Daniel
– Como assim cancelado?! – eu disse, encarando a mulher do outro lado do balcão. Ela parecia ter minha idade, com o rosto cheio de sardas e cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo. E também parecia que estava prestes a estrangular não só eu, mas todos os outros passageiros no aeroporto LaGuardia.
– Infelizmente fomos informados de uma greve do sindicato dos mecânicos – ela disse secamente. – Todas as linhas para Provença foram canceladas. Pedimos desculpas pelo transtorno.
Bom, essas desculpas não pareciam muito sinceras. Eu continuei sem saber o que fazer enquanto digeria suas palavras.
– Desculpa, o quê?!
Ela arrumou sua expressão para um sorriso totalmente ensaiado.
– Todos os voos foram cancelados por causa da greve – olhei por cima de seu ombro para a tela com as saídas e chegadas da Provence Airlines. E lá estava a palavra CANCELADO ao lado de cada linha.
– Você está me dizendo que estou preso aqui? Por que ninguém me disse isso em Chicago?
– Faremos o possível para arranjar sua acomodação para esta noite…
– Não, não, não, não, isso é impossível. Por favor, verifique novamente.
– Senhor, como eu já disse, nenhum voo da Provence Airlines vai decolar ou aterrissar. O senhor pode verificar com outras empresas se elas possuem algum voo que possa acomodar o senhor. Não há mais nada que eu possa fazer.
Soltei um grunhido, frustrado, deixando minha testa cair no balcão. Bennett estava esperando por mim, provavelmente sentado em algum lugar tomando sol, com o laptop aberto e trabalhando como um maldito viciado em trabalho que é. Deus, ele me excita.
– Isto não pode estar acontecendo – eu disse, me endireitando e implorando com o olhar mais humilde que eu conseguia. – O cretino mais fofo do mundo está me esperando na França e eu não posso estragar essa viagem!
– Ceeerto – ela disse, limpando a garganta e arrumando uma pilha de papel. Eu estava perdido.
– Quanto tempo? – perguntei.
– Não temos como saber. É claro que eles vão tentar resolver a questão o mais rápido possível. Pode demorar um dia, ou até mais.
Bom, que grande ajuda. Com um suspiro dramático e alguns palavrões abafados, eu me arrastei para longe do balcão em busca de um canto silencioso de onde pudesse ligar para minha assistente. Ah, e enviar uma mensagem para Bennett. Isso definitivamente não daria certo.
O celular tocou em questão de segundos. Andei pela multidão, através da manada de passageiros sem voo que tomavam quase todo o terminal da Provence Airlines, e parei em um canto ao lado dos banheiros.
– Oi.
– Que diabos você quis dizer com “preso em Nova York”? – ele gritou. Eu estremeci, afastando o celular da orelha antes de respirar fundo para me acalmar.
– Quero dizer exatamente isso. Todos os voos foram cancelados, ninguém sai e ninguém chega. Pedi para minha assistente verificar com a Delta e outras empresas, mas tenho certeza de que todo mundo já fez isso também.
– Isso é inaceitável! – ele rugiu. – Eles sabem quem você é? Deixe eu falar com alguém. Eu ri.
– Ninguém aqui sabe ou se importa com quem eu sou. Ou com quem você é.
Ele ficou quieto por um momento, longo o bastante para eu ter de verificar se a linha tinha caído. Não tinha. O som de pássaros em revoada preencheu a ligação, com uma chaminé à distância. Quando ele finalmente voltou a falar, usou aquela voz grave e firme que eu conhecia tão bem. Aquela que ainda fazia minha pele se arrepiar. Aquela que usava quando falava muito sério.
– Diga para eles colocarem o seu traseiro num avião agora mesmo – ele disse, pronunciando cada palavra lentamente.
– Todos os voos estão lotados, Bennett. O que você quer que eu faça? Pegue carona num barco? Use um tapete voador? Relaxa, vou chegar aí quando eu puder.
Bennett gemeu e eu percebi que ele aceitou o fato de que não poderia sair dessa discutindo ou usando seu charme.
– Mas quando?
– Não sei, meu amor. Amanhã, talvez? No dia seguinte? Em breve, eu prometo! Com um suspiro resignado, ele perguntou:
– E agora? Ouvi o som de uma porta se abrindo e fechando, com uma música suave tocando ao fundo.
– Temos que esperar – suspirei. – Vou para um hotel, talvez trabalhar um pouco. Talvez eu possa dar uma olhada nos apartamentos enquanto estou aqui. E depois prometo que entro no primeiro voo disponível. Mesmo que eu tenha que chutar alguns empresários para fora…
– É bom mesmo que faça isso – ele disse. Balancei a cabeça para expulsar o som daquela voz imponente.
– Então, me conte sobre a casa. É tão bonita quanto imagino?
– Mais ainda. Quer dizer, a sua presença obviamente vai deixar ainda melhor, mas caramba… Max realmente se superou com isso aqui!
– Bom, tente aproveitar. Tome bastante sol, nade, leia alguma bobagem. Ande por aí descalço.
– Andar por aí descalço? Esse é um conselho incomum, mesmo para você.
– Não enche.
– Sim, senhor. Eu sorri.
– Sabe, acho que gosto desse seu lado. Você fica muito sexy quando recebe ordens, Ryan. Ele riu suavemente.
– Ah, e… Dan…
– Humm?
– Espero que não tenha colocado nenhuma cueca na mala. Você não vai precisar.
Passei o resto do dia no aeroporto, rezando por um milagre ou um voo para a França. Não consegui nenhum dos dois. Levei horas para localizar minha bagagem, então já estava exausto quando cheguei ao quarto do hotel. Por causa da diferença do fuso horário, já era muito tarde, ou muito cedo, para ligar para Bennett, então enviei uma mensagem enquanto preparava um banho e pedia ao serviço de quarto uma garrafa de vinho e qualquer coisa que tivesse chocolate. Eu tinha acabado de entrar na banheira – com uma taça de vinho e um cheesecake de chocolate precariamente equilibrados no canto – quando meu celular tocou. Procurei pelo chão até encontrá-lo e dei um grande sorriso quando vi o rosto do Bennett acendendo a tela.
– Pensei que você estivesse dormindo – eu disse.
– A cama é grande demais.
Sorri ao ouvir sua voz sonolenta. Esse era o Bennett que rolaria para o meu lado durante a noite, com os braços quentes e pesados, sussurrando palavras doces em minha pele. Ele sempre foi melhor nisso tudo do que eu, mesmo no começo.
– O que você está fazendo? – ele perguntou, puxando minha atenção de volta para o celular.
– Banho de espuma – eu disse, sorrindo com o som de seu gemido do outro lado da linha.
– Não é justo.
– E você?
– Revendo alguns documentos.
– Você encontrou meu bilhete?
– Bilhete?
– Eu deixei uma coisa para você.
– É mesmo?
– Sim. Olhe na bolsa do seu laptop.
Ouvi um ranger de couro quando ele se levantou, depois o som de seus passos no chão de azulejos, seguido de uma risada.
– Daniel – ele disse, rindo ainda mais forte –, parece que alguém deixou um pedido de resgate aqui.
– Engraçadinho.
– “Três observações sobre hoje: eu não fiz tudo que estava em minha lista de afazeres, a salada que você me preparou no almoço estava deliciosa e, mais importante, eu te amo” – ele leu, e então ficou em silêncio enquanto lia o resto do bilhete. Quando terminou, murmurou:
– Eu… merda. Estou ficando maluco sem você aqui.
Fechei os olhos.
– O universo está conspirando contra nós.
– Sabe, parte de mim quer dizer que nada disso aconteceria se você não fosse tão teimoso e tivesse vindo comigo – comecei a protestar. – Mas – ele disse, continuando – sua determinação é uma das coisas de que mais gosto em você. Você nunca desiste. Você nunca espera de alguém um trabalho que você mesma não faria. E, se mudasse isso, você não seria o homem por quem me apaixonei. Você fez exatamente o que eu teria feito. Como sempre. E é também um pouco estranho perceber o quanto somos parecidos.
Eu me sentei em meio à água morna, levando os joelhos até o peito.
– Obrigada, Bennett. Isso significa muito para mim.
– Bom, estou falando a verdade. E você pode me mostrar sua gratidão quando trouxer essa sua bunda gostosa aqui para a França. Combinado?
Revirei os olhos.
– Combinado.
Não fui para a França no dia seguinte. Nem no próximo. E no terceiro dia eu me questionei se pegar uma carona em um barco seria mesmo uma ideia ruim. É possível que eu tenha ligado mais para Bennett nesses três dias do que durante todo o resto do nosso namoro. Mesmo isso não era suficiente e não ajudou em nada a aliviar a ansiedade que agora vivia constantemente em meu peito. Eu me mantive ocupado, mas não podia negar que estava com saudades de casa. Eu não sabia exatamente quando aconteceu, mas, em algum ponto, Bennett se transformou no meu lar. Ele se transformou no meu escolhido. E isso era aterrorizante. Cheguei a essa conclusão quando saí para andar um pouco. Minha assistente tinha me ligado, dizendo que conseguiu um lugar em um voo noturno da Air France. Meu primeiro pensamento foi contar imediatamente para o Bennett. Quase saí correndo para o quarto do hotel. Mas então eu parei, com o coração acelerado e os pulmões queimando. Quando foi que ele se tornou a coisa mais importante em minha vida? E fiquei imaginando: seria possível que ele estivesse tentando me dizer que sentia a mesma coisa? Arrumei minhas malas, atordoado, jogando as roupas de qualquer jeito e juntando as coisas que estavam espalhadas pelo quarto. Pensei no quanto ele mudou no último ano. Os momentos de silêncio à noite, a maneira como às vezes olhava para mim como se eu fosse o único homem do planeta. Eu queria estar junto dele… sempre. E não apenas vivendo no mesmo apartamento, mas de um jeito definitivo. Nesse momento fui atingido por uma ideia tão maluca, tão insana, que eu explodi em uma risada, quase literalmente. Nunca fui do tipo de homem que espera as coisas acontecerem, por que isso seria diferente? Então, eu me decidi. Bennett Ryan não tinha ideia do que estava prestes a atingi-lo.
BENNETT
Por mais impossível que pareça, eu estava completamente entediado naquela linda e enorme casa de campo francesa. O lugar não requeria manutenção ou limpeza, minha conexão de internet era tão lenta que eu não conseguia entrar no servidor da RMG para realizar qualquer trabalho e – talvez o mais trágico – senti que não deveria fazer certas coisas até o Dan chegar. Parecia errado mergulhar na piscina infinita sabendo que ele estava preso em Nova York. Eu não queria passear pelos vinhedos ao redor da casa, pois achava que aquilo era algo para descobrirmos juntos. A governanta separou algumas garrafas de vinho para nós, mas só um idiota completo beberia sozinho. Descobrir o resto da casa também era um direito dele. Até então eu abri apenas a porta de um quarto, onde dormi, sem querer avaliar nossas opções até que ele chegasse. Juntos, decidiríamos onde passar nossas noites. É claro, se eu contasse algo sobre isso ele riria na minha cara e diria que eu estava sendo dramático. Mas era por isso que eu o queria aqui. Algo monumental aconteceu comigo no outro dia, quando usei o bat-sinal, e a sensação de urgência não diminuiu desde então – e provavelmente não diminuiria até ele chegar e ouvir o que eu tinha para dizer. Andei pelos jardins, contemplei o mar e verifiquei meu telefone novamente, lendo pela centésima vez a mensagem mais recente do Daniel: Parece que a Air France tem um lugar disponível. Ele enviou a mensagem três horas atrás. Embora parecesse promissor, suas três mensagens anteriores haviam sido semelhantes, e no fim ele ficou de fora desses voos. Mesmo se tivesse decolado há três horas, ele não chegaria a Marselha até amanhã de manhã, na melhor das hipóteses. Com o canto dos olhos, vi uma pessoa surgir de trás da casa e colocar um prato de comida na mesa perto da piscina. Com outra olhada em meu celular, vi que conseguira matar mais algumas horas e que era finalmente hora do almoço. Na casa havia uma cozinheira, uma mulher de cinquenta e poucos anos chamada Dominique, que assava pães todas as manhãs e, até agora, tinha servido algumas variações de peixe, salada fresca colhida do jardim e figos. A sobremesa consistia de macarons feitos à mão ou bolachinhas com geleia. Se o meu Daniel não chegasse logo, Dominique teria que me rolar até a porta para recebê-lo. Ao lado do meu prato havia uma taça de vinho e, quando olhei para Dominique, ela parou na porta dos fundos, apontou para o vinho e disse: – Le boire. Vous vous ennuyez, et solitaire. Bom, que merda. Eu estava entediado e solitário. Uma taça de vinho não faria mal algum. Eu não estava celebrando, estava apenas sobrevivendo, certo? Agradeci a Dominique pelo almoço e me sentei à mesa, tentando ignorar a brisa na temperatura perfeita, o som do oceano tão perto, a sensação do piso aquecido sob meus pés. Eu não aproveitaria nem um único segundo até que o Dan chegasse. Bennett, você é um egocêntrico patético. Como de costume, o peixe estava inacreditável e a salada com pequenas cebolas e cubos de queijo branco tinha tanto sabor que eu nem percebi quando minha taça ficou vazia e Dominique estava ao meu lado, enchendo-a de novo. Comecei a impedi-la, dizendo que não precisava de mais vinho. – Je vais bien, je n’ai pas besoin de plus. Ela piscou para mim. – Puis l’ignorer. Então, ignore.
Uma garrafa de vinho depois e eu comecei a me perguntar por que eu mesmo não comprava uma casa de campo na França. Afinal, já tinha morado naquele país antes e, embora eu tivesse memórias não muito agradáveis – estava longe dos amigos e família, com uma agenda extenuante de trabalho – vivi ali durante um tempo de minha vida que, em retrospecto, parecia tão curto. Eu ainda era jovem. Ainda estava apenas começando, na verdade. Daniel e eu nos encontramos quando ainda tínhamos toda nossa vida pela frente. Inferno, se Max podia encontrar um lugar lindo como aquele, eu poderia encontrar outro ainda mais bonito e luxuoso. O vinho deixou meus membros aquecidos e pesados, e minha cabeça cheia de pensamentos que pareciam não fazer sentido. Imaginei a loucura que seria conhecer o Daniel aos meus vinte e poucos anos. Teríamos destruído aquela casa, e provavelmente durado apenas uma semana. Não é incrível como encontramos a pessoa certa no momento certo? Peguei meu celular e enviei uma mensagem para ele: Estou tão feliz por ter conhecido você naquela época. Mesmo sendo um enorme cretino, você ainda é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Fiquei encarando o celular, esperando sua resposta, mas nada aconteceu. Será que seu telefone estava sem bateria? Ou ele estava dormindo no hotel? Será que podia enviar uma mensagem do avião? Calculei em minha mente e pensei que ele estava a seis… sete horas de diferença? Não, complicado demais. Sorri para Dominique enquanto ela me servia outra taça de vinho e enviei mais uma mensagem para o Dan: Não estou bebendo todo o vinho só que e tudo tão delicioso! Prometo guardar um pouco para você. Eu levantei e tropecei… em algo. Franzi a testa ao olhar para o gramado e imaginei se teria pisado em algum pequeno animal. Descartando esse pensamento, andei até o jardim, me espreguiçando e soltando um longo e feliz suspiro. Eu me sentia relaxado pela primeira vez desde a minha última transa com Daniel, zilhões de anos atrás. Com a barriga cheia e um pouco de vinho na cabeça, lembrei que ainda não tinha planejado a chegada do Daniel. Tínhamos algumas coisas para cuidar antes. Tínhamos uma conversa para ter e planos para fazer. Será que eu deveria trazê-lo para o jardim, ajoelhar com ele no gramado e fazê-lo escutar? Ou esperar por um momento de silêncio durante o jantar e então ir até ele, tirando-o da cadeira e trazendo-o para perto de mim? Eu sabia o que queria dizer – ensaiei as palavras milhares de vezes em minha mente durante o voo até ali –, mas ainda não sabia quando as diria. É melhor deixar ele se acostumar alguns dias aqui antes de jogar a bomba. Fechei os olhos, recostei a cabeça e olhei para o céu. Então me permiti aproveitar, só por um instante. O clima estava espetacular. A última vez em que eu estive ao ar livre com Daniel foi durante um churrasco na casa de Henry, no fim de semana anterior, e o clima estava apenas ameno. Após um dia sob o sol e o vento, fomos para casa e fizemos o sexo mais preguiçoso e silencioso de que eu me lembro. Abri os olhos e imediatamente bati em meu rosto com a palma da mão.
– Ah, merda.
Dominique apareceu ao longe.
– Allez – ela disse, apontando para o portão principal e sugerindo que eu fosse até lá. – Se promener. Vous êtes ivre. Eu ri. Era verdade, eu já estava bêbado. Ela me serviu a garrafa de vinho inteira. – Je suis ivre parce que vous me versa une bouteille entière de vin – acho que foi isso que eu disse. Com um sorriso, ela ergueu o queixo. – Allez chercher des fleurs dans la rue. Demandez Gerrard.
—
Isso era bom. Eu tinha uma tarefa. Encontrar flores. Perguntar pelo Gerrard. Eu me abaixei para amarrar o sapato e saí pela porta da frente, seguindo em direção ao centro da cidade. Dominique era uma espertinha, me embebedou e depois me mandou para a cidade, para que eu não ficasse o dia todo em casa sem ter o que fazer. Ela e o Daniel se dariam muito bem. Pouco menos de um quilômetro rua abaixo, havia uma pequena loja cuja entrada transbordava com flores em todo tipo de recipiente: vasos, cestas, caixas, urnas. Sobre a porta havia uma placa na qual estava escrito GERRARD em letras ornamentais. Bingo. Um sino tocou quando entrei e um jovem loiro surgiu na pequena sala principal da loja. Após me receber em francês, ele rapidamente me olhou de cima a baixo e perguntou:
– Você é o americano?
– Oui, mais je parle français.
– Mas eu também falo inglês – ele disse, com seu forte sotaque carregando cada palavra. – E essa é a minha loja, então quem vai praticar sou eu. Ele ergueu as sobrancelhas como se estivesse flertando ou me desafiando. Ele era lindo, sem dúvida, mas seu contato visual demorado e o sorriso sexy me deixaram um pouco desconfortável. Foi então que me ocorreu: Dominique sabia que eu estava entediado e solitário, mas provavelmente não tinha ideia de que eu esperava a chegada do Daniel. Ela me encheu de vinho e depois me enviou para o jovem solteiro descendo a rua. Oh, meu Deus. Gerrard se aproximou um pouco, ajustando algumas flores em um vaso grande e esguio.
– Dominique disse que você está hospedado na casa do sr. Stella.
– Você conhece Max? Ele riu de um jeito silencioso e discreto.
– Sim, eu conheço Max.
– Ah – eu disse, arregalando os olhos. É claro. – Você quer dizer que conhece o Max.
– Não sou a único que o conhece assim – ele disse, rindo novamente. Tirando os olhos de suas flores, perguntou: – Você veio aqui pelas flores? Ou acha que a Dominique talvez tenha te enviado por outro motivo?
– Meu noivo, futuro marido vai chegar amanhã, ele estava preso em Nova York por causa de uma greve e agora está a caminho – eu disse de uma vez só, constrangido.
– Então você veio por causa das flores – Gerrard fez uma pausa, olhando ao redor da loja. – Que homem de sorte. Você é muito bonito – seus olhos voltaram a me olhar. – Talvez você fique sóbrio até lá?
Franzi a testa. Então me endireitei e murmurei:
– Não estou tão bêbado.
– Não? – ele ergueu as sobrancelhas e um sorriso divertido se espalhou em seu rosto. Então andou pela loja, coletando uma variedade de flores.
– Você é muito charmoso, de qualquer maneira, Amigo do Max. O vinho só deixa as pessoas menos inibidas. Aposto que normalmente você abotoa suas camisas e não gosta de pessoas que andem devagar demais na sua frente.
Franzi ainda mais a testa. Ele até que estava certo.
– Eu levo meu trabalho a sério, mas não sou assim… o tempo todo.
Gerrard sorriu, amarrando um laço nas flores. Então me entregou o buquê e deu uma piscadela.
– Aqui você não está trabalhando. Mantenha sua camisa desabotoada. E não fique sóbrio para o seu amante. Existem nove camas naquela casa.
A porta da frente estava aberta. Será que Dominique saiu e não fechou? Senti um pânico me dominar. E se alguma coisa aconteceu enquanto eu estava fora? E se a casa tivesse sido assaltada? Apesar do conselho do Gerrard, fiquei sóbrio instantaneamente. Mas não foi assaltada. Estava exatamente do jeito que eu deixei, apenas com um pouco mais de vento entrando pela porta aberta. Mesmo assim… eu não usei essa porta; passei do quintal para o jardim da frente. Pelo corredor, ouvi água correndo e falei para Dominique: – Merci pour l’idée, Dominique, mais ma copine arrive demain. Ela precisava saber o mais cedo possível que eu era uma pessoa comprometida. Quem sabe se começaria a convidar homens para vir até ali? Era isso que fazia para Max? Meu Deus, aquele homem não mudou nem um pouco. Enquanto eu me aproximava do primeiro quarto, percebi que a água que eu ouvia era um chuveiro. E que dentro do quarto havia várias malas. As malas do Daniel.
—
Eu poderia invadir o banheiro e dar um tremendo susto. Ele foi, afinal, idiota o bastante para não fechar direito a porta da frente, permitindo que o vento a abrisse de vez. Então foi tomar banho. Apertei meu queixo e punhos ao imaginar o que poderia acontecer se outra pessoa decidisse entrar na casa.
Merda. Fazia dias que não o via e eu já queria apertar seu pescoço e depois cobri-lo de beijos. Senti um sorriso crescer em minha boca. Nós éramos exatamente isso. Uma batalha tão familiar entre amor e frustração, desejo e exasperação. Ele me irritava em todos os sentidos, e então descobria outras maneiras de me irritar, que nem mesmo eu sabia que existiam. Sua cantoria vazou do banheiro até o quarto onde eu passei a primeira noite ali. Enquanto me aproximava, espiando pela porta, fui saudado pela visão de seus cabelos molhados e espumas descendo por seu corpo nu. Então ele se abaixou, deixando a bunda perfeita levantada no ar enquanto passava a esponja nas pernas e continuava cantando para si mesmo. Parte de mim queria entrar lá, tomar a esponja de suas mãos e terminar eu mesmo o trabalho, beijando cada parte macia de sua pele. Outra parte de mim queria invadir e cumprir minha promessa de tomá-lo por trás, lenta e cuidadosamente. Mas uma parte ainda maior queria apenas aproveitar a visão. Ele ainda não sabia que eu estava ali, e vê-lo daquele jeito – pensando estar sozinho, cantando baixinho, talvez até pensando em mim – era como um copo de água fresca em um dia quente de verão. Eu nunca me cansaria de observá-lo, em qualquer cenário. E nu, molhado, debaixo do chuveiro era um dos meus cenários favoritos. Ele enxaguou as pernas e se levantou, virando-se para tirar o condicionador dos cabelos. Foi quando me viu. Um sorriso explodiu em seu rosto e seu fantástico pau endureceu. Eu quase destruí o vidro da porta para chegar até ele.
– Desde quando você está aí? Dei de ombros, olhando o contorno de seu corpo.
– Você é tão pervertido.
– Ainda sou pervertido, você quer dizer – dei um passo para frente, cruzando os braços sobre meu peito ao me encostar na parede. – Quando você chegou, seu sorrateiro?
– Meia hora atrás.
– Achei que você tinha acabado de pegar o avião em Nova York. Você achou um tapete mágico, afinal de contas? Ele riu, inclinando a cabeça para um enxágue final antes de desligar o chuveiro.
– Peguei o primeiro voo de que te falei. Mas achei que seria divertido fazer uma surpresa – tomando seu cabelo nas duas mãos, ele apertou para tirar o excesso de água, me encarando com olhos que pareciam cada vez mais famintos. – Acho que eu já esperava que você chegasse e me encontrasse nu tomando banho. Talvez seja por isso que eu vim pro chuveiro.
– Admito que é muito conveniente, pois estou pronto para ficar pelado também. Daniel abriu a porta e veio direto para mim.
– Eu quis essa sua boquinha linda no meu pau desde que fiquei sabendo que você estava flertando com o garoto das flores.
Fiz uma cara feia.
– Ah, vamos lá – e então fiz uma pausa. – Como você sabia disso? Ele sorriu.
– A Dominique fala inglês muito bem. Disse que ficou cansada de ver você sem nada para fazer e então te mandou até lá porque você fica muito bonito quando está irritado. Eu concordei.
– Ela… o quê?
– Mas estou contente por você não ter trazido o Gerrard até aqui. Isso poderia ser constrangedor.
– Ou poderia ser incrível – provoquei, puxando-o para mim e enrolando uma toalha em seus ombros. Senti a água de seu peito molhar a minha roupa.
Ele está aqui. Ele está aqui. Ele está aqui.
Eu me abaixei e passei os lábios sobre os dele.
– Oi, meu amor.
– Oi – ele sussurrou enquanto me abraçava.
– Você já ficou com dois homens de uma vez? – ele perguntou, inclinando-se para trás e passando as mãos sob a minha camisa enquanto eu o enxugava. – Não acredito que nunca perguntei isso antes.
– Senti sua falta.
– Também senti sua falta. Responda minha pergunta.
Eu estremeci.
– Sim. Suas mãos estavam frias e as unhas arranharam meu torso.
– E mais de dois de uma só vez?
Balançando a cabeça, eu me abaixei para correr a ponta do nariz ao longo de seu queixo. Ele tinha um cheiro familiar, tinha o cheiro do meu Daniel: seu próprio aroma, cítrico e suave.
– Você não estava dizendo alguma coisa sobre querer minha boca em você?
– Especificamente no meu pau – ele ordenou.
– Foi o que pensei – eu me abaixei, peguei-o no colo e carreguei até a cama.
Quando a coloquei no colchão, ele se sentou, se apoiou com as mãos para trás, trazendo os pés até a beira da cama… e abriu as pernas. Então me olhou e sussurrou:
– Tire a roupa.
Meu Deus, esse homem me mataria com esse tipo de visão. Chutei meus sapatos para longe, tirei as meias e levei minhas mãos até as costas para arrancar a camisa. Após deixá-lo admirar meu peitoral por alguns segundos, cocei minha barriga e sorri para ele.
– Gostou de alguma coisa que viu?
– Você está tentando me fazer um show particular? – sua mão subiu pela coxa até o meio de suas pernas agarrando seu pau. – Também sei fazer isso.
– Você está brincando comigo? – respirei fundo, tentando tirar meu cinto e abrindo os botões da calça com um único movimento. Quase caí tentando tirar a calça. Ele tirou a mão e estendeu os dois braços para mim.
– Por cima – ele disse, aparentemente desistindo da minha boca. – Em cima de mim, quero sentir o seu peso.
Sem dúvida, isso era perfeito. Nós dois queríamos fazer amor antes de fazer qualquer outra coisa: passear, comer, conversar. Sua pele estava muito fresca, e a minha ainda estava quente por causa do sol, da caminhada de volta para casa e da excitação de encontrá-lo ali de forma tão inesperada. O contraste era incrível. Em baixo de mim, ele não era nada além de pele macia e pequenos e silenciosos gemidos. Seus dedos cravavam em minhas costas, seus dentes raspavam meu queixo, meu pescoço, meu ombro.
– Quero você dentro de mim – ele sussurrou em um beijo.
– Ainda não.
Apesar de soltar um grunhido de frustração, por um momento ele me deixou apenas beijá-lo. Eu adorava a sensação de seus lábios na minha língua. Podia sentir com toda a intensidade cada ponto onde nossos corpos se tocavam: seu peito contra o meu peito, suas mãos em minhas costas, os tendões de suas coxas pressionando minhas laterais. Quando ele me envolveu com as pernas, suas panturrilhas pareciam uma manta de calor ao meu redor. Levei minha mão para baixo e agarrei a parte de trás de seu joelho, puxando-o para cima em minha cintura até sentir meu pau deslizar em cima do seu. Em baixo de mim, ele se arqueou e começou a rebolar, conseguindo o máximo de fricção entre nós sem que eu o penetrasse. Nossos beijos começaram lentos e provocantes, e então aumentaram de intensidade para uma fome voraz antes de voltar a uma cadência mais lenta e carinhosa. Daniel me deixou prender seus braços acima da cabeça, me deixou chupar e morder seus mamilos quase até doer. Ele me perguntou o que eu queria, do que eu gostava, e se eu queria seu corpo ou sua boca primeiro. Quando estávamos nus juntos, seu primeiro instinto era sempre me dar prazer. Aquele homem me surpreendia. Eu tinha perdido a perspectiva de quem ele era fora da nossa relação. Comigo, ele podia ser qualquer coisa. Coragem e medo não eram opostos. Ele podia ser maldoso e doce, safado e inocente. Eu queria ser tudo para ele, da mesma maneira.
– Eu adoro o jeito como nós nos beijamos – ele sussurrou, com as palavras pressionadas em meus lábios.
– Como assim? – eu sabia do que ele estava falando. Sabia exatamente o que ele queria dizer, mas queria ouvi-lo falar o quanto tudo era perfeito.
– Só adoro o fato de que beijamos igual. Você sempre parece saber exatamente como eu quero, você me toca nos lugares exatos.
– Eu quero ser casado – soltei de repente. – Eu quero que você se case comigo.
Meeeerrrda.
E então, todo o meu discurso cuidadosamente ensaiado foi jogado pela janela. O anel do meu avô estava em uma caixinha dentro da gaveta – longe de mim – e meu plano de ajoelhar e fazer tudo direito simplesmente evaporou. Dentro dos meus braços, Daniel permaneceu completamente imóvel.
– O que você acabou de dizer?!
Estraguei completamente o plano, mas agora era tarde demais para voltar atrás.
– Sei que estamos juntos há pouco mais de um ano – expliquei rapidamente. – Talvez seja cedo demais. Eu entendo se você achar que é cedo demais. É só que, sabe quando você disse que adora o jeito como nos beijamos? Eu sinto o mesmo em relação a tudo o que fazemos juntos. Eu amo tudo. Eu amo entrar em você, amo trabalhar com você, amo ver você trabalhando, amo discutir com você e amo simplesmente sentar no sofá e rir com você. Eu me sinto perdido quando não estou com você, Daniel. Não consigo pensar em nada, ou ninguém, que seja mais importante para mim. Então, na minha mente, isso significa que de certa maneira já estamos casados. Acho que agora eu quero tornar isso oficial de algum jeito. Talvez eu esteja falando bobagem – olhei para ele, meu coração tentando sair pela boca. – Eu nunca pensei que fosse sentir isso por alguém.
Ele me encarou, com olhos arregalados e lábios separados, como se não conseguisse acreditar no que ouvia. Fiquei de pé e fui até o armário, tirando a caixinha da gaveta e levando até ele. Quando abri e mostrei o antigo anel de ouro branco do meu avô, ele bateu com a mão sobre a boca.
– Quero me casar – eu disse novamente. Seu silêncio me deixava nervoso e, merda, com minhas palavras atropeladas, eu estraguei completamente o momento. – Casar com você, quero dizer.
Seus olhos se encheram de lágrimas e ele levou a mão até o rosto, tentando não piscar.
– Você. É. Tão. Idiota.
Bom, isso foi inesperado. Eu sabia que talvez fosse cedo demais, mas… um idiota? Sério? Cerrei meus olhos.
– Um simples “é cedo demais” seria suficiente, Daniel. Deus. Eu abro meu coração desse jeito e você…
Ele saiu da cama e correu até uma de suas malas, vasculhando lá dentro e tirando uma pequena sacola de tecido azul. Trouxe até mim, com o laço pendurado em seu longo dedo indicador, e balançou a sacola na frente do meu rosto. Eu peço ele em casamento e ele me entrega um souvenir de Nova York?
– Que droga é essa, Daniel?
– O que você acha, gênio?
– Não banque o espertinho comigo, Daniel. É uma sacola. Até onde eu sei, tem uma barra de cereais aí dentro, ou um caixa de bombons, sei lá.
– É um anel, seu tonto. Para você.
Meu coração estava batendo tão forte e rápido que quase pensei que fosse um ataque.
– Um anel para mim?
Ele tirou uma pequena caixa da sacola e me mostrou. Era de platina polida, com uma faixa de titânio no meio.
– Você ia me pedir em casamento? – perguntei, ainda completamente confuso. – E você pode fazer isso?
Ele me deu um soco forte no braço.
– Sim, só por que você enfia esse pauzão em mim isso me proíbe e? seu machista. E você totalmente roubou o meu momento.
– Então, isso é um “sim”? – perguntei, minha perplexidade aumentando. – Você vai se casar comigo?
– Você é quem tem que responder! – ele gritou, porém estava sorrindo.
– Tecnicamente, você não pediu ainda.
– Mas que droga, Bennett! Você também não!
– Você quer casar comigo? – perguntei, rindo.
– Você quer casar comigo? Com um gemido, peguei a caixinha e a deixei cair no chão. Depois lancei Daniel de costas na cama.
– Você sempre vai ser impossível assim? Ele assentiu, com olhos arregalados e o lábio preso nos dentes. Merda. Poderíamos resolver isso mais tarde.
– Pegue o meu pau – eu me abaixei, beijei seu pescoço e grunhi quando ele me agarrou. – Guie até você. Ele ajeitou os quadris debaixo de mim até eu sentir que estava bem na sua entrada. Deslizei para dentro devagar, mesmo que cada músculo e tendão em meu corpo quisesse entrar com força e descontroladamente. Gemi, tremendo por cima dele, sentindo como se estivesse afundando por dentro. Movendo meus quadris para frente e para trás, senti seus braços me envolverem e seu rosto mergulhar em meu pescoço enquanto ele se erguia para acompanhar meus movimentos. Levou apenas mais dois movimentos para que nos tornássemos mais selvagens e frenéticos.
– Goza pra mim – sussurrei em sua boca, lambendo, implorando. Levantei sua perna, prendi em sua lateral e entrei mais fundo. Meus olhos se fecharam por um momento e senti como se fosse explodir a qualquer instante. Ele pressionou o rosto de volta no travesseiro, abriu os lábios para tentar respirar e eu aproveitei a oportunidade para deslizar minha língua em sua boca. – Assim está bom? – sussurrei, apertando sua cintura com a ponta dos dedos. Ele adorava o limiar entre dor e prazer, aquele ponto perfeito que descobrimos cedo em nossa relação. Ele assentiu novamente e eu acelerei os movimentos, enchendo minha cabeça com seu cheiro. Lambi sua garganta, seu pescoço, deixei uma marca de mordida em seu ombro.
– Aqui em cima – ele disse, puxando-me de volta para seu rosto. – Me beija.
Então eu beijei. De novo e de novo, até ele começar a arfar e se contorcer debaixo de mim, implorando para eu acelerar. Senti sua barriga ficar tensa e então suas pernas me apertaram ainda mais, a intensidade de seus gritos aumentando em meu ouvido. Apertando o queixo, tentei não pensar no meu próprio orgasmo, querendo mais intensidade, mais tempo, querendo sentir ele gozar de novo antes mesmo que eu pensasse em chegar perto do clímax. Seus gemidos ficaram mais altos. Daniel gritou e então ofegou e tentou se afastar, mas eu sabia que ele poderia gozar de novo. Sabia que ele estava sensível, mas podia aguentar mais.
– Não se afaste. Você ainda não terminou. Não está nem perto de terminar. Goza de novo para mim. Seus quadris relaxaram em minhas mãos enquanto ele agarrava meus cabelos com mais força.
– Oh – foi apenas um suspiro. Mas havia tanta coisa contida nesse único e silencioso suspiro… Eu o apertei ainda mais, segurando seus quadris e os inclinando com meus movimentos. – Isso, assim. – Vou gozar – ele disse, arfando.
– Não posso… não posso… Seus quadris tremeram e eu a agarrei o mais forte que conseguia. – Não se atreva a parar. – Me toque… lá – ele disse, e eu sabia o que queria. Beijei seu pescoço antes de lamber meus dedos e agarrar seu pau com força, exercendo a pressão perfeita. Com um grito agudo, ele gozou novamente, os músculos, debaixo de sua pele macia, me apertando ainda mais. Respirei fundo e deixei meu orgasmo explodir por minhas costas e percorrer todo o meu corpo. Pontos de luz piscavam atrás dos meus olhos fechados. Eu mal podia ouvir seus gemidos roucos sob o som do sangue latejando em meu ouvido.
– Sim, sim, sim, sim… – ele disse, em delírio, antes de desabar no travesseiro. Senti como se as paredes tremessem no silêncio que se seguiu. Minha mente sacudia com a necessidade que eu sentia por ele; era desorientador.
– Sim – ele ofegou uma última vez. Permaneci totalmente imóvel enquanto a consciência voltava lentamente aos meus pensamentos.
– Sim?
Então, com os membros ainda trêmulos e a respiração ofegante, ele me deu um enorme sorriso.
– Sim… Eu também quero me casar com você.
Fim???
Poderia acabar assim? Claro que sim, só que não seria a historia dos dois cretinos. A historia dos dois ainda vai continuar em o CASAMENTO.
Só que antes, eu preciso apresentar a vocês a historia de Max e Sam.
Prologo
Quando minha antiga vida morreu, não se pode dizer que foi calmamente, durante o sono. Ela levou um tiro. Para ser honesto, fui eu mesmo quem apertou o gatilho. Em apenas uma semana, coloquei minha casa para alugar, vendi meu carro e terminei com meu namorado galinha. E, embora eu tivesse prometido aos meus pais super protetores que teria juízo, foi apenas quando já estava no aeroporto que liguei para meu melhor amigo para contar que estava me mudando. Foi nesse momento que a ficha caiu, num perfeito instante de lucidez. Eu estava pronto para começar de novo.
– Daniel? Sou eu – minha voz estava trêmulo enquanto eu olhava ao redor do terminal. – Estou indo para Nova York. Espero que a oferta de emprego ainda esteja de pé.
Ele gritou, deixou cair o telefone e, então, ao fundo, ouvi que ele tentava tranquilizar alguém, dizendo que estava tudo bem.
– O Sam está vindo – ele explicou, e meu coração se apertou só de pensar em estar lá com eles no começo daquela nova aventura. – Ele mudou de ideia, Bennett!
Ouvi um som de celebração, como se alguém estivesse batendo palmas, e ele disse algo que não consegui escutar direito.
– O que ele disse?
– Perguntou se o Andy vem com você.
– Não – parei um pouco para controlar a sensação ruim em minha garganta. Fiquei com o Andy por seis anos, e, por mais feliz que estivesse por finalmente terminar tudo, essa virada dramática em minha vida ainda parecia surreal. – Eu terminei com ele.
Ouvi Daniel quase engasgar:
– Você está bem?
– Melhor do que bem – e estava mesmo. Acho que não tinha percebido exatamente o quanto eu estava bem até aquele momento.
– Acho que foi a melhor decisão que você já tomou – ele me disse, e então fez uma pausa para escutar Bennett falando ao fundo.
– Bennett disse que você vai cruzar o país como um cometa.
Mordi meu lábio, segurando um sorriso.
– Quase isso. Estou no aeroporto.
Daniel soltou um grito entusiasmado e prometeu me encontrar no aeroporto LaGuardia. Eu sorri, desliguei e entreguei minha passagem no balcão de embarque, pensando que um cometa seria algo concentrado demais, obstinado demais. Eu parecia mais uma velha estrela, queimando minhas últimas energias, com minha própria gravidade me puxando para dentro, quase me esmagando. Eu não tinha mais forças para minha antiga vida perfeitinha, meu emprego previsível, meu relacionamento sem amor – estava exausto, com apenas vinte e sete anos. Como uma estrela, minha vida em Chicago desabou debaixo da força de seu próprio peso, então decidi ir embora. Grandes estrelas deixam buracos negros para trás. Pequenas estrelas deixam anãs brancas. Eu mal estava deixando uma sombra. Toda minha luz estava indo comigo. Eu estava pronto para começar de novo como um cometa: me reabastecendo, reacendendo e queimando através do céu.
O Estranho Irresistível.