Você me relatou que existiu um envolvimento sexual com seu primo. Acredita que esse envolvimento é apenas físico ou houve alguma coisa além?
A conversa com psicólogo fluía rápida e continua. Perguntas sob perguntas em um ritmo progressivo, a cada instante mais intensa e aos poucos penetrando na minha nova ferida emocional. Ao início da consulta, Glauco Vieira, um profissional recomendado por amigos de minha mãe, orientou-me a ficar relaxado em uma confortável poltrona branca de um estofado macio, possibilitando maior comodidade.
- Não consigo entender Leandro. Senti uma enorme repulsa pelos atos dele, mas ao mesmo tempo me culpo por sua morte. Entendo que não sou responsável pelo desiquilibro emocional que ele sofria, mas o nosso envolvimento foi a chave pra que ele cometesse suicídio.
- Ele precisa ser perdoado.
O psicólogo pediu que eu encostasse a cabeça no assento da poltrona e fechasse meus olhos enquanto ele recitava algumas coisas para que eu internalizasse o processo de perdão. Ao final da sessão o mundo parecia mais leve e as coisas mais fáceis.
Os danos causados ao meu corpo sumiam pouco a pouco. Meu nariz diminuía o inchaço e segundo o laudo médico não houve nenhuma lesão interna grave. Tive de relatar o acontecido para as autoridades, coisa que era pouco cômoda, odiava repetir a sucessão dos fatos. Em casa, papai e mamãe me tratavam com extremo cuidado, preocupados com meu estado emocional. Depois disso percebi que deveria ter revelado minha orientação sexual antes. Lidaram bem com a informação e não houve, em um instante sequer, em atitudes ou palavras, qualquer tipo de rejeição. Isso se deu, provavelmente, por serem o tipo de pessoas bem informadas e sensatas, orgulhava-me muito disso.
Em uma conversa mais aberta, mamãe colocou as cartas na mesa e me perguntou acerca da minha relação com Cauã. Não tive porque mentir e mesmo se tivesse, não conseguiria. Falei sobre o namoro, meus intensos sentimentos e as dificuldades que enfrentamos até o momento. Marisa não se opôs, disse que tinha imaginado tudo o que se passava. Coração de mãe não se engana, jamais. Logo, minha aproximação com meu primo distante chamou a atenção de todos.
...
Cauã sentiu-se impotente diante do que aconteceu. Eu poderia ter partido desse mundo e ninguém imaginaria meu paradeiro. Talvez fosse encontrado em algum rio ou enterrado em um terreno. De certa forma, o desfecho desse drama nos traria um pouco de paz. Agora não precisávamos andar temerosos nas ruas. Sérgio quase comemorou a morte de Leandro (e talvez teria feito isso se não fosse a presença de Eliane). Agora Cauã tinha passe livre para ir e voltar comigo na escola e visitar-me quando quisesse.
- Quase perdi a cabeça quando soube. – Disse ele, em uma visita. -Queria poder te livrar dessa merda toda, fazer você esquecer.
- Agora não importa. É passado, não volta mais.
Ele colocou a mão sob o meu ombro e esse movimento assustou-me. Na verdade, aquele dia, após consultas no hospital, ida ao psicólogo e delegacia, notei que me sentia retraído diante das outras pessoas. Era desconfortável quando alguém me tocava ou, andando nas ruas, pensava nos perigos que ela poderia me trazer. Você nunca sabe as intenções das outras pessoas. Com certeza era uma das consequências do trauma.
- Desculpe, está doendo? – Perguntou Cauã, retirando a mão.
- Não. Eu só não estou nos meus melhores dias.
- Prefere que eu te deixe sozinho?
- Jamais.
Nunca na vida poderia rejeitar a presença dele. Sua aura me fazia bem. Todas as vezes que estávamos juntos eu sentia a promessa de um futuro próspero.
- Vem cá. – Eu disse, envolvendo-o em meus braços num movimento lento e intenso.
Distribui vários beijos em seu rosto, ele sorria para mim com cada um deles, como se sentisse cócegas.
-Cuidado, alguém pode entrar no quarto. – Ele temeu.
- Não há porquê sentirmos medo. Eu contei sobre mim para os meus pais. E... sobre a gente. Sei que essa decisão caberia a nós dois tomarmos juntos, já que envolve a você também, mas confio em mamãe, ela jamais faria algo para nos prejudicar.
Os olhos verdes ficaram assustados a princípio, mas o temor sumiu conforme eu acariciava seus cabelos.
- Isso significa que está próximo do momento em que vou enfrentar meu pai.
- Se sinta confortável primeiro. Faça tudo no seu tempo. Se lembre que, apesar das adversidades, aqui em casa você será bem recebido caso não te aceitem bem.
Ele tinha medo, e com razão, Sérgio era o homem que não aceitava contrariações quanto ao script de vida perfeita que idealizava. Passei meus dedos sucintamente sob a pele macia do meu namorado, temendo que, por força do destino ou alguma adversidade, ele viesse a se tornar um distante. Até então as coisas não haviam sido fáceis, caminhávamos sob o incerto, temendo o momento em que algo viesse a nos separar.
Beijei Cauã delicadamente, enquanto sua cabeça repousava no meu colo. Minhas mãos correram pelo corpo dele tateando suas costelas. Ele estava incrivelmente bonito aquela noite, tanto que a primeira vez que tinha o visto, depois de cruzar a porta do quarto, quase chorei de emoção. Vinha dele o cheiro de lar, como se me pertencesse, assim como eu a ele.
Não tocou em mim, talvez por receio de que eu fizesse algum movimento aversivo outra vez. Deixou-me conduzindo as carícias, sentia-me confortável dessa forma. Minha mão passeou por seu abdômen chegando até o púbis, encontrando os pelos que guardavam o pênis bonito e teso, ereto feito pedra dentro da calça. Fui até ele e o envolvi com a minha boca, massageando-o com a minha língua. Cauã suspirava enquanto eu tentava fazê-lo gozar. Aos mesmo tempo em que chupava seu pinto, segurava a mão, ele passava para mim as tenções e contrações que o levariam ao gozo em instantes, e eu me inspirava em fazer o trabalho cada vez mais excitante. Não mais que três minutos depois o esperma quente se espalhava na minha gargantadias em casa cuidando da saúde física e mental me deram a vitalidade necessária para retornar aos estudos. Após o meu retorno, os outros alunos me encaravam como se soubessem de tudo o que havia acontecido comigo, ou ao menos suspeitavam que eu tivesse sido agredido. Meu nariz inchado chamava muito a atenção e não havia nada que eu poderia fazer com relação a isso além de ter de ter de aguentar os olhares curiosos.
Na hora do intervalo, Cauã, Mariana, Vitor e eu sentamos próximos a arquibancada para falar sobre assuntos paralelos. Vitor aproximara-se consideravelmente de nós, agora éramos praticamente um grupo novo. O repentino apego do garoto a nós se dava pela fixação por Mariana, seus olhos sobrecaíam nela ela o tempo todo.
O comportamento das outras pessoas que andavam em volta chamou a nossa atenção. Parando um pouco para analisar, percebi que riam de nós. Fiquei segundos tentando perceber algo de anormal, talvez em minha roupa, nas dos meus amigos ou se alguém havia nos pregado uma peça. Nada encontrei. Vi que um rapaz observava uma folha de papel e gargalhava, logo, sua visão concentrava-se em Cauã. Desconfiado que estávamos sendo motivo de chacota por algum engraçadinho, alertei a turma que alguma coisa estava errada.
- Do que você está rindo, imbecil? – Perguntou Cauã, com pouca paciência.
Alguns dos idiotas se dispersaram, ao mesmo tempo que outros chegaram, segurando um papel sulfite com escritos. Pedi a um deles um dos papéis, mas recusaram a me entregar, disseram para eu ir até o laboratório de informática, lá teria várias outras cópias.
Ótimo! Provavelmente algum retardado aspirante a jornalista teria escrito merdas a respeito de mim e Cauã. Pedia a Deus que não fosse a respeito da nossa homossexualidade, seria um inferno viver naquele lugar rodeado de gente zombando da nossa orientação.
- Vamos até o laboratório. – Convidei.
Entramos no ambiente frio e cercado por computadores brancos, a sala encontrava-se livre aquele instante para os alunos que a quisessem usar. Estava cheia: gente estudando, procurando trivialidades na internet, escrevendo textos no Microsoft Word. E claro, um grupinho à toa, ocupando o lugar a fim de fazer volume, dando altas risadas lendo as benditas folhas.
Mariana descobriu a fonte das folhas, havia cinco delas sob a impressora. Pegamos uma para cada e começamos a leitura.
"FOFOCA NEWS
Vocês devem estar curiosíssimos para saber a fofoca que eu trouxe hoje. Mas segure as pontas que o babado é cumprido e complexo, prometo que vou tentar dar uma resumida, afinal quem gosta de texto grande é a professora de Língua Portuguesa, não é mesmo?
Essa onda de figurantes começarem a protagonizar alguns escândalos na escola está mesmo na moda! Primeiro o querido Cauã resolve ser caridoso e dar mais atenção ao priminho depressivo Johnny, o qual antes vivia igual uma barata pelos corredores tentando não chamar a atenção de ninguém, brincando de ser antissocial. O que ninguém imagina é que a verdade toda sobre essa aproximação tem nome: Mariana. Por interesse, Cauã, o menino maravilha, forçou uma amizade com o primo porque apaixonou-se pela plebeia. Me arrisco em dizer que isso foi uma baita ousadia, afinal de contas todo mundo sabe que John é caidinho pela melhor amiga, mas por ter aquele jeitinho nerd capenga, nunca teve coragem de contar a ela. O babado começou a esquentar quando percebeu o priminho tomando seu lugar e conquistando a menina dos seus sonhos. Apesar de ninguém ter notado, existia uma treta rolando nos bastidores, durante as férias Cauã e Johnny trocaram altas agressões, ou acham que o roxinho no olho do nosso muso é apenas resultado de uma queda? Isso nos surpreende, afinal de contas de onde o magrelinho tirou forças para enfrentar nosso deus grego musculoso?
Mariana, essa sim sabe oferecer seu peixe. Tirou o corpo fora da briga e ficou apenas assistindo os cavalheiros se matarem por sua mão. Quando percebeu que não havia jeito, resolveu dar sua solução ao problema: Ficar com os dois! Sim, para quê ter um namorado, se você pode tranquilamente administrar dois! Parece que os meninos se conformaram com a proposta e agora vivem um triângulo amoroso. E que fique entre a gente: quem sabe Johnny e Cauã não estejam aproveitando um ao outro? Relacionamento bissexual anda tão em alta! O que eles não esperavam é a entrada de mais um garanhão na história. O Eduardo, nosso melhor colírio para os olhos decidiu investir em Mariana. Devido a sua compulsão avassaladora por homens, a garota ficou enlouquecida na hora e Eduardo não precisou fazer muito para conseguir o que queria. Muitos babados de uma só vez, não acham? Quem diria, a plantinha agora tem três machinhos aos seus pés. Ou melhor, quatro. Ao que parece, Vitor, o bobo alegre melhor amigo de Cauã também está morrendo de amores pela vadia. Espero que nosso principezinho consiga enxergar o quanto Mariana está inebriando a todos. Estou aqui torcendo por você, Cauã.
Aguardem por mais...”
Nunca tinha lido tanta baboseira de uma vez só, seja quem fosse, tinha uma imaginação muito fértil para amarrar acontecimentos e distorce-los a ponto de criar uma história mirabolante. Contudo, eu conseguia enxergar o autor daquele humor sádico, ou melhor, autora, Diana.
As reações foram diversas. Mariana, a mais atingida na carta, amassou o papel, enfurecida. Vitor, desolado, olhava para todos nós esperando alguma consideração. Cauã permanecia paralisado, relendo algumas linhas do texto.
-Isso é um absurdo! Quem foi que escreveu? – Bradou, chamando a atenção da sala inteira.
Não houve nenhuma resposta além de risadas abafadas.
- Você tem alguma dúvida? – Interferi. – Parece que a cobra que finge ser sua amiga soltou o veneno mais uma vez.
- Do que você está falando?
- Ora Cauã. Está muito óbvio quem é a dona dessas palavras.
Ele encarou as letras mais uma vez, recusando-se a acreditar que poderiam ter sido escritas e impressas por Diana.
- Isso é uma calúnia. Eu vou dizer para a diretora.
- Não vai adiantar. Ninguém sabe quem é o autor, não há como ele ser punido. Não é a primeira vez que textos assim são distribuídos, esqueceram que existe o blog de fofocas? Eles postam coisas difamando a gente o tempo todo e ninguém faz nada, a direção não move um dedo para ajudar a gente. Acho que precisamos tratar isso de igual pra igual com quem faz essas palhaçadas.
Vitor coçou a cabeça, parecia tenso.
- Eu não acredito que me envolveram nisso. E porra... não sou nenhum bobo alegre.
Bimestralmente os alunos ganhavam algumas cotas de impressão para poder usar com seus trabalhos e textos necessários para as aulas. A cada comando existia um procedimento exigindo login e senha, no qual liberava a rede computadores. Antes de entrarmos no laboratório, passávamos por um balcão onde trabalhava um monitor responsável pelo recinto.
- Nós podemos pedir ao monitor que verifique o login que imprimiu um volume grande de folhas nos últimos minutos. Com certeza ele deve ter o controle. – Sugeri.
- Ótima ideia! – Concordou Cauã.
Andamos até o balcão onde trabalhava um rapaz de moletom verde, olhos sucintamente vermelhos e expressão cansada. Ele tomava uma xícara grande de café e quase não notou que precisávamos de ajuda, ou fez de conta que não percebeu.
- Moço, precisamos rastrear quem fez as últimas impressões.
Ele se espreguiçou, coçou a barba e soltou um quase inaudível “que?”.
- A gente quer rastrear o login que liberou uma boa quantidade de cotas. É super urgente, você pode nos ajudar?
- Me desculpe, mas isso é confidencial, não sou autorizado a dar esse tipo de informação a nenhum aluno.
- Por favor moço. É somente um login, prometemos que não vamos prejudicar ninguém. – Tentei explicar a situação a ele, sem sucesso.
O homem rejeitou cada um de nossos argumentos. Frustrados, voltamos para o interior da sala e ficamos sentados especulando acerca dos prováveis suspeitos.
- É um absurdo você querer culpar a Diana sem provas! – Exclamou Cauã, digindo-se a mim.
- Até porque ela não teria motivos para fazer isso? – Me alterei. – Ela nos encara todo santo dia desde que você mudou de sala. Quase dá pra ver ela borbulhando de raiva.
Odiava a cegueira de Cauã diante de Diana.
Ele calou-se e me contentei por isso, mais algumas palavras e desencadearíamos uma discussão.
- Tenho uma ideia! – Disse Vitor, levantando o indicador.
O garoto mexeu na parte traseira de um computador e arrancou o cabo de alimentação, fazendo-o parar de operar.
- Agora vou até o moço e digo que a máquina deu pane com meu trabalho salvo dentro dela. Talvez ele demore um pouquinho para perceber qual é o problema, mas é o tempo necessário de algum de nós vasculhar o sistema dele e encontrar as informações que precisamos.
- Boa ideia! – Parabenizou Mariana.
As bochechas de Vitor coraram.
Cauã e eu, disfarçadamente, andamos até as redondezas do balcão. Vitor, com seu jeito espalhafatoso numa atuação perfeita se fez de desesperado e solicitou a ajuda do homem. Por um instante acreditei que o monitor tinha bufado de raiva, tamanha era sua má vontade. Aguardei eles irem ao interior da sala e fiquei de tocaia para que Cauã finalizasse o serviço. Não mais que trinta segundos bastaram para ele colher a informação necessária.
Discretos, voltamos para onde estávamos anteriormente. O monitor conectou o cabo e pediu que não mexessem nele novamente.
- Diz quem é. – Pedi, apreensivo.
- Ricardo, meu amigo. Existia trinta impressões no login dele. -Falou, desapontado.
- Como isso pode ser possível? – Questionou Vitor. – Ele é nosso parceiro! Tem alguma coisa errada. E outra, eu conheço os textos dele, isso aqui não parece ter sido criado pelo Ricardo.
- Eu vou tirar satisfação. Ele me deve uma boa explicação!
O sinal tocou. O horário de intervalo havia cessado, deveríamos retornar às nossas salas de aula. Enquanto o tempo passava, percebia que Cauã demonstrava inquietude com o olhar perdido na sala, visivelmente tenso, aguardando o fim do expediente. A aula era matemática, arrastada como sempre, e uma lista infinda de exercícios complexos.
Para alívio de nós três, a escola inteira fora dispensada com vinte minutos de antecedência, Mariana pediu que eu ajudasse a tranquilizar Cauã antes que ele explodisse contra Ricardo e isso desencadeasse uma confusão. Aguardamos o garoto na fachada do colégio, onde muitos alunos esperavam os carros de seus pais.
Cinco minutos de espera valeram a pena quando Ricardo atravessou o portão, imediatamente identificando-nos e enfrentando a nós com a expressão de desconfiança. Tivemos a convicção de que estava envolvido quando seus olhos se entregaram.
- Calma ai. Precisamos falar contigo. – Cauã o barrou, impedindo o garoto de seguir caminho.
Os alunos perceberam o tom intimidador e aproximaram-se, atentos ao que viria a seguir, entre eles, Diana.
- O que ta pegando? – Ricardo disfarçava mal.
- Essa merda aqui, foi você quem escreveu? – Ele passou o papel amassado a Ricardo, o qual lentamente o abriu e disfarçadamente leu.
- Não tenho nada a ver com essa história. Pra que diabos eu ia ficar inventando baboseira sobre a vida de vocês?
- Não se faça de idiota, sabemos bem o quanto você odiou o fato de eu ter trocado de turma. Não se porta mais como um amigo meu, não me cumprimenta, sequer fala comigo, me olha com indiferença. – Rebateu Cauã.
- E isso é motivo para me incriminar?
- Não é o único. Verificamos os login de impressão, você liberou um monte de cópias dessa porcaria hoje. – Apontou para o papel. – Esperava isso de muitas pessoas, menos de você.
- E não vai ficar por isso. Vou comunicar a direção da escola, não vou aceitar um idiota machista me humilhar desse jeito. – Interferiu Mariana, com raiva.
- Se tem um problema com a gente, por que não resolver cara a cara? – Confrontei.
Uma lágrima se formava nos olhos do garoto. Esfregou o rosto com a mão, como se estivesse nervoso ou tentando ocultar a face diante do julgamento público perante toda a gente que nos cercavam.
- Está bom. Assumo que errei. Mas não fiz isso sozinho, alías, quase tudo foi arranjado por outra pessoa.
- Quem foi?
- Digo o pecado, não o pecador. Se quiser ver, abra bem os seus olhos.
Cauã segurou Ricardo pela gola da camisa e o sacudiu, irritado. Tentei impedi-lo de o agredir, massageando seu ombro, porém o movimento acabou pegando mal. As pessoas vaiavam, sedentas por briga.
- Como isso pode acontecer, hein? Até ontem nós éramos irmãos.
- Até trocar a minha amizade pela do seu priminho e a da Mariana. O pior de tudo é ver que o Vitor passou para o seu lado. Não fala comigo com a mesma frequência, não ficamos os intervalos juntos. A culpa é toda tua Cauã. Esqueceu que nenhuma mina ia atrapalhar nossa amizade?
- Primeiro: não existe nenhuma mina. Segundo: se isso te incomoda, deveria ter falado comigo e não ter espalhado um monte de mentiras a meu respeito. – Ele estava alterado. – Eu vou te dar uma última chance de dizer para mim quem mais está metido nessa, se tu não disser, arrebento a sua cara.
- Pega leve. – Tentei amenizar.
- Deixa eles brigarem. – Gritou um rapaz do público que nos assistia.
Cauã poderia facilmente dar uma surra em Ricardo. O único atributo intimidador do garoto eram seus quase dois metros de altura, os quais não lhe serviam de nada, no fundo tratava-se de um covarde medroso. Cauã o largou, para euforia daqueles que esperavam ver a luta do ano. Senti-me orgulhoso por ele desistir de usar a agressão, apesar de o grandalhão merecer.
- Foi a Diana. – A garota que observara calada até então, arregalou os olhos com a acusação. – Não é justo eu carregar toda a culpa.
- Me coloca fora dessa! Não tenho nada a ver com isso. – Gritou a menina.
- Chega de fingir. Você precisava de cotas de impressão para sua matéria de fofocas, eu te dei meu login. Ainda perguntei se isso poderia me prejudicar de alguma forma, mas você me garantiu que ficaria tudo bem. Seja honesta e assume sua culpa.
- Como eu imaginava! – Exclamei, chamando a atenção para mim. – Você precisava fazer alguma coisa para nos atacar, não é mesmo?
- Do que você está falando? – Ela se fez de desentendida. – Eu já disse que não tenho envolvimento algum com a briguinha de vocês.
- Não aceita a minha proximidade com Cauã, por isso joga tão sujo.
- Não se faz de santa Diana. Agora precisamos assumir isso juntos. – Gritou Ricardo.
- Assume, garotinha mimada. Você vive torcendo o nariz para a gente. – Andei até ela e a enfrentei olho no olho.
- Cala a boca, viadinho. – Diana retrucou sob o som de gritos aquecidos da plateia.
A ofensa fez meu coração acelerar, tentei me controlar respirando fundo. Deveria ser superior em minha réplica.
- Sou viado sim, inclusive não tenho o menor problema em assumir. Felizmente sou amado e querido pelas pessoas próximas a mim, não preciso comprar, distorcer, armar situações. Isso eu deixo para as pessoas baixas como você.
- Viadinho, viadinho, viadinho. – Um coral gritava para mim. Eu tinha vontade de chorar, mas a lágrima deveria permanecer contida em mim.
- E se vocês tiverem algum problema com isso, saibam que eu também sou. – Cauã me abraçou.
Silêncio. Todos impactados com a notícia nos observavam de queixo caído, sobretudo Diana e Ricardo. Uma explosão de gritos veio em seguida:
- Viadinhos, viadinhos, viadinhos...
Empurrei Cauã para que saíssemos do meio daquela multidão formada por idiotas preconceituosos. Antes de abandonarmos o local, Diana olhou para mim e soltou um sorriso pequeno, porém diabólico.
Andamos calados até a quadra acima. Fora muito corajoso da parte dele enfrentar a todos daquela maneira. Com certeza o colégio se tornaria um lugar difícil nos próximos dias.
- Chegou a hora, vou contar tudo aos meus pais. Não posso me esconder mais, quero te namorar sem precisar viver isso por debaixo dos panos.
Segurei sua mão em apoio.
- Não importa o que houver, estarei sempre aqui para você.
- Eu quero que você esteja comigo, é a única pessoa que pode me dar forças.
Concordei.
...
Andamos vários minutos em silêncio até chegarmos à residência de Cauã. O caminho pareceu uma eternidade porque o nervosismo subia à cabeça de ambos. Detestava a sensação de peso nas pernas, como se elas quisessem me prender no chão, impedindo-me de andar.
Uma coisa estranha chamou-nos a atenção: um carro desconhecido parado em frente à casa. Ao atravessarmos a porta de entrada uma imagem congelou meu estômago. Diana sentada no sofá da sala de estar, conversando com Eliane.
Cauã e eu nos entreolhamos, assustados. Diana percebeu nossa presença e levantou-se, com os olhos cheios de lágrimas.
- Eliane, eu já estou indo, muito obrigada pela conversa.
Eliane parecia outra pessoa, estava séria, com a cara fechada e voltava sua atenção somente à garota.
- Tudo bem, querida. – Beijou a bochecha dela e a abraçou. - Eu quem agradeço.
Elas andaram até a porta, ao mesmo tempo em que Sérgio chegava do trabalho, sem entender a visita de Diana. Depois que a garota se foi, Eliane segurou meu braço com força e me forçou a andar até o quintal.
- Não podemos receber visitas agora. – Disse, apertando-me com força.
Cauã a repreendeu por ser rude comigo, contudo Eliane ordenou aos gritos que entrasse e aguardasse a conversa. A porta se fechou em minha frente.
Estava tudo acabado, eles receberam a notícia da pior forma possível.
...
ATENÇÃO.
O próximo capítulo marca o final de um ciclo na história. Inicialmente "Os Primos" ganharia apenas treze capítulos, porém me senti muito inspirado em estender a trama. A nova etapa será intitulada "Os Primos: O Casamento". Aguardem!
Agradeço aos leitores que vierem a dedicar um tempo para realizar a leitura, e gosto de receber críticas de toda natureza (me refiro as construtivas), então, não deixe de comentar o texto, isso é muito importante para mim.
Também disponibilizei o texto no Wattpad, que proporciona uma leitura mais confortável, não deixarei o link pois o site Casa dos Contos Eróticos pode o censurar. Busquem por "Os Primos (Romance Gay)".
Obrigado a todos!