Amor cego
Estava em um momento realmente confuso, não poderia falar com ele pois eu estava errado em estar mexendo nas coisas dele, mas também não queria ter surpresas ruins durante a minha viagem. Resolvi não comentar sobre nada e ficar bem atendo as atitudes dele, ao menor sinal de coisa errada eu sairia correndo sem dúvidas.
- Alguma coisa errada Pedro? - Perguntou Ângelo ao me ver parado o olhandofixamente.
- Não, nada. E você tem algo que queira me falar? Perguntei com olhar duvidoso.
- Não, você às vezes é meio estranho, mas ainda assim é lindo - respondeu Ângelo me dando um selinho e levando nossas malas para a sala.
- Vai viajar de novo Ângelo? Porra tá com dinheiro hein pediu demissão outra vez? - perguntou Miguel ao ver nossas malas na sala.
- Não se mete Miguel, vou apresentar o país pro Pedro. - disse Ângelo tentando disfarçar.
Eu ouvia tudo aqui com muita dúvida, será que o Ângelo era um desses caras que traficavam drogas e se arriscava a esse ponto? Essa era apenas uma das muitas perguntas que martelavam na minha cabeça, isso sem falar que sempre me benzia mentalmente sempre que via um carro ou agente da Guarda, polícia local, só imaginando a vergonha que seria ser preso por formação de quadrilha e tráfico de drogas e logo no país que mais amava depois do meu.
A caminho da estação de trem encontramos David próximo ao centro de Dublin, fiz questão de parar e falar com ele mesmo a contragosto de Ângelo.
- Indo embora sem se despedir? - brincou David correndo os olhos em nossas mochila - meu pai nunca ia te perdoar - completou ele fazendo cara de drama.
- Larga que ser bobo, estou indo dar uma volta pelo país e o Ângelo se candidatou a ir comigo, volto dias antes de ir embora - respondi.
- Muito solicito o Ângelo - disse David com um tom pesado de deboche é um riso falso.
A reação de Ângelo a provocação de David foi apenas de se afastar é como numa premonição ou aviso de alerta David soltou:
- Não confia em quem você acabou de conhecer assim, você sabe o que ele te contou apenas. - David disse isso já se afastando e seguindo seu trajeto.
Pra quem já estava confuso as palavras de David soaram como um soco, não tinha como seguir viagem com tudo isso na cabeça precisava falar disso com Ângelo. Diante da necessidade e urgência em tirar essa história a limpo sugeri que parássemos para comer algo antes de embarcar, escolhemos um lugar simples próximo à estação de trem e não consegui fazer muitos floreios na história.
- Ângelo eu achei drogas nas suas coisas hoje enquanto arrumava as malas, preciso que você me diga que aquilo não é seu.
- O que ? Você mexeu nas minhas coisas sem a minha permissão? - respondeu Ângelo com os olhos já irreconhecíveis.
- Não eu não estava mexendo nas suas coisas eu estava arrumando as malas para a nossa viagem e nem adianta tentar desviar o assunto. Vai ou não me explicar?
- Aquilo lá não é meu e de um amigo do Miguel que paga pra gente guardar lá.
- Desculpa mas não dá pra acreditar. Eu mal te conheço quem me garante que não tá mentindo ?
Nesse momento Ângelo se levantou abruptamente e com o rosto transfigurado de raiva
- Só porque sou mexicano você acha sou traficante e que não presto ? Depois de tudo que eu confiei em te falar é assim que você me trata? É isso que você pensa de mim? Por acaso no Brasil vocês andam pendurado sem galhos e se vestem de índios? Acho que não né !
Não podia esperar uma reação mais tranquila de Ângelo frente às acusações que eu havia feito, mas a dúvida ainda persistia, confiar ou não nele?
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