Daniel
No momento em que ele abriu a porta e nós ficamos cara a cara com a Mina, eu congelei.
– O que exatamente vocês dois estavam fazendo aí dentro? – ela perguntou, movendo os olhos de um para o outro. Um resumo de tudo aquilo que ela poderia ter escutado passou por minha mente e senti uma onda de calor se espalhar pela pele.
Joguei um olhar para o Bennett e ele fez o mesmo, então voltei a encarar Mina e balancei a cabeça.
– Nada, a gente só precisava conversar. Só isso – tentei ser o mais casual possível, mas sabia que o tremor em minha voz me denunciava.
– Ah, eu ouvi umas coisas aí dentro, e certamente não era uma conversa – ela disse, sorrindo com o canto da boca.
– Não seja ridícula, Mina. Estávamos discutindo um assunto do trabalho – ele disse, tentando passar por ela.
– No banheiro? – ela perguntou.
– Sim. Vocês mandaram eu procurá-lo. Foi aqui que eu encontrei.
Ela deu um passo para o lado, bloqueando sua passagem.
– Você acha que eu sou idiota? Todo mundo sabe que vocês dois não discutem nada: vocês gritam. Então, como é? Vocês dois estão, tipo, namorando?
– Não! – gritamos ao mesmo tempo. Nossos olhos se encontraram por um instante e rapidamente desviamos o olhar.
– Então... é só sexo – ela disse, e parecia que nenhum de nós conseguia encontrar palavras para rebater. A tensão no corredor era tão pesada que eu brevemente considerei pular pela janela. – Faz quanto tempo?
– Mina... – ele começou, balançando a cabeça, e pela primeira vez eu me senti mal por seu desconforto. Nunca o tinha visto daquela maneira. Era como se até agora ele não tivesse considerado que poderia haver consequências para aquilo, além do nosso drama pessoal.
– Há quanto tempo, Bennett? Daniel? – ela disse, olhando de um para o outro.
– Eu... nós apenas... – comecei a falar, mas falar o quê? Como poderia explicar isso? – Nós...
– Cometemos um erro. Isso tudo foi um erro – a voz dele cortou meus pensamentos e olhei em seu rosto, chocado. Por que ouvir aquilo me incomodava tanto? Foi um erro? claro que sim!, mas ouvir ele dizer em voz alta... doía, por algum motivo.
Não consegui desviar os olhos quando ela começou a falar.
– Erro ou não, isso precisa parar agora. E se fosse a Susan que tivesse subido até aqui? E Bennett, você é o chefe dele! Esqueceu disso? – ela respirou fundo. – Olha, vocês dois são adultos, e eu não sei o que está acontecendo aqui, mas, seja lá o que for, não deixem o Elliott descobrir.
Uma onda de náusea me atingiu ao pensar em Elliott descobrindo isso, em como ele ficaria desapontado. Eu não poderia suportar.
– Isso não vai ser um problema – eu disse, evitando o olhar do Bennett. – Eu pretendo aprender com meu erro. Com licença.
Passei por eles e andei até a escadaria, sentindo raiva e dor como um pedaço de chumbo em meu estômago. A força da minha motivação e ética no trabalho sempre me sustentara durante tempos difíceis: a morte da minha mãe, problemas com minhas amigas. Mas o meu valor para a RMG estava agora manchado com minha insegurança. Será que o Bennett me enxergava de um jeito diferente porque eu estava trepando com ele? Agora que ele – finalmente – entendera que poderia ser ruim para ele se os outros soubessem o que acontecia entre nós, será que começaria a questionar meus julgamentos de um jeito mais amplo? Eu era mais inteligente do que isso. Era hora de começar a agir como tal.
Eu me recompus antes de sair para o jardim e retomar meu lugar ao lado de Joel.
– Está tudo bem? – ele perguntou.
Virei e o observei por um momento. Ele era mesmo bonito: cabelo escuro bem penteado, um rosto amável e os olhos azuis mais lindos que eu já vi. Ele era tudo o que eu deveria procurar em um homem. Olhei para outra direção e vi o Bennett voltando para a mesa junto com Mina, então rapidamente desviei o olhar.
– Acho que não estou me sentindo muito bem – eu disse, voltando a encarar o Joel. – Acho que vou terminar a noite por aqui.
– É mesmo? – ele disse, levantando-se para puxar minha cadeira. – Bom, eu te acompanho até seu carro. Eu me despedi de todos, caminhei para dentro da casa com o toque pouco familiar de Joel em minhas costas. Quando chegamos na garagem, ele sorriu timidamente e tomou minha mão.
– Gostei muito de te conhecer, Daniel. Posso te ligar qualquer dia desses e talvez marcar aquele almoço?
– Me empresta seu celular – eu disse. Parte de mim se sentia mal por fazer isso, afinal, eu tinha acabado de transar com um cara no andar de cima e agora estava passando meu telefone para outro. Mas era hora de deixar tudo isso para trás, e um almoço com um cara legal parecia um bom começo.
Seu sorriso se alargou quando entreguei o celular de volta, e ele me deu seu cartão. Então tomou minha mão e apertou firme.
– Ligo para você na segunda. Com sorte, suas flores ainda estão te esperando na sua mesa, o chocolate e que deve ter estragado eu mandarei outros.
– A intenção é o que vale, não se incomode com os chocolates – eu disse, sorrindo. – Obrigada.
Ele parecia tão sincero, tão feliz pela simples possibilidade de me encontrar novamente, e me ocorreu que eu deveria estar suspirando ou ficando vermelho. Mas o que eu realmente queria fazer era vomitar.
– É melhor eu ir.
Joel assentiu, abrindo a porta do carro para mim.
– É claro. Espero que se sinta melhor. Dirija com cuidado. Boa noite, Daniel.
– Boa noite, Joel.
Ele fechou a porta e eu dei partida no carro. Com os olhos grudados à frente, dirigi para longe da casa da família do meu chefe.
Na manhã seguinte, na aula de Krav Maga, considerei confessar tudo para a Julia. Antes eu me sentia razoavelmente seguro de que poderia lidar com tudo isso sozinho, mas, após uma noite inteira encarando o teto e ficando completamente maluco, percebi que precisava conversar com alguém.
Poderia ser com a Sam, e mais do que ninguém ele entenderia a tentação que era meu chefe bonitão. Mas ele também trabalhava com o Henry e eu não queria colocá-lo numa posição constrangedora lhe pedindo para manter um segredo desses. Eu sabia que a Mina ficaria contente em ajudar, mas o fato de ela fazer parte da família Ryan, além das coisas que poderia ter ouvido, me deixava totalmente desconfortável. Era em situações assim que eu realmente desejava que minha mãe estivesse viva. Apenas pensar sobre ela já causava uma dor terrível em meu peito e lágrimas em meus olhos. Mudar para esta cidade para passar com ela os últimos anos de sua vida foi a melhor decisão que já tomei. Viver tão longe de meu pai e de meus amigos às vezes era difícil, mas eu sabia que tudo acontece por uma razão. Eu só queria que essa razão surgisse logo e se revelasse.
Será que eu poderia contar para a Julia? Tenho de admitir que estava morrendo de medo do que ela pensaria de mim. Porém, mais do que isso, eu estava morrendo de medo de dizer as palavras em voz alta para alguém.
– Certo, por que você está me encarando assim? – ela perguntou. – Ou você tem alguma coisa para dizer ou eu estou suada de um jeito horrível e embaraçoso.
Tentei dizer que não era nada, que ela estava vendo coisas. Mas não consegui. O peso e a pressão das últimas semanas me esmagaram de tal forma que, antes que eu pudesse me controlar, meu queixo começou a tremer e eu comecei a chorar.
– Foi o que pensei. Vem – ela ofereceu a mão e me ajudou a levantar, pegando nossas coisas e me levando para fora da sala.
Vinte minutos, duas batidas de champanhe e uma crise nervosa depois, eu fiquei observando a expressão chocada da Julia em nosso restaurante preferido. Contei tudo: as cuecas rasgadas, eu gostar das cuecas rasgadas, os vários lugares, as sessões de beijos-eu-te-odeio, a Mina nos pegando em flagrante, minha culpa por sentir que estava traindo Elliott e Susan, o Joel, as declarações trogloditas do Bennett e, finalmente, meu medo de estar no meio da relação mais disfuncional da história do mundo, sem ter qualquer controle sobre isso. Quando levantei a cabeça para encontrar seu olhar, eu estremeci. Ela parecia ter acabado de assistir um acidente de carro.
– Certo, deixa ver se eu entendi.
Assenti e esperei ela continuar.
– Você está dormindo com seu chefe.
Eu me encolhi ligeiramente.
– Bom, tecnicamente...
Ela levantou a mão, me impedindo de continuar.
– Sim, sim. Isso eu entendi. E esse é o mesmo chefe que você chama tão amavelmente de “cretino irresistível”?
Respirei fundo e assenti novamente.
– Mas você odeia ele.
– Exatamente – murmurei, desviando lentamente os olhos dos dela. – Odeio. Odeio muito mesmo.
– Você não quer ficar com ele, mas não consegue se afastar.
– Meu Deus, isso soa ainda pior vindo da boca de outra pessoa – soltei um grunhido enquanto mergulhava o rosto nas mãos. – Eu pareço ridículo.
– Mas e as transas? São boas – ela disse, com um toque de humor na voz.
– Isso não chega nem perto de descrever como é, Julia. Fenomenal, intenso, maluco, orgasmavelmente não chega nem perto de descrever.
– Orgasmavelmente nem é uma palavra.
Esfreguei o rosto e suspirei novamente.
– Cala a boca.
– Bom – ela respondeu, pensativa, e então limpou a garganta –, acho que pau pequeno não é o problema dele, afinal...
Deixei minha cabeça cair nos braços em cima da mesa.
– Não. Definitivamente esse não é o problema dele – olhei levemente para cima ao ouvir sua risada abafada. – Julia! Isso não é engraçado!
– Eu tenho de discordar. Você precisa admitir o quanto isso é maluco. Quer dizer, de todas as pessoas que conheço, você é a última que eu imaginaria caindo numa situação dessas. Você sempre é tão sério, com cada passo da sua vida cuidadosamente planejado. Vamos lá, você teve só um namorado, que gay no mundo só trepou com um cara? você estava sem transar ao que 5 anos?.Esse seu chefe deve ser realmente uma coisa de outro mundo.
– Eu sei que não tem nada de errado em ter uma relação puramente sexual com alguém... eu consigo lidar com isso. E sei que às vezes eu sou muito controlador, mas o fato é que eu sinto que preciso controlar a mim mesmo quando estou com ele. Quer dizer, eu nem gosto dele, mas mesmo assim... eu continuo caindo em tentação.
Julia tomou um gole da batida e eu pude praticamente ver as engrenagens girando em sua mente enquanto pensava no que eu falei.
– O que é mais importante para você?
Olhei de volta, entendendo onde ela queria chegar.
– Meu emprego. Minha vida depois disso. Meu valor como funcionário. Saber que minha contribuição é importante.
– Você consegue se sentir bem quanto a essas coisas e continuar trepando com ele?
Dei de ombros, sem conseguir organizar meus pensamentos.
– Não sei. Se eu sentisse que as coisas estavam separadas, então talvez sim. Mas nossas únicas interações acontecem no trabalho. Nunca acontece de ser apenas um ou outro, é sempre trabalho e sexo numa coisa só.
– Então você precisa encontrar um jeito de parar de fazer isso. Você precisa manter distância.
– Não é tão simples – respondi, balançando a cabeça e começando a tagarelar: – Eu trabalho para ele. Não é fácil evitar todas as vezes em que ficamos sozinhos. É ridícula a quantidade de vezes que eu jurei que nunca mais transaria com ele, só para depois transar, horas mais tarde. E ainda por cima temos uma conferência daqui a duas semanas. No mesmo hotel, no mesmo espaço, o tempo todo. Com camas para todo lado!
– Dan, o que há de errado com você? – perguntou Julia, mostrando surpresa na voz. – Você quer continuar com isso?
– Não! É claro que não!
Ela me olhou desconfiada.
– Quer dizer... acontece que eu sou diferente quando estou perto dele. Tipo, eu quero coisas nas quais nunca pensei antes, e talvez seja bom me permitir querer essas coisas. Mas eu queria que fosse outra pessoa provocando essas coisas em mim, alguém legal, como o Joel, por exemplo. Não é muito bom ser o meu chefe quem faz isso comigo.
– O que você gosta é a coisa de ser um chefe mandão? Tipo, dar uns tapas e coisas assim? – Julia riu, mas, quando eu desviei os olhos, ela quase engasgou. – Oh, meu Deus, ele deu umas palmadas em você?
Meus olhos se arregalaram na direção dela.
– Fale um pouco mais alto, Julia. Acho que o cara lá atrás não te escutou – assim que me certifiquei de que ninguém estava olhando, passei as mãos com raiva nos cabelos: – Olha, eu sei que preciso parar com isso, mas eu...
Eu parei de falar quando senti um calafrio subir por minha pele. Minha respiração ficou presa na garganta e eu virei lentamente para olhar em direção à porta. Era ele, com um visual desarrumado, vestindo camiseta preta, calça jeans, tênis e o cabelo bagunçado ainda mais sexy do que o normal. Virei novamente de frente para Julia, sentindo todo o sangue sumir do meu rosto.
– O que foi, Dan? Parece que viu um fantasma – ela disse, esticando o braço para tocar minha mão. Engoli em seco tentando encontrar minha voz, então olhei para ela.
– Você consegue ver aquele homem perto da porta? Alto e bonitão? – ela levantou a cabeça levemente para olhar e eu dei um chute em sua canela por debaixo da mesa. – Não seja tão óbvia! Esse é o meu chefe. Os olhos dela se arregalaram e seu queixo caiu.
– O quê? – ela engasgou e balançou a cabeça enquanto o olhava de cima a baixo. – Você não estava brincando, Dani. Realmente é um tesão. Eu não expulsaria esse cara da minha cama. Ou carro. Ou provador. Ou elevador, ou...
– Julia! Você não está ajudando!
– Quem é o loiro? – ela perguntou, acenando para eles. Eu me virei e vi o Bennett sendo conduzido para uma mesa acompanhado de um rapaz loiro alto. Sua mão estava pousada no ombro dele. Uma pontada de ciúme atingiu meu peito.
– Mas que babaca – eu sussurrei. – Depois do que fez ontem? Ele deve estar de brincadeira – antes que Julia pudesse responder, seu celular tocou e ela abriu a bolsa. O “Oi, meu amor!” que ela soltou me disse que era seu noivo, e que a ligação iria demorar.
Olhei novamente para o Bennett, que estava falando e rindo com o loiro. Eu não conseguia tirar os olhos daquela cena. Ele parecia ainda mais atraente naquele clima casual: sorrindo, com os olhos dançando quando ria. Cretino!
Como se pudesse ouvir meus pensamentos, ele levantou a cabeça e nossos olhos se encontraram. Apertei meu queixo e olhei para o outro lado, jogando o guardanapo na mesa. Eu tinha de sair dali.
– Eu já volto, Julia.
Ela assentiu e acenou distraída, sem parar sua conversa. Fiquei de pé e rapidamente passei pela mesa onde ele estava, evitando olhar em seu rosto. Eu tinha acabado de virar no corredor e encontrado a segurança do banheiro masculino quando senti uma mão forte agarrar meu braço.
– Espere.
Aquela voz enviou um choque elétrico através do meu corpo.
Certo, Daniel, você consegue fazer isso. Apenas se vire, olhe no rosto dele e mande ele se foder. Ele é um filho da puta que chamou você de “erro” na noite passada e que agora apareceu com uma loiro oxigenado qualquer.
Endireitando meus ombros, eu me virei para encará-lo. Merda. Ele parecia ainda mais bonito de perto. Eu nunca o vi sem estar perfeitamente arrumado, mas ele obviamente não tinha se barbeado pela manhã e eu queria desesperadamente sentir o raspar de sua barba no meu pescoço.
Ou na minha bunda.
– Que merda você quer? – eu disse com raiva, soltando meu braço de sua mão. Sem o benefício da roupa social ele parecia maior e mais forte, eu senti ele se agigantar sobre mim. Pude enxergar olheiras sob seus olhos. Ele parecia cansado. Ótimo. Se a noite dele foi tão ruim quanto a minha, então eu estava feliz.
Passando as mãos no cabelo, ele olhou ao redor, constrangido.
– Eu queria conversar com você. Para explicar a noite passada.
– O que tem para explicar? – perguntei, acenando com a cabeça para a mesa onde a loiro de farmácia esperava. Meu peito doeu novamente. – Mudança de ares. Eu entendi. Na verdade, estou contente em ver você aqui dessa maneira... ajuda a me lembrar por que essa coisa entre nós é uma péssima ideia. Eu não quero ficar indiretamente fodendo com todos os seus outros homens.
– Do que você está falando? – ele perguntou, me encarando de volta. – Está falando do Edgar?
– Esse é o nome dele? Bom, que você e o Edgar tenham um bom almoço, sr. Ryan – eu me virei para ir embora, mas ele agarrou meu braço novamente. – Me Solte.
– Por que você se importa?
Nossa discussão começou a atrair atenção dos garçons que passavam. Após uma rápida olhada ao redor, ele me puxou para o banheiro masculino e trancou a porta.
Fantástico, outro banheiro.
Eu o afastei.
– O que você acha que está fazendo? E o que quer dizer perguntando se eu me importo? Você me comeu na noite passada, perguntou como eu poderia sair com o Joel, e agora está aqui com outra cara? Eu sempre me esqueço que você é um grande galinha. O seu comportamento é completamente esperado. É comigo mesmo que estou com raiva – eu estava com tanto ódio que meu pulso estava doendo de tanto que eu apertava.
– Você acha que estou aqui num encontro romântico ? – ele respirou fundo, balançando a cabeça. – Isso é inacreditável. O Edgar é um amigo. Ele cuida de uma organização de caridade que a Ryan Media apoia. É só isso. Eu precisava me encontrar com ele na segunda-feira para assinar alguns papéis, mas ele teve uma mudança de última hora em seu voo e vai sair do país hoje à tarde. Eu não estive com mais ninguém desde o dia do Jonny... – ele parou para repensar as palavras. – Desde que nós... você sabe... – ele concluiu, fazendo um rápido gesto entre nós dois.
O quê?
Ficamos ali parados, encarando um ao outro enquanto eu tentava digerir suas palavras. Ele não tinha dormido com mais ninguém. Será que isso era possível? Eu sabia por experiência própria que ele era um galinha. Eu tinha testemunhado pessoalmente como ele expandia sua coleção de “troféus” em eventos do trabalho, sem mencionar as histórias que circulavam pelos corredores do escritório. E, mesmo que fosse verdade, nada disso mudava o fato de ele ser meu chefe, e essa coisa toda era errada demais.
– Todas aqueles homens e mulheres se jogando aos seus pés e você não pegou ninguém? Oh, estou emocionado – dei um passo até a porta.
– Não é tão difícil de acreditar – ele grunhiu, e eu pude sentir seus olhos queimando minhas costas.
– Quer saber? Não importa. Foi só um erro, não é mesmo?
– Olha, é sobre isso que eu queria falar.
Ele se aproximou e eu senti seu perfume me envolvendo – cheirava a mel e ervas. De repente, senti como se estivesse preso e não houvesse oxigênio suficiente naquele pequeno banheiro. Eu precisava sair, imediatamente. O que foi que a Julia tinha dito há alguns minutos? Que eu precisava manter distância? Bom conselho. Eu gostava da cueca que estava usando e realmente não queria que ela acabasse em farrapos dentro do bolso dele.
Certo, isso foi uma mentira.
– Você vai encontrar o Joel de novo? – ele perguntou atrás de mim. Minha mão já estava na maçaneta. Tudo que precisava fazer era girar e estaria livre. Mas eu congelei e fiquei encarando a porta por uma eternidade.
– Isso importa?
– Achei que tinha deixado claro na noite passada – ele disse, e eu sentia sua respiração quente meu pescoço.
– Pois é, muitas coisas foram ditas ontem à noite.
Seus dedos se moveram subindo pelo meu braço e deslizaram a alça da minha camisa regata para o lado.
– Eu não quis dizer que tudo foi um erro – ele sussurrou contra minha pele. – Eu apenas entrei em pânico.
– Isso não significa que não seja verdade – meu corpo instintivamente se inclinou procurando o dele e minha cabeça pendeu ligeiramente, facilitando seu acesso. – Nós dois sabemos disso.
– Mesmo assim, eu não deveria ter falado aquilo – ele agarrou meu cabelo e segurou com força, seus lábios macios passearam pelas minhas costas. – Vire agora.
Duas palavras. Como era possível que duas simples palavras pudessem me fazer questionar tudo? Uma coisa era ele me apertar contra a parede e me agarrar, mas agora ele estava deixando toda a decisão pra mim. Mordendo meu lábio com força, tentei me forçar a girar a maçaneta. Minha mão até tremeu, antes de cair para o lado, derrotado. Virei-me e encontrei seus olhos.
Sua mão pousou em meu rosto, seu polegar acariciou meus lábios. Nossos olhares grudaram um no outro e, justo quando pensei que não aguentaria esperar mais um segundo, ele me puxou e me beijou. Meu corpo desistiu de lutar e eu me entreguei por completo. Meu celular caiu no chão e minhas mãos mergulharam em seus cabelos, puxando-o para ainda mais perto. Ele me empurrou até a parede e passou as mãos por meu corpo, levantando-me ligeiramente. As mãos entraram dentro da minha calça de ginástica e ele apertou minha bunda.
– Merda. O que você está usando? – ele grunhiu em meu pescoço e suas palmas deslizavam para cima e para baixo no tecido de algodão da minha cueca. Levantou como seu eu não pesasse nada, ele envolveu na sua cintura com minhas pernas e me apertou ainda mais contra a parede. Ele gemeu quando eu mordi sua orelha.
Puxando um lado da regata para baixo, ele tomou um dos meus mamilos em sua boca. Minha cabeça caiu para trás e atingiu a parede quando senti o raspar de sua barba mal feita em meu peito. Um som agudo me tirou daquele transe e ouvi ele xingar. Era meu celular. Colocando-me no chão, ele se afastou e seu rosto voltou a mostrar a irritação de sempre. Eu rapidamente arrumei minha roupa peguei meu celular do chão, rangendo os dentes quando vi a foto na tela do celular.
– Julia – atendi, completamente sem fôlego.
– Daniel Bennitiz, por acaso você está no banheiro trepando com aquele pedaço de mau caminho?
– Eu volto em um segundo, tá? – desliguei o celular bati com ele na minha testa. Olhei em seu rosto, sentindo meu lado racional voltar ao lugar após um breve momento fora do ar. – É melhor eu ir.
– Olha, eu... – ele foi interrompido pelo meu celular novamente.
Eu atendi sem sequer me dar o trabalho de olhar para a tela.
– Deus, Julia! Eu não estou aqui trepando com o pedaço de mau caminho!
– Daniel? – ouvi a voz confusa do Joel do outro lado da linha.
– Ah... oi – merda. Aquilo não podia estar acontecendo comigo.
– Bom, estou aliviado por saber que você não está... trepando... com o pedaço de mau caminho? – Joel disse, rindo ligeiramente.
– Quem é? – grunhiu o Bennett.
Pressionei minha mão em seus lábios e lhe lancei o olhar mais raivoso que eu conseguia.
– Olha, eu não posso falar muito agora.
– Pois é, desculpa te incomodar num domingo, mas eu não conseguia parar de pensar em você. E não quero trazer problemas para ninguém, mas quando você foi embora, eu chequei meus e-mails e havia uma confirmação da entrega das flores e dos chocolates.
– É mesmo? – perguntei, fingindo interesse. Meus olhos estavam presos no Bennett.
– Bom, parece que quem assinou o recebimento foi Bennett Ryan.