- Bom dia...- disse Gulherme...
-Bom dia- respondi.
- Eita, porque tá todo molhado ai de café? Tomando igual bebê Kaio? -Riu ele...
- Foi essa garota que derrubou em mim...- respondi encarando ela feio...
- Eu já disse que foi sem querer... Ah, e aliás... Bom dia meu amor...- disse ela dirigindo-se ao Gulherme e beijando-o na minha frente...
O que? Eu não podia acreditar que o Guilherme teria casado com ela... justo ela?! Não consegui disfarçar minha cara de desgosto na hora...
- Que foi patrãozinho... Ficou branco de repente... Parece que viu um fantasma...- disse a cínica.
- eu, eu tô bem... apenas com um pouco de dor de cabeça, com licença, vou pro meu quarto.- disse desconcertado.
- Você não tá bem desde ontem Kaio... to ficando preocupado com você- disse Guilherme.
- Eu estou bem Guilherme, só um pouco cansado mesmo.. Com licença- disse, levantando.
Não pude encará-los, mas vi que ela estava agarrada ao seu pescoço... Ela conseguiu o que queria... quando eramos pequenos ela sempre dizia que se casaria com ele. E conseguiu?
Nem sei na verdade porque aquilo me afetou tanto, aliàs já fazia muito tempo que eu não o via. Realmente, eu estava sendo um bobo...
Levantei-me e fui ao meu quarto novamente... abri a janela, respirei o ar puro da fazenda, olhei ao redor os vastos pastos e por um momento me senti saudoso da minha vida na cidade... Achei que retornar ao campo como os meus pais queriam me traria paz e tranquilidade nessa nova etapa da minha vida, mas rever o Guilherme me trouxe muitas lembranças...
Guilherme havia sido o meu primeiro amor. Aquele amor de infância que a gente tem pelo coleguinha sabem? Aquele ciúme bobo se alguém chega perto dele ou brinca com ele...
Passei muita coisa com ele nas épocas que vinha na fazenda, e quando meus avós morreram ele me fez prometer que nunca deixaria de ser seu amigo, de visita-lo... Mas eu não cumpri... acabei me deixando levar pelo ritmo da cidade, novos amigos, e quando vi já havia se passado tanto tempo... É normal que ele tenha se casado com alguém da redondeza, mas justo com a Lucinha?
A Lucinha era uma das crianças que brincavam conosco ali na fazenda... Me lembro que eramos eu, o Gui, a Lucinha, a Julia e o João... Eramos inseparáveis, mas a Lucinha gostava do Guilherme, e por eu ser tão próximo dele, vivia aprontando coisinhas pra nos afastar... Teve um dia que me empurrou da pedra da cachoeira. Por sorte eu apenas quebrei um braço, e quando a acusei, ninguém acreditou em mim... Afinal eramos apenas crianças e a doce Lucinha não faria isso...
Meus pensamentos foram interrompidos com alguém batendo na porta do quarto...
- Está aberta, pode entrar...- eu disse.
- Licença Kaio.- disse ele.
- Oi..
- Vim ver se você está bem, fiquei preocupado... Ontem você desmaiou e hoje está com dor de cabeça...
-Tá tudo bem Guilherme, eu to ótimo- disse sorrindo...- Só quero ficar sozinho.
- Entendi... Ah, e quanto ao episódio do café... A Lucinha não fez por mal não... Ela ficou muito triste pelo jeito que você a tratou- disse ele.
- Voces se casaram Guilherme?- perguntei...
- Não, ainda não... Mas estamos noivos e logo vamos casar...
- Ah, felicidades.- eu disse...
- Fico feliz de ter o meu amigo de volta... E pelo que sua mãe falou, não vão embora tão cedo...
- O que a minha mãe disse?- perguntei com medo que ela houvesse falado da doença...
- Disse apenas que no sítio ficaria tudo bem... Não entendi direito. E me pediu também pra ficar de olho em você, não deixar você sair da casa sozinho e qualquer coisa diferente que eu visse eu a avisasse...
Balancei a cabeça em negativa... Claro que a minha mãe pediria aos funcionários pra ficarem de olho em mim... Achei que na fazenda eu estaria livre, e no fundo encontro a maior prisão...
-Não precisa fazer isso Gulherme... Pode cuidar das suas coisas...
- Não vou fazer porque a sua mãe pediu, mas sim porque quero passar mais tempo com o meu amigo. Posso? A proposito porque a sua mãe pediu isso? Tem algo que eu deva saber?- questionou.
- Não Guilherme... não tem nada... e olha... vai cuidar da Lucinha, andar atrás dela que você ganha mais... me deixa sozinho... sai do meu quarto.- fui grosso com ele...
- Ei, não precisa ser mal-educado não... seu burro chucro... – disse ele saindo e batendo a porta.
Não gosto de ser rude com as pessoas, mas percebi que manter o Guilherme afastado de mim seria a melhor coisa a fazer, pois eu poderia acabar trazendo de volta sentimentos que poderiam me machucar e atrapalhar a vida dele...
Mal o Guilherme saiu, batem na porta do quarto novamente...
- Quem é?- pergunto.
- é a Lucinha, posso entrar ?
- Entra...
Ela entrou, encostou a porta... e antes que dissesse qualquer coisa eu disse...
- Olha, o Guilherme me disse que você ficou chateada pelo lance do café, e se eu fui grosso com você me desculpe tá bem? – falei humildemente...
- Você é muito ingênuo mesmo né? Muito bobo... você não me engana Kaio, e se pensa que voltou e vai começar com aquela sua viadisse com o meu noivo, você tá muito enganado... Eu não vou permitir que você se aproxime dele. Tá entendendo?
- Ora, ora... A doce Lucinha mostrando as garras, é isso mesmo? Pois ouça bem... Eu não vim pra essa fazenda porque quis, e segundo que nem havia me passado pela cabeça reencontrar o Gulherme aqui... Mas já que resolveu me provocar, faço questão de me aproximar mais e mais dele...
- Voce não mexa comigo Kaio... Voce não sabe do que eu sou capaz...
- Você é que não sabe Lucinha... se acha que sou o mesmo garoto bobo e inocente que você empurrou da cachoeira da outra vez está enganada... A mim você nunca enganou mesmo com esse seu jeitinho, e sempre soube que não gostava de mim...
- Nunca suportei você, porque sempre soube que você queria o meu Gulherme...
- Pelo menos agora temos as cartas em cima da mesa não é?
- Voce vai se arrepender de ter vindo pra fazenda novamente Kaio... Eu juro...- disse ela.
- Já me arrependi... e até iria embora, mas agora faço questão de ficar...e vai... sai do meu quarto sua ridícula...
Ela saiu bufando do meu quarto...
Eu realmente não queria ter discutido com ela, e nem tinha a intensão de provocar a ira dela, mas já que eu ficaria ali naquela fazenda preso e que no fim das contas eu ia morrer mesmo de qualquer jeito, eu iria me divertir o máximo que pudesse, e ia desmascarar aquela garota falsa... Faço questão de fazer isso...
Troquei de roupa, coloquei uma calça mais apertada, minhas botas, uma camiseta branca, peguei meu chapéu, e desci... Totalmente integrado a minha nova vida...
Desci e estavam todos na mesa do café... Lucinha e dona Maria serviam meus pais e minha irmã...
- Bom dia família...- eu disse...
- Bom dia filho... como se sente- perguntou mamãe...
- Bem mãe... Muito bem... ter vindo pra Fazenda é a melhor coisa que podíamos ter feito. – falei encarando Lucinha...
- Que bom filho. Sente pra tomar café...
- Dona Maria, a senhora podia chamar o Gulherme por favor?- pedi.
Lucinha me encarava... Dona Maria o chamou...
- Chamou Kaio?- perguntou ele...
- Sim... eu gostaria que tomasse café comigo...
Todos me encaravam...
- Ponha mais um lugar à mesa Lucinha- pediu mamãe...
- Não, que é isso... eu não vou tomar café com os patrões não... deixa disso seu Kaio.- disse ele.
- Você é e sempre foi meu amigo Gulherme... então quero que meu amigo tome café comigo...
- Isso mesmo Guilherme... Sente-se... tome café conosco.- disse papai.
Minha família faria meu gosto em tudo o que eu quisesse, afinal queriam me agradar ao máximo, e eu usaria isso ao meu favor...
- Ah, e a propósito, hoje pela manha, levantei muito cedo e pedi a Lucinha que me servisse um café, ela derrubou em mim sem querer, e eu acabei sendo um pouco grosso com ela... Me perdoe Lucinha...- disse me aproximando dela e a abraçando... Ela ficou sem reação...
- N-Não foi nada patrãozinho... – disse ela...
O olhar de Guilherme era terno e feliz...
Por fim sentamos todos e tomamos um agradável café relembrando as minhas peripécias com o Guilherme...Rimos muito e Lucinha me olhava com raiva...
- Podem tirar a mesa por favor- disse mamãe...
Lucinha pegou a bandeja do café no centro da mesa...
- Gui...- disse eu pegando na sua mão...- Será que podia me levar pra dar uma volta de cavalo? Quero rever toda a fazenda...
- De cavalo filho? Mas você não sabe montar!- disse mamãe...
- O Gui me ensina mamãe...
- Não gosto nada disso.- disse mamãe...
- Pode ficar tranquila dona Alice, levo ele no meu cavalo, e quando tiver mais tempo ensino ele a cavalgar...- disse Gulherme...
Nesse momento Lucinha derruba a bandeja no chão...
- Lucinha, você anda muito desastrada esses dias...- disse Maria...
- Eu vou ajuda-la- eu disse me levantando e abaixando para ajudar a pegas as coisas que haviam caído...
Ela me encarava com raiva, enquanto pegava as coisas também...
- Seu Kaio, deixe disso, eu a ajudo- disse maria.
Levantei-me...
Guilherme olhava a noiva meio envergonhado. Talvez tivesse percebido que ela não gostara que ele me levasse pra sair...
- Podemos ir Gui?- perguntei...
- Sim, vamos...
E saímos até o estábulo...
Guilherme selou um cavalo, o que ele costumava usar pra vistoriar as plantações...
Na hora que vi o cavalo me arrependi de ter tido essa ideia... Eu a muitos anos não cavalgava, e quando ia era sempre com papai no mesmo cavalo...
- Eu não sei montar Gulherme...- falei envergonhado.
Gulherme subiu no cavalo, estendeu a mão para mim...Eu olhei para cima, ele estava lindo com o reflexo do sol... Pisei e subi, segurando-me em sua roupa...
- Segura firme em mim... Qualquer coisa avisa que eu paro...- disse ele...
Abracei a cintura do meu cavalheiro e ele começou a andar com o cavalo... A principio eu tinha medo, mas estava ali com ele e me sentia seguro...
CONTINUA....