Xande – Nós vamos nos encontrar no restaurante do hotel as 19:00, ok?
Eu – Tá certo. Mal vejo a hora...
Disse sem emoção alguma.
Xande – E que carinha é essa, amor?
Eu – Tô um pouco nervoso. Só isso.
Xande – Não fique. Ele vai gosta de você, certeza. Quem não gosta?
Ele diz sorrindo.
Eu – Xande, não sei se é uma boa idéia contar pra ele em um restaurante lotado. Seria melhor irmos um pouco mais cedo e conversássemos com ele no quarto.
Xande – Acho que tá se preocupando a toa, mas se prefere assim. Nós vamos mais cedo.
...
Assim fizemos. Saímos de casa as 18:00. Eu fui o caminho todo rezando, pedindo a Deus que ocorresse tudo bem.
Exatamente as 18:28 estávamos batendo na porta do seu quarto.
Eu tava tremendo.
Seu Arthur abre a porta.
Arthur – Filho, chegou mais cedo.
Xande – Eu preciso falar com o senhor antes de irmos ao restaurante.
O pai do Xande olha pra mim.
Arthur – Tem alguém recado da recepção pra mim?
Eu – Eh, não. Não sei. Eu não trabalho aqui.
Serio, deve ter algum problema com essa família.
Xande – Não pai, ele tá comigo.
Arthur – Ah, sim! Eu acho que me lembro de você do funeral do meu pai.
Eu – Sim, eu estava lá. É um prazer vê-lo novamente.
Digo estendendo a mão a ele, que retribui o aperto.
Arthur – Eu achei que você fosse um dos garçons que meu irmão tinha contratado aquele dia. Mas entrem, to terminando de me arrumar.
Ele fecha a porta.
Arthur – Então Xande, cadê ela? Por que não veio?
Xande – Ela quem?
Arthur – Você me falou que queria me apresentar uma pessoa muito especial. Imaginei que fosse sua namorada.
Xande – É uma pessoa muito especial. Mas pessoa que eu quero te apresentar ele. Esse é o Lucas, meu namorado.
Diz segurando minha mão.
Arthur – Como assim? Namorado?! Que espécie de brincadeira de mau gosto é essa Alexandre?!
Diz transtornado.
Xande – É isso pai! Eu sou gay e tô namorando com o Lucas! Não tava mais conseguindo esconder isso de você.
Arthur – Não, meu filho... Alexandre! Isso não é correto. Você é homem! Sua mãe sabe dessa pouca vergonha?!
Xande – Calma pai! Sabe sim! E ela está muito feliz por eu finalmente ter encontrado alguém que me ame de verdade.
Ele diz sorrindo.
Xande - Quando conhecer ele melhor, eu tenho certeza que vai gostar dele tanto quanto minha mãe gosta e que vão se dar muito bem.
Arthur – Eu não quero conhecer esse rapaz que transformou meu filho em bicha!
Ele dizia me olhando enfurecido.
Arthur – A vontade que eu tenho é de te arrebentar moleque desgraçado!
Diz com os punhos fechados vindo em minha direção.
Xande – Você não vai encostar um dedo nele!
Diz se pondo na minha frente.
Eu – Xande, é melhor eu ir embora e deixar vocês conversarem a sós.
Digo me afastando.
Xande – Não amor, fica aqui!
Arthur – “AMOR”!? Olha o absurdo que você tá dizendo, meu filho! Isso é nojento! É errado!
Ele já dizia aos berros.
Arthur – Como sua mãe pode ser conivente com uma coisa repugnante dessas? Mas eu vou ter uma conversa muito seria com ela, Alexandre! E com os pais de garoto também!
Eu – Meus pais já sabem sobre nós, sobre mim! E eles me dão total apoio.
Arthur – Porque eles devem ser uns desavergonhados, indecentes! Assim como você é!
Eu – O senhor está muito enganado! Eles me apóiam porque me amam. Me apóiam porque querem o melhor pra mim! Principalmente, eles me apóiam porque querem me ver feliz e sabem que o Xande me faz a pessoa mais feliz do mundo!
Arthur – Exatamente porque eu quero o melhor pro meu filho, que nunca vou apoiar uma imundice dessas!
Xande – Pai, por favor. Não fala assim, o senhor tá de cabeça quente... Quando se acalmar, tenho certeza que vai mudar de opinião.
Xande já dizia com a voz trêmula, como se fosse cair no choro a qualquer momento.
Arthur – Eu não vou mudar de opinião Alexandre! Nunca! Eu não criei filho pra ser viado! Foi esse o exemplo que eu dei a você?!
Xande – Você não criou filho pra ser viado? VOCÊ NÃO CRIOU PORRA FILHO NENHUM!
Diz também já alterado.
Xande – Você não me criou e nunca foi exemplo de nada pra mim! Você não me ensinou nada! Nunca! Pelo menos nada de bom! Você deixou minha mãe e a mim por uma mulher qualquer. Me abandonou quando eu era uma criança! Eu nunca pude contar com você pra nada, e por conta disso eu cresci uma criança solitária e problemática. Eu tinha medo de me abrir com as pessoas, de fazer amigos, de deixar eles fazerem parte da minha vida por medo, medo de que eles fossem me deixar, assim como o meu pai fez.
A única coisa que você serviu de exemplo, foi de como decepcionar as pessoas. Você foi um exemplo de como fazer as pessoas se sentirem um lixo! Porque era assim que eu me sentia até conhecer o Lucas! Um lixo! Mas ele restaurou minha fé nas pessoas, ele virou o principal motivo de eu querer acordar todos os dias! Ele me fez uma pessoa melhor! Ele que está ao meu lado quando eu preciso, ELE!
Você voltou a fazer parte da minha vida agora e não o direito de opinar em nada! Não tem o direito de dizer com quem ou não eu posso namorar, não tem o direito de falar mal do meu namorado, que é quem só me faz bem! E principalmente, não tem o direito de criticar a criação que minha mãe me deu! Muito menos quando você não fez a mínima questão de ajudar nela.
Seu Arthur só escutava.
Xande - E olha que eu fiz de tudo pra ser notado. Eu era o melhor aluno da classe, cheguei a praticar várias modalidades de esportes que eu odiava, só porque sabia que você gostava! Inúmeras vezes esperei que você viesse assistir um dos meus jogos... Eu mandava minhas medalhas pra você, mas recebi alguma ligação sua pra me parabenizar? Não! Claro que não! Mas porque eu ainda esperava, se nem nos meus aniversários, ou no dia dos pais ou no natal você teve interesse em falar comigo?
Arthur – Mas agora eu estou aqui. Você não precisa mais dele.
Xande – Não preciso mais dele? O senhor realmente acha que eu sou como você é? Que eu simplesmente substituo as pessoas da minha vida como o senhor faz?
Diz com ironia.
Xande – Saiba que se eu te dei a chance de se reaproximar de mim, foi inteiramente por causa do Luke. Depois de todos esses anos, eu não queria nem olhar na sua cara! Foi ele que me convenceu! O senhor deveria ser mais grato a ele!
Arthur – Grato? Grato por ter feito meu único filho um viado? Eu deveria ser grato por isso? A única coisa que eu sinto por esse garoto é ódio! Desprezo!
Disse me encarando.
Xande – Sabe, eu realmente esperava que essa noite tivesse tido um rumo diferente. Eu esperava ter seu apoio, esperava que você e o Luke se dessem bem e que finalmente eu pudesse ter uma família completa... Mas mais uma vez você só me decepcionou.
As lagrimas já escorriam por seu rosto
Arthur – E eu esperava um dia ver meu filho casado, com uma bela esposa, filhos e uma vida digna! Você quem me decepcionou Alexandre.
Xande – Quer analisar quem decepcionou mais quem aqui?
Arthur – Eu fui embora porque não era mais feliz com sua mãe e me apaixonei por outra mulher. É uma situação bem diferente da sua! Eu me arrependo muito de ter deixado você aqui, mas eu tinha uma chance de ser feliz de novo e fui atrás dela!
Xande – Como é diferente? Me explica! Porque assim como você, eu estou apaixonado e tenho a chance de ser feliz. Na verdade, já estou sendo muito feliz!
Arthur – Com um homem!
Diz indignado.
Xande – Sim! Com um homem! Eu não tenho vergonha disso. Teria vergonha de ser como o senhor. Intolerante, preconceituoso, amargo...
Disse enxugando o rosto.
Xande – Mas agora de você, só espero que vá embora e esqueça que um dia teve um filho. Você já fez isso uma vez, fazer de novo vai ser fácil...
Alexandre segura minha mão e me puxa pra fora do quarto.
Dava pra ver a dor no seu rosto.
O que dizer pra alguém quando algo assim acontece? Particularmente, eu não faço idéia.
Durante o trajeto até em casa ele não disse uma palavra, também não chorava mais, só ficou calado.
Eu – Amor, eu sinto muito.
Ele permanece calado.
Eu – Xande, fala comigo! Você tá bem?
Digo segurando sua mão.
Xande – Estou...
Eu – Claro que não esta!
Xande – Mas vou ficar... só vou precisar de um tempo.
Eu – Quer que eu deixe você sozinho um pouco?
Xande – Não! Preciso de você ao meu lado mais que nunca.
Eu – Pensei que estivesse bravo comigo.
Xande – Com você não, com a situação. Ele e eu estávamos nos dando tão bem. Realmente não esperava que fosse reagir dessa forma.
Eu – Dar um tempo a ele. Deixa ele refletir um pouco. Ele vai sentir sua falta e vai te procurar.
Xande – Da ultima vez, demorou quase 15 anos pra ele sentir minha falta.
Diz forçando um sorriso.
Eu o abraço.
Eu – Eu vou está sempre aqui por você!
Xande – E isso é tudo o que preciso.
...
Passei a noite toda ao seu lado.
Às vezes até conseguia o fazer rir, mas na maior parte do tempo ele estava deprimido.
Continua.
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