Boa noite caros leitores, como foi a semana de vocês? Eu espero que o fim de semana seja ótimo para todo mundo, tanto para quem vai trabalhar como pra quem vai ficar à toa. Mudando de assunto percebi que meus últimos dois capítulos do conto deram o que falar. A maioria gostou do desfecho maus um ou dois não gostaram. Felizmente não faço o conto para um ou dois, escrevi o conto através de um ponto de observação meu e não dos outros. Se fosse para o Fernando ficar com o primo, eu escreveria a minha história real (coisa que irei fazer quando terminar de postar Ação e Reação) já que meu companheiro é meu primo de 1° grau, não queria que a história ficasse muito parecida com a minha e nem que se tornasse um cliché, já que tem tantos contos assim aqui. Prezados nem toda história de amor é carnal e nem todo homofóbico é apaixonado pela vítima ou vice e versa, vamos ter um pouco de amor próprio pelo amor de Deus. Em relação ao conto esse é o penúltimo capítulo e espero que vocês gostem, pois, o último será postado de madrugada. Espero de coração não ter ofendido ninguém. Boa leitura.
Obs: Leitores, na nesse capítulo me refiro a duas cidades de SC. Por favor se algum leitor de lá estiver acompanhando não se sintam ofendidos, tenho familiares lá e as usei como fundamentação.
Outra coisa, algumas expressões vocês podem não conhecer, quaisquer coisas me peçam. No mais boa leitura, votem e comentem.
Resposta aos comentários:
VALTERSÓ: Primeiro, não lhe obriguei a ler meu conto, lê quem quer. E em relação a opção sexual me expressei mal, me desculpe! A história chegou onde tinha que chegar sem ser confusa e sem sair do enredo, me admiro você não entender a ideia central, já que é um dos leitores mais ávidos que me acompanham. Era óbvio que Fernando e Marcos não ficariam juntos, nem todo gay é apaixonado pelo primo, quer dizer até foi, mas no fim era mais admiração. Fernando foi parcial, em nenhum momento mostrou interesse no primo, sempre agiu com transparência e no fundo tinha saudade dos tempos em que eram amigos. Marcos não foi idiota, ele foi babaca, mas vai descobrir que o amor que tem por Nando era tesão e quem disse que esse negócio de proteção não existe, cara existe sim! Se quiser continuar lendo tudo bem, senão eu entendo, não posso agradar o interesse individual de um leitor só.
arrow: Obrigado. Boa leitura.
Sr.Anônimo : Desculpe a demora, vida de engenheiro não é fácil. Boa leitura.
magus: Magus, como vai? Muito obrigado por comentar e entender o capítulo. Enfim, o pai dele está vivo nesse capítulo ele explica o que aconteceu a ele. Não fique triste contarei meu relato de vida, deve por alto ter uns 35 capítulos. Boa leitura.
nayarah: Que bom que gostou. O Marcos no fim é uma vítima, ele foi vítima da ignorância, da intolerância, se deixou levar por valores retrógrados e acabou ferindo uma das pessoas que ele mais amava. Em relação ao pai você vai saber nesse capítulo.
Morennaa: Boa noite, então...eu no início até pensei nisso, mas aí iria ficar muito parecido com a minha história e não seria tão legal pois quis deixar a criatividade rolar. Sim o pai dele está vivo, nesse capitulo você vai saber de tudo.
Lipe*-*: O Lipe, sem sal não, eles se amam, isso é o que importa. Obrigado e boa leitura.
Plutão : Que bom que gostou! Mais um leitor que entendeu a ideia central da história! Fico feliz que você tenha se emocionado com o capítulo pois fiz para causar esse sentimento nos leitores.
Marcos sempre foi bissexual, deixei isso meio implícito no conto, ele nunca fluiu esse lado dele, mas descobriu no melhor amigo um sentimento tão ou mais forte que a amizade. Digamos que um completa o outro. Enzo realmente voltou e nesse capítulo tudo é explicado. Abraços e boa leitura.
Nara M: Você realmente subiu no meu conceito em um depoimento dado em dos capítulos de OPPD. Realmente essa violência tem que acabar. Tirando o que aconteceu no passado entre eu e Robson, quase não sofri homofobia, aliás, nunca sofri homofobia, antes não existia isso se é que me entende, eu tenho 26 para 27 anos. Esses tempos atrás fui parar na delegacia por defender um casal homo aqui em BH (o machão que veio me peitar não aguentou o meu jabe). Nara eu passo despercebido, mas nem todos têm a mesma sorte e ele não contava que eu lutava boxe, eu fui tentar apartar e o filho da puta tentou me dar um soco e acabou apanhando e indo preso. Nara eu sou contra a violência, mas defendo os que não podem se defender, acho que a sociedade tem que se atentar mais a isso.
Em relação ao conto muito obrigado pelos elogios, realmente Fernando é o ponto central, creio que não deixarei tantas saudades assim, contarei minha história para vocês aqui da CDC, de como meu primo homofóbico hoje é meu companheiro.
henrinovembro: Te surpreendi? Vou te surpreender mais...Boa leitura.
Alex curte peludo: Meu amigo, como vai você? Isso mesmo! Que bom que vivemos em uma democracia onde temos o livre arbítrio. Eu agradeço que tenha gostado, você e mais outros tantos entenderam a ideia central da história, nunca foi uma história de amor carnal entre primos e sim fraternal. Como Kardecista há mais e 15 anos e médium acredito que os espíritos venham auxiliar e serem auxiliados, eu mesmo já ajudei alguns como fui ajudado. Não fique triste, eles estão olhando por você, nunca estamos sozinhos. Enfim... você acertou, amor e perdão. Cara cansei de ler contos sobre o gay fraco que apanha de macho e se apaixona por ele ou então o do passivo que é puta na cama...não estou julgando, mas somos bem mais que isso! Quis mostrar que nem todo homossexual cai de boca no primeiro pau e que todos, independentemente de trejeitos temos sentimentos. Amor e perdão são coisas que estão faltando hoje em dia cara. Quando meu falecido companheiro começou a visionar o conto ele queira algo parecido com o que escrevo, então juntei a minha vontade a dele e estou realizando seu desejo. Espero que ele esteja feliz onde estiver. Cara muito obrigado pelos elogios, sua educação me surpreende. Boa leitura.
Uno: Nossa cara! Fiquei até sem graça com seus elogios. Muito obrigado, percebi que você é um leitor que preza por qualidade, isso é muito bom pois significa que meu conto lhe atendeu perfeitamente. Eu sou engenheiro civil, escrevo como hobby, mas quem sabe futuramente não viro roteirista. Cara Ação e Reação é um divisor de águas pois me deu maturidade para contar minha história aqui na CDC. Continue acompanhando e boa leitura.
Rose Vital: Boa noite Rose, como vai você? Eu posso estar até enganado, mas tenho quase certeza que você é ariana, um conhece o outro. Fico feliz que tenha gostado do capítulo, eu devia ele a vocês, acredito que consegui passar tudo o que queria sem enfeitar a história. Marcos se culpou durante anos, ele se sentiu sujo e imoral amando Fernando mais do que fraternalmente e tudo então juntou e um mix de sentimento de culpa, desejo, amor e ódio culminaram na fatídica noite. Marcos é tão vítima como Fernando e sim ele se surpreendeu pois foram fatos omitidos pelo seu tio. Fernando se soubesse tinha ido atrás e o que Marcos menos queria é que Fernando o visse naquele estado. Todos terão seu final, até o Giovane, grande homem ele. Enzo está vivo sim, nesse capítulo vocês saberá o que aconteceu. Boa leitura.
Ação e Reação – Entre irmãos – 2° temporada
- Geovane! Fernando? – Ou era uma brincadeira de muito mal gosto ou meu pai tinha ressuscitado dos mortos, pois, pela aparência de um Geovane mais novo e menos encorpado era ele que estava parado no batente da porta com um sorriso de orelha a orelha esperando nossa reação.
Os minutos se passaram como se fossem horas e ninguém nada falou. Um clima estranho se instalou entre nós, o silêncio era arrepiante e olhar para aqueles dois homens grandes e notar a semelhança deles era mais ainda. Meu tio confuso, estava com lágrimas nos olhos, o suposto irmão estar ali era algo impossível, como se visse um fantasma ficou branco feito papel.
- Enzo... – sussurrou ele.
- Pai...!? – Me escorro em meu tio que está logo atrás de mim, sinto suas mãos me segurarem e ele me olhar com a mesma cara de espanto, surpresa e um certo pânico – é você...? – me calei, eu estava perdendo a noção do ridículo.
Confesso que quando eu era bem mais novo e já ciente do que tinha acontecido aos meus pais, umas duas ou três vezes me peguei imaginando como seria se eles um dia voltassem e batessem na porta aqui de casa, ao atender eles estariam ali com um belo sorriso no rosto dizendo que tudo não passava de um mal-entendido, que eles estavam vivos. Com o tempo percebi que o amor que principalmente meu pai me dava o tio Geovane também me dava, inclusive sendo mais protetor e carinhoso. Acabei esquecendo de tudo isso e conforme fui crescendo se me dissessem que isso realmente iria acontecer um dia provavelmente rolaria no chão de tanto rir, mas o que está acontecendo agora não é nada engraçado, tem um estranho que é a cara do meu pai e o estranho vai ser saber o que esse fantasma que não é tão fantasma quer aqui.
- Enzo! – Meu tio sorriu, mas logo depois ficou com uma expressão dura – não pode ser.…você...ele está morto... - meu tio me olhava confuso, como se explicasse mais para ele do que para mim.
- Sou eu mesmo Geovane... – meu tio me soltou e empurrou ele o derrubando no chão, acabei intervindo mesmo abalado para não deixar o meu tio agredir o cara.
- Que brincadeira de mal gosto é essa? – Ele bufava de raiva.
- Para ti... – Fui interrompido por meu tio.
- O ENZO ESTÁ MORTO! – Berrou ele, mas se conteve assim que notou minha cara de assustado, ele sorriu e passou a mão no meu ombro olhando para o cara – você não tem o direito de debochar dos mortos, não tem direito de fazer isso comigo e principalmente com o Fernando, quem é você? – Perguntou irritado com o dedo em riste.
- Geovane... – o estranho se calou assim que meu tio peitou ele.
- Você não é o Enzo! – Exclamou meu tio como se estivesse dando um veredicto.
- NÃO! – Foi a vez do cara gritar, ele estava emocionado e se exaltou também. Por incrível que pareça minha intuição dizia que ele era confiável. - Meu irmão...sou eu! – Tentou em vão o estranho.
- Você não é meu irmão - meu tio estava começando a tremer enquanto o estranho tentava argumentar com ele. Pelo que vi meses antes ele fazer com o Claudio não duvidava nada que se repetiria com o meu suposto pai se ele insistisse em seguir com isso.
- Por favor – Foi minha vez de se intrometer – vamos mante... – meu tio me interrompeu me segurando firme no ombro, chegou a doer, mas relevei.
- Não tem nada de por favor Fernando... – meu tio me olhou com a cara fechada – seu pai morreu há 15 anos naquele maldito acidente aéreo – Meu tio apontou o dedo para mim, coisa que ele nunca fez. Fiquei puto de raiva.
- Não aponta esse dedo para mim tio e baixa a voz para falar comigo, eu não estou gritando com o senhor, seu mal-educado – o repreendi, ele viu que fez besteira e se conteve, mas ainda assim tremia.
- Fernando me desculpe, mas o que eu estou tentando dizer é que se ele realmente fosse seu e estivesse vivo, garanto que já tinha vindo muito antes nos procurar
- Eu sei... – afirmei tristonho, mas conformado. Meu tio encarou o homem que agora estava mais calmo
– Olha... realmente você é muito parecido com o meu irmão, assustadoramente parecido, mas entenda, o Enzo morreu, quem lhe mandou para pregar essa peça na gente e debochar da nossa cara perdeu a viagem, me de licença, mas temos coisas a fazer, me desculpe, mas é que dói demais brincar dessa forma com alguém – meu tio ia saindo e fechando a porta, mas eu segurei ele pela mão, ele apertou.
- Fernando – o suposto Enzo me olhou, tocou meu ombro e sorriu para mim, meu tio entrou na frente tirando a mão dele do meu braço e fazendo ele se afastar.
- Não toca nele – meu tio parecia um urso defendendo a sua cria - eu não sei quem é você maldito, mas se você encostar nele de novo e não sumir da minha casa agora, eu juro por Deus que eu não respondo por mim... – meu tio exalava ódio com seu dedo apontado na cara do estranho. Peguei em sua mão, eu tinha o poder de acalma-lo.
- Calma tio... – olhei para o estranho - vai embora – supliquei para que o cara fosse embora, pois estava difícil controlar o tio Geovane.
- Não! – Ele parou onde estava - eu não vou embora...– o cara não terminou a frase, pois foi interrompido por meu tio que desferiu um murro em seu rosto. Assustado e pego de surpresa com essa atitude dele me pus a frente do estranho que estava caído com o nariz sangrando tentando se recompor evitando que meu tio fosse para cima dele.
- CHEGA TIO! – Berrei com raiva chamando a atenção dele que parecia fora de si – para que isso hein? Virou um valentão agora? – Ele me olhou e senti que ficou envergonhado.
- Ele está mexendo com feridas difíceis de cicatrizar... – Meu tio começou a chorar baixo, me deu pena dele.
- Não importa, que exemplo para mim... – me virei e ajudei o cara a se levantar – você faça o favor de sumir daqui e nunca mais voltar – exigi sério.
De repente como se soubesse o que tinha feito, o estranho se recompôs, limpou o nariz que sangrava e com um olhar de tristeza seguiu até a rua. Antes de sair portão a fora se virou e encarou meu tio a quem eu segurava pelo braço tentando acalmar – tchau Gino... – disse com pesar e de cabeça baixa chorando discretamente saiu pelo portão. A reação do meu tio foi quase imediata, quando me dei conta tentava segurar ele enquanto corria atrás do cara. Quando alcançou ele o segurou pelos braços apertando -o contra o muro da casa.
- Solta ele tio, para... – eu implorava, não queria confusão, ele tremia e os dois se encaravam, era notável a semelhança entre ambos.
- Do que você me chamou? Repete... – havia um estranho brilho nos olhos do meu tio e uma certa tensão no ar, nem atenção ele me deu.
- Gino... – ele disse e sorriu – era seu apelido quando éramos pequenos, ou você se esqueceu? – Meu tio largou o suposto Enzo e me olhou aéreo, como se tivesse visto um fantasma, algo familiar ele ouviu.
- Isso não prova nada... – ele negou com a cabeça tentando não acreditar, deu as costas e sai – vem Fernando, vamos embora - por algum motivo o estranho me passava confiança, sorri para ele e acompanhei meu tio.
- Com certeza não prova, mas eu sei de algo que você lembra com certeza, eu te conheço Geovane, seu extinto de proteção com os seus é muito grande e isso é desde que éramos pequenos – meu tio olhou para trás e fuzilou o estranho com o olhar.
- Você não sabe nada de mim! – Meu tio rebateu seco, Enzo apenas sorriu como se esperasse ele dizer isso.
Ele então respirou e se sentou, meu tio seguiu ele pelo olhar e cruzou os braços na sua frente.
- Foi nas férias de julho de 1981 – ele franziu a testa pensativo – estávamos passando uns dias na colônia lá na casa da tia Pierina, fazia um frio de manhã, tinha dado geada na madrugada e saímos pelo potreiro para colher pinhão logo de manhã, o chão ainda estava branco, com gelo, eu lembro do frio cortante Geovane, você brigando comigo, nós parecíamos dois bocós, lembra? – Enzo sorriu, meu tio franziu a testa – quando paramos perto das pedras para colher uma pinha eu não vi que uma urutu cruzeiro estava tomando sol e ela acabou dando o bote e me picou – e então foi que o suposto Enzo levantou a barra da calça e lá estava a marca de duas presas no tornozelo - você matou a cobra com uma pedrada e me levou do jeito que pode de volta para casa da tia que era mais perto que a da vó. Eu lembro de você chorando dizendo que a culpa era sua – ele estava longe, mas voltou a si e olhou com raiva pro estranho - lembro da surra que o pai te deu por causa disso, você não merecia apanhar depois de ter salvo minha vida, ele jogou a culpa toda em você dizendo que você provocou a cobra – o suposto Enzo a medida que contava limpava as lágrimas, meu tio começava a tremer de novo, eu me aproximei dele por precaução – foi a primeira vez que me senti protegido por você sabia... – ele limpou as lágrimas, por um instante meu tio desarmou, era uma confissão e eu já não sabia mais no que pensar.
- Isso todo mundo sabe... – disse meu tio com desdém – quem me garante que você não pesquisou a vida do meu irmão e a minha.... – Meu tio para argumentar era muito bom, mas o estranho não tremeu na base, ele ficou neutro.
- O que ninguém sabe Geovane e que eu vou contar agora para você é que eu lembro muito bem da proposta que você me fez tempos depois de voltar ao Brasil, lembra? – Meu tio olhou tentando entender.
- O quê? – Perguntou cerrando os dentes e apertando os punhos.
- Qual sua idade Fernando? 20, não é mesmo? 14 de abril... – Me espantei, ele sabia da data do meu aniversário, poucos sabiam, assenti confirmando.
- O que você pretende com isso? – Perguntou meu tio nervoso.
- Quando ele tinha dois anos, você foi me visitar em Chapecó para ver se estava tudo bem com a gente – meu tio encarou ele interessado - eu te busquei no aeroporto aquela vez, voo da Rio - Sul que vinha de São Paulo com escala em Lajes. Depois no carro em uma conversa particular te confidenciei que estava infeliz, morrendo de saudade do Mario e que estava difícil levar a vida ao lado da Ângela, mas que a única esperança era criar esse menino – ele apontou pra mim meu tio começou a mudar de feição, uma lágrima escorreu do seu rosto à medida que ele se aproximava mais - você na tentativa de me ajudar , em um ato impensado e de desespero propôs transar comigo, dizendo que seria carinho de irmão para irmão – o estranho começava a lacrimejar baixando a cabeça envergonhado, eu pasmo com a mão na boca e meu tio estático como se estivessem dando um veredicto a ele – eu não podia fazer isso contigo Gino, por mais que eu estivesse com o tesão a flor da pele e carente, era exigir demais de você, além de tudo era meu irmão e já tinha me ajudado tanto dando o apoio que o resto da família não me deu, me dando o carinho de irmão e o maior presente que alguém podia me d ...- Ele se calou assim que meu tio foi se aproximando dele com a mão na boca.
- Meu Deus... – seu olhar de espanto deu lugar ao de esperança e alegria - é você mesmo Enzo, mas como? – Aquele sujeito ali era meu pai, depois de 15 anos ele aparece na porta de casa, mas porque não apareceu antes? Várias perguntas começaram a bombardear minha cabeça. Enzo sorriu e abriu os assentindo em meio as lágrimas – eu achei que tinha te perdido meu irmão.... – Meu tio começava a chorar copiosamente.
- Eu também mano, mas enfim consegui encontrar vocês, a minha família... – Enzo chorava e eles se abraçavam e riam, davam pulinhos e voltavam a se abraçar, era estranho como se fosse a última coisa que fariam – eu vou contar tudo a vocês, mas só deixa eu ficar abraçado a você Gino, deixa eu te abraçar novamente, meu irmão – eles se olharam e sorriram entre lagrimas.
- Desculpe pelo murro – meu tio passou a mão no rosto do meu pai.
- Tudo bem, eu teria feito o mesmo se estivesse no seu lugar – justificou ele.
Entrei dentro de casa ainda abalado e meio aéreo peguei meu celular que estava no aparador. Disquei o número do Marcos, essa tentativa de ligar foi um pouco falha, eu tremia e foi difícil segurar o celular na mão enquanto discava o número dele. Após chamar duas vezes ele atendeu
- Fernando, o que foi? – Perguntou ele.
- Marcos... – minha voz estava falhando.
- Fernando, está tudo bem? – Ele perguntou preocupado.
- Não, não está – comecei a chorar.
- O que está acontecendo? Você está chorando? – Ele estava visivelmente preocupado e começando a se irritar , como é que ia contar o que estava acontecendo.
- Eu preciso de você aqui, meu pai voltou para casa e eu não sei o que fazer... – disse entre soluços, se não fosse trágico seria cômico.
- Como Fernando, do que você está falando? Você bebeu. Que brincadeira idiota é essa, Cadê o pai? – Eu sei, se eu mesmo parasse para pensar o que eu estava dizendo a ele parecia ser loucura.
- Eu estou dizendo a verdade... meu pai voltou e a essa hora ele e o tio estão abraçados aos prantos na frente de casa... – a ligação foi encerrada, provavelmente Marcos finalizou e estava a caminho, pois acabei sendo bem convincente ao telefone.
- Fernando, vem aqui – meu tio me chamou e quando vi os dois estavam lado a lado foi então que tive uma noção do como era Enzo – vem dar um abraço no seu pai, vem? – Eu poderia estar ficando doído, mas ele disse isso com pesar e de repente um medo me bateu.
- Não quero... – Fui firme em minha decisão, eu estava confuso. De repente o sorriso que estampava o rosto dos dois desapareceu.
- Fernando... – meu tio me repreendeu.
- Por favor... – com súplica meu pai abriu os braços, então 17 anos da minha vida passaram pelos meus olhos e como se fossem minutos relembrei de tudo que vivi com ele.
- Eu quero saber o que está acontecendo aqui, por que o senhor não voltou antes, se estava vivo por que não deu notícias? – Cruzei os braços esperando respostas.
Fisicamente falando Enzo era um pouco mais baixo, algo em torno de 3 ou 4 cm, ele vestia uma camisa preta, calça jeans e sapa tênis. Seus cabelos castanho-escuros em um corte social começando a ficar grisalhos e uma barba mais rala que a do meu tio, mas tão bem desenhada como a dele. Seu corpo também estava mais sarado e era um pouco mais miúdo, mas o rosto parecia judiado, como se tivesse trabalhado muito tempo embaixo de sol, ainda assim era um tiozão de arrancar suspiros. Com tudo isso não tinha como negar, eram irmãos, era meu pai, só que eu percebi uma coisa, ao me olhar no espelho, eu não era parecido com ele, eu era parecido com o tio Geovane! Meu deus, o que está acontecendo.
- Vem me dar um abraço Fernando, vem filho? – Pediu meu pai de braços abertos.
- Tio? – Ele me olhou entendendo tudo, só me aproximei do meu pai quando tio Geovane assentiu com a cabeça como se me dissesse que ia ficar tudo bem.
Então como se esse abraço fosse esperado há mais de 15 anos abracei meu pai com força deixando as primeiras lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Meu pai me deu um abraço tão forte que doeu, era evidente que ele era tão ou mais forte que meu tio, mas notei uma coisa que até então não podia perceber antes e agora a situação permitia. O abraço do meu pai por mais que fosse gostoso e aconchegante nem de longe eram como os abraços do meu tio. O abraço do meu tio me passava segurança, aconchego, calma, o abraço do meu pai era gostoso, mas era o mesmo que abraçar o Mario, era alguém que eu amava, mas não era meu porto seguro. Eu não estava ficando louco, algo estava errado e eu sabia o que era. Meu tio nos observava com lágrimas nos olhos e um certo pesar que eu entendi como se fosse ciúmes.
- Que bom poder te abraçar Fernando... – sussurrou meu pai me encarando.
- É bom poder te abraçar... – sorri sem graça. Nos separamos e olhei ao redor procurando meu tio que já não estava mais na sala. Pedi pra Enzo me acompanhar e procurei por ele o encontrando na cozinha apoiado com as duas mãos na mesa de mármore, uma dose de whisky com gelo denunciou que ele estava nervoso.
- Tio – ele me olhou e tentou limpar as lágrimas dos olhos. Enzo se aproximou e acariciou seu ombro – vem comigo, vamos ali na sala – puxei meu tio pela mão, olhei para ele e me deu um aperto no peito.
- Enzo, você aceita uma água? Café? – Ele negou com a mão.
- Não, obrigado – ele agradeceu - eu quero conversar com vocês, eu sumi por 15 anos, fui dado como morto e de repente reapareço na sua porta Geovane, preciso que vocês me ouçam, é muito importante – ele estava sério, nos entreolhamos e seguimos todos para a sala que de repente foi tomado por um clima tenso e constrangedor.
- O que aconteceu Enzo? – Meu tio agora mais calmo perguntou - está difícil assimilar que você está aqui conversando com a gente quando deveria estar morto. Me desculpe meu irmão, mas o avião em que você viajava caiu, seu corpo não foi achado... ai meu Deus, olha o que eu estou dizendo...onde você esteve todos esses anos? Por que só apareceu – ambos trocaram sorrisos - seu corpo nunca foi achado, mas teve uma cerimônia simbólica, eu mesmo organizei – meu tio se segurava para não desandar.
- O importante irmão é que eu estou aqui e vou revelar tudo a vocês dois...– ele explicava com uma ansiedade na voz – vamos sentar, vai ser uma conversa longa, vem cá – ele então abraçou meu tio e pude entender o amor que havia entre eles e o porquê do meu tio ter sofrido tanto com a morte dele....
- Fernando, pai? – Marcos chegou e quando nos viu na sala com o meu pai ficou pálido, seus olhos arregalaram e pude jurar que ele ia desmaiar – é....tio?... – Ele não sabia o que falar, ficou de boca aberta.
- Marcos – tio Geovane deu um pulo da poltrona – lembra do seu tio...? – Marcos encarava nós três com uma cara que dizia que não podia estar acontecendo isso.
- Marcos! – Meu pai foi em sua direção sorrindo – que rapaz grande e bonito que você ficou, está a cara do seu pai... – Foi engraçado a reação do meu primo, ele correu para o nosso lado ficando junto comigo e com o meu tio como se fosse uma criança pequena assustada – vem dar um abraço no tio... – Marcos olhou para o tio Geovane não acreditando no que estava ouvindo e então ainda aéreo abraçou meu pai.
- Eu acho que estamos ficando louco – disse ele.
- Está tudo bem filho, é o seu tio Enzo mesmo... – Marcos fazia uma expressão tão estranha como eu há meia hora atrás.
- Isso é sério pai? – Ele olhou para o meu tio e depois para o meu pai - Você não estava morto “tio”? – Marcos respirou fundo.
- Não – disse meu pai visivelmente envergonhado e sem graça – é uma longa história que contarei a vocês – disse suspirando.
- Não! – Disse de maneira debochada - EU VI MEU PAI CHORAR E SOFRER A SUA MORTE TIO! VI O FERNANDO VÁRIAS VEZES CHORAR A NOITE SOZINHO E CONSOLA-LO ANTES DE DORMIR, SOFRER, A GENTE SOFREU JUNTO E AGORA VOCÊ APARECE VIVO COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO, NÃO ISSO É ESTRANHO DEMAIS... – meu pai apenas ouvia de cabeça baixa e com lágrimas nos olhos, Marcos gritava com o dedo apontado em riste para o meu pai, as lágrimas escorriam do seu rosto.
- Marcos! – Meu tio repreendeu ele – respeite seu tio e respeite o Fernando, olha o estado dele, você tem que pensar nele.... – meu tio apontou para mim. Marcos me olhou nervoso e veio em minha direção.
- Fica perto de mim Fernando, ele não vai te levar embora, não vai tirar você dá gente, você fica aqui...eu não vou deixar ele te levar está me entendendo – isso não estava acontecendo, meu primo surtou e me segurou junto do peito dele como se eu fosse uma criança pequena e tentava me proteger achando que eu ia ser levado embora pelo meu pai, pirou mesmo.
- Para Marcos! – Exclamei me soltando dele – pelo amor de Deus, vamos deixar ele se explicar e antes de tudo mais respeito com ele, pois é meu pai ... – Marcos olhou boquiaberto para mim, se deu por vencido e então me soltou.
- Obrigado – agradeci me arrumando – podemos voltar para a sala agora ou tem mais algo para acontecer? – Seria assim a primeira vez em anos que os Parcianello se reuniriam. Nos sentamos, o clima pesou, não era todo dia que alguém renascia dos mortos e batia a nossa porta. Nós três prestávamos atenção no meu pai que estava nervoso e tomando coragem, esperávamos ele se manifestar.
- Primeiro antes de tudo, quero pedir desculpas por todo sofrimento que eu devo ter feito vocês passar, por ter feito você achar que eu te abandonei Fernando e ter feito você sofrer mesmo sendo uma criança pequena... – ele disse isso me fazendo lembrar de todo o medo e falta que senti dele - e Geovane me desculpa, você deve ter se sentido sozinho... – meu tio assentiu de cabeça baixa, pela primeira vez em vida eu via o sofrimento de anos dando sinais ainda mais depois de ter descoberto tudo no resort. Todos estávamos abalados, Marcos sentou do meu lado e grudou sua mão na minha, olhei para ele que apesar de tentar parecer forte e me passar segurança parecia confuso. Sorri a acariciei sua mão.
- Eu não vou a lugar algum Marcos, minha casa é aqui, minha família é essa... – afirmei baixinho fazendo ele sorrir.
- O que aconteceu Enzo? – Meu tio tomou coragem e perguntou, meu pai respirou fundo e se levantou enquanto passava a mão por trás da cabeça.
- Tio! – Marcos chamou sua atenção – por mais que seja dolorido, nós precisamos saber o que aconteceu com o senhor, não vou mentir que estou achando muito estranha essa sua volta, pois nem nos meus mais loucos devaneios imaginei isso... – meu pai deu um risinho sem graça, tomou coragem e então começou a falar.
- Nunca fui feliz com a Ângela – disse meu pai – ela era interesseira, gostava do meu dinheiro, não era uma boa mãe para você meu filho, mas ainda assim era sua mãe Fernando. Eu nunca amei ela, mas sempre a respeitei, meu único amor até hoje foi e é aquele italiano birrento, grande e carente... – ele deu um risinho bobo.
- O Mario – afirmei, ele assentiu, mas notei que ficou envergonhado talvez por eu saber da orientação sexual dele.
- Espero que isso não faça você ter vergonha, raiva ou nojo de mim Fernando por causa da minha orientação sexual...– ele disse com tristeza. Me levantei e peguei em sua mão.
- Não faz, eu sou homossexual também pai... – dei de ombros, mas olhei com um certo orgulho para ele, ele devolveu o olhar e me abraçou – e inclusive meu namorado, o cara que eu amo era meu melhor amigo heterossexual – ele me olhou com malícia nos olhos.
- É um rapaz de boa família e trabalhador mano... – disse meu tio se sentando próximo.
- É um carinha meio marrento e teimoso, mas faz o Nando feliz, isso que importa para nós – completou Marcos.
- E você Marcos, tem namorada, já casou? – Perguntou meu pai curioso.
- E eu sou bissexual tio – ele olhou surpreso para o Marcos e depois olhou para o tio Giovane que assentiu – namorei anos uma mulher, hoje somos amigos e estou namorando meu melhor amigo, estamos pensando seriamente em juntar nossas escovas de dente daqui um tempo – ele olhou envergonhado para o tio Giovane – ia contar para o senhor nesse fim de semana, mas acho que já que estamos fazendo revelações né...– meu tio assentiu e riu.
- Gino, se o pai ouvisse não estivesse morto e ouvisse um negócio desses dos dois netos provavelmente morreria.... – Eles dois riram, fazendo eu e Marcos ficar constrangido – já imaginou ele praguejando os meninos em italiano.... – Eles caíram na gargalhada.
Depois da crise de riso do dois que durou mais de 5 minutos meu pai voltou a ficar sério e continuou.
- Nosso pai se matou Enzo, na carta ele pedia perdão a tudo o que fez para mim, para você e o Nando – eu não sabia disso, segundo o que meu tio falou o vô tinha morrido de doença – ele nunca superou sua morte, o filho preferido morrer acabou com ele e ele quase acabou com o Fernando... – meu tio acabou contando tudo o que aconteceu depois de sua suposta morte o que fez com que Marcos pedisse perdão de joelhos pelo que fez a mim.
Depois que demos o assunto por encerrado ele votou a falar sobre sua vida.
- Nunca escondi dela que eu era gay filho e que o nosso casamento era uma farsa, mas nem por isso a traia, a respeitava demais, ela em compensação só não deu para o sapo, pois não sabia qual era o macho – ele se sentou na cadeira, estava mais confortável para falar e nos olhar – quando você tinha 4 anos tomei coragem e comuniquei a ela que queria o divórcio, iria enfrentar tudo e todos, mas ia morar com Mario em Turim após vários pedidos dele e que levaria você comigo, já que ela nunca se importou contigo – que decepção saber que minha mãe nunca gostou de mim.
- Vocês nunca deixaram de ter contato né? – Perguntei com um sorriso, eu achava que a história de amor deles tinha acabado, mas não, ela iria renascer das cinzas.
- Até o suposto acidente não... – ele suspirou – o Giovane me ajudava com isso, mas Mario ficou esquecido na minha cabeça por mais de 14 anos meu filho... – Não pude deixar de sentir pena dele, mas não entendi o que ele quis dizer.
- Como assim Enzo – meu tio se levantou e sentou perto dele – o que te aconteceu? – Ele alisou o ombro do meu pai.
- Eu sabia que a Ângela tinha um amante Gino – ele nos olhou com pesar – acredito que era amante antigo, algum namorado, já que ela nunca quis realmente casar comigo, ela me disse isso em uma das nossas várias discussões – ele deu de ombros.
- Que vadia... – comentou meu primo se calando assim que encaramos ele.
- Ela era mesmo... – olhei para o meu pai de forma recriminatória, ele ria – não me olhe assim filho – ele sorriu – tua mãe nunca gostou da gente, ela gostava da boa vida que o dinheiro do teu avô dava a ela e só! – ele disse sem remorso nenhum.
- Safada, aquela mulher nunca me enganou... – comentou meu tio.
- Quando avisei a ela que iria me separar e ir para Itália viver com Mario, ela apoiou se fazendo de amiguinha e ainda disse que abriria mão da sua guarda, que você tinha que viver comigo, pois era seu pai e blá...blá..blá - senti um frio na barriga.
- Eu lembro do dia que você me ligou todo feliz dizendo que ia viver sua vida... – meu tio limpou uma lágrima que escorria – semanas depois eu recebia a pior notícia até aquele momento – meu pai acariciou o rosto do meu tio que sorriu.
- Eu sinto tanto Giovane...você não sabe o que eu passei... – Marcos só ouvia atentamente como se não acreditasse em nada daquilo.
- Dias depois ao chegar em casa do trabalho, peguei ela pendurada ao telefone falando com o amante, o Fernando chorava perto dela e ela nem aí, eles estavam combinando a minha morte e a sua Fernando, sua própria mãe... – Foi um baque, quis chorar, então senti meu primo me abraçar, saber que minha própria mãe queria se livrar de mim doeu, as lágrimas caíram molhando seu ombro.
- Calma Fernando...ela teve o que mereceu...não chora, todo mundo que está aqui ama você ouviu, você nunca precisou dela...- ele tentou me tranquilizar. Meu tio me encarava de pé como se um filme passasse em sua frente, seu olhar de ódio não me enganava.
- Realmente não...minha tia Letícia cuidou de mim, o tio Giovane cuidou e depois a Maria... – ele fechou a cara.
- Ela nos deixou há 15 anos Enzo, vítima de câncer de mama... – meu pai segurou em sua mão.
- Eu sinto muito pela Letícia Giovane, em uma das minhas pesquisas para procurar vocês eu li sobre o ocorrido – Ele tocou o ombro do meu tio que assentiu.
- Está tudo bem Enzo, hoje já não dói mais, só ficou a saudade... – ele disse com sinceridade. Olhou Marcos com dó, eu apertei a mão do meu primo.
- Está tudo bem mesmo tio, ela nos faz falta, mas ela sempre está com a gente, sempre está zelando por nós... – Marcos se pronunciou.
- Aquela maldita – meu tio vociferou – eu sabia que não dava para confiar naquela cadela sarnenta, só nosso pai mesmo Enzo, no mínimo era alguma puta das zonas que ele frequentava lá para os lados de Xanxerê e Arvoredo... – encarei ele de boca aberta, em nenhum momento pareceu se arrepender e geralmente meu tio não tinha a boca suja.
- Logo saquei que algo de ruim ia acontecer a mim e ao Nando, antes comigo do que com ele – ele sorriu.
- Por quê? – Marcos perguntou.
- Ela pedir para me acompanhar na viagem para Turim com o pretexto de ser nossa viagem de divórcio só me deixou mais desconfiado, foi aí que pedi para você cuidar do Fernando... – meu tio franziu a testa.
- Então é isso, você não me levou na viagem com medo de algo de ruim acontecer comigo...- meu pai não me abandonou, ele me salvou.
- Isso... – ele olhou para meu tio que agora estava nervoso – não admitiria que você se machucasse – disse sério.
- Que foi tio? – Perguntei estranhando seu comportamento.
- Nada Fernando! – Forçou um sorriso nada convincente.
- Não quis contar para você na época o que estava acontecendo Gino por que você com certeza iria se meter, se alguém tinha que pagar pelos erros, esse alguém tinha que ser eu e não vocês – justificou.
- Você podia ter avisado, a gente tentava te ajudar... – meu tio tentou argumentar, mas meu pai nem deu bola.
- No dia em que viajámos eu combinei de encontrar com ela no Aeroporto de Guarulhos, lá embarcaríamos para o Panamá onde faríamos uma conexão para Madri e depois Turim. Quando cheguei sem você ela quase morreu, o combinado era ela embarcar antes e depois ir eu e você Fernando, mas eu tive uma sensação ruim e acabei deixando você com a nossa prima lá em Chapecó, vi pela reação dela quando cheguei sem você que dessa viagem eu não voltaria e então um aperto no meu coração me comprovou que horas depois eu estaria em uma vala quase morto, mas por sorte um padre me acolheu – ele bufou.
- Como? – Meu tio deu um gole no seu whisky e se sentou, nos entre olhamos pasmo e até Marcos que estava quieto sussurrou algo – vala? Padre? Como assim Enzo? – Meu tio se alterou.
- Como eu fui bobo na época Giovane, ela mandou o amante antes para montar uma armadilha para mim – ele debochou – tudo aconteceu na sala vip do aeroporto. Quando estávamos esperando o próximo voo alguém me deu uma bebida e logo depois comecei a passar mal, ficar tonto e fui ao banheiro. Quando cheguei lá fui golpeado na cabeça e tudo ficou escuro. Acordei em um barraco perto da área florestal da capital panamenha.
- Peraí, você está dizendo que foi sequestrado de dentro do aeroporto movimentado, de dentro da sala vip do aeroporto, mas como, e a segurança? – Meu tio questionou pasmo.
- Giovane... – meu pai balançou a cabeça - em 2001, antes do 11 de setembro os aeroportos não eram tão seguros assim, pelo menos não os da América Latina. Ninguém se preocupava com atentado e tal, como não havia uma fiscalização rígida foi fácil corromper dois ou três responsáveis, qualquer história bem contada convenceria qualquer um meu irmão – ele explicou.
- Continue... – disse meu tio pensativo.
- Acordei em um barraco, estava com uma dor de cabeça danada e tomei um susto quando vi que o cara na minha frente apontando uma arma para mim era o amante da Ângela e que ele era idêntico a mim – ele disse pensativo – ela tinha um amante parecido comigo, entendi naquela hora que ela me amava, mas eu não poderia ama-la, então estava pagando um preço alto por essa indiferença, vi raiva nos olhos dele que disse que ia me matar e depois iria para a Europa com a Ângela se passando por mim... – ele suspirou e me encarou.
- Credo, que gente ruim... realmente isso pode acontecer... – meu primo disse.
- Pode sim Marcos – afirmou meu pai triste.
- E aí tio, como o senhor escapou? – Perguntou ele.
- Antes de atirar em mim o amante confessou que estava fazendo isso a mando dela e que depois de me matar embarcaria no avião e ia com ela para Turim onde matariam o Mario e voltariam para acabar com o serviço, iam te matar Fernando.... – Meu pai começou a chorar – foi nessa hora que eu reagi e tomei um tiro na barriga, ele levantou a camisa e lá estava uma cicatriz no baixo ventre – acredito que era a primeira vez que o cara tentava matar alguém, ou atirava, pois logo ele ficou tenso e começou a andar de um lado para o outro, então ele me pegou e me levou para perto de uma barranco onde havia muitas pedras, ele sussurrou que eu ia apodrecer lá embaixo, ninguém ia me encontrar e que se você estivesse comigo ia junto... – eu ouvia aterrorizado – o idiota achando que eu estava fraco afrouxou meus braços o suficiente para eu reagir e matá-lo quebrando seu pescoço, mas no movimento caímos os dois ribanceira abaixo, o corpo dele me protegeu, mas eu bati forte a cabeça em uma pedra e desmaiei sendo encontrado horas depois – meu tio interrompeu ele assustado.
- Meu Deus... – meu tio sentou encostado na parede – que horror Enzo, você matou o cara... – meu tio olhou para ele surpreso - mas como sobreviveu? – Perguntou.
- Quando acordei não sabia onde estava, não sabia quem eu era, mas sabia que estava em um quarto humilde onde em uma das paredes havia um crucifixo e do meu lado havia uma freira que surpresa começou a falar em espanhol comigo, lembro que demorou horas até eu entender o que havia acontecido. Naquele momento eu acordava depois de mais de 6 meses em coma – ele disse e nossa reação foi a mesma.
- Coma? – Perguntamos em uníssono.
- Sim – assentiu meu pai - quando eu acordei estava em um hospital de um vilarejo distante, quem me encontrou imaginou que eu estava com problemas e me levou para longe da capital, cuidou de mim e depois me deixou na porta do hospital, pelo menos foi o que me disseram – eu estava chocado - o engraçado Giovane é que até hoje não sei quem foi esse anjo que me salvou e não me deixou morrer – ele sorria com seu pensamento longe – onde essa pessoa estiver sou muito grato – ele limpou uma lágrima.
- Enzo, mas por que você não procurou as autoridades depois de se recuperar, por que não procurou ajuda mano, tentou nos contatar, eu podia ter ido te buscar... – meu tio foi interrompido.
- Eu perdi a memória Giovane! – Ele baixou a cabeça e mostrou uma cicatriz grande - eu fiquei 14 anos no escuro sem saber quem eu era, como fui parar em um lugar onde não falavam minha língua, onde eu era um desconhecido, uma aberração, onde eu nem sequer sonhava que tinha uma família, todo mundo me olhava com pena... – ele respirou fundo e nos encarou – se não fosse graças a irmã Consuelo e ao Padre Ramon provavelmente eu estaria morto ou preso! – Ele explicou.
- Quando descobri que teria que sair do hospital o padre Miguel e a irmã Consuelo me acolheram no colégio interno onde lecionavam as matérias e administravam, eles nunca me fizeram perguntas, pois sabiam que eu não conseguiria responde-las – ele tirou os documentos do bolso – logo eles trataram de conseguir documentos novos para mim, hoje me chamo Samuel Herrera, foi a maneira de passar despercebido pelas autoridades – ele justificou.
- Bom Enzo, mas agora podemos recorrer, você ter sido dado como morto no acidente foi um erro e você vai ter que prestar contas – meu pai assentia.
- Pai, mas o senhor ficou na escola todo esse tempo? – Perguntei curioso.
- Não – ele negou com a cabeça – quando me recuperei fui buscar trabalho, não poderia viver como jardineiro do internato muito tempo e eu precisava refazer minha vida, mesmo sem saber quem eu era – ele sorriu, mas era muito triste – foi então que passei a me redescobrir, primeiro que eu amava cozinhar e que eu falava italiano... – ele foi interrompido.
- Você sempre cozinhou bem mesmo mano, o pai que não quis que você fizesse gastronomia, dizia que era coisa de fresco – meu tio disse coçando a barba.
- Sim! – Ele exclamou – consegui um emprego em um restaurante da região que atendia os turistas e também alguns nativos. O dono no início ficou desconfiado, mas quando percebeu que eu tinha jeito para a coisa foi me ensinando melhor e assim se passaram os primeiros 6 anos, eu o ajudava, ia pro curso de gastronomia na faculdade comunitária em uma cidade próxima e nos fins de semana quando podia ia no internato ajudar o padre que já estava velhinho e gostava que eu lesse pra ele – ele sorriu – há 2 anos atrás com muito esforço abri meu restaurante e fui tocando minha vida, conheci um rapaz mais novo, mas não deu certo, pois ele só queria meu dinheiro e desde então tenho vivido só. A irmã Consuelo eu vejo direto, sempre tomamos um café e botamos o papo em dia nas tardes de quinta. O padre Miguel morreu ano passado, mas me fez prometer que eu ia buscar minhas origens e então em uma noite a uns 8 meses atrás eu me lembrei de tudo...- ele nos encarou – lembrei de toda a minha vida anterior, foi uma loucura pois enfim eu tinha voltado a luz, foi tão bom saber que eu não estava sozinho no mundo, que eu tinha uma origem e uma história que eu acabei ficando muito confuso e tive que refazer os passos – ele então se levantou.
- Por que não apareceu antes Enzo? – Perguntou meu tio.
- Por que a medida que fui buscando notícias acabei encontrando uma matéria na internet que relatava que o voo que era para eu estar tinha caído horas após decolar e que entre os mortos estavam eu e Ângela – ele olhou pra mim e começou a chorar, eu já não tinha mais o que chorar – naquele manhã nada aconteceu por acaso, eu me salvei e salvei você Fernando, se eu tivesse te levado junto hoje estaríamos mortos, se eu tivesse que passar por tudo de novo eu passaria, pois no fim estamos vivos e eu estou aqui com vocês – ele se emocionou e meu tio acabou abraçando ele.
- Meu Deus...! – Foi a minha reação, era muita coisa revelada, minha mãe nunca me amou, ela era uma interesseira, meu pai comeu o pão que o diabo amassou e tentou dar a vida dele em troca da minha e eu que achava que não tinha pai descubro que ele estava tão perdido quanto eu.
- Seu corpo nunca foi encontrado, só teus documentos isso explica tudo! – Exclamou entendendo a situação – o da Ângela só acharam uma parte, ela teve o fim que mereceu, morreu na própria ganância – disse meu tio sem nenhum remorso.
- Ela estava tão transtornada que quando percebeu que o amante não voltava viu que algo deu errado e se mandou achando que tinha uma saída – comentei.
- Tio, mas como você conseguiu nos encontrar? Na verdade por que demorou tanto para vim para cá? – Perguntou Marcos.
- Eu não podia simplesmente aparecer e dizer oi – ele debochou – inclusive pensei muito se realmente deveria aparecer e dizer oi! – Nós rimos – talvez fosse melhor vocês viverem a vida de vocês sem a minha presença, eu não sabia como vocês reagiriam – ele olhou para o tio Giovane que sorriu sem graça por causa do murro que havia dado no meu pai algum tempo antes – mas saber que vocês achavam que eu estava morto era pior, era como se realmente eu estivesse morto... – ele fechou a cara.
- Bobagem, agora você está entre os seus – afirmou meu tio abraçando – o forte – ninguém nunca mais vai te fazer mal Enzo e você nunca mais precisa ficar sozinho e passar por tudo que passou... – sorrimos para passar confiança a ele.
- É tio, o senhor tem a nós... – meu primo se levantou e o abraçou – por todos e para todos! – Exclamou orgulhoso.
- É pai – sorri sem graça, era estranho chamar alguém de pai – bem-vindo de volta – então os 4 Parcianello se abraçaram, os 4 restantes de uma família não muito grande.
- Obrigado – ele agradeceu.
Meu tio canelou o churrasco, eu liguei para o Felipe e para os seus pais cancelando, Marcos ligou para Luiz e seu Antônio enquanto meu tio conversava na sala e matava a saudade do meu pai. Durante o resto do dia ouvimos mais sobre a vida que o meu pai tinha construído no Panamá. Ele nos contou que o restaurante dele estava tendo um bom lucro e movimento e que o subchefe estava tomando conta na sua ausência. Contou que fez poucas amizades pois era considerado esquisito, e que a irmã Consuelo era uma de suas grandes amigas e confidentes, que estava a par de sua situação e torcia por ele, inclusive pedindo para que mandasse fotos do encontro. Acabamos nos empolgando e assim secamos 4 garrafas de vinho rapidamente. Após risos, choro, mais abraços, assuntos como meu primo ter me espancado anos atrás esse que foi
- E o Mario Giovane? Como ele está? – Meu pai pediu fazendo as risadas na mesa cessarem.
- Mario sofreu a sua perda Enzo, aquele italiano chorou demais, ele ficou perdido, desconsolado, só não ficou louco por que não era para ser, ele estava te esperando no aeroporto quando descobriu que o voo em que supostamente você estava caiu no mar... – meu tio baixou a cabeça, ficamos alguns segundos em silêncio – eu que dei a notícia a ele, foi uma das a piores coisas que fiz, lembro bem desse dia... – Ele se calou.
- Bom mano, eu estou aqui, não precisa mais sofrer... – ele sorriu e apertou a mão do meu tio quebrando o clima triste na mesa.
- O Mario precisa saber da sua volta – meu tio encarou ele sério.
- Como pai! – Meu primo fez uma expressão do idiota que meu tio odiava - você vai ligar e dizer que o tio voltou dos mortos? – Meu tio ficou com cara de idiota, no fundo Marcos tinha razão – dependendo de como você for falar ou você mata o italiano ou causa uma fúria enorme nele – argumentou Marcos.
- Eu quero ver o Mario, mas antes eu tinha que ver vocês... esclarecer tudo...– ele disse sem graça – mas, será que é uma boa ideia reencontrar ele, será que não é melhor deixa-lo viver... – interrompi meu pai.
- O Mario vive por viver pai, nunca deixou de te amar – os olhos dele brilharam de alegria ao ouvir - ele casou de novo, mas perdeu a esposa e o filho em um acidente de carro – ele se espantou com a notícia – não tire a chance de tanto ele como você serem felizes, você é o grande amor da vida dele assim como ele é o seu! – Dei um tapa na mesa e sai, iria fazer uma coisa da qual não ia me arrepender.
Subi para o quarto com todos me olhando assustado. Tio Geovane estranhando meu comportamento me seguiu.
- Filhote...Fernando, o que você vai fazer? – Perguntou com receio assim que entrou no quarto.
- Ligar para o Mario! – Peguei o celular e comecei a discar, meu tio na mesma hora tirou o aparelho da minha mão.
- Não Fernando, você não vai fazer isso – disse sério – vamos esperar mais uns dias, deixar tudo se ajeitar, pois você não acha que dar uma notícia dessas por telefone pode ser um desastre? Já imaginou, você ligar e dizer: Oi Mario, será que você pode vim para o Brasil com urgência, é que meu pai voltou, ele está vivo e quer te ver! – Disse de maneira engraçada, acabei rindo e percebendo a burrada que eu estava fazendo.
- Você está certo tio – concordei em meio aos risos.
Apesar do riso dele notei que havia uma certa tristeza em seu olhar, eu conhecia ele tão bem, eu sabia o que era, o medo de me perder estava evidente em seus olhos.
- Antes de tudo tio, quero que saiba que eu não vou para lugar nenhum... – ele me interrompeu.
- Do que você está falando? – Ele me encarou confuso.
- Sobre Marcos pirar lá embaixo mais cedo, eu não vou embora, minha casa é aqui, meu lugar é aqui com você! – Exclamei, ele sorriu.
- Mas ele é seu pai, Fernando! – Exclamou tentando argumentar, mas nem ele estava acreditando no seu argumento.
- Se acaso ele me convidar para acompanha-lo, o senhor quer que eu vá embora com ele, para longe? – Senti como se eu estivesse perdido, será que agora teria que acompanha-lo, eu parecia uma criança confusa. Meu tio a quem tanto me amparou me puxou para junto dele.
- Não, você fica aqui! – Exclamou ele me dando um abraço de urso.
Estávamos abraçados quando ouvimos alguém entrar.
- Giovane, acho que já está mais do que na hora do Fernando saber, esse segredo foi longe demais... – meu pai apareceu de repente na porta do quarto fazendo eu e meu tio nos soltarmos.
- Não... – meu tio negou com a cabeça assustado – nós prometemos... – meu tio me olhou com culpa, eu sabia do que eles falavam.
- Você me fez prometer – ele não estava acusando meu tio - me deu o maior presente, a maior prova de amor que um irmão podia dar a outro... – meu Deus, era o que eu imaginava.
- Não... – ele suplicou.
- Giovane, eu voltei também para prestar contas, esse tempo pensei muito e decidi que você não pode se sacrificar pelos outros, esse tempo que estou aqui com vocês, com a minha família me fez ver que é você que merece... – ele foi interrompido.
- VOCÊ NÃO PODE... – meu tio gritou.
- Não pode o que pai? – Meu tio pirou – me conta! – Exigi.
- Fernando eu... – ele é interrompido por meu tio que vira e nos encara.
- Lembra quando eu falei que a gente faz de tudo pela família? – Meu tio perguntou e eu assenti – você foi a maior prova de amor, o maior presente que eu dei ao Enzo... – Meu Deus, eu sabia o que viria a seguir.
- Tio... – comecei a ficar nervoso.
- Não me chama de tio Fernando, nunca mais ... – berrou com raiva, seu corpo tremia dos pés à cabeça, ele se acalmou e então sorriu - me chama de pai, eu sou seu pai e você é meu filho Fernando – ele sorriu, respirou aliviado, era como se estivesse se livrando de um mal que a muito tempo o consumia. Olhei para o meu pai Enzo e ele sorriu assentindo. Era verdade, minha suspeitas se concretizaram, o tio Giovane era meu pai...