BENNETT
Quando a manhã de quinta-feira chegou, eu sabia que nós precisávamos ter algum tipo de conversa. Eu não ficaria no escritório na sexta, então aquele seria o último dia em que nos veríamos antes que ele deixasse a cidade. Ele esteve com seu supervisor do MBA a manhã inteira, e eu me sentia cada vez mais ansioso sobre... tudo. Eu tinha certeza que a interação na minha sala no dia anterior revelou que ele estava lentamente tomando mais e mais de mim. Eu queria estar com ele quase o tempo todo, e não apenas para o sexo. Eu apenas queria estar perto dele, e minha necessidade de autopreservação estava me matando.
O que foi que ele disse daquela vez? Eu não quero querer isso. Isso não é bom para mim. Foi apenas quando a Mina nos descobriu que eu realmente entendi o que o Daniel quis dizer. Eu odiava meu desejo por ele porque era a primeira vez em minha vida que eu era incapaz de tirar algo da cabeça para poder focar no trabalho. Mas ninguém – nem mesmo minha família – iria me condenar por ser atraído pelo Daniel. Ele, por outro lado, ficaria para sempre marcado como o cara que transou para chegar ao topo. Para alguém tão brilhante e determinado, essa associação seria um constante – e doloroso – espinho.
Ele estava certo em querer manter distância. A atração que sentíamos quando estávamos juntos era totalmente doentia. Nada de bom poderia sair disso. Eu decidi mais uma vez usar esse tempo longe dele para recompor meu foco. Quando entrei no escritório após o almoço, fiquei surpreso ao encontrar ele em sua mesa, trabalhando no computador.
– Eu não sabia que você estaria aqui na parte da tarde – eu disse, tentando manter qualquer emoção longe da minha voz.
– Pois é, tive de fazer alguns ajustes de última hora para San Diego, e ainda preciso conversar com você sobre minha ausência – ele disse, sem tirar os olhos da tela.
– Você prefere fazer isso na minha sala?
– Não – ele respondeu instantaneamente. – Acho que podemos fazer isso aqui mesmo – com uma rápida olhada em minha direção, ele acenou para a cadeira à sua frente. – Você prefere sentar, sr. Ryan?
Ah, a vantagem de jogar em casa. Sentei na cadeira que ele me ofereceu.
– Já que você ficará fora amanhã, não há razão para eu estar aqui. Sei que não gosta de ter uma assistente, mas arranjei uma temporária para as próximas duas semanas, e já entreguei para o Sam uma lista detalhada da sua agenda e das coisas que você precisa. Tenho certeza que não haverá problemas, mas, só por precaução, ele prometeu ficar de olho em você.
Ele ergueu uma sobrancelha e eu revirei os olhos.
– Se precisar de alguma coisa, você tem meus telefones, inclusive o número da casa do meu pai em Bismarck – ele começou então a descrever uma lista que estava à sua frente, e percebi o quanto o Daniel era calmo e eficiente. Não que eu já não estivesse ciente dessas coisas, mas, de algum jeito, agora isso estava ainda mais aparente. Nossos olhos se encontraram e ele prosseguiu: – Vou chegar na Califórnia para a convenção algumas horas antes de você, então planejo te pegar no aeroporto.
Continuamos a olhar um para o outro por alguns instantes, e tenho quase certeza que pensávamos o mesmo: San Diego seria um teste colossal.
O clima na sala começou a mudar lentamente, o silêncio dizendo mais do que qualquer palavra. Apertei o queixo quando percebi que sua respiração estava acelerando. Tive de usar cada gota da minha força de vontade para não dar a volta na mesa e dobrar ele em cima da mesa.
– Faça uma boa viagem, sr. Bennitiz – eu disse, aliviado por minha voz não mostrar o drama que se passava dentro de mim. Fiquei de pé e esperei por um momento, acrescentando: – Então, te vejo em San Diego.
– Sim.
Assenti e entrei na minha sala, fechando a porta atrás de mim. Eu não o vi pelo resto do dia, e nossa breve despedida pareceu completamente errada.
Passei o fim de semana inteiro pensando em como seria ficar sem ele por duas semanas. Por um lado, seria bom trabalhar sem essa distração. Por outro lado, imaginei se seria estranho não ter ele do meu lado. Ele vinha sendo uma constante em minha vida por quase um ano e, apesar de nossas diferenças, sua presença se tornou reconfortante.
Sam entrou na minha sala às nove em ponto na manhã de segunda-feira, mostrando um largo sorriso ao se aproximar. Atrás dele estava uma atraente morena de vinte e poucos anos chamada Kelsey, minha nova assistente temporária. Ela me olhou com um sorriso um pouco tímido, e Sam a acalmou pousando a mão em seu ombro. Decidi usar isso como uma oportunidade para provar a todos que minha reputação era simplesmente resultado de trabalhar com alguém tão obstinado quanto o Daniel.
– Prazer em conhecê-la, Kelsey – eu disse, sorrindo abertamente e oferecendo minha mão para um cumprimento. Ela me olhou de um jeito estranho, com uma expressão meio vidrada.
– Igualmente, senhor – ela disse olhando para o Sam, que, por sua vez, olhou confuso para minha mão e depois para meu rosto.
Sam então falou para Kelsey:
– Certo. Bom, nós já revisamos tudo que o Daniel deixou. A sua mesa fica aqui – e a conduziu até a cadeira do Daniel.
Fui tomado por uma estranha sensação ao ver outra pessoa sentada ali. Senti meu sorriso se desfazer e me virei para o Sam.
– Se ela precisar de alguma coisa ela pode falar com você. Eu estarei na minha sala.
Kelsey pediu demissão antes do almoço. Aparentemente, eu fui um pouco “grosso demais” quando ela conseguiu começar um pequeno incêndio no micro- ondas na cozinha do escritório. Na última vez que a vi, ela corria aos prantos para fora da sala, falando algo sobre um ambiente de trabalho hostil. Por volta das duas da tarde, trouxeram um novo assistente, um jovem chamado Isaac. Ele parecia muito inteligente, e fiquei animado de trabalhar com alguém que não fosse uma garota hipersensível. Tive de sorrir ao pensar nessa súbita mudança na situação. Infelizmente, era cedo demais para comemorar. Todas as vezes que passei ao lado de Isaac ele estava perdendo tempo na internet, olhando fotos de gatos ou assistindo videoclipes. Ele minimizava rapidamente as janelas, mas, infelizmente para o Isaac, eu não era um completo idiota. Eu diplomaticamente disse para ele não se importar em voltar no dia seguinte. A terceira pessoa não melhorou em nada. Seu nome era Jill. Ela falava demais, suas roupas eram muito justas, e a maneira como ela mordia a ponta da caneta a fazia parecer um animal tentando se libertar de uma armadilha. Não se parecia nem um pouco com a maneira como o Daniel prendia a caneta entre os dentes quando estava pensativo. Aquilo era sutilmente sexy, mas isto era mais que obsceno. Era inaceitável. Na terça-feira à tarde, ela já não estava mais lá.
A semana continuou nessa mesma levada. Recebi cinco assistentes diferentes. Mais de uma vez ouvi meu irmão rindo do outro lado do corredor. Maldito. Ele nem trabalhava no meu andar! Comecei a sentir que as pessoas estavam gostando demais do meu sofrimento, ou até mesmo achando que eu estava colhendo o que tinha plantado. Eu não tinha dúvida de que o Sam tinha falado para o Daniel do meu pesadelo com as temporárias. Mesmo assim, durante a primeira semana, recebi dele várias mensagens de texto, querendo saber como as coisas estavam indo. Comecei a gostar daquilo, e até checava periodicamente o celular para ter certeza de que não tinha perdido nenhuma. Odeio admitir, mas, nesse ponto, eu venderia até meu carro para ter ele de volta ali, com sua disposição incansável.
Além de desesperadamente sentir falta de seu corpo, eu também sentia falta da guerra entre nós. Ele sabia que eu era um cretino, mas aguentava firme. Não faço ideia do porquê, mas aguentava. Senti meu respeito por seu profissionalismo crescer durante nossa primeira semana separados.
Quando a segunda semana passou sem nenhuma mensagem dele, fiquei imaginando o que Daniel estava fazendo, e com quem estava fazendo. Imaginei se ele voltou a falar com o Joel pelo telefone. Eu tinha quase certeza que eles não tinham se encontrado novamente, e eu e ele tínhamos chegado a um precário cessar-fogo em relação ao incidente das flores e dos malditos chocolates. Mesmo assim, fiquei imaginando se ele teria ligado de novo e se tentaria alguma coisa com ele quando voltasse para casa.
Casa. Será que ele estava em casa agora, com seu pai? Ou considerava que Chicago era sua casa? Pela primeira vez, pensei que, se o pai dele estava realmente doente, ele poderia decidir se mudar para Dakota do Norte para ficar perto dele.
Merda.
Estava arrumando as malas no domingo à noite quando ouvi meu celular tocar, avisando que chegara uma nova mensagem. Senti uma pequena excitação ao ver o nome dele na tela.
Vou te encontrar amanhã às 11h30. Terminal B, perto do portão de desembarque. Envie uma mensagem de texto quando você pousar.
Parei por um momento para digerir o fato de que estaríamos juntos no dia seguinte. Respondi a mensagem.
- Pode deixar. Obrigado.
- De nada. Como foi a sua semana?
Fiquei um pouco surpreso por ele perguntar sobre a minha semana. Estávamos pisando em território inexplorado. No trabalho, nós trocávamos e-mails e mensagens frequentemente, mas, geralmente, eram restritos a perguntas do tipo que se responde com sim ou não. Nunca era sobre nada pessoal. Seria possível que a semana dele tivesse sido igualmente frustrante?
Tudo ótimo. E você? Como está seu pai?
Eu ri quando enviei a mensagem, essa situação estava cada vez mais estranha. Menos de um minuto depois, recebi a resposta.
Ele está bem. Eu estava com saudade dele, mas estou ansioso para voltar para casa.
Casa. Notei aquela palavra e engoli em seco, sentindo um aperto repentino no peito.
Vejo você amanhã.
Acertei o alarme no meu celular, coloquei-o no criado-mudo e sentei na cama, ao lado da minha mala. Eu veria o Daniel em menos de doze horas.
E não sabia exatamente como estava me sentindo em relação a isso.