Deixa eu cuidar de você (8)

Um conto erótico de Felipe
Categoria: Homossexual
Contém 2696 palavras
Data: 19/04/2017 17:07:56

Está aí mais um pouquinho do relato. Estou postando as pressas, queria agradecer um por um, mas prometo fazer isso uma próxima vez. Pra quem perguntou se é real, é real sim. Continuem acompanhado, aprendi muito e continuo aprendendo até hoje... Compartilho minha vivência não por audiência, mas por conciliar duas coisas que gosto de fazer: escrever e lembrar os meus passos.

- Filho, está me ouvindo? – ela perguntou.

- Estou sim, mãe – quase não consegui falar.

- Uma hora ou outra isso iria acontecer – ela falou – Ainda bem que está longe, se não ele teria te agredido também.

- Como assim me “agredido também”? O pai te agrediu? – perguntei assustado e o Renato me olhava assustado também, perguntando o que estava acontecendo.

- Ele me empurrou e acabei machucando o ombro e saí de lá às pressas antes que acontecesse algo pior, ele estava muito alterado – ela falou triste – Estou na sua tia, estou pensando no que irei fazer. Mas queria te manter informado, fiquei com medo que ligasse no telefone fixo e ele atendesse.

Aquilo me entristeceu muito, foi impossível não chorar. Minha mãe sempre esteve ao meu lado e olha pelo que estava passando por minha causa. Conversamos mais um pouco e ela então falou para eu não deixar de aproveitar a viagem que deixasse para me preocupar apenas quando voltasse a São Paulo, mas era impossível não ficar preocupado diante daquela situação. Ela falou que iria ficar uns dias na minha tia e não tinha avisado o meu pai para onde estava indo, apenas o deixou embriagado e saiu. Desliguei e contei ao Renato o que tinha acontecido, embora ele houvesse subentendido um pouco enquanto eu conversava com a minha mãe. Eu não sabia o que pensar, muita coisa iria mudar, eu nem poderia voltar para casa e muito menos ao trabalho. A minha mãe também não sabia o que iria fazer. Abracei minhas pernas e apoiei minha cabeça, chorei igual a uma criança.

Não sei quanto tempo fiquei naquela posição, mas o Renato ficou ao meu lado, ambos em silêncio. A única coisa que ele falava era “pode contar comigo para qualquer coisa, você e sua mãe”. Mas não era apenas isso, era a nossa família que estava se desestruturando por minha causa. Lembrei que meu pai havia agredido a minha mãe e me ferveu o sangue, ele poderia fazer qualquer coisa comigo, mas não com ela. Pensava em voltar para São Paulo também, muitas vezes tentei criar força para falar isso ao Renato, mas lembrei da minha mãe falando que estava bem e que estava na minha tia, a mãe daquele meu primo que meu pai flagrou uma vez, ele não iria lá. E também não seria justo com o Renato, ele estava tão empolgado com a viagem, embora esse baque acabou com todos os ânimos. Eu adormeci no sofá e o Renato ficou ao meu lado, estava muito calor e nem havíamos ligado o ar condicionado.

Acordei cedo no outro dia, minha cabeça ficava martelando tudo o que estava acontecendo e eu estava prestes a surtar. Renato levantou e eu estava tentando ligar para minha mãe.

- Ela deve está dormindo ainda – ele falou com voz de sono – São 05:40 da manhã ainda.

- Tem razão – eu falei desanimado.

Renato se aproximou e me abraçou.

- Eu sinto muito – ele falou – Não queria que passasse por algo assim.

- A culpa não é sua, Renato – falei – Uma hora ou outra ele iria descobrir.

- E acabou descobrindo da pior forma – ele falou – Vai saber o que esse cara falou pra ele.

Lembrar que alguém havia me seguido a fim de contar o que eu estava fazendo para o meu pai me tirava do sério, como alguém se presta a esse papel?

- Vai ficar tudo bem – ele me tranquilizou – Eu estou com você!

Ele me abraçou e encostou sua testa na minha. Sua barba estava bagunçada e seu olho com remela, mas ele continuava lindo do mesmo jeito. Assustei quando meu telefone tocou.

- Oi, mãe – atendi – Estava tentando falar com a senhora.

- Eu vi a ligação perdida – ela falou – Está tudo bem por aí?

- Estou preocupado, mãe – falei – Eu acabei causando uma confusão entre você e o pai.

- Oh, meu filho – ela disse – Não pense assim, a culpa está na cabeça quadrada do seu pai e no álcool que ele tem exagerado. A mãe temia por algo assim, mas fico aliviada que está aí.

- Estou aqui, mas queria estar ao seu lado – falei – Fico preocupado.

- Felipe, presta bem atenção no que vou te falar – ela falou – Você e o doutor Renato estavam super empolgados com essa viagem, eu me dispus a ajudar e em nenhum momento me arrependi de ter feito isso. O que aconteceu ontem foi consequência de diversos problemas que seu pai e eu enfrentamos, aliados ao preconceito que ele carrega.

- Mas, mãe – tentei interromper.

- Então me escute bem – ela interviu - Eu não quero que esteja aí preocupado comigo, te garanto que estou bem. A Célia falou que posso ficar aqui o quanto for necessário, não pretendo voltar para lá com o seu pai bebendo daquele jeito. Aproveite a viagem, eu estou bem. Quando você voltar a São Paulo irei te buscar no aeroporto e aí decidiremos o que iremos fazer. Promete que vai fazer isso?

- Mãe – eu tentei falar.

- Promete, meu filho? – ela me interrompeu.

- Prometo – falei – Mas me avise caso aconteça alguma coisa.

- Eu vou manter contato – ela falou – Agora vá aproveitar essa cidade, estou com você em oração. Fique com Deus, meu filho. Mande um beijo ao Renato.

- Amém, você também! – falei e ela desligou.

Eu fiquei um pouco mais aliviado.

- Está melhor, Lipe? – ele perguntou.

- Um pouco – eu falei.

- Então vem aqui – ele pegou no colo e saiu me arrastando.

- Me põe no chão – eu pedi – Para de ser louco.

- Vamos tomar banho e depois tomar café – ele falou – Quero ir ao morro do careca.

O Renato me colocou em baixo da água com roupa e tudo. Foi impossível não rir, ele tirou a roupa e entrou em baixo do chuveiro também. Tirei a roupa molhada e o abracei. Ficamos ali abraçados por longos minutos, nos beijando e não transamos, ficamos apenas sentindo o carinho um do outro.

- Eu te amo – ele falou – Você sabia?

Era a primeira vez que ele me falava isso, senti um frio escorrer pelo meu corpo. Renato sempre falava que gostava muito, mas uma vez conversando sobre amor, entramos em comum acordo que não é algo que acontece do dia para a noite. Mas estava presente em nós, era inegável.

- Eu te amo mais – falei e ele sorriu – Eu te amo bem mais.

- Ah é? – ele me provocou – Então me abraça o mais forte que for possível.

E ali o abracei o mais forte que pude. Nos trocamos e fomos tomar café da manhã, tinha bastante opção e até fiquei meio perdido com tanta coisa diferente do que estava acostumado em São Paulo. A tapioca que serviram estava excelente e comi também um cuscuz diferente do cuscuz paulista, era mil vezes melhor. Saí abarrotado de tanta comida e Renato ficou brincando falando que eu não iria conseguir acompanha-lo no roteiro que ele havia planejado. Ele alugou um carro para que pudéssemos passear em Natal, ele já esteve na cidade e sabia chegar em alguns pontos turísticos, o que facilitava bastante em não ter que pagar um preço absurdo que alguns cobravam ali.

Chegamos à praia de ponta negra e logo avistei o famoso morro do careca, era realmente lindo o lugar. A praia estava limpa e pegamos guarda sol e cadeiras.

- Eu sou apaixonado por este lugar – ele falou enquanto tirava a roupa.

- É realmente lindo – eu falei surpreso.

- Passa um pouco de protetor em mim? – ele pediu.

- Vem cá – eu falei.

Ele se aproximou e ficou apenas de sunga preta, o contraste com sua pele branca era enorme. Seu corpo ainda estava definido, o meu estava normal. Espalhei o protetor no seu corpo e ele brincava falando que estava concentrado para não ficar de pau duro e eu ria. Ele se ofereceu para passar protetor em mim também, mas estava sentindo cócegas do jeito que ele estava passando e pedi para parar de brincadeira.

- Vontade de te agarrar, sabia? – ele falou.

- Se comporta, estamos em uma praia – falei.

- Ué, não vou poder te beijar então? – ele perguntou com cara de manha.

Eu não respondi, mas o beijei ali. Abraçando e sentindo seu corpo no meu. Não fiquei preocupado se estavam reparando, o problema maior estava em São Paulo. Ficamos pegando sol e revezávamos para entrar na água, não confiávamos em deixar nossas coisas sozinhas por ali. A fome bateu e pedimos algumas porções, achei o preço bem atrativo e diferente do que estava acostumado a pagar nas praias de São Paulo. Ele insistia para que eu não pagasse nada, mas falei que havia trago dinheiro.

- Desculpa falar, mas não precisa ficar gastando – ele falou – É o meu presente de aniversário.

- O presente é a viagem e o hotel, não os meus gastos pessoais – falei – Você tem que me deixar ajudar também, não posso viver as suas custas.

- Não está vivendo, só falei que é o meu presente – ele retrucou.

- Já disse, o seu presente é a viagem e o hotel – eu falei sério – Me deixa ajudar nos gastos também, se não vou realmente ficar chateado.

- Tudo bem – ele falou – Não vamos discutir por isso.

Eu me preparei para viagem, tinha um pouco de dinheiro guardado e trouxe para essa viagem. Não achava justo ele querer pagar tudo, até uma água que eu bebia. Ficamos o dia inteiro naquela praia e chegamos exaustos no hotel. Tomei um banho demorado e o Renato ficou falando com sua mãe, mas não contou nada do que havia acontecido. Saí de toalha do banheiro e sentei na cama.

- Eita, bagunceiro – ele falou – Vai vestir uma roupa.

- Já vou – falei – Sua mãe está bem?

- Está sim – ele falou – Meu irmão está lá com ela, chegou hoje cedo.

- Que bom – eu falei – O que planejou para hoje a noite?

- Vamos a um barzinho – ele falou – Lá tem um povo bem animado.

- Então vai tomar banho – falei.

Ele me deu um beijo e foi tomar banho. Aproveitei e liguei para minha mãe, graças a Deus estava tudo bem. Contei a ela algumas coisas sobre a cidade e ela me pediu que levasse uma lembrancinha para ela, algum artesanato. Falei que levaria sim, não comentamos sobre o meu pai, embora eu quisesse saber se ela tinha conversado com ele. Mas pela maneira que ela falou, não havia conversado não. Me despedi assim que o Renato saiu do banho, eu nem tinha me trocado ainda porque fiquei enrolando no telefone.

- Você está pelado ainda? – ele ficou surpreso.

- Estava falando com minha mãe – falei.

- E como ela está? – perguntou.

- Parece estar tranquila – falei – Não comentou nada sobre o meu pai não.

- Entendi – ele falou.

Levantei para me trocar e quando passei perto dele, ele me abraçou e beijou a minha nuca.

- O que pretende fazer quando chegar em São Paulo?– ele perguntou meio receoso.

- Sinceramente? Eu não sei, minha mãe falou que decidiríamos assim que eu chegar lá, não há muito o quê fazer daqui. – eu falei.

- Isso é verdade – ele falou sem me soltar – Mas sem chances de voltar para sua casa – ele me lembrou.

- Sem chances – eu falei triste – E nem de ir trabalhar no posto, é possível que eu mate aquele desgraçado que nos seguiu.

- Vontade não falta, mas não podemos fazer isso – ele falou – Se quiser ir lá pra casa, as portas estão abertas – ele falou.

- Não posso ir pra sua casa, Renato – eu falei – E também tem a minha mãe, assim que chegar lá vou conversar com ela e ver o que iremos fazer.

- Ué, fica você e ela em casa – ele falou – Não tem nenhum problema.

- Não, pode ser que ela ainda volte para casa do meu pai – falei – Eu é que tenho que sair, mas agradeço pelo convite, vou achar outra maneira.

Ele não gostou muito do que falei, mas eu não poderia ir para casa dele. Eu tinha um pouco de dinheiro guardado, tinha dinheiro do seguro do carro também, daria um jeito de fazer alguma coisa. Fomos até o barzinho que ele sugeriu e estava tocando um forró, estava lotado de turistas e algumas pessoas passavam vendendo artesanato e outras coisas.

Durante a nossa estadia em Natal conhecemos diversos lugares bacana e fomos a diversas praias como Camurupim, Maracajaú (onde fizemos mergulho e foi uma das coisas que mais gostei na viagem), e diversos dias fomos a praia de Ponta Negra e fizemos passeio de jangalancha até a praia do alagamar. Durante os passeios conhecemos um casal que veio de São Caetano do Sul e que estavam comemorando 7 anos de casamento. Foram nossas companhias nos passeios e nos barzinhos à noite.

Era nossa última noite ali em Natal, nosso voo era bem cedo e resolvemos fazer algo mais leve. Fomos até uma pizzaria chamada Cipó Brasil e pedimos uma das pizzas mais deliciosas que já comi, cheia de carne seca e queijo manteiga, uma delícia mesmo. Voltamos para o hotel e começamos a arrumar nossas malas, eu realmente consegui me distrair durante a viagem, não que não tinha pensado nos problemas, mas consegui me divertir ao máximo. Voltar para casa me assustava, não sabia o que iria acontecer, mas consegui não sofrer antecipadamente. Eu e o Renato ficamos assistindo filme e dormimos, acordamos cedo para irmos até o aeroporto e devolver o carro.

Até tentei não me precipitar com o sofrimento, mas não deu. Fui o caminho inteiro pensando no que eu faria, no que achava que seria e muitas outras coisas. Desembarcamos em Congonhas e minha mãe estava me esperando, não iria voltar com o Renato. Ela nos abraçou e conversamos um pouco por ali. Ela avisou que iriamos para casa da minha tia em outra cidade, o Renato insistiu para que ficássemos em sua casa, mas ela e eu não aceitamos. Ela agradeceu ao Renato e então falou que deveríamos ir, nos despedimos dele e me abraçou forte, pedindo para que eu ligasse para ele assim que possível e o mantivesse informado.

- Eu te amo, Lipe – ele falou triste – Conta comigo, vai ficar tudo bem.

- Eu também te amo, Renato – falei.

- Vamos, filho – disse minha mãe.

Eu e minha mãe fomos até a casa da minha tia e fui bem recebido por ela, ela colocou minhas malas no cantinho e foi preparar um café. Eu e minha mãe ficamos conversando, choramos várias vezes, não era fácil porque ela havia tomado a decisão de se separar do meu pai e eu estava me sentindo culpado. Embora, ela falou que não era por eu ser gay, mas pelo comportamento dele.

- Seu pai está bebendo muito – ela falou – Ele já virou alcoólatra, temo pelo pior.

- Você tem certeza, mãe? – eu falei triste – Eu não queria destruir a vida de vocês.

- Você não está destruindo nada, meu filho – ela falou – Eu ainda não oficializei o pedido de divórcio, estive pensando muito esses dias.

Minha tia ficou participando da conversa, ela e minha mãe eram muito amigas e só tiveram atritos referentes aquela historia do meu primo. Minha mãe comentou que tinha alugado um apartamento provisório e estava apenas esperando terminar de fazer uma pequena reforma, não era no mesmo bairro onde morávamos, isso era óbvio e nem muito perto de onde o Renato mora. Mas o importante é que tinha um lugar para ir, pensei. Quanto ao emprego, eu falei que iria procurar alguma coisa, eu tinha muito contato com fornecedores de combustíveis e sabia muito da rotina de um posto, embora não tinha uma formação. E assim ficamos na minha tia mais uns dias, até que mudamos para o apartamento. O apartamento era mobiliado, mas mesmo assim faltavam algumas coisas, comprei com um pouco de dinheiro que tinha guardado. Ela encheu a sala com itens de decoração, entreguei um presente que trouxe para ela, um quadro feito por um artista de Natal e ela colocou na sala. Foi difícil dormir aquela primeira noite ali, era muito estranho, no outro dia eu sairia procurando emprego, precisava ajudar de alguma forma.

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Comentários

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Que barra. Mas depois da tempestade sempre vem a calmaria e o arco-íris

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Espero que tenham superado juntos esse tempo difícil, que estejam juntos,e não seja apenas lembranças.

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Comecei a ler ontem o seu conto, ou melhor, a sua história e estou simplesmente apaixonado... Além de vcs terem uma história muito bonita, vc escreve muito bem e de uma maneira muito envolvente. Meus parabéns... Estou aguardando o próximo capítulo... Já virei fã. Bjos lindão

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A cada capitulo me encanto mais com esse relato torcendo por vcs sempre!

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E tudo vai se ajeitando...

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Muito bom, espero que tudo tenha se resolvido, desejo toda sorte de bênçãos meu querido.

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Maravilhoso. Espero que tudo tenha se acertado na vida de vocês

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Tomara que seu pai não tenha infernizado a vida de vcs por mt tempo, é mt triste que as coisas tenham ficado assim, espero que o amor de vc e o renato sobreviveu a todas essas circunstancias e que vocês estejam juntos hoje... Bjs 😘

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Espero que seu pai nao tenha tambem te atrapalhado na busca por esse emprego. Fase ruim sempre passa, e que tudo tenha se ajeitado da melhor forma para voces.

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