disse.
- Esse foi o motivo – ele tentava se recompor.
- Como assim Marcos? Você me bateu por que eu te excitava? – Perguntei receando a resposta que viria.
- Eu comecei a confundir as coisas Fernando – ele estava envergonhado, sua voz agora calma e embargada, seus braços vermelhos dele tanto coçar me diziam isso
- Não... – Eu não queria acreditar em que ponto ele ia chegar. Marcos respirou fundo e se sentou, delicadamente me segurou pela mão e me fez sentar ao seu lado.
- Tudo começou em uma noite... – ele parou e me olhou apertando forte minha mão – nós estávamos assistindo TV, olhei você deitado de bruços no chão e percebi como seu corpinho era tesudo e desenvolvido para sua idade. Eu comecei a me masturbar pensando em você Fernando, te imaginava brincando com meus pés suados e depois vindo me chupar com esses lábios vermelhos e macios – eu ouvia atentamente até que comecei a ficar enojado, larguei e mão dele e me afastei até o canto do sofá – pela primeira vez quis beijar um homem, eu sabia que isso era errado e doentio, você é meu primo, mas eu tinha desejo em te tocar, mas não com amor fraternal – ele me olhou, desviei o olhar envergonhado - morria pensando na possibilidade de que outro homem que não fosse eu te tocaria e isso me corroía por dentro, não imaginava se quer que outro fosse penetrar você, eu queria ser seu primeiro macho, foi então que decidi me afastar, lembra? – então tudo se clareou, uns dois meses antes do meu aniversário Marcos se distanciou, ele parou de ir me buscar na escola, parou de me chamar pra sair, me abandonou se tornando frio e as vezes seco comigo, na época eu pensei que fosse culpa minha e me julguei por isso, mas também nesse meio tempo consolidei minhas amizades e nosso relacionamento esfriou – não durou muito Fernando e foi meu pior erro, ali eu percebi que estava perdendo você, eu sentia a sua falta, o toque da sua mão no meu corpo, nas minhas pernas, dos carinhos no meu peito peludo, suas massagens gostosas nos meus pés, a dedicação que você tinha comigo, enfim eu sentia falta do que tínhamos. Então no dia do teu aniversário tomei uma decisão, eu seria seu homem, te daria carinho fraternal e carnal, seria seu macho e protetor, claro se você quisesse – ele falava com o olhar distante, se fosse em outros tempos eu estaria excitado, mas não, eu estava era com pena e ao mesmo tempo nojo de tudo isso.
- Seu doente – me pus em pé, ele me olhou desesperado.
- Se eu amar meu primo e querer o melhor para ele era doença então sim, eu era um doente, completamente louco – seu semblante era de dor.
Agora era eu que preparava uma dose de Whisky pois revelaria um dos meus segredos mais íntimos para ele. Com meu copo em mãos me voltei para ele e escorado na janela e respirei fundo.
- Sabia que você foi minha primeira paixão Marcos, eu era muito idiota e bobinho, que cliché, a primo bichinha que era apaixonado pelo primo heterossexual gostosão – eu balançava a cabeça negativamente – que patético eu fui - estava magoado e com pena de mim mesmo.
- Eu não sabia disso Fernando – ele me olhou surpreso.
- Sim – afirmei envergonhado. Marcos se levantou e me deu um abraço – idiota né? – Perguntei, ele negou com a cabeça.
- Não acho idiota – ele negou com um sorriso - naquela noite eu tinha bebido um pouco a mais eu não queria...então para criar coragem fiz algo que me arrependo, eu cheirei um pouco de cocaína... – ele agora me olhava se justificando e eu olhei para ele com escárnio.
- Além de covarde, você é um viciado? – Perguntei com sarcasmo
- Não, foi só aquela vez – justificou.
- Que exemplo você, ainda bem que não segui – ele me olhou espantado com a minha frieza.
- Quando você se abriu comigo e me disse que era gay eu fiquei cego Fernando, eu surtei... – ele pôs as mãos na cabeça e logo massageou o couro cabeludo.
- Só por que eu assumi que era gay Marcos? Isso não era motivo – voltei a chorar – ainda bem que você não me estuprou... – ele me interrompeu com um grito.
- Não! Nunca faria isso – ele negou com a cabeça vindo para o meu lado - de tanto que eu estava fissurado em transar com você, fazer você ser meu eu achei que você só estava se assumindo para mim por que outro homem já tinha te tocado com as mãos sujas, que provavelmente nossa ligação ia se perder, então achei que o fato de você ser gay te fez se afastar de mim e te deixou baixo e vulgar – ele botou as mãos no rosto, lágrimas escorriam pelas mãos – foi então que no calor do momento eu me enraiveci e te dei o primeiro tapa, a sensação foi tão confortante para mim, era uma maneira de te castigar, de te trazer de volta pra mim, se não fosse pelo amor ia ser pela dor. Eu não consegui parar de te bater e te xingar...estava tão bom descarregar a raiva em você – ele agora soluçava, era muita mágoa e culpa guardada, eu pasmo com a mão na boca e uma revolta interna dentro de mim tentava raciocinar que o primo que me odiava pelo fato de eu ser gay e me insultava na verdade tinha tesão sexual em mim, o pior foi saber que isso me condenou. Me levantei do sofá e andei de um lado para o outro da sala.
- COVARDE – Marcos negava com a cabeça – você é a porra de um covarde que preferiu me espancar até quase me matar do que ouvir o meu lado, tentar me entender, mas não você só queria enfiar o pau em mim... – Marcos se levantou a caiu na minha frente de joelhos.
- Me perdoa…me perdoa... – ele segurava minhas pernas ao ponto de me desequilibrar, eu tentava solta-lo – eu preciso do seu perdão, dói... – interrompi ele.
- Eu só tinha 14 anos... – de repente fiquei frio, indiferente – eu não sabia me defender direito, só queria ser aceito... – me escorrei na parede e desci até o chão, eu chorava como nunca antes chorei.
- Eu estava em uma espécie de transe Fernando, ao mesmo tempo que fiz o que fiz eu não sabia... – ele se abaixou ficando de frente para mim, senti sua respiração no meu rosto – só me dei conta do que eu tinha feito com você horas depois, quando o efeito da droga passou e eu notei que estava sentando no meu quarto com o olhar vago e as mãos sujas de sangue... – ele me olhava arrependido.
- Sabe o que é pior, se você tivesse me pedido com carinho eu provavelmente tinha deixado você ser meu primeiro “macho” – fiz aspas, ele me olhou surpreso.
- Sério? – Perguntou surpreso.
- Sim... – Assenti – mas hoje não sinto mais nada por você, aliás, sinto pena, nem ódio tenho mais – olhei com superioridade para ele.
- Mas nada justifica o que fiz contigo... – ele foi firme no argumento, neguei em resposta.
Na sala reinou o mais absoluto silêncio por alguns minutos, tudo ia passando na minha mente como se fosse um filme, várias e várias vezes.
- Você não sabe o inferno que foi depois do que fez comigo Marcos – lembrei dos acontecimentos pós agressão – o tio tendo que dar explicação na delegacia como se fosse o culpado, a Cibele e o Felipe me dando um apoio que nem eles tinham, eu passando por exames e mais exames inclusive o de corpo de delito, tendo que suportar o olhar de pena e compaixão dos enfermeiros e médicos, o olhar de desespero e tristeza do tio Geovane com medo de me perder minha guarda e se culpando pelo que aconteceu e o pior de tudo, ele sendo acusado de maus tratos e agressão como se ele fosse o culpado – tudo estava voltando, o que eu levei tempo para esquecer em segundos estava de volta.
- Eu sei... – ele confirmou.
- Não sabe não, você fugiu como um covarde... – cuspi nele essas palavras.
- Na época eu me entreguei Fernando – olhei espantado, meu tio nunca me disse nada sobre isso – me apresentei no dia seguinte junto com o meu pai, eu ia responder por três artigos, mas ele mexeu os pauzinhos e só respondi por lesão corporal grave, fiquei um pouco mais de um ano preso – olhei para ele, mas não com pena – eu mereci isso Fernando, a sorte é que fiquei em um presídio calmo, na minha, não tive maiores problemas.
- Bom, na cadeia é lugar de bandido... – me arrependi de dizer isso a ele, Marcos agora estava visivelmente abalado.
- Acabei perdendo a maior parte dos meus amigos...quer dizer, falsos “amigos” – ele fez aspas – os únicos que me apoiaram e me visitavam regularmente eram a Giovanna, o Luiz e o Gabriel, aquele do escritório, além do meu pai e da Maria – ele deu um sorriso sem graça para mim – depois disso acabei decidindo ir pra São Paulo, acabar minha faculdade e trabalhar na filial do escritório de lá, aí as circunstâncias me fizeram namorar a Giovanna, de quem tomei um pé na bunda – ele riu.
- Isso explica muita coisa... – pensei alto.
- O pior foi que o remorso bateu forte Fernando, eu nunca consegui digerir o que eu fiz com você, nunca consegui... – ele negava com a cabeça.
- Por que você voltou Marcos? – Ele me olhou.
- Primeiro por que eu estava com saudades de vocês – ele me olhou fundo – e segundo por que eu tinha que dar um rumo a minha vida, tinha que me redimir com você, então meu pai me pediu para voltar... – interrompi ele.
- Voltou para me infernizar não é mesmo? – Perguntei com raiva, me lembrei de tudo o que passei com ele após sua volta – já não basta o que você me fez, você volta e faz da minha vida um inferno – ele sentou se levantou, seu rosto estava inchado, ele passou as mãos no cabelo e me encarou.
- Naquele domingo que você me viu quando esperava o sinal abrir pra atravessar a avenida eu já tinha te vistos muito antes – me lembrei e me arrepiei todo – eu achava que o sentimento que tinha por você tinha acabado ou sei lá...mas não, quando te vi meu pau babou, minha vontade foi te pegar de jeito e te fazer meu dentro daquele carro – minha cara caiu no chão de vergonha – você estava muito gostoso com aquele shorts de corrida e aqueles óculos, estava mais adulto, mais másculo mas mesmo assim ainda tinha os traços de um menino – ele mordeu os lábios, eu fiquei sem jeito – não fique assim Fernando, você meche com a imaginação de alguns homens... – ele me olhou como se eu fosse um pedaço de carne.
- Meu Deus Marcos... – fiquei com medo dele e se ele me estuprasse.
- Calma – veio para o meu lado e me encolhi – não faz assim, por favor, eu não sou um predador sexual... – ele tentou fazer piada, mas não ri.
- Será... – arqueei a sobrancelha – quem me garante que você não vai passar piroca em mim? Ou pelo menos tentar com esse papinho de arrependido? – Perguntei deixando ele ofendido.
- Por que eu não tenho mais tesão em você! – Exclamou ele – Fernando, quando eu voltei para casa a minha intenção era fazer as pazes com você e te reconquistar, mas eu vi que você não estava nem aí para mim, tinha sua vida, seus amigos, era um espaço que eu não poderia ter mais e pior, você demonstrou ódio quando me viu – ele suspirou – eu estava pagando pelo que fiz – ele me olhou consternado.
- Por que você não me pediu desculpas logo de cara Marcos? – Eu perguntei para ele – você sabia que mesmo não acreditando que você apareceria depois do que fez comigo eu esperei e esperei você aparecer...eu por muito tempo achei que eu era o culpado, mas os dois anos de terapia que eu fiz me fizeram entender que a culpa não era minha...santo doutor Valdir, ele me ajudou muito – agradeci mentalmente, eu seria eternamente grato ao meu antigo psicólogo.
- Eu sei, mas Fernando eu nunca deixei de saber da sua vida – ele justificou – meu pai me contava das suas conquistas, do seu cotidiano, quantas vezes ele não tentou me fazer falar com você – ele sorriu, seu pensamento estava longe – eu até te liguei algumas vezes, mas quando você dizia alô eu desligava com medo e vergonha – era ele, isso acontecia próximo a datas festivas, depois com os anos parou.
- Marcos se você queria me reconquistar por que fez o que fez comigo quando voltou, me responda? – Exigi que ele me falasse. Marcos então respirou fundo e me encarou novamente.
- Você não precisava mais de mim – doeu ouvir isso – uma noite eu te segui, logo após minha chegada e eu te vi saindo de um bar com o Luiz e vocês indo pra casa dele – fiquei nervoso, ele sempre soube – eu não precisava ser um gênio pra descobrir que o meu melhor amigo estava traçando meu primo – ele falou com raiva – a minha vontade foi bater em vocês dois, nele por ele me trair e outra por não ser eu que estava te dando prazer que você merecia – ele disse isso de uma maneira que me deu medo – então foi ai que me dei conta que eu não podia exigir nada, eu te machuquei e provavelmente não poderia competir com ele – justificou.
- Foi só uma vez... – revelei a Marcos – nós transamos uma única vez... – lembrei da noite com indiferença.
- Não importa, você não precisa se justificar de nada Fernando, o que você faz da sua vida só diz respeito a você, mas antes não era assim que eu pensava – ele me olhou envergonhado.
- Decidi que eu iria te afastar de mim Fernando, te fazer me odiar, era mais fácil lidar com isso, eu não merecia seu perdão, então fiz o que fiz, criei intriga, te agredi, te infernizei, você não sabe como eu ficava deprimido depois que te humilhava, te agredia - ele chorou de novo – mas o desejo ainda me consumia, eu tinha medo de te machucar, de te forçar a transar comigo...nos meus piores devaneios eu imaginava você me chupando e me chamando de seu macho... – essas palavras saiam pesadas da boca dele.
- Você então me afastou – eu entendi tudo.
- O que me fez ver que o amor que tinha por você não era carnal, foi aquela vez em que te peguei pelado no quarto, eu estava só de sunga, aquele dia eu iria te pegar e te fazer ser meu, eu estava decidido até que vi o medo em seus olhos e me questionei a que ponto eu tinha chegado – ele não me encarou – naquele dia perdi totalmente o desejo que tinha em você, eu não era aquele monstro, eu precisava mudar – ele passou as mãos no cabelo – meu amor por você é muito maior que sexo, desejo, é amor incondicional de primo, de irmão, coisa que eu deveria ter sido todo o tempo contigo – ele então se levantou ficando de costas pra mim.
- E o que te fez mudar? – Perguntei curioso.
- Eu não aguentava mais ser o monstro da história Fernando, eu não era isso – ele debochou dele mesmo – numa tarde eu encontrei os álbuns de fotografias e as nossas lembranças voltaram, depois teve uma noite que sonhei com a minha mãe, ela me olhava desapontada, balançava a cabeça em negação a mim – ele agora estava encolhido no chão próximo a parede – eu comecei a ver que eu podia mudar, todo mundo pode, então quando te pedi se quem tinha feito o machucado no seu cílio tinha sido eu, me dei conta que os danos que te causei eram bem maiores do que eu imaginava – ele coçou sua barba.
- Que bom que notou... – ironizei.
- Eu que dei a ideia do meu pai ceder a casa para você, mas a condição foi que eu sempre te vigiaria, no início ele não gostou, mas foi a condição que propus – não estava acreditando.
- Stalker – ofendi ele.
- A gota d`água foi quando Claudio te ofendeu – ele sorriu provavelmente lembrando da briga deles – eu percebi o quão ruim era ser ofendido por causa de opção sexual, ou raça enfim...notei que alguns riram e você não tinha nem como se defender – ele suspirou – Fernando eu bati no Claudio não só por que ele estava ofendendo um familiar meu, mas também bati em Claudio por que eu me vi nele, eu fiz isso contigo, era meu dever parar com aquilo, quem era ele pra te julgar, quem sou eu pra te julgar – Marcos batia no peito com força deixando ele ligeiramente engraçado – naquela noite pela primeira vez em anos sonhei com a minha mãe alegre, ela sorria e passava as mãos no meu cabelo, não foi justo o que fiz contigo, naquele domingo acordei e decidi mudar... – Marcos não precisou explicar mais nada pra mim.
- Por isso me pediu para voltar para casa – pensei alto.
- Sim – ele respondeu.
- Você se deu conta que a nossa ligação era muito forte, não é? – Perguntei a ele.
- Sim, mas fiquei com receio de chegar e abordar você – ele baixou os olhos – então aconteceu o que aconteceu sexta... – Marcos tremia.
- Por que você fez aquilo? – Eu sabia mas queria ouvir ele falar.
- Por que eu prometi a minha mãe e a mim mesmo que ninguém mais faria mal a você, eu não posso mudar o passado, mas posso mudar o presente e melhorar no futuro – pela primeira vez em tempos eu queria realmente abraçar Marcos, mas não o fiz – eu não deixaria aquele maldito te machucar, ninguém mais vai fazer isso com você, eu não vou deixar – Marcos tinha um tom decidido na voz, eu não tinha dúvida, era o Marcos mesmo.
- Marcos, é muita coisa para minha cabeça, eu preciso pensar um pouco, eu tinha um outro ponto de vista de você, mas agora eu estou confuso... – Marcos baixou a cabeça.
- Eu entendo, mas eu te peço de novo o seu perdão Fernando... – interrompi ele.
- Meu perdão você sempre teve, mas minha confiança... – ele entendeu.
- Fernando, antes de sair da sala, me dá um abraço? – Ele pediu sem jeito abrindo os braços.
- Não – fui firme, me virei e subi para o meu quarto deixando Marcos chorando na sala.
Um mês se passou, eu e Marcos apenas nos cumprimentávamos. Nesse um mês muita coisa aconteceu, eu voltei a trabalhar no escritório, fiquei sabendo por alto que Marcos tinha ido até a loja do senhor Rafael e pedido desculpas e ele e ao Jhonatan, a quem Marcos tinha ofendido. Também fiquei sabendo que Marcos estava indo a um psicólogo duas vezes na semana e que as sessões estavam fazendo muito bem a ele. Felipe foi um anjo caipira nesse tempo, ele me ajudou muito com tudo o que descobri e sinceramente não guardei mágoa do meu primo, mas também não poderia fingir que nada aconteceu.
Dezembro chegou, estávamos no início do mês e uma coisa me incomodava, Marcos! Querendo ou não comecei a sentir falta dele e até a simpatizar com ele novamente. Em casa começávamos a trocar palavras, poucas, mas trocávamos fazendo meu tio sorrir com essa demonstração mínima de afeto. Em uma ocasião ele até me ajudou com um exercício de faculdade e em um caso que eu não conseguia achar para o meu tio.
Numa terça feira acordei e decidi de uma vez por todas que tinha que acabar com isso, acontece que para mim estava difícil levar essa mágoa adiante, eu já não via mais Marcos como meu algoz, só enxergava alguém que pagou pelos erros do passado e que precisava do meu perdão, mesmo que eu já tivesse dado. Conversando com Maria uns dias antes a quem pedi conselhos, ela me disse que todos temos direito uma segunda chance, que todos erram, errar é humano! Estava decidido, pedi ao meu tio para me dispensar pela manhã e encontrei Marcos cabisbaixo na cozinha tomando café sozinho. Ultimamente ele ficava muito assim.
- Marcos – chamei ele que no susto deu um pulo da cadeira.
- Fernando! – Exclamou ele - aconteceu alguma coisa? – Perguntou preocupado.
- Não aconteceu nada – acalmei ele – eu quero te fazer uma pergunta, posso? – Ele olhou desconfiado.
- Pode – assentiu. Tomei coragem, respirei fundo e encarei ele.
- Você ainda quer aquele abraço? – Marcos me olhou surpreso e então as primeiras lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.
- Sim, eu gostaria muito de um abraço... – ele largou sua xícara e ficou em pé.
Foram os 5 passos mais emocionantes da minha vida. Marcos me abraçou com uma vontade que quase me derrubou, foi impossível não me emocionar.
- Me perdoa.... – Ele suplicava repetindo várias vezes.
- Eu já te perdoei Marcos, há muito tempo – disse em seu ouvido.
- Eu nunca mais vou te machucar.... – Ele sussurrava no meu ouvido.
- Eu sei que não vai... – concordei.
- Eu te amo, muito... – ele disse.
- Eu também te amo, sempre amei – era verdade, não como amor carnal, mas um amor muito maior, o fraternal.
Marcos só parou de chorar 10 minutos depois, inclusive foi esse tempo em que ficamos abraçados. Acabei limpando as lágrimas do seu rosto e sorri para ele, percebi que meu ombro estava molhado também.
Estávamos nessa alegria quando um cheiro de jasmim invadiu a sala deixando o ar leve e o ambiente com uma sensação estranha. Marcos olhava espantado para um ponto próximo a porta, suas lágrimas caiam com força e um sorriso se fazia mostrar. De repente notei que tia Leticia nos olhava e sorria, foi tudo tão rápido, logo ela não estava mais ali.
- Meninos – Marluce apareceu na sala com um sorriso neutro.
- Sim – respondemos em uníssono.
- Sua mãe finalmente cumpriu a última missão dela... – ela fechou e sorrindo concordou, era como se alguém estivesse conversando com ela – ela está muito feliz com vocês... – Marluce estava com lágrimas nos olhos.
- Como assim? – Marcos perguntou confuso.
- Sua mãe nunca te abandonou Marcos, ela sempre esteve com você querido, não precisa ficar com medo, você não está sozinho, assim como você também não está Fernando – então de repente parece que Marluce voltou a si – meninos, vou pedir uma visita espiritual para vocês – ela saiu nos deixando boquiabertos.
Com essas revelações o resto do dia acabamos ficando juntos em casa e entre um filme e outro adormecemos, acabamos sendo acordados por tio Geovane que nos pegou dormindo juntos no sofá. Quando notei ele estava emocionado e dizia que a família dele estava completa novamente. A noite foi de comemoração, depois de 4 garrafas de vinho acabamos dormindo todos juntos na sala.
4 meses se passaram, tudo era novo de novo, o primeiro natal, os primeiros aniversários, no caso meu e do Marcos, ambos de abril com uma semana de diferença, a primeira viagem a Chapecó, depois de anos sem ir para lá o que foi uma experiência bem interessante já que reencontramos a prima que cuidou de mim quando meus pais morreram.
Com o tempo descobri que eu e Marcos tínhamos muita coisa em comum e que a ligação que pensamos ter sido rompida a tempos só se fortaleceu. Felipe com o tempo acabou se tornando amigo de Luiz, mas a de Marcos foi mais difícil, só depois do mesmo insistir muito, inclusive foram pescar juntos, ele, Luiz, Gabriel, Felipe Marlon que acabaram indo no reservatório que passava nas terras dos pais de Felipe, eu não fui pois acompanhei meu tio em uma audiência em Salvador e por que odeio pescar, até por que se for para pegar na vara só se for na do meu namorado!
Tudo voltou a ser como era antes. Marcos se aproximou muito de Luiz e eu podia jurar que ali estava acontecendo algo bem mais íntimo do que uma grande amizade. Era engraçado ver os dois juntos, a cumplicidade que tinham um com o outro, a troca de olhares e a sincronia entre eles só demonstrava o que já era visível, havia uma paixão unindo os dois. Então como se nada de novo pudesse acontecer, eu me enganei.
- Fernando, a gente pode conversar? – Perguntou Marcos visivelmente preocupado adentrando o meu quarto de supetão em uma tarde nublada.
- Pode – estranhei, Marcos andava de um lado para o outro – você já entrou no quarto – completei. Ele nem ligou.
- Aconteceu uma coisa e eu preciso contar para você, preciso do seu apoio – eu já imaginava o que era.
- Conta – motivei ele a falar.
- É... – Marcos estava sem jeito.
- Fala Marcos... – ele de repente parou e me encarou.
- Eu transei com o Luiz! – Ele falou tão rápido que quase não entendi.
- Sério Marcos! – Joguei meu caderno e o livro para o lado e bati na cama para ele se sentar. Ele visivelmente constrangido se sentou.
Marcos então me contou tudo. No dia da festa de aniversário do meu tio quando ele e Luiz foram deixar o Marlon em casa na volta rolou um clima estranho dentro do carro, uma troca de olhares e um beijo! Sim um beijo entre ele e Luiz.
- O pior Fernando é que eu não consegui esquecer o beijo que eu dei nele, por mais que tentávamos disfarçar o clima entre a gente estava diferente, algo tinha mudado eu já não sei mais no que pensar – ele me olhou envergonhado.
- Você gostou de beijar ele? – Marcos me olhou e riu bobo, estava ai minha resposta.
- Eu me sinto completo perto dele – Marcos me olhou sem graça – sabe Fernando, eu achei que depois do erro contigo achei que nunca mais ia sentir nada por outro homem, mas parece que meu coração quer brincar comigo... – interrompi ele.
- Marcos, toda forma de amor é possível, você estar apaixonado por outro homem não vai te fazer menos homem e nem melhor ou pior do que ninguém, viva essa paixão, para não se arrepender depois – ele sorriu e deitou no meu colo.
- Hoje foi a gota d`água Fernando – comentou ele enquanto acariciava seus cabelos tentando acalma-lo.
- Por quê? – Perguntei muito curioso, afinal meu primo merecia ser feliz.
- Eu e Luiz brigamos por que uma das advogadas com quem nos reunimos pela manhã claramente estava dando em cima de mim durante a reunião, mas eu nem retribui... – fitei ele, conta outra – digamos que retribui por educação – agora sim, está melhor – Luís percebeu e se irritou, ele então pediu licença e foi ao banheiro, mas acontece que ele não voltou de lá, ele me deixou sozinho com elas, liguei para ele e ele não me atendeu – Marcos falava com uma certa raiva na voz, essa raiva não era ruim, era ciúmes, frustração.
- Calma Marcos, não me diga que você fez besteira? – Ele me olhou se entregando, fiz cara de reprovação para ele.
- Não gostei do comportamento dele e fui procura-lo – Marcos estava calmo, fiquei com medo – enquanto o procurava pelo shopping encontrei ele conversando com aquele professor da academia sabe, aquele que não vou com a cara dele – Marcos se referia ao Junior, um dos professores de Boxe, ele realmente era folgado, deu em cima de mim diversas vezes e segundo as más línguas ele não podia ver um cuzinho de macho que queria meter pica – sei o que você está pensando Fernando e por isso Mesmo arrastei Luiz de perto dele, mas Luiz brigou comigo e seguimos até o escritório sem trocar uma palavra sequer – completou ele, eu imaginei a cena e ri.
- E aí? – Perguntei fazendo meu primo continuar.
- Ele foi para casa, sem se despedir de mim e lógico 15 minutos depois fui atrás dele – já imaginou o que aconteceu – Luiz estava sozinho em casa, ele me tratou com indiferença, nós discutimos, eu dei um tapa nele, ele me deu outro, eu beijei ele e o clima esquentou entre a gente – eu ouvia sem piscar – quando me dei conta Luiz estava de quatro na cama enquanto nos beijávamos e eu atrás dele de calça arriada metendo pica nele como se fosse a última coisa que eu faria na vida... – Marcos me encarou, pela sua cara aminha deveria estar estranha visto que meu primo tinha acabado de me contar que tinha transado com seu melhor amigo – fala alguma coisa Fernando? – Me cutucou ele.
- E o Luiz, como está? – Perguntei, me primo se levantou e olhou a janela.
- Ele me expulsou da casa dele dizendo que o que aconteceu foi um erro, que não poderíamos mais nos ver, que eu tinha tirado a virgindade anal dele – meu primo estava triste.
- Ele era virgem, que foda Marcos – entendia a confusão na cabeça de Luiz, a primeira vez pode ser frustrante, traumatizante se não for legal – você vai fazer o seguinte, vai comprar uma garrafa de vinho, chocolates, e vai convida-lo para jantar fora – Marcos assentia com a cabeça, mais uma coisa, você gosta dele? – Marcos baixou a cabeça envergonhado, mas logo me encarou de novo.
- Sim, eu não penso sequer em ficar longe dele – havia esperança em sua voz.
Marcos deixou o clima esfria, então no outro dia a noite ele botou em prática as dicas que dei. O resultado foi melhor do que a encomenda. Ele e Luiz brigaram, mas se acertaram e segundo o que seu Antônio falou Luiz e Marcos pegaram o carro e foram para uma pousada em Caldas Novas, voltando só no domingo à noite e assumindo o namoro para o meu tio e para o seu Antônio que nada puderam fazer, eu parabenizei eles, quem era eu para falar algo, queria mais é que os dois fossem felizes juntos.
No outro sábado estávamos em casa só eu e meu tio. Marcos e Luiz estavam no escritório trabalhando juntos em um “caso”, Felipe estava fazendo compras para o churrasco de mais tarde com Marluce e dona Leticia enquanto eu e o tio Geovane estávamos em casa limpando a área de lazer já que mais tarde teríamos visitas e o lugar tinha que ficar organizado. Estávamos quase acabando quando a campainha tocou.
- Filhote, atende a porta para mim? – Pediu ele - espera, vamos os dois, quero pegar mais uma cerveja lá dentro – revirei os olhos saímos em direção a sala. A campainha tocou mais uma vez.
- Já vai... – me calei assim que abri a porta e vi de quem se tratava, não podia ser, eu estava sonhando, ou pior tendo um pesadelo.
- Fernando, quem... – meu tio se calou, nos entreolhamos – Enzo! Não pode ser – meu tio exclamou confuso, incrédulo, ele começava a tremer de nervoso.
- Geovane! Fernando? – Ou era uma brincadeira de muito mal gosto ou meu pai tinha ressuscitado dos mortos, pois pela aparência de um Geovane mais novo e menos encorpado era ele que estava parado no batente da porta com um sorriso de orelha a orelha esperando nossa reação.
Continua....