Sonhava que Fernando ia embora me deixando para trás. Ele não explicava o motivo, apenas não queria arriscar um relacionamento comigo. Eu corria na direção dele, mas ele desaparecia deixando cair o escapulário que eu o presenteei. Acordei assustado, passei a mão no lençol de cama, mas Fernando não estava ali. Levantei apressado, e fui cambaleando em direção a porta do quarto. Passei correndo pela sala e quando ia chegando na porta de saída da casa, eu ouvi barulhos vindo da cozinha.
Fui na direção do som e vi Fernando fazendo algo no fogão.
- ovos mexidos ou estrelados? - disse ele com uma frigideira em mãos.
Sorri aliviado.
- de qualquer jeito que tu fizer a gente come.
Puxei uma cadeira, e fiquei o admirando.
- ta tudo certo? - ele perguntou.
- sussa. - falei sentando.
- comprei pão pra comer com ovos. Gosta?
- gosto sim.
Fernando colocou os ovos fritos em um prato de louça.
- droga! - resmungou. - esqueci de comprar manteiga.
- tem problema não.
- também não tem café, mas trouxe refri.
Sorri.
- pode ser.
- quer mortadela?
- não. - gargalhei. - vou ficar só com o ovo mesmo.
- ta tirando onda com minha cara? - ele arqueou a sobrancelha.
- jamais Fernando, só que eu prefiro evitar teus dotes culinários. - sorri.
Peguei uma faca e comecei a partir o pão. Fernando me olhava.
- o que foi? -perguntei comendo parte do miolo.
- vem comigo. - disse ele.
- pra onde?
- sem perguntas Gabriel. Só me acompanha.
Fernando me puxou pelo braço e me levou ate o quarto.
- o que ta pegando mano?
- deu vontade de te comer novamente. Foi isso que aconteceu. - disse me jogando na cama.
Sorri.
- do nada?
- não é do nada Gabriel. Daqui há uns dias eu to indo pra missão, e só Deus sabe quando eu vou voltar.
Levantei da cama, e meu sorriso já não existia mais.
- quero te ver assim não. Vamos aproveitar. - disse passando as mãos em meu corpo.
- eu gosto de você demais Fernando. Imaginar você longe de mim é foda.
- é meu trabalho. - disse ele.
- eu sei que é cara, mas eu não gosto quando você ta nessas missões.
Fernando me abraçou firme e começou a morder meu pescoço.
- sabe por que você não gosta? - ele disse em meu ouvido.
Meu corpo se arrupiava com o do Fernando colado ao meu.
- você me ama Gabriel, por isso não suporta ficar longe de mim.
Fernando colou seus lábios nos meus.
- e por que tu também não admite que me ama?
Fernando afastou sua boca da minha, e virou as costas.
- qualé cara? Qual é teu medo? - segurei sei braço.
Fernando sentou na cama, e fez uma pausa.
Coloquei minha roupa.
- aonde você vai? - ele perguntou ao me ver de roupa.
- se você não ta disposto por mim, eu também não posso tentar por ti.
- também não é assim Gabriel.
- é assim sim Fernando. Sabe qual o teu medo?
Fernando me fitou calado.
- você tem medo de ser visto como gay. Tem medo de perder sua pose de hétero.
Fernando não disse que sim, mas seus olhos confirmaram tudo.
- quando você decidir o que quer, me procura cara.
- eu quero você moleque.
- mas eu não quero só ser um reservatório de porra, cara.
Fernando sorriu, e veio a meu encontro.
- to falando sério. - Falei um pouco chateado.
- eu não te vejo assim.
- então qual o problema em assumir que gosta de mim?
- eu te amo Gabriel. Ta satisfeito? Eu te amo seu grande filho da puta. É isso que você queria ouvir?
- foi isso que eu sempre quis ouvir cara. Foi isso que eu sempre quis ouvir. - foi difícil segurar o sorriso de felicidade.
Joguei Fernando em cima da cama, e abaixei sua bermuda. Seu pau saltou meia bomba. Fernando me olhou.
- eu te amo caralho. Eu te amo.
Fernando me puxou, e fiquei com o corpo na mesma posição que o seu. O cara passou as mãos por minhas costas, e um beijo quente aconteceu.
Deixei Fernando em casa, e segui para a minha. Liguei o som do carro, e ia ouvindo música em volume alto. Estacionei o carro e fiquei mais um tempo ali dentro. Abaixei o som, e fiquei aspirando ao cheiro que o Fernando deixara dentro do veículo.
Subi pelo elevador, e chegando ao meu andar, vi uma pessoa estranha parada em frente ao meu apartamento.
- posso ajudar? - falei parado ao lado da pessoa.
O homem ou mulher - não dava para identificar - não tirava os olhos da porta da minha casa. Sua roupa era folgada, e usava uma jaqueta com capuz cobrindo o cabelo e o rosto.
- se você não falar algo, eu vou chamar o porteiro.
A pessoa foi virando o rosto lentamente. Aquelas marcas de sangue sobre a atadura em volta do rosto que eu lembrava bem.
- ai meu Deus. - cambaleei para trás.
Caí já gritando por meu pai.
O individuo olhava para mim com o rosto torto. Em suas mãos tinha um faca melada de sangue.
- Gabriel? - disse Alexandre abrindo a porta.
Após ver Alexandre na porta, o maníaco correu, descendo pela escada.
- o que aconteceu aqui? - o cara me ajudou a levantar.
- você viu aquilo num viu!? Você viu o cara com a cara enfaixada? Agora ninguém pode dizer que é invenção minha.
- você ta bem?
- to assustado Alexandre. Esse cara ta me perseguindo. Cheguei aqui e vejo ele parado na porta da minha casa, acho que ele tava tentando forçar a fechadura.
- calma. Você quer entrar pra tomar uma água?
Balancei a cabeça que não.
- vou ligar pro meu pai. - falei já sacando o celular do bolso.
Enquanto efetuava a chamada, abri a porta. Alexandre trancou a porta do seu apartamento, e me fez companhia.
Por várias vezes a ligação caiu na caixa postal.
- nada? - Perguntou Alexandre.
- não. Eles foram almoçar na fazenda da minha tia. Pode ser que eles estejam voltando na estrada.
- pode ser, já eles pintam por aqui. Eu liguei para o porteiro, falei o que aconteceu e pedi pra ele ficar ligado.
- você viu a faca na mão dele?
- sim.
- tava melada de sangue cara. Não é melhor a gente chamar a polícia? Esse cara pode ta matando os moradores aqui do prédio, e ninguém ta dando conta.
- será que é pra tanto?
- se é pra tanto? Porra Alexandre, tem um assassino aqui dentro cara. A gente não pode ficar de braços atados sem fazer nada.
- esperamos pelo seu pai, e quando ele chegar, tomamos uma providencia.
Neguei com a cabeça.
- melhor ligar logo para a polícia.
Alexandre aproximou-se de mim, e me convenceu a não ligar.
- certo, mas eu vou ao menos ligar pro Danilo, pra ver se ta tudo certo. - falei.
Alexandre buscou um copo com água na cozinha. Danilo chegou pouco tempo depois de eu ter falado com ele ao telefone.
- cade o cara? - ele já passou pela porta alterado.
- sei lá primo. O cara desceu com tudo pela escada. - falei.
- já falei com o porteiro, e ele ta tomando as providencias lá por baixo. - disse Alexandre.
- não vai resolver de nada. - disse chateado - nunca ninguém vê. Mas o Alê viu, num viu Alê? - apontei para o Alexandre.
- Sim, eu vi. Tinha um cara armado na porta do apartamento do Gabriel.
- Ta vendo aí primo? Esse cara ta querendo me matar, velho.
- ta, mas pera aí, como vocês sabem que era homem, já que o rosto dele tava enfaixado? - Danilo sentou-se ao meu lado.
- era muito ágil e forte pra ser mulher, primo.
- olha o preconceito hen!? - falou meu primo.
- não é preconceito, mas ele tinha mais jeito de homem do que mulher.
- eu também acho que era homem. - completou Alexandre - até a forma de correr era masculina.
- e o tio? Cadê ele?
- foi almoçar na casa da tia Valentina, e ainda não chegou.
- mas tu já falou com ele?
- tentei ligar, mas não atende o celular.
O interfone tocou, e Alexandre levantou para atender.
- vou ficar aqui ate o tio chegar. - disse Danilo dando leves tapas em minha coxa.
- valeu. - Concordei com a cabeça.
- era o porteiro. - disse Alexandre após encerrar a ligação.
- o que ele disse?
- não conseguiu ver ninguém suspeito.
Respirei fundo.
- o cara já deve ter ido embora. Ou então...
- ou então? - Danilo me fitou.
- é alguém aqui do prédio. - o encarei.
- por que ta me olhando assim? Acha que sou eu?
- claro que não, mas eu tenho uma suspeita. Há mais ou menos um mês chegou um novo morador aqui no condomínio, um que é professor... Vocês não viram?
- eu não vi. - disse meu primo.
- eu sei de quem você ta falando. Mas acho pouco provável ser ele. O cara mascarado parece ser bem menor e também menos forte.
Afundei minha cabeça no travesseiro. Alexandre tinha razão, o corpo do mascarado não tinha nada a ver com o do novo morador. Estava tão desesperado para que aquilo fosse descoberto, que eu queria encontrar um culpado a qualquer custo.
- você me empresta teu carro mais uma vez primo? - falei levantando do sofá.
- empresto, mas aonde você ta pensando em ir?
- acho que já sei como resolver isso.
- beleza. Vou com você. - meu primo levantou do sofá também.
- não, você espera meus pais chegarem e explica que eu tive que dar uma saída.
- você acha que eu vou deixar você sair sozinho nesse estado?
- eu preciso ir só primo. Só quero tirar uma dúvida, mas volto logo.
Meu primo não concordou, mas acabou ficando.
- Ale, tu pode ir comigo ate o estacionamento?
- claro.
- evita ficar circulando por ai sozin primo.
- pode deixar. Tem certeza que não quer que eu vá junto?
- tenho sim. - falei me despedindo dele.
Alexandre me deixou no estacionamento, e eu peguei a estrada. Liguei o GPS por precaução, e parti para casa do Junior. Tinha quase certeza que ele era o mascarado.
Estacionei o carro, e me deu um frio na barriga. Pensei bastante antes de finalmente descer do veículo. A rua estava deserta, escura, fria. Parei em frente a cerca, e tudo tava igual a última vez que estive ali. O portão de madeira estava tombado, e tinha passagem livre. Entrei no terreno, e o capim logo cobriu meus pés. Liguei a lanterna do celular, e caminhei ate chegar ao casebre que ficava na parte de trás do galpão abandonado. Havia um único bico de luz que iluminava o grande quintal. Senti meu coração acelerar, e um arrepio como se algo tivesse passado e assoprado meu corpo.
Bati palmas várias vezes, e ninguém apareceu para me atender. Aproximei-me da porta, e comecei a bater na madeira velha. Chamei pelo Júnior, e sua mãe. Ninguém, ninguém em casa. Agora eu não tinha mais dúvidas, o Júnior era o maníaco que estava me perseguindo. Virei meu corpo para retornar ao meu carro, e me deparei com a figura do Junior me encarando.
- você me assustou. - falei com a respiração cansada.
- o que você ta fazendo aqui? - perguntou.
Junior tinha uma mochila nas mãos.
- o que tem dentro dessa mochila? - apontei com o dedo.
- pra que você quer saber?
- é você né!? Não me matou quando teve oportunidade, e agora ta me perseguindo.
Junior riu irônico.
- ta falando de que?
- não se faz de besta não cara. Você é o maníaco mascarado.
- eu? Maníaco mascarado? - e riu novamente. - Você é uma comédia. Agora vai embora que eu to com o tempo curto.
- mostra o que tu tem aí dentro.
- eu não vou mostrar nada velho. Agora vai embora daqui.
- pra que o medo cara? Só abre a mochila e prova tua inocência.
Junior bufou de raiva. O cara abriu o zíper da mochila e jogou uma pilha de roupas no chão.
- o que é isso? - perguntei.
- veja você mesmo.
- mas, mas cadê a roupa que você tava vestido? Cadê a faixa? Cadê a faca? Essas roupas são de mulher.
- sim cara. Essas roupas são da minha mãe. Ela ta internada no hospital, e eu passei o dia lá. Ta satisfeito? Você pode ir embora agora que eu preciso lavar essa roupa, e tomar um banho pra voltar. Se eu ao menos ainda tivesse meu pai pra dividir a responsabilidade.
Senti um peso na consciência quando Junior disse aquilo.
- eu fiquei sabendo da tua mãe. Eu sinto muito.
- não! Você não sente não.
- eu quero ajudar.
- quer mesmo? Então vaza daqui.
- você ta de que?
- hã? Como assim de que?
- de moto? Carro?
Junior riu.
- você acha mesmo que eu tenho essas coisas? Tô de ônibus meu irmão.
- então já sei como te ajudar. Você toma um banho, a gente passa em uma lavanderia pra deixar as roupas da tua mãe, e depois te deixo no hospital.
- dispenso tua ajuda. - disse ele.
- vai la tomando banho que eu vou arrumando isso aqui. - falei juntando as roupas do chão.
- você é insistente pra careleo né!? - ele se abaixou e me ajudou a apanhar as roupas.
- sou sim. E se você gosta mesmo da tua mãe, como disse que gosta, deixa de orgulho e aceita minha ajuda.
Junior e eu pegamos uma roupa ao mesmo tempo. Nossos olhares se encontraram, e ele soltou a peça.
- beleza. Agiliza aí que o meu banho vai ser rápido. - disse levantando, abrindo a porta e entrando em sua casa.
Eu sorri sozinho. Queria de alguma forma reparar meu erro, e tinha que começar por algum lugar.
- já to pronto. - disse Junior saindo do quarto.
- então vamos. - levantei do sofá empoeirado e fui rumo a porta.
- onde ta as roupas da minha mãe? - perguntou.
- já coloquei lá no carro. Tu ainda ia precisar da mochila?
- não.
- então bora.
Junior me acompanhou e trancou a porta da casa.
Antes de chegarmos ao carro, meu pai ligou. Atendi a ligação, e expliquei que estava tudo bem.
No caminho, Junior não falava muita coisa, apenas o estritamente necessário.
Chegando no hospital ele não me permitiu entrar, disse que preferia ficar só com a mãe.
- beleza. - concordei. - Eu posso ao menos pegar teu número pra te entregar a roupa?
- eu to sem grana pra pagar uma lavanderia. - ele respondeu.
- esquenta com isso não que eu pago. - falei.
- você ta fazendo isso pra limpar a barra com minha família? Quer apagar o que você fez?
- eu to aqui numa boa cara. Quero e vou ajudar tua mãe, mesmo que você não aceite. Sobre o que você pensa de mim não vai interferir em nada. Seu pensamento é livre. Só quero teu número pra entrar em contato quando a roupa tiver pronta.
Junior respirou fundo e me passou o número.
- me passa o teu também. Vai que tu resolve fugir com as roupas da minha mãe. - disse ele.
- faz sentido. - sorri.
Despedi-me do Junior e fui atrás de uma lavanderia. Não encontrei nenhuma aberta.
- deve ser pelo fato de hoje ser domingo. - pensei comigo mesmo.
Cheguei em casa, estacionei o carro e subi. O aparecimento do maníaco, momentos antes, já não estava tão fresco em minha mente.
Saquei a chave do bolso, e abri a porta do apartamento. Meu pai falava algo com o Danilo, que me deixou curioso. Ele falava algo do tipo: '' eu não to mais aguentando enganar o meu filho''.
- o que ta pegando pai? - perguntei curioso.
- ate que enfim chegou - disse ele me abraçando. - já estava preocupado.
- eu to bem pai. De que vocês estavam falando?
- nós? - ele pareceu surpreso.
- estávamos conversando sobre esse cara que ta rondando o condomínio. - disse Danilo.
- eu ouvi você falando sobre não aguentar mais me enganar pai. O que o sr ta escondendo de mim?
- eu não to escondendo nada Gabriel. Que historia sem pé nem cabeça. - disse meu pai.
- você pegou o final da conversa e ta imaginando coisas Gabriel. O tio tava falando o tanto que está preocupado com você.
- Tem certeza que foi só isso?
- ora Gabriel. Que desconfiança sem fundamento. Eu não tenho motivos pra mentir.
Meu pai não me convenceu, mas eu não insisti. Pode ser que eu estivesse realmente entendendo errado.
- tudo bem pai. Isso é coisa da minha cabeça. - falei encerrando a conversa. - aqui a chave do carro primo. Eu dei uma abastecida pra compensar as viagens que eu dei nele. - falei mudando de assunto.
- vish primo, nem precisava. - disse ele colocando a chave no bolso.
- precisava sim. Tô sempre usando teu carro, e é justo que eu te ajude com a gasosa.
Sentei ao lado do meu pai, e ficamos muito tempo conversando sobre o mascarado. Quando Danilo voltou para o seu apartamento, eu tomei um banho, comi um misto quente e deitei. Demorei a dormir pensando em todos os acontecimentos daquele dia.
Na segunda, antes de ir pra faculdade, passei em uma lavanderia pra deixar as roupas da mãe do Junior. No mesmo dia combinei de entrega-las.
Naquele dia o Fernando foi me buscar na saída do serviço. Encontrei com o Junior no hospital, e entreguei as roupas limpas.
- valeu pela roupa. - disse ele.
- por nada... Como ta tua mãe?
Junior olhou para o Fernando e depois para mim.
- de mal a pior. Minha mãe ta com câncer cara, e isso é uma praga. - disse o rapaz.
- eu sei. Já tinha topado com ela outra vez aqui pelo hospital. Vai da tudo certo cara, ela vai ficar bem.
- não. Ela não vai ficar bem. O câncer já se espalhou. - Junior foi realista. Seu corpo estava maltratado. Sua aparência cansada. Junior usava a mesma roupa da noite anterior. Deu um nó na gargante vê-lo naquele estado.
- já comeu alguma coisa?
- to sem fome. - disse ele negando com a cabeça.
- mas tem que comer cara. Você não quer sair pra comer fora? Ou se preferir eu posso comprar alguma coisa e trazer aqui.
Junior continuou negando.
- valeu mesmo, mas eu não quero não.
Não insisti.
- eu posso ver sua mãe?
Junior ficou um tempo mudo.
- esse horário não pode entrar visitas, mas se você vier amanhã as 16 horas, e ela quiser te ver, eu te deixo entrar.
- então eu venho de certeza.
- beleza. Agora eu vou ter que entrar. - disse ele.
- ta bom.
Junior se despediu, e virou-se colocando a mochila nas costas.
- hey Junior.
Ele virou o rosto na minha direção.
- fala.
- precisando de algo, é só me ligar.
Ele confirmou com a cabeça. Apenas isso e partiu. Senti que Junior queria chorar, talvez por isso estivesse tão apressado. Acho que ele não se permitia chorar na frente de alguém.
- que baque hen!? - disse Fernando.
- em pensar que eu tenho culpa em parte do que ta acontecendo.
- para com isso. Você não tem culpa de nada. - disse me fitando. - Vamos pra nossa casinha? - disse Fernando piscando com um olho.
- acho que vou pra minha casa. Tô com muita dor na cabeça e no corpo.
- a gente compra um remédio na farmácia pra você. Aí depois você dorme um pouco la em casa pra ver se passa. - Fernando referia-se ao seu apartamento.
Consenti que assim fosse feito. Após tomar o remédio, deitei em sua cama, e apaguei a luz. A cortina da janela estava entre aberta, então passava uma fresta de luz. Senti Fernando deitando do meu lado na cama.
- já dormiu? - ele perguntou sem se mexer muito.
- não. - respondi.
- a gente precisa fazer compras. A dispensa estava bem vazia.
Virei-me e fiquei com meu rosto colado no peito do Fernando. Achei engraçando ele propondo que fizéssemos compras.
- pode ser. Eu quero ajudar, já que to vindo aqui com frequência.
- a gente passa no meu cartão. Eu só quero que você me ajude a escolher as coisas. Não faço nem ideia do que comprar.
Mesmo estando escuro, era possível ver os olhos brilhantes do Fernando. Ele falava olhando pra mim.
- beleza. - concordei.
- e a cabeça? - perguntou.
- ainda dói um pouco.
- vai passar. - o cara deu um beijo em minha testa.
Minha mão fez carinho no peito do Fernando e desceu ate sua barriga.
- queria te comer. - disse ele.
- acho melhor não Fernando. A cabeça ta doendo de verdade.
- eu não vou te machucar. Você fica deitadinho, que eu faço o resto.
- eu não sei não.
- vamos tentar. Eu meto só a cabeçinha, se você não aguentar eu tiro.
Achei que aquilo não daria certo. Minha cabeça doía de tal forma que eu não sentia a menor vontade de transar, apenas de dormir.
Fernando ainda me comeu duas vezes naquela noite, fazendo eu desconfiar se realmente ele se importava comigo, ou se queria apenas ter comida free.
Cheguei em casa, e encucado fui direto ao computador. Pesquisei a probabilidade de um hétero virar homo, e acabei pesquisando várias outras coisas relacionados ao Fernando que me deixava em dúvida.
Encontrei um site que tratava do assunto, onde dizia que um hétero não se transforma em homo, mas poderia sentir curiosidade em parcerias do mesmo sexo. Aquilo me deixou assustado.
- se é só curiosidade, uma hora vai passar? - perguntava pra mim mesmo.
Ainda pesquisando encontrei relatos de pessoas viciadas em sexo, e a preferencia que muitos homens tinham em fazer penetração anal.
Comecei a me perguntar se o Fernando não se encaixaria entre essa porcentagem de homens.
Minha mãe apareceu na porta me chamando para jantar, e eu falei que primeiro iria tomar banho. Peguei uma toalha limpa e caí no chuveiro.
Algum tempo depois, ouvi meu pai me chamando. Desliguei o chuveiro para entender o que ele dizia.
- ta falando o que pai? - perguntei ainda no banheiro.
Eu entendi ele falando algo sobre o resultado da perícia, mas não compreendia muito coisa.
- calma aí que eu to saindo pra gente conversar melhor pai. Não to entendendo nada. - falei voltando a abrir o registo do chuveiro.
Sequei-me, enrolei-me na toalha, e saí do banho.
- fala pai.
Meu pai estava sentado em uma cadeira olhando para meu monitor. Nitidamente ele lia a matéria que eu havia esquecido de fechar.
- o que é isso Gabriel? Sexo de homem com homem meu filho? O que ta acontecendo com você?
Acho que aquele susto superou a aparição do maníaco. Eu fiquei tão nervoso que a toalha caiu da minha cintura. Meu rosto queimou, e meus lábios ficaram secos. Tentei falar algo, mas eu havia virado gago.
Continua...
Massaista.novinho, esses dias eu to enrolado com meu tcc, mas assim que eu finalizar, e ficar com mais tempo pra dialogar eu mando um e-mail pra gente ir mantendo contato. Abraços brother.